396 - NÉLSON

Quando, ainda miúdo, entrou para o clube da terra, o Torreense, a sua crença eram as balizas adversárias. Por isso foi para avançado. Um dia, por falta de um elemento para guardião, chamaram-no. A função não era de todo estranha para si, pois, em brincadeiras com os amigos, muitas vezes cumpria essas tarefas. Ali era mais a sério. No entanto, Nélson não fraquejou e as qualidades reveladas naquele inesperado treino, fizeram com que os responsáveis técnicos do clube tentassem mantê-lo no lugar. Assim, o jovem que adorava atentar contra os guardiões, passou a ser um deles. Foi nessa posição, por vezes tão ingrata, que percorreu quase todo o percurso na formação, que transitou para os seniores e onde, nas divisões secundárias, começou a dar nas vistas.
Foi o Sporting quem decidiu apostar nele para reforço do plantel de 1997/98. A concorrência era muita e a vida desse praticante, com pouco mais de 20 anos, prometia ser seriamente dificultada pela presença daquele que, à altura, era o titular da selecção belga, Filip De Wilde. A verdade é que tal cenário não era muito animador. Todavia, qual a razão para desanimar? Nenhuma. Pelo contrário, Nélson estava a viver um sonho. Com os primeiros passos em Alvalade o jovem guardião chegava aos palcos da 1ª divisão, entrava no escalão máximo pela porta de um dos colossos do futebol português e, ainda por cima, com a oportunidade de conhecer, de trabalhar e de escutar os conselhos de um dos seus grandes ídolos, o mítico Vítor Damas.
Nos anos seguintes ao da sua chegada, o contexto competitivo de Nélson não mudou muito. Primeiro Tiago e depois o gigante dinamarquês, Peter Schmeichel, perpetuaram a sua condição de suplente. Ainda assim, continuou a mostrar-se como um membro útil à equipa. A capacidade de trabalho, a entrega exibida em todos os treinos, a maneira modesta, mas não resignada, como aceitou um lugar no banco, sempre foram a sua maneira de ajudar o grupo. É certo que é pouco para alguém que jamais mostrou falta de ambição. Porém, a sua paciência haveria de ter uma boa recompensa e na temporada de 1999/00, pela primeira vez na carreira, viu o seu nome na lista de campeões nacionais.
Apesar de ter ficado na história do clube como um dos atletas que, ao fim de 18 anos, conseguiram pôr fim àquilo que mais parecia uma maldição, para Nélson a campanha referida no final do parágrafo anterior não seria a melhor de "Leão" ao peito. Essa aconteceria na temporada 2001/02, com a chegada à titularidade, com a conquista da "dobradinha", com a estreia pela selecção “A” e, acima de tudo, com a convocatória de António Oliveira a levá-lo ao Campeonato do Mundo organizado entre o Japão e a Coreia do Sul.
Depois do torneio disputado na Ásia, ao Sporting chegou o titular da selecção portuguesa. Apesar de Ricardo passar a ocupar o lugar de titular, Nélson, novamente na condição de suplente, teimou em não claudicar. Manteve-se em Alvalade para ajudar e foi sempre esse espírito que manteve até ao último dia no clube. No final da época de 2005/06, sem proposta para renovar o contrato, o guardião preferiu declinar o convite para ingressar no corpo técnico "verde e branco". Prosseguiu a carreira noutro clube e depois do Vitória Futebol Clube, do Estrela da Amadora e do Belenenses, o jogador, por razão de uma grave lesão contraída ao serviço dos “Azuis”, decidiu pôr termo à sua vida de futebolista.
Não esteve muito tempo afastado da modalidade e em 2011/12 regressou ao Sporting, para integrar o corpo técnico dos juniores. Por razão do despedimento de Domingos Paciência e da promoção de Sá Pinto ao conjunto principal, Nélson foi igualmente convidado para os seniores. Desde então mantem-se nas mesmas funções e hoje é o treinador dos guarda-redes, na equipa sob a intendência de Leonardo Jardim.

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