Ao terminar a formação no Belenenses seria na equipa a jogar em casa nas Salésias que Manuel Andrade faria a transição para sénior. Chamado pelo treinador Augusto Silva à 1ª equipa, a estreia do avançado-centro ocorreria à 9ª jornada do Campeonato Nacional de 1945/46. Logo nessa partida de arranque, ao nunca demonstrar qualquer sinal de nervosismo, o jovem atleta ultrapassaria a marcação serrada e alguma malandrice do seu adversário directo e com um “hat-trick” ajudaria a virar o resultado – “Aos 15 minutos estávamos a perder por 2-0. Tive uns problemas com um defesa do FC Porto, o Guilhar, que estava a marcar-me. Era terrível, chamava-me nomes e dava-me beliscões. Mas demos a volta ao resultado graças a três golos meus”*. Daí em diante, Andrade, apesar da tenra idade, passaria a ser tido como um dos esteios dos “Azuis”. Com 14 partidas disputadas ao longo dessa campanha, os seus 19 golos, para além de consagrá-lo como o melhor marcador da equipa, seriam de uma relevância fulcral para a vitória do Belenenses na prova de maior monta no calendário luso de futebol. Porém, apesar da importância ganha durante a aludida competição, um desaguisado com o capitão Mariano Amaro haveria de atrapalhar o seu crescimento no clube – “Certa vez, ainda na época do título em 1945-46, o Amaro chegou-se ao pé de mim e pediu-me para lhe levar a mala. Olhei para ele, dei uma gargalhada e disse-lhe que só podia estar a brincar comigo (…).Foi a minha sentença (…)**. “Mais tarde, quando o Scopelli chegou para treinar o Belenenses, foram-lhe apresentados os jogadores da linha principal, os suplentes mais utilizados e as reservas. Começámos os treinos e o Amaro, que tinha jogado com o Scopelli no Belenenses, aconselhou-o na constituição da equipa (…). Fizeram as equipas e eu fiquei de fora (…). Perguntei ao mister se ele se tinha esquecido de mim. Pôs-me a defesa esquerdo. Num treino, sempre que recebia a bola virava-me para a baliza do Sério, que era o meu guarda-redes. Eu disse-lhe que estava habituado a jogar a avançado-centro. Chutava sempre para a baliza que estava mais perto”*. O termo da temporada de 1947/48 marcaria o fim da ligação do atacante com o Belenenses. Ainda assim, a sua habilidade não esmoreceria e a convite de Peyroteo, amigo de longa data, o jogador passaria a representar o Sporting. No entanto, o contexto desportivo que encontraria nos “Leões”, com o próprio Peyroteo a ocupar a posição de avançado-centro, não proporcionaria grandes oportunidades a Andrade. Tendo apenas actuado pela primeira categoria em jogos particulares, a campanha de 1948/49 consagrá-lo-ia apenas a um lugar nas “reservas” e finda a dita época, a saída surgiria como a melhor opção para a sua carreira. A campanha de 1949/50, no que diz respeito à caminhada competitiva do avançado, constitui para mim um mistério. Sem ter conseguido confirmar tal informação, ainda assim, existem fontes a dar o atleta como elemento do Almada, à altura a disputar a 2ª divisão. Certo, seria a sua inclusão no plantel de 1950/51 do Estoril Praia. Nos “Canarinhos”, num grupo de trabalho com nomes notáveis no cenário português, casos de Sebastião, Alberto de Jesus, Bravo ou Miguel Lourenço, Andrade conseguiria conquistar o seu lugar no “onze” titular. Durante as temporadas seguintes, sempre como um elemento merecedor de vários louvores, o jogador continuaria a competir na 1ª divisão. Todavia, o esmorecer da paixão pela modalidade fá-lo-ia retirar-se muito antes de completar 30 anos de idade – “Nunca me senti um jogador de futebol a 100 por cento. Não gostava de jogar futebol. Mas, como tinha jeito, jogava”*.
*retirado da entrevista de David Marques, publicada a 26/05/2016, em https://maisfutebol.iol.pt
**retirado da entrevista de Rui Miguel Tovar, publicada a 21/07/2017, em https://observador.pt
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