949 - JABURÚ

Com as escolas do Fluminense a servirem de casa da partida, seria no América Mineiro que, após uma curta passagem pelo Olaria, Jaburú acabaria por merecer um maior destaque. No clube de Belo Horizonte, os golos por si concretizados torná-lo-iam numa das estrelas da massa adepta. Mais importante do que toda essa paixão, o trabalho mostrado em campo, lado-a-lado com uma faceta afoita, acabariam por fazer dele uma das prioridades nas convocatórias de Dorival Yustrich.
A admiração do técnico tornar-se-ia de tal ordem que, após ser contratado pelo FC Porto, haveria de sugerir o nome do ponta-de-lança como um dos reforços a adquirir. Com a chegada às Antas de Yustrich e do avançado, a temporada de 1955/56 acabaria por transformar-se num enorme sucesso. Para tão grande êxito muito contribuiria a disciplina imposta pelo treinador brasileiro. Porém, a ajuda do jogador, senão mais importante, passaria a ser vista como de igual relevância. Alto e possante, o físico do atleta era apenas o móbil para um exímio jogo aéreo e de pés. Tanto de cabeça, como a rematar com a direita ou com esquerda, Jaburú tornar-se-ia numa enorme dor de cabeça para todos os defesas adversários. Essa superioridade seria uma das maiores armas no quebrar do jejum que durava há 16 anos. As quase três dezenas de golos concretizados nessa época, conseguiriam transformar-se na base das vitórias do FC Porto e da conquista do Campeonato e da Taça de Portugal.
O pior para o avançado é que o brilho que tinha dentro de campo também o acompanhava na sua faceta boémia. Com a saída de Yustrich no início da época seguinte, o rendimento do jogador começaria a diminuir. Ainda mantendo o estatuto de estrela maior do conjunto portista, a falta da disciplina imposta pelo treinador brasileiro acabaria por desregrar também a produtividade do ponta-de-lança. Havia também outro problema – a sua característica fleumática. Por razão dessa faceta, por diversas ocasiões seria expulso e severamente castigado. Ora, com tantos aborrecimentos causados, a solução passaria pela sua transferência. Nada difícil. Com a fama dentro dos relvados a precedê-lo, não tardou muito a que viessem outros emblemas no seu encalço. Em Outubro de 1958 a mudança concretizar-se-ia e Espanha tornar-se-ia na sua nova morada.
Já no Celta de Vigo as polémicas não largariam o atleta. Logo nos primeiros tempos sairia dos treinos queixando-se das costas. Testes feitos e o diagnóstico dava-o com uma bronquite e uma lesão na coluna. Nisto, e com o intuito de anular a transferência, o clube galego haveria de apresentar na Federação Espanhola uma declaração assinada pelo jogador, que afirmava já estar lesionado por altura da sua venda. Jaburú viria a público e afirmaria que tal testemunho não tinha passado de um equívoco. Para alimentar a polémica seguir-se-iam mais exames médicos e queixas do jogador contra a sua entidade patronal. Em Janeiro de 1959 o clube acabaria por suspendê-lo de todas as actividade e em Abril, para terminar com toda a história, a Federação acabaria por desvincular o avançado das suas obrigações contratuais.
Sem ter participado em um único jogo com a camisola do Celta de Vigo, Jaburú regressaria a Portugal. Dessa feita com a camisola do Leixões, o avançado contribuiria para uma das mais bonitas páginas do emblema de Matosinhos. Orientado por José Valle, que como interino já tinha treinado o atacante no FC Porto, a sua primeira época ainda correria de feição. O pior seria a seguinte. Sem conseguir deixar de lado o seu lado boémio, os problemas com o álcool começariam a revelar-se bastante problemáticos para o seu desempenho desportivo. Ainda assim, e já com o argentino Filipo Nuñez como treinador, o brasileiro ainda daria a sua ajuda na conquista da Taça de Portugal de 1960/61.
Ainda começaria a temporada seguinte ao serviço do Leixões. No entanto, inebriado pelas suas adições, o atleta acabaria por ser tido como um indigente e deportado para o Brasil. De volta ao Rio de Janeiro acabaria a viver na rua. Ao tentar ganhar a vida como engraxador, era na sua caixa que trazia as melhores recordações. Com fotos suas no FC Porto a embelezarem o equipamento de trabalho, era nas imediações do Maracanã que mais vezes era visto. Acabaria por falecer de formar trágica. Embriagado, viria a morrer vítima de um atropelamento.

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