157 - RUI BARROS

Ou porque o equipamento ficava muito grande ou porque os dirigentes o confundiam com um juvenil, que desde cedo ficou habituado às muitas piadas sobre a sua estatura. Porém, do alto do seu 1,56m, Rui Barros sempre soube agigantar-se. Fê-lo durante os empréstimos ao Sporting da Covilhã e ao Varzim; fê-lo, principalmente, durante o ano de estreia pelos seniores do FC Porto.
Com uma velocidade estonteante e um "dribble" igualmente frenético, as suas qualidades rapidamente haveriam de pô-lo nas contas do técnico Tomislav Ivic. Que interessava que o grupo de trabalho fosse o que, meses antes, em Viena, tinha conseguido levantar a Taça dos Clubes Campeões Europeus? Nada! O jovem futebolista, sem grandes dificuldades, ombreava com os demais craques. As importantes disputas em nada pareceram tolhê-lo. Já a prova cabal da sua valia, veio com a primeira mão da Supertaça Europeia. Frente ao Ajax, na partida de Amesterdão, bastaram 5 minutos para que marcasse. Com a equipa oponente adiantada no campo, Rui Barros correu com a bola cerca de 50 metros, fintou o guarda-redes Menzo à entrada da área, passou por outro adversário e concretizou o golo com que os “Dragões” bateram o conjunto holandês.
 Ao derrotar a "pressão alta" dos holandeses, Rui Barros ajudou o FC Porto a vencer no campo e, com uma exibição notável, ganhou também a admiração dos jornalistas. Nessa noite consideraram-no “impossível de travar, como Maradona, mas duas vezes mais rápido"*. Por conta da comparação com o “astro” argentino, ou não, a verdade é que no Verão de 1988, o avançado entrou nos planos da Juventus. Com uma recepção apoteótica, milhares de adeptos ovacionaram-no à chegada a Turim. Depressa mostrou a razão pela qual tinha sido contratado. Logo na primeira oportunidade, a “Formiga Atómica”, apelido posto pelos “tiffosi” da “Vecchia Signora”, catapultou a equipa transalpina para uma estrondosa vitória por 5-1. Tal como nessa partida frente ao Vicenza, onde 3 assistências suas resultaram num “hat-trick” de Altobelli, o internacional português, nas 2 temporadas seguintes, manteve-se como um dos mais importantes intérpretes das conquistas colectivas. Porém, tal facto não convenceu os dirigentes do clube italiano – "Nem o vejo da bancada VIP. Nunca mais teremos jogadores tão pequenos no plantel"**.
Rui Barros vestiu pela última vez a camisola da Juventus, na mesma noite em que levantou a Taça UEFA de 1990. Seguiu-se o Campeonato gaulês. Com a sua preciosa ajuda, também o AS Monaco atingiu uma final europeia. A derradeira partida da edição de 1991/92 da Taça dos Vencedores das Taças, disputou-se em Lisboa, no Estádio da "Luz". Contudo, nem a jogar no seu país, nem a astucia de Arsène Wenger, ou mesmo a companhia de George Weah, conseguiram com que o avançado repetisse a vitória de dois anos antes. Ainda em França, com Paulo Futre a fazer-lhe companhia no balneário, representou o Marseille. Um ano após ingressar no conjunto sediado à beira do Mar Mediterrâneo, marcou a viagem de volta ao FC Porto. Em boa hora o fez, pois o regresso a Portugal permitiu-lhe participar num dos grandes marcos da história dos "Dragões", a conquista do "Penta".

*retirado do Livro “100 Figuras do Futebol Português” (A Bola), António Simões e Homero Serpa, 1996
**adenda feita em 2012, com texto retirado do livro “101 Cromos da Bola” (Lua de Papel), Rui Miguel Tovar, 2012

156 - SECRETÁRIO

Quando pensei em escrever sobre um jogador que, no seu currículo, tivesse uma passagem pelo Real Madrid, pareceu-me óbvio que teria de, obrigatoriamente, utilizar adjectivos como “fenomenal”. Fiquei também ciente que, ao ouvirem tão faustosa palavra, muitos pudessem ficar na dúvida sobre o meu propósito e cogitassem que, ironicamente, estava a pôr em causa o primor futebolístico do tal intérprete. Nunca foi esse o meu fim!
Alinhando as coisas de forma correcta, há que dizer que nem os adeptos dos “Merengues”, os poucos que do jogador ainda têm recordações, alguma vez puseram em cheque o seu singular talento! Dito isto, temos igualmente de concordar que sentir a exaltação do “speaker”, ao mesmo tempo que vemos surgir Carlos Secretário em pleno Santiago Barnabéu, dá azo a que se apelide o negócio perpetrado por Jorge Nuno Pinto da Costa, como um fenómeno! Infelizmente para o atleta, a ilusão pouco passou da apoteótica apresentação no Verão de 1996. Ingrato como só o mundo do futebol sabe ser, depois de temporada e meia a alimentar o riso dos aficionados espanhóis, o português passou a ser tido como trapalhão, lento e pouco seguro. Ao “esquecer-se” de voltar às posições mais recuadas, ao expor constantemente os colegas a grandes aflições, as gargalhadas depressam começaram a transverter-se em apupos. Para piorar a situação do defesa, ou talvez não, ainda surgiu outro momento anedótico. Falo do tal episódio em que, aliando-se completamente do jogo, ingloriamente correu atrás de um "perro" que invadiu o relvado.
Secretário terminou a diáspora devolvido – por certo dentro da garantia – ao FC Porto. Bem sei que é difícil entender a sua dispensa! Se pensarmos que o desporto, aos dias de hoje, também é "merchandising" e que o defesa, uns tempos antes, tinha sido transformado numa das mais mediáticas figuras do “desporto rei”, então é incompreensível a decisão tomada pelos responsáveis do Real Madrid. Foi peremptória a falta de visão! Foi um erro tremendo não reconhecer nele um potencial "vendedor de camisolas", quando, na sequência de uma reportagem emitida pelo programa da SIC, "Os Donos da Bola", "Paula", a mercenária contratada, humilhou o seu desempenho durante um estágio da Selecção.
De volta às Antas, para bem ou para mal, estava aquele que chegou a ser vaticinado como o sucessor do mítico João Pinto. Talvez esse ousado profeta tivesse vislumbrado, entre os dois, algumas semelhanças... coisas! Para mim, tirando a eloquência argumentativa, nada mais vi em comum! Nada, não é bem assim! Há também os troféus! É que Carlos Secretário aposentou-se com o palmarés pessoal, entre muitos outros números, recheado pelas conquistas de 1 “La Liga”, 6 Campeonatos Nacionais, 5 Taças de Portugal, 4 Supertaças Cândido de Oliveira, 1 Taça UEFA e 1 “Champions League”!

155 - OLIVEIRA

Diz-se que aos 13 anos já treinava com os seniores do emblema da sua terra, o Penafiel. Como a equipa não tinha escalões de formação, foi tentar a sorte ao FC Porto. Agradou, ficou e ainda bem novo, nos juniores, começou a despertar a curiosidade dos responsáveis técnicos pelo conjunto principal portista.
O treinador brasileiro Paulo Amaral, mesmo sabendo da sua juventude, não enjeitou a oportunidade de tê-lo a trabalhar no seio do plantel a seu cargo e, aos 17 anos, António Oliveira juntou-se à primeira equipa "azul e branca". Apesar da importância da promoção à equipa sénior na temporada de 1970/71, foi pela mão de José Maria Pedroto que, anos mais tarde, viveu um dos primeiros episódios históricos da sua passagem pelo FC Porto. O Campeonato Nacional de 1977/78, ganho pelos "Dragões" ao fim de 19 anos de jejum, mostrou o médio-ofensivo como uma das pedras basilares da estratégia do conjunto nortenho. A liberdade táctica que gozava permitia-lhe vogar atrás dos avançados e, a partir dessa parte do terreno e com o auxílio da sua brilhante visão de jogo e passe mortífero, armar todo o jogo ofensivo da equipa.
Foi desse modo que, também no ano seguinte, ajudou à conquista do Campeonato Nacional. Com a referida vitória, ganhou a atenção de outros emblemas, nomeadamente a do Real Bétis de Sevilha. Depois de consumada a transferência para a “La Liga”, o jogador esteve pouco tempo em Espanha. Falou-se muito sobre o seu regresso e do temperamento difícil, para explicar o insucesso da passagem pela Andaluzia. De volta à “Invicta” na segunda metade da temporada de 1979/80, o médio viu-se apanhado no meio da contenda que opôs José Maria Pedroto ao Presidente do FC Porto, Américo Sá. Despedido o treinador, Oliveira acabou por sair. Novamente no Penafiel, a sua carreira passou por outro episódio caricato. Ao invés do normal, onde só atletas em final de carreira são convidados, ao jogador foi lançado o desafio de orientar os seus colegas. Não correu mal a aventura, com a equipa a terminar a época de 1980/81 em 10º lugar.
Já no Sporting, dessa feita ao substituir o dispensado Malcolm Allison, repetiu o papel de treinador-jogador. Apesar de, nessas funções, ter conseguido boas marcas, como a participação nos quartos-de-final da Taça dos Clubes Campeões Europeus, ainda hoje recorde no clube, a sua passagem por Alvalade, iniciada na temporada anterior à do despedimento do técnico britânico, foi, claramente, mais importante que isso. Em Lisboa a partir da época 1981/82, Oliveira voltou a assumir-se como o “maestro” de uma das grandes equipas nacionais. Com Jordão e Manuel Fernandes, constituiu uma das frentes de ataque mais temíveis em Portugal e, logo no ano de estreia com o "Leão" ao peito, ajudou à vitória no Campeonato Nacional. No entanto, o entendimento mostrado com os colegas dentro de campo, não era o mesmo fora dele. O acumular de funções não era do agrado de todos os companheiros e o ambiente no balneário tornou-se ainda pior quando Manuel Fernandes, capitão de equipa, pediu ao Presidente João Rocha para contratar um novo técnico.
Apesar dos relatados desentendimentos, Oliveira ainda continuou no Sporting por mais dois anos. Na temporada de 1985/86 decidiu abraçar o desafio lançado pelos responsáveis do Marítimo e mudou-se para o Funchal. Na Madeira, também como treinador-jogador, terminou a carreira enquanto atleta, sem, no entanto, afastar-se da modalidade. Convicto em dedicar-se, em exclusivo, às funções de técnico, as primeiras tentativas, onde incluo as passagens pela Académica de Coimbra, Vitória de Guimarães, Gil Vicente, sub-21 de Portugal e Sporting de Braga, acabaram por ser algo discretas. Por tudo isso, a sua contratação para comandar a principal Selecção Nacional, que se preparava para enfrentar a fase de apuramento para o Euro 96, tornou-se numa surpresa. A verdade é que o seu currículo não o impediu de conseguir a qualificação para a Fase Final e, melhor ainda, de atingir os quartos-de-final do torneio disputado em Inglaterra.
O sucesso à frente da “Equipa das Quinas” fez com que Jorge Nuno Pinto da Costa apostasse nele para suceder a Sir Bobby Robson. Com o treinador inglês a conquistar dois Campeonatos pelo FC Porto, Oliveira repetiu o feito e, findas duas épocas, embarcou em nova aventura no estrangeiro. Mais uma vez no Real Bétis, na nova passagem pela equipa sevilhana estaria ainda menos tempo e, após uma discussão com o Presidente do clube, abandonou os espanhóis sem ter comandado qualquer jogo oficial. O desaire voltou a vivê-lo aquando do seu, até agora, último teste no banco de suplentes. No regresso à Selecção, conseguiu o apuramento para o Mundial de 2002, mas a prestação da equipa lusa, já em pleno torneio, foi desastrosa e Portugal acabou por não passar da fase de grupos.
Afastado do "mundo da bola" desde a passagem pela presidência do Penafiel, posso concluir que António Oliveira teve uma carreira cheia de episódios interessantes. Por alguns dos capítulos menos prolíferos estarem relacionados com as estadias em Espanha, poderá parecer exagerada a sua inclusão na temática deste mês. Todavia, tendo em conta uma altura em que poucos tinham sequer o privilégio de atravessar a fronteira, ele teve a oportunidade de assinar contrato por um clube estrangeiro. Essa realidade, está bem que por pouco tempo, fez dele não um projecto, mas um verdadeiro emigrante.

154 - MAMEDE

Produto dos patamares de formação do Vitória Futebol Clube, sensivelmente pela mesma altura em que jogadores como Sandro, Bruno Ribeiro, Carlos Manuel, Nuno Santos ou Mário Loja emergiram das “escolas” sadinas, foi na equipa da foz do Rio Sado que, com excepção do empréstimo ao Juventude de Évora, Mamede cumpriu a primeira metade da carreira. Durante esse período, o “trinco” mostrou toda a sua competitividade, acerto defensivo e, aquilo que nele os treinadores mais devem ter apreciado, a regularidade com que atravessava toda uma temporada.
Foram essas capacidades que levaram clubes estrangeiros, já que os emblemas nacionais de maior monta teimaram em nunca investir nele, a tentar a sua contratação. Ao fim de 7 anos a jogar nas competições seniores de Portugal e acertada a transferência, Mamede encetou aquilo que pode classificar-se como a segunda parte da sua vida no futebol. A estreia na Serie A do Campeonato italiano deu-se no Reggina e tendo por companheiro de balneário um compatriota, o defesa Marco Caneira. Já época de 2000/01 não correu de feição e a equipa de Reggio Calabria acabou relegada ao segundo escalão do "Calcio".
Apesar do desempenho pessoal, premiado com mais de 20 partidas a titular, ter ficado bem acima da performance colectiva, Mamede não recusou acompanhar os companheiros, aceitando o "castigo" da descida. No entanto, bastou uma temporada para devolver o médio-defensivo, junto com a equipa, ao convívio dos “grandes”. De volta ao lugar merecido, não desapontou. Porém, no final do terceiro ano em Itália, surpreendentemente, decidiu apostar noutro projecto e voltou ao segundo escalão. A viagem não foi muito longa e para o jogador português bastou atravessar o Estreito de Messina, para que, na cidade com a mesma designação e que também dá nome ao clube, encontrasse um novo desafio.
No emblema siciliano o começo ate foi promissor. Conseguiu, em grande parte das jornadas, assegurar um lugar no “onze” inicial, ajudando, com a titularidade, o regresso do grupo à divisão maior. O pior veio de seguida! Apesar do Messina ter conseguido uma boa campanha, atingindo um espantoso 7º lugar na campanha de 2004/05, Mamede deixou de ser utilizado com a regularidade a que estava habituado. A partir daí, não sei se já afectado pela lesão que acabou por apoquentar o fim da sua carreira, o jogo de Mamede começou a entrar em declínio. Sucederam-se várias equipas. Depois de representar Genoa, Perugia e Salernitana, o Potenza, ao acabar a temporada de 2008/09 em último na Serie C1, transformou-se no derradeiro emblema dos seus 9 anos em Itália.

153 - PAULO SOUSA

No final da década de 80 emergiram os primeiros da que ficou conhecida como a "Geração d'Ouro" do futebol português. No seio dos atletas que em Riade acabariam por ganhar o Campeonato do Mundo de sub-20 de 1989, destacar-se-ia um jovem "trinco" de seu nome Paulo Sousa.
Tal como tinha mostrado no referido torneio, as suas qualidades fariam com que Eriksson chamasse o jovem jogador para integrar, logo no Verão seguinte, a equipa principal do Benfica. Depressa conquistaria o treinador sueco e na 2ª temporada com os seniores, a sua presença nos jogos começaria a ser um hábito. Porém, e apesar da rápida ascensão e da facilidade com que conseguiria ver reconhecidas as capacidades para desempenhar a função de “trinco”, a verdade é que nunca mostraria ser um típico médio-defensivo! Ao invés do que é norma para a sua posição, Paulo Sousa não parecia gostar muito de "morder os calcanhares" aos adversários. Pelo contrário, a sua maneira de jogar fazia passar a ideia de que era um jogador molengão e desgarrado! Puro engodo! Na sua missão, sabia aparecer sempre na altura certa, no sítio exacto e, com uma elegante ligeireza, do mesmo modo com que tirava a bola a um adversário, armava o jogo ofensivo para os seus companheiros.
Seria o seu sentido posicional, a sua capacidade de passe e visão de jogo primorosos que facilmente fariam dele um dos jogadores mais apreciados pelos adeptos. Como se não bastasse a estima que conquistara, o médio, por razão de um episódio caricato, haveria de tornar-se num verdadeiro herói para os benfiquistas. A história conta-se assim…Fazendo jus ao provérbio "em Abril águas mil", a noite no Porto estava bem chuvosa. A difícil deslocação ao Estádio do Bessa até corria bem para o conjunto da "Luz", mas uma falta cometida por Neno, um minuto após o Benfica ter esgotado as substituições, resultaria num "penalty" e na expulsão do guarda-redes. Impossibilitada a troca de jogadores, Paulo Sousa oferecer-se-ia para ocupar o lugar à baliza. A grande penalidade não conseguiria defendê-la, mas a boa prestação "entre os postes", aguentaria, até ao fim da partida, o 2-3 no marcador.
Curiosamente, o estado de graça resultante do referido acto voluntarioso, manter-se-ia apenas até ao final da época. Naquele que ficou conhecido como o "Verão Quente de 1993", Paulo Sousa, juntamente com Pacheco, ao alegar salários em atraso, rescindiria contrato com o Benfica e acabaria por mudar-se para Alvalade. A sua passagem pelo Sporting haveria de ser curta. Após uma temporada de “verde e branco”, ao dar seguimento ao assédio por parte de clubes estrangeiros, o "passe" do atleta seria vendido à Juventus. Em Itália, para além de outros troféus, venceria também a sua primeira Liga dos Campeões. O feito repeti-lo-ia um ano depois, em 1994, ao ganhar a competição europeia já ao serviço do Borussia Dortmund. Essas duas conquistas torná-lo-iam num dos poucos jogadores, a par de Marcel Desailly, a conseguir duas vitórias consecutivas por dois emblemas diferentes, naquela que é a prova maior de clubes organizada pela UEFA.
Numa altura em que já tinha conseguido afirmar-se como o “motor” da equipa transalpina, a sua saída para a “Bundesliga”, praticamente forçada, terá surpreendido muita gente. Porém, parece que, já na altura, o joelho do médio, que viria a afastá-lo prematuramente da competição, prometia desconjuntar-se. Ainda assim, os alemães confiariam na força de Paulo Sousa para debelar tal ameaça e, como prova de tal, aceitariam o pedido do médio e contratariam Mariano Barreto, exclusivamente para ajudar o atleta na dura batalha contra a lesão.
Por certo, até pelos resultados aqui relatados, os dirigentes do clube germânico acabariam por aferir a contratação do internacional português como positiva. No entanto, a maleita parecia irresolúvel e, talvez por isso, o seu regresso a Itália dar-se-ia um ano após a conquista do título europeu. No Inter de Milão tornar-se-iam ainda mais evidentes as carências da articulação do médio luso. Depressa começaria a adivinhar-se como próximo o fim da sua carreira e o curto empréstimo ao Parma e as discretas passagens pelo Panathinaikos e pelo Espanyol acabariam por pôr, aos 31 anos de idade, um ponto cessante na sua caminhada como futebolista.
Depois da experiência no comando técnico da Selecção Nacional de sub-16, Paulo Sousa embarcaria numa nova viagem pelo estrangeiro. Como treinador já passou por vários clubes, nos escalões secundários ingleses. Este ano estreou-se no futebol húngaro. À frente do histórico Videoton começou a nova aventura da melhor maneira e, ao bater o Kecskemeti por 1-0, venceu a edição de 2011 da Supertaça.

152 - JOÃO ALVES

Como neto de Carlos Alves, antigo internacional português, herdou dele as luvas pretas. Não as ditas propriamente, mas o hábito de usar um amuleto igual ao que um dia uma rapariga entregara ao seu avô antes de uma partida frente ao Benfica, jogava ele no Carcavelinhos.
Provavelmente, quando começou a usar as luvas nunca interessou a João Alves a fortuna que tal poderia trazer. O importante era homenagear o homem que, falecido dois dias antes, o tinha acompanhado a vida toda e com o qual tinha feito a viagem a Lisboa, para ir prestar testes nos juniores do Benfica. Já como elemento das “escolas encarnadas”, rapidamente mostrou as qualidades que viriam a confirmá-lo como um craque. Inteligente, João Alves sabia pensar o jogo de forma brilhante, sempre um passo à frente dos seus adversários e, por vezes, adiante até dos seus colegas de equipa. Tais características, fizeram dele um pensador de jogo e o resultado traduzir-se-ia num rol infinito de jogadas construídas para que os seus companheiros, ou até mesmo ele, pudessem concluir em golo.
Terminada a formação e depois de uma passagem pelas “reservas”, João Alves seria emprestado ao Varzim. Passada a época nos seniores do emblema poveiro, o seu regresso às "Águias" parecia mais que confirmado. No entanto, o impensável aconteceria! Resultado de um desentendimento com António Simões, num jogo de pré-época em homenagem a Santana, o jovem jogador viria o seu estatuto passar de “grande promessa” a “excedentário”. Acabaria transferido para o Montijo, mas com tão bons desempenhos, uma temporada bastaria para que um dos nomes míticos do futebol português nele reparasse.
Agradado com as suas qualidades, José Maria Pedroto, à frente do Boavista de 1974/75, pediria a sua contratação. Em 2 anos no Bessa, o médio ajudaria a ganhar 2 Taças de Portugal. Na primeira final, frente ao Benfica, ironicamente marcaria o golo que ditaria a vitória e no final da partida, ainda magoado com o episódio da referida contenda, João Alves desabafaria com os jornalistas – “Provei aos dirigentes do Benfica que não me quiseram no clube que, afinal, sabia jogar futebol”*. Todavia, muito mais do que a confirmação das suas qualidades, a certeza de que ali estava um executante excepcional, levaria à cobiça de outros emblemas. De Espanha chegaria a proposta que faria o centrocampista emigrar. Ao serviço do Salamanca, daria continuidade às boas exibições e, principalmente, conseguiria aquilo que muitos considerariam impossível e terminaria a temporada de 1977/78, à frente de nomes como Cruijff, Neeskens e Kempes, eleito o melhor estrangeiro a actuar na La Liga.
Já a sua segunda aventura no estrangeiro não correria tão bem. Após o regresso a Portugal para jogar a época de 1978/79 ao serviço do Benfica, surgiria a oportunidade para representar o Paris Saint-Germain. Na capital francesa, dessa feita, a sorte ser-lhe-ia madrasta e uma grave lesão, contraída logo nas jornadas iniciais, afastá-lo-ia dos relvados por grande parte da referida campanha. Acabaria por voltar ao emblema do seu coração, para, no "Estádio da Luz", sofrer mais uma das grandes desilusões da sua carreira e não marcar presença na final da Taça UEFA de 1983, frente ao Anderlecht- “Só Eriksson poderia dizer porque não me pôs na equipa, depois de uma época inteira a jogar e a fazer grandes exibições. Mas se foi só por ter chegado atrasado a um treino, pareceu-me injusto de mais…”**.
Mais uma vez com as cores do Boavista, o médio encetaria nova etapa no futebol. Depois de ter entrado no Bessa no Verão de 1983 e de ter começado a temporada de 1984/85 ainda como atleta, a saída de Mário Wilson do comando técnico "axadrezado", abriria a João Alves a oportunidade para iniciar a sua vida "nos bancos". Como treinador, passado alguns anos e à frente do Estrela da Amadora de 1989/90, levantaria a 5ª Taça de Portugal do seu currículo e conseguiria, atrás do seu antigo “mestre” José Maria Pedroto, alcançar a 2ª posição das figuras mais condecoradas na referida competição.
Mesmo ao saber que essa vitória na “Prova Rainha” continua a ser o seu único título como treinador e de isso parecer pouco no desenhar do seu palmarés, a verdade é que João Alves pode orgulhar-se de outras marcas dignas de registo. Uma delas, indesmentível, é o “olho” que possui para detectar novas “estrelas”, fazendo parte das suas descobertas craques como Paulo Bento, Pedro Barbosa, Abel Xavier, Catanha e Pauleta. Para além desse facto, nessa sua caminhada como técnico conta com diversas passagens por emblemas da 1ª divisão portuguesa. Contudo, actualmente está à frente dos destinos do Servette, onde, após ter conseguido a subida ao principal escalão do Campeonato suíço, vai tentar esta temporada, com a ajuda do seu filho Carlos Alves (adjunto) e de Costinha (director-desportivo), a conquista de novas metas para o emblema helvético.

*retirado da biografia publicada em https://sjogadores.pt/
**retirado de https://serbenfiquista.com/forum/index.php?topic=22362.90, publicado por “Ednilson” a 28/02/2008

151 - ABEL XAVIER

Corria o Verão de 1990 e para os seniores do Estrela da Amadora era promovido um tal rapaz, alto e esguio, que já nessa altura era presença habitual nas selecções jovens nacionais. Aliás, seria mesmo com a "camisola das quinas" que Abel Xavier, um ano após a sua estreia na equipa da Linha de Sintra, atingiria, pela primeira vez, a ribalta. Falo, está claro, na final do Campeonato do Mundo sub-20 disputada em Lisboa e onde, com a 2ª leva da emergente "Geração d'Ouro", Portugal revalidaria o título mundial da categoria.
Passados 2 anos sobre a referida vitória, o inevitável aconteceria à jovem promessa lusa. Um dos ditos "3 grandes", nesse caso o Benfica, assumiria a sua contratação. Na "Luz" nada seria fácil para si. Aproveitando a sua polivalência, o habitual médio-defensivo, seria deslocado para a direita da defesa “encarnada”, de forma a colmatar um défice de jogadores para essa posição. Apesar das "Águias" terem ganho o Campeonato, as suas exibições, nas quais foi quase sempre titular, nunca chegariam a convencer o público, sendo mesmo considerado um dos elementos mais fracos da equipa campeã. Mais um ano passou e apanhado na purga que Artur Jorge preparou para o balneário da "Luz", Abel Xavier seria emprestado ao Bari, emblema da Serie A italiana, onde acabaria por ser pouco utilizado.
Depois da experiência no “calcio”, o regresso ao Benfica não aconteceu. Talvez por falta de vontade de ambas as partes em dar continuidade à ligação encetada 3 anos antes, a solução encontrada para a carreira do jogador acabou por ser a proposta feita pelo Real Oviedo. Em Espanha, Abel Xavier deu seguimento à sua diáspora que, pelo globo do futebol, raramente trouxe estadias superiores a um ou dois anos por emblema. A excepção foi a sua passagem pelos ingleses do Everton, 3 temporadas, durante a qual conseguiu o maior número de presenças em jogos num só clube e onde, por jogar maioritariamente a defesa-central, conseguiu as suas melhores prestações.
Foi também por altura da sua primeira presença em Inglaterra, que viveu um dos episódios mais penalizantes da carreira. Estávamos em 2000; disputava-se o Europeu de selecções organizado pela Bélgica e Holanda; a partida era a das meias-finais e o adversário a França. Já durante o prolongamento, um cruzamento de Wiltord acabaria interceptado por Abel Xavier. Na sequência do lance seria assinalada uma grande penalidade, por suposta "mão na bola" do defesa português. A confusão nascida daquele que ainda hoje é considerado um dos lances mais polémicos do torneio, resultaria no castigo de vários jogadores. Ainda assim, a pena de Abel Xavier, que começaria por nove meses, acabaria, após recurso, por ser reduzida para meio ano.
Em 2002, na transferência para o Liverpool, o jogador daria o seu derradeiro passo em crescendo. De seguida, e ainda com relevantes passagens pelo Galatasaray, Hannover e Roma, a carreira do atleta entraria em progressivo declínio. O seu ocaso seria acicatado por um polémico caso de doping. Mesmo ao alegar inocência, Abel Xavier nunca conseguiria provar a mesma. A pena lida no decorrer da temporada de 2005/06, decretaria um ano de suspensão e interromperia as suas prestações com as cores do Middlesbrough.
A sua última viagem seria para os Estados Unidos da América. Em Los Angeles, ao serviço dos LA Galaxy, encontrar-se-ia não só com David Beckham, mas também com todo o "glamour" de Hollywood. Na "pátria do cinema", o seu excêntrico visual não passaria despercebido e, acabado o futebol, seria convidado para, numa película, representar o papel de vilão. No entanto, as mudanças na sua vida não acabariam por aqui. Após um primeiro contacto com a religião muçulmana que, segundo o mesmo, ajudou-o a ultrapassar períodos difíceis na sua passagem pela Turquia, Abel decidiria converter-se ao Islão e mudar o seu nome para Faisal.
Em suma, Abel Xavier foi um verdadeiro fenómeno das migrações futebolísticas: 2 confederações, 8 campeonatos as 12 equipas diferentes representadas durante os 18 anos da sua carreira profissional, conferem-lhe o estatuto de verdadeiro "globetrotter"!

150 - COSTINHA

Começou no Oriental, onde fez a formação e onde até chegou a ser acompanhado pelo Benfica. Depois seguiu-se uma passagem de um ano pelo Machico para, em 1996/97, chegar a oportunidade de representar um emblema da principal divisão dos nossos campeonatos. No Leça, apesar de ter sido apresentado como reforço durante o defeso, nunca chegou a jogar! Para ser sincero, não tenho memória da razão desse episódio, mas a verdade é que o médio, a par de Luís Carlos (aquele que viria a jogar no Benfica), acabou por deixar os arredores da cidade do Porto para, ainda durante a pré-época, rumar ao Nacional da Madeira.
O regresso ao arquipélago parecia querer perpetuar o futebol de Costinha pelos escalões secundários. Talvez tivesse acontecido isso mesmo, não fosse o surpreendente "resgate" do AS Monaco! Ironicamente, o desconhecido futebolista português, que ainda um ano antes parecia dar "um passo atrás" na sua carreira, acabava de ser contratado por um dos grandes emblemas da Europa! Já no Principado, apresentado para a campanha de 1997/98, a sua adaptação far-se-ia de forma natural. E se de início não conseguiu logo impor-se, a segunda temporada na Ligue 1 dar-lhe-ia a oportunidade de conquistar um lugar no onze titular dos monegascos.
Finalmente, “Francisco da Costa” estava a despertar a merecida atenção em Portugal. Começou pelas chamadas à Selecção Nacional e com a presença no Europeu de 2000, onde, nos últimos instantes da partida contra a Roménia, marcou o golo da vitória e o seu primeiro com a "camisola das quinas". Em seguida veio o FC Porto, onde viveria os melhores momentos futebolísticos e onde refinaria o seu talento para os golos decisivos, nos derradeiros instantes! A história conta-se assim… O jogo era o dos oitavos-de-final da "Champions" de 2003/04. Na primeira mão, o FC Porto tinha, em casa, infligido uma derrota por 2-1 ao Manchester United. Na volta, em Old Trafford, os "Dragões perdiam por 1-0, resultado que ditava a sua eliminação. Aproximava-se o minuto 90, e o livre-directo junto à área dos ingleses podia ser a derradeira oportunidade para os “Azuis e Brancos”. Tim Howard ainda defende o primeiro assalto, mas seria incapaz de deter a recarga. Costinha, com esse remate certeiro, punha a sua equipa na ronda seguinte e nesse ano, com uma vitória na final frente ao seu antigo emblema, o AS Monaco, acabaria por juntar o triunfo na Liga dos Campeões à Taça UEFA vencida no ano anterior.
Depois da final do Euro 2004, de onde Portugal saiu derrotado pela Grécia, o “trinco” ainda passou mais alguns meses no clube da "Cidade Invicta". Tempo suficiente para conseguir juntar ao seu currículo a Taça Intercontinental de 2005. Já em Janeiro de 2006, veio a transferência para o Dínamo Moscovo. Na Rússia, a carreira de Costinha começou a perder algum brilho. Seguiu-se um bom ano no Atlético Madrid e, finalmente, já no Atalanta acabou por confirmar o seu ocaso.
Penduradas as chuteiras, o seu equipamento passaria a ser o fato e a gravata. Indumentária que tanto gostava de vestir e que, ainda no seu tempo de jogador, tinha valido a Costinha a alcunha "Ministro". Em Fevereiro de 2010 seria apresentado como o novo Director para o futebol “leonino”. As coisas não acabariam por não correr de feição e a promessa de querer "ajudar o Sporting a alcançar vitórias"*, não seria cumprida. O desfecho, precipitado por uma entrevista polémica em que questionava a venda do avançado Liedson, seria o despedimento.
Já neste Verão voltou a aceitar novo desafio no estrangeiro. Juntou-se ao Servette e no clube suíço treinado por João Alves, irá ter uma nova etapa na sua carreira de dirigente desportivo.

*retirado do artigo de Isaura Almeida, publicado em  www.dn.pt, a 26/02/2010

EMIGRANTES

"Meu querido mês de Agosto"... mês das "vacances", festas e devotas romarias e daqueles que lá fora, engrossando os números da diáspora, vão à procura de melhores dias!
Com intuito de homenageá-los, decidimos dedicar-lhes estes próximos "cromos" que, com mais ou menos engenho, também jogaram a sua sorte no estrangeiro. Assim, sempre com a ideia que "mais vale um mês aqui do que um ano inteiro lá"**, recebemos, de braços abertos, os nossos emigrantes.
 
*título da canção de Dino Meira
**retirado da canção "Voltei voltei", de Dino Meira