254 - SENINHO

Dono de uma velocidade sem par, à custa da qual chegou a fazer 10,8 segundos em 100 metros, Seninho, à estonteante qualidade física, soube juntar um controlo do esférico igualmente assombroso. Foi essa simbiose perfeita que, na temporada de 1977/78, destruiu o intento do Manchester United, em recuperar dos 4-0 sofridos no Estádio das Antas. Ainda assim, apesar da excelente vantagem trazida da primeira mão, a partida em Old Trafford, na disputa dos oitavos-de-final da Taça do Vencedores das Taças, perspectivava-se difícil para os “Dragões”. Os "Red Devils", alimentados por um ambiente incrível, depressa conseguiriam adiantar-se no marcador. No entanto, o extremo não estava pelos ajustes – “fiz uma arrancada, driblei dois ou três adversários pela direita e rematei com o pé esquerdo, já perto da área"*. Feito o empate, o árbitro, veiculado à altura como senhor de tendências caseiras, entre golos irregulares e constantes faltas por marcar, começou a dificultar a vida aos portistas. A 30 minutos do fim, com o “placard” a registar 4-1 a favor da colectividade inglesa, mais uma vez coube ao avançado agitar o rumo do jogo – “Domino a bola, consigo fintar o guarda-redes e como tinha pouca posição, tentei enquadrar--me com a baliza, já que estavam dois adversários em cima da linha de golo. Se com um jogador já é difícil, imagine com dois! Depois meti a bola no buraco da agulha, por entre as pernas de um deles. Tive sorte porque a bola bateu num dos calcanhares e ganhou um efeito que impossibilitou o corte de quem quer que fosse”*.
O resultado ficou 5-2, com Seninho, verdadeiramente, a fintar os ingleses. Quem também saiu desconsertado do estádio foram os emissários do New York Cosmos que, naquela noite, até iam para ver jogar António Oliveira. Porém, o destaque acabou por incidir no extremo e os observadores, agradecidos pela coincidência, logo na manhã seguinte fizeram chegar aos responsáveis portistas uma proposta milionária. 20 mil contos depois, 12 para o jogador e 8 para o clube, mais um telefonema de Pelé a convencer o atleta a mudar-se, e o negócio ficou fechado.
Seninho partiu para o outro lado do Atlântico, após recusar um rol de tentadoras propostas vindas de grandes clubes do “velho continente”. Quem também ficou para trás foi o FC Porto, emblema a que chegou em 1969, vindo de Angola, e o qual ajudou a vencer 2 Campeonatos Nacionais, inclusive o que pôs fim a um jejum de 19 anos sem vencer a mais importante prova lusa. Já nos Estados Unidos da América, para além de um salário substancialmente maior ao auferido em Portugal, o jogador teve a oportunidade de partilhar o balneário com o astro brasileiro referido no parágrafo anterior e com outras estrelas como Beckenbauer, Neeskens ou Carlos Alberto.
Financeiramente e também pelo “glamour hollywoodesco” em que nasceu a Liga norte-americana, a experiência, por certo, terá compensado. Já no campo desportivo a história é um pouco diferente. Seninho, ao contrário da maioria dos jogadores famosos que lá foram parar, transferiu-se ainda no auge da carreira e, com a mudança, acabou por perder alguma visibilidade no "mundo" do futebol. Um dos resultados mais notórios desse afastamento foi o facto de, a partir daí, nunca mais ter sido chamado a representar a selecção nacional.

*retirado da entrevista publicada em https://ionline.sapo.pt, a 22/11/2011

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