Já depois de ter dados os primeiros passos no clube do bairro onde morava, é que o grande emblema da cidade surge na sua vida. Essa mudança para o FK Sarajevo, um inquestionável salto na sua carreira, iria permitir a Slagalo passar pelos principais palcos do campeonato da antiga Jugoslávia.
Seria em vésperas de um desses grandes encontros, que a vida do antigo jogador mudaria por completo. Já depois de estar há alguns anos a defender as cores do clube bósnio, Slagalo, juntamente com os seus colegas de balneário, embarcaria em direcção a Belgrado. No calendário estava um dos grandes desafios da temporada, o embate frente ao Estrela Vermelha. Todavia, o que nenhum deles estaria à espera foi o que veio depois do apito final.
Num país que, em 1992, estava em grande ebulição política, e já depois do referendo realizado ao povo bósnio ter ditado a independência, rebenta o conflito armado. O cerco a Sarajevo tinha tido início apenas há alguns dias e a equipa, impedida de voltar a casa, ficaria retida no hotel que os recebera. Depois de alguns dias, jogadores e “staff” lá conseguem regressar. A recebê-los tinham uma guerra, tinham os seus cotidianos perdidos e um embargo que fazia com que pouco, ou nada, restasse nas suas vidas – «No final da segunda semana de cerco a realidade impôs-se. “Já não valia a pena pensar que era passageiro. Pensar que se iria chegar a um acordo e que as tropas se iam retirar. Já não valia a pena enterrar a cabeça na areia. A situação não se ia resolver tão cedo e era preciso agir”, conta. Juntamente com os vizinhos, Slagalo construiu portas de ferro que blindavam a entrada do prédio e, à noite, quando mulheres e crianças iam dormir, os homens juntavam-se para proteger o edifício. “Muçulmanos, sérvios, croatas, fazíamos isso juntos. Não percebíamos quem era o inimigo nem o que se estava a passar. Sabíamos que corríamos perigo, só isso” (…).Os relatos de sérvios que atacaram muçulmanos ou de muçulmanos que atearam fogo a casas de famílias sérvias começaram a multiplicar-se. “Foi nessa altura que percebi que a guerra tinha vindo para ficar. Já não era possível trabalhar em conjunto. O inimigo estava definido e tu tinhas que estar com os teus. Mesmo que não tivesses afinidades com eles sabias que, pelo menos, não te iam matar”. O medo tomou conta da cidade e com ele veio o ódio e a vingança. “Quem nunca passou por uma guerra não consegue entender. Há uma mistura tão grande de sentimentos que não consegues alinhar. E depois há o medo, que toma conta de tudo, mas que também é o que te permite sobreviver”»*.
Na sequência destes acontecimentos, Slagalo, que mantinha alguns contactos no nosso país, viaja para Portugal. Como ainda tinha contrato assinado com o FK Sarajevo, a sua inscrição nos campeonatos nacionais não seria logo possível. Só a meio da temporada de 1992/93, é que o central faz os primeiros jogos com a camisola do Atlético. Depois, da divisão de Honra, surge o convite de uma das equipas que, por norma, lutava pela promoção. No Sporting de Espinho começa a ganhar alguma notoriedade, mas acaba por nunca conseguir alcançar o escalão máximo.
À 1ª divisão chega na época de 1997/98. Com o Varzim, para o qual se tinha mudado dois anos antes, o defesa tem a única passagem entre os “grandes”. Titular, consegue prestações de muito bom nível que, infelizmente para os da Póvoa, não seriam suficientes para manter a equipa acima da “linha de água”. Para o atleta, e apesar de cotar-se como uma das boas surpresas dessa temporada, a “descida” também acaba por acontecer. Já acima da barreira dos 30 anos de idade, factor que poderá ter dificultado a ida para um clube de outras andanças, Slagalo entra na fase descendente da sua carreira desportiva. Passa por Leça e Famalicão e, já em 2001/02, retira-se da alta competição ao serviço do Esposende.
Apesar de afastado dos campos, Slagalo mantem-se ligado ao futebol. Como treinador, com experiência tanto nos escalões de formação ou a orientar os seniores, o antigo futebolista conta com uma passagem de alguns anos pelo Leça.
Seria em vésperas de um desses grandes encontros, que a vida do antigo jogador mudaria por completo. Já depois de estar há alguns anos a defender as cores do clube bósnio, Slagalo, juntamente com os seus colegas de balneário, embarcaria em direcção a Belgrado. No calendário estava um dos grandes desafios da temporada, o embate frente ao Estrela Vermelha. Todavia, o que nenhum deles estaria à espera foi o que veio depois do apito final.
Num país que, em 1992, estava em grande ebulição política, e já depois do referendo realizado ao povo bósnio ter ditado a independência, rebenta o conflito armado. O cerco a Sarajevo tinha tido início apenas há alguns dias e a equipa, impedida de voltar a casa, ficaria retida no hotel que os recebera. Depois de alguns dias, jogadores e “staff” lá conseguem regressar. A recebê-los tinham uma guerra, tinham os seus cotidianos perdidos e um embargo que fazia com que pouco, ou nada, restasse nas suas vidas – «No final da segunda semana de cerco a realidade impôs-se. “Já não valia a pena pensar que era passageiro. Pensar que se iria chegar a um acordo e que as tropas se iam retirar. Já não valia a pena enterrar a cabeça na areia. A situação não se ia resolver tão cedo e era preciso agir”, conta. Juntamente com os vizinhos, Slagalo construiu portas de ferro que blindavam a entrada do prédio e, à noite, quando mulheres e crianças iam dormir, os homens juntavam-se para proteger o edifício. “Muçulmanos, sérvios, croatas, fazíamos isso juntos. Não percebíamos quem era o inimigo nem o que se estava a passar. Sabíamos que corríamos perigo, só isso” (…).Os relatos de sérvios que atacaram muçulmanos ou de muçulmanos que atearam fogo a casas de famílias sérvias começaram a multiplicar-se. “Foi nessa altura que percebi que a guerra tinha vindo para ficar. Já não era possível trabalhar em conjunto. O inimigo estava definido e tu tinhas que estar com os teus. Mesmo que não tivesses afinidades com eles sabias que, pelo menos, não te iam matar”. O medo tomou conta da cidade e com ele veio o ódio e a vingança. “Quem nunca passou por uma guerra não consegue entender. Há uma mistura tão grande de sentimentos que não consegues alinhar. E depois há o medo, que toma conta de tudo, mas que também é o que te permite sobreviver”»*.
Na sequência destes acontecimentos, Slagalo, que mantinha alguns contactos no nosso país, viaja para Portugal. Como ainda tinha contrato assinado com o FK Sarajevo, a sua inscrição nos campeonatos nacionais não seria logo possível. Só a meio da temporada de 1992/93, é que o central faz os primeiros jogos com a camisola do Atlético. Depois, da divisão de Honra, surge o convite de uma das equipas que, por norma, lutava pela promoção. No Sporting de Espinho começa a ganhar alguma notoriedade, mas acaba por nunca conseguir alcançar o escalão máximo.
À 1ª divisão chega na época de 1997/98. Com o Varzim, para o qual se tinha mudado dois anos antes, o defesa tem a única passagem entre os “grandes”. Titular, consegue prestações de muito bom nível que, infelizmente para os da Póvoa, não seriam suficientes para manter a equipa acima da “linha de água”. Para o atleta, e apesar de cotar-se como uma das boas surpresas dessa temporada, a “descida” também acaba por acontecer. Já acima da barreira dos 30 anos de idade, factor que poderá ter dificultado a ida para um clube de outras andanças, Slagalo entra na fase descendente da sua carreira desportiva. Passa por Leça e Famalicão e, já em 2001/02, retira-se da alta competição ao serviço do Esposende.
Apesar de afastado dos campos, Slagalo mantem-se ligado ao futebol. Como treinador, com experiência tanto nos escalões de formação ou a orientar os seniores, o antigo futebolista conta com uma passagem de alguns anos pelo Leça.
*retirado do artigo de Ana Caridade, Jornal “Sol”, 28/10/2015 – com depoimentos de Slagalo.
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