246 - JUARY


Todos têm memória do fenomenal golo de calcanhar concretizado por Madjer. Porém, será que caiu no esquecimento o remate certeiro de Juary, também a passe do argelino, e que na final da Taça dos Clubes Campeões Europeus de 1986/87, completou a reviravolta no marcador? Com certeza que não!
O mais engraçado é que Juary, por estar "tocado", começou o embate de Viena no banco de suplentes. Contudo, com o "placard" desfavorável de 1-0, o treinador Artur Jorge, logo a seguir ao intervalo, fez entrar o atacante para o lugar de Quim. O resultado de tal alteração não foi imediato. Bem perto do fim, a substituição surtiu o efeito desejado e, depois de, aos 78 minutos, ter feito a assistência para o primeiro golo, o avançado brasileiro empurrou a bola para o fundo das redes à guarda do belga Jean-Marie Pfaff e deu a vitória ao FC Porto.
Por certo, a saudosa noite de Viena tornou-se num dos melhores embates da sua vida enquanto futebolista profissional. A verdade é que a carreira do avançado começou muitos anos antes, no Santos. No emblema do Estado de São Paulo, fez parte dos "Meninos da Vila", nome dado ao inesquecível grupo de jovens formados na casa e que, no final dos anos de 1970, alinhou pelo emblema paulista. Na Vila Belmiro, bairro onde está instalado o clube, Juary aprendeu que não era necessário ser alto para conseguir ser um bom avançado. A sua perícia resultava de uma velocidade estonteante e de um jeito singular para aparecer na grande-área adversária. Peculiar era também a maneira como comemorava os golos. Juary ainda hoje é lembrado pelas voltas que dava agarrado à bandeirola de canto, sempre que acertava na baliza. E muitas vezes conseguiu fazê-lo! Tantas que os 101 golos concretizados ao serviço do emblema que também celebrizou Pelé, passaram a constituir um marco de que poucos podem orgulhar-se.
Depois da notoriedade ganha com as cores do Santos ter levado o avançado à selecção "canarinha", a Juary só faltava dar o "salto" até à Europa. Esse horizonte atingiu-o poucos anos depois e após uma passagem pelo México. Já em Itália, as boas exibições pelo Avellino conseguiram assegurar-lhe uma mudança para Milão. Porém, como próprio chegou a contar – "No Inter foi um ano para esquecer em termos de futebol, pois não consegui praticamente render nada. Aprendi muita coisa a nível humano, mas futebolisticamente nada"*. A solução para o desaire foi transferir-se, novamente, para clubes de menor monta. Passou as temporadas seguintes no Ascoli e na Cremonese e quando já equacionava o regresso ao Brasil, apareceu então uma oportunidade vinda de Portugal.
No FC Porto mostrou ainda saber da arte de atacar a baliza contrária. Na estreia no Campeonato Nacional, em pleno Estádio das Antas frente ao Benfica, marcou o primeiro tento pelos "Azuis e Brancos". Ainda no decorrer dessa temporada, a de 1985/86, num encontro para as competições europeias, fez um "hat-trick" contra o Barcelona. Todavia, por razão dos 2-0 consentidos na Catalunha e de mais 1 golo sofrido nessa segunda volta, os 3 remates certeiros não seriam suficiente para passar a referida eliminatória. Não serviram esses 3 golos, mas chegou o tal que, aos 80 minutos, derrotou o Bayern de Munique e que ainda hoje tem o jogador num lugar de destaque no coração de todos os portistas.

*retirado do artigo de Filipe Caetano, publicado a 01/11/2005, em https://maisfutebol.iol.pt

Sem comentários: