Quando em 1994, com a chegada de Artur Jorge ao Benfica, foi anunciado a contratação de um novo guardião, a perspectiva, que logo saltou à minha vista, da dispensa de um dos jogadores que, no plantel “encarnado”, lutavam por essa posição, não foi do meu agrado. Tenho mesmo que confessar que nem as fenomenais exibições de Preud'Homme no Mundial dos Estados Unidos da América, nem a consequente conquista do prémio para o Melhor Guarda-Redes do referido torneio, foram capazes de me convencer do ganho que um reforço já com 35 anos conseguiria trazer para a baliza benfiquista.
Silvino acabaria por ser dispensado. No entanto, a mágoa de ver partir um dos meus preferidos, depressa seria substituída pelo espanto. Aquilo que evidenciara no torneio norte-americano, e que já antes era em si reconhecido, acabaria por conquistar a minha confiança. Os reflexos, as estiradas "felinas", a sua placidez e uma enorme segurança, confirmavam-se a cada jornada. Preud'Homme continuava a ser, de verdade, um atleta de excepção.
Nos cinco anos que passou em Portugal, não faltaram oportunidades para mostrar toda a sua mestria. Infelizmente, nunca viu o seu esforço recompensado, pois, ao invés do que viveu no Malines, clube de onde tinha saído para a "Luz", nunca ganhou grandes títulos. No emblema belga, entre conquistas domésticas, Preud'Homme conseguiu atingir dois dos seus maiores feitos desportivos: a vitória na Taça dos Clubes Vencedores das Taças em 1988 e a conquista Supertaça Europeia da época seguinte. Tais façanhas levaram-no a ser cobiçado por outros emblemas. Logo a seguir ao triunfo na primeira prova europeia referida, em Julho desse mesmo ano, consta que em pleno aeroporto de Milão, enquanto seguia com a comitiva do seu clube, terá sido abordado por representantes do FC Porto. O convite seria recusado e o guardião haveria de comentar com um jornalista - "Foi engraçado este assalto ao aeroporto mas não vou para lado nenhum. Fico no Malines, onde estou bem"*.
Mesmo sem contar com as prestações dentro de campo, Preud’Homme sempre conseguiu conquistar os adeptos. A simpatia que mostrava, o sorriso que sempre trazia consigo, cativavam as pessoas. O resto, talvez aquilo que nele mais apreciavam os adeptos, conseguia-o com a sua entrega, com o seu profissionalismo. Na "Luz" manteve os hábitos de uma carreira e, para os treinos, era sempre dos primeiros a equipar-se e a caminhar para o relvado e o último a regressar aos balneários.
Terminaria a sua carreira de jogador já passava dos 40 anos. E por mais que a idade possa enganar-nos, deixou os relvados ainda dono de todas as suas melhores capacidades, ainda no topo. O jogo de despedida seria em Lisboa frente ao Bayern de Munique e por cá continuou ainda durante mais algum tempo, ocupando um cargo de director. Acabaria por não resistir ao chamamento do clube do seu coração. De volta ao Standard Liège, que o formara e onde, durante 9 anos, fora profissional, haveria de estrear-se como treinador.
É certo que a sua vida à frente do balneário ainda é recente, contudo já conta no seu currículo com as conquitas do Campeonato da Bélgica (Standard) e da Holanda (FC Twente). Mas de uma coisa podem ter a certeza. Se Preud'Homme conseguir transmitir aos seus pupilos, metade da mística que com ele carregou de “Águia” ao peito, atenção, pois temos “mister” para muitos mais “canecos”.
*retirado do artigo publicado em https://benficahd.blogspot.com, em Junho de 2010
Silvino acabaria por ser dispensado. No entanto, a mágoa de ver partir um dos meus preferidos, depressa seria substituída pelo espanto. Aquilo que evidenciara no torneio norte-americano, e que já antes era em si reconhecido, acabaria por conquistar a minha confiança. Os reflexos, as estiradas "felinas", a sua placidez e uma enorme segurança, confirmavam-se a cada jornada. Preud'Homme continuava a ser, de verdade, um atleta de excepção.
Nos cinco anos que passou em Portugal, não faltaram oportunidades para mostrar toda a sua mestria. Infelizmente, nunca viu o seu esforço recompensado, pois, ao invés do que viveu no Malines, clube de onde tinha saído para a "Luz", nunca ganhou grandes títulos. No emblema belga, entre conquistas domésticas, Preud'Homme conseguiu atingir dois dos seus maiores feitos desportivos: a vitória na Taça dos Clubes Vencedores das Taças em 1988 e a conquista Supertaça Europeia da época seguinte. Tais façanhas levaram-no a ser cobiçado por outros emblemas. Logo a seguir ao triunfo na primeira prova europeia referida, em Julho desse mesmo ano, consta que em pleno aeroporto de Milão, enquanto seguia com a comitiva do seu clube, terá sido abordado por representantes do FC Porto. O convite seria recusado e o guardião haveria de comentar com um jornalista - "Foi engraçado este assalto ao aeroporto mas não vou para lado nenhum. Fico no Malines, onde estou bem"*.
Mesmo sem contar com as prestações dentro de campo, Preud’Homme sempre conseguiu conquistar os adeptos. A simpatia que mostrava, o sorriso que sempre trazia consigo, cativavam as pessoas. O resto, talvez aquilo que nele mais apreciavam os adeptos, conseguia-o com a sua entrega, com o seu profissionalismo. Na "Luz" manteve os hábitos de uma carreira e, para os treinos, era sempre dos primeiros a equipar-se e a caminhar para o relvado e o último a regressar aos balneários.
Terminaria a sua carreira de jogador já passava dos 40 anos. E por mais que a idade possa enganar-nos, deixou os relvados ainda dono de todas as suas melhores capacidades, ainda no topo. O jogo de despedida seria em Lisboa frente ao Bayern de Munique e por cá continuou ainda durante mais algum tempo, ocupando um cargo de director. Acabaria por não resistir ao chamamento do clube do seu coração. De volta ao Standard Liège, que o formara e onde, durante 9 anos, fora profissional, haveria de estrear-se como treinador.
É certo que a sua vida à frente do balneário ainda é recente, contudo já conta no seu currículo com as conquitas do Campeonato da Bélgica (Standard) e da Holanda (FC Twente). Mas de uma coisa podem ter a certeza. Se Preud'Homme conseguir transmitir aos seus pupilos, metade da mística que com ele carregou de “Águia” ao peito, atenção, pois temos “mister” para muitos mais “canecos”.
*retirado do artigo publicado em https://benficahd.blogspot.com, em Junho de 2010