1353 - JÚLIO


Descoberto no Ramaldense, popular colectividade que também lançou Humberto Coelho, Júlio acabaria a sua formação já nos juniores do FC Porto e como campeão nacional da categoria. Aferido como um ponta-de-lança bastante oportuno, o jovem jogador, ainda com 17 anos, seria chamado, na época de 1971/72, à equipa principal dos “Dragões”. Com a estreia sénior a acontecer sob a alçada do treinador António Feliciano, a verdade é que nos anos vindouros, o avançado conquistaria, com algumas excepções, poucas oportunidades para envergar o listado dos “Azuis e Brancos”. Ainda assim, o atacante, por vários anos, manter-se-ia como um elemento válido dentro do plantel portista. Todavia, com a chegada de José Maria Pedroto ao Estádio das Antas, a situação do jogador, por razão da relação fleumática com o aludido técnico, pioraria e terminaria com um pedido de rescisão contratual – “Não dava, o meu feitio chocava com o dele. Ele tinha duas caras. Disse-lhe isso. Na cara. Então ò Rui, há uma digressão no Brasil e quatro/cinco jogadores não regressam a Portugal com a equipa. Diz-me ‘és o melhor do mundo’ e, de repente, no jogo seguinte, não contas para ele. Vais para a bancada enquanto os outros jogam? (…) Outra: sou suplente num jogo com a Académica. Ao intervalo, 0-0. ‘Vai lá para dentro e resolve’, disse-me ele. E resolvi, fiz o 1-0 e o 2-0. No jogo seguinte, nem convocado fui”*.
Seria também durante a primeira passagem de Júlio pelo FC Porto que as selecções entrariam no quotidiano do jogador. Arrolado primeiramente para representar as “esperanças”, a partida frente à Bulgária, a 13 de Outubro de 1973, encetaria um percurso que, num total de 5 internacionalizações, levaria o ponta-de-lança a representar a equipa “B”, os “olímpicos” e a ser listado aos trabalhos do conjunto “A”. Nesse percurso, as chamadas à equipa principal lusa trariam à história do atleta episódios peculiares e, pior que tudo, de grande infortúnio. O primeiro, em Setembro de 1980, por altura de um “amigável” disputado frente à Itália, terminaria com o jogador, contra todas as expectativas, a não sair do banco de suplentes. Novamente chamado por Juca, passados alguns meses surgiria a oportunidade de uma partida a contar para a Fase de Apuramento do Mundial de 1982. Na peleja a opor Portugal a Israel, o avançado acabaria a aquecer, mas um incidente tão curioso quanto azarado tiraria ao atacante a oportunidade de entrar em campo – “Disse-me para ir aquecer que ia entrar (…). Saí pela direita do banco, corri pela linha lateral, dei a volta à bandeirola de canto e continuei a correr pela linha de fundo (…). Sem saber, tinha o preparador-físico José Falcão a correr atrás de mim. Era um homem que usava uns óculos fundo de garrafa. Quando me viro para continuar a correr no sentido inverso, bato com o nariz nos óculos dele e parto a cana. Comecei imediatamente a sangrar”**. “O Juca vê aquilo e diz que não posso entrar com sangue. Nunca mais lhe falei. Quem entra é o Manuel Fernandes. Por essa altura, já estou no balneário a levar uns agrafos do massagista Mário Belo. Terminado o serviço, fui-me embora e nunca mais voltei à selecção”*.
Regressando ao percurso clubístico do avançado, ao fim de 6 temporadas no FC Porto e com o currículo colorido pela vitória na edição de 1976/77 da Taça de Portugal, Júlio haveria de ingressar no Varzim. No emblema da Póvoa, o ponta-de-lança acabaria por fazer uma grande campanha, a ponto de começar a despertar a cobiça de outros emblemas. O primeiro a fazer-lhe uma proposta concreta seria o Benfica, mas as divergências surgidas no momento de rubricar a nova ligação, levariam à suspensão do acto. Surgiria então o Boavista, emblema com o qual assinaria um contrato. No Bessa a partir da campanha de 1978/79, o jogador manter-se-ia como um elemento deveras importante no cumprir dos desígnios colectivos. Nesse sentido, é impossível não destacar dois momentos. O primeiro seria a final da Taça de Portugal de 1978/79, onde um golo seu empurraria a decisão da peleja para a finalíssima. Mais uma vez chamado para o “onze” por Jimmy Hagan, o avançado, com o único remate certeiro do desafio, daria o troféu aos “Axadrezados”. Para completar este capítulo, há ainda que fazer referência à Supertaça do ano seguinte, altercada frente ao FC Porto, e onde 2 tentos seus entregariam aos escaparates das “Panteras” a edição inicial do troféu.
Com 3 épocas no Bessa a revelarem elevados índices exibicionais, Júlio, mais uma vez, viria a ser contratado pelo FC Porto. Sem conseguir ser um titular indiscutível, o avançado conquistaria uma razoável fatia de preponderância nos objectivos da equipa, ajudando, logo na época de volta às Antas, à conquista da Supertaça de 1981/82. Contudo, com José Maria Pedroto de novo no comando técnico dos “Dragões”, o avançado, volvida uma campanha sobre o regresso do treinador aos “Azuis e Brancos”, pediria a rescisão da ligação laboral.
Seguir-se-iam, numa carreira a aproximar-se do fim, a época passada ao serviço do Vitória Sport Clube, onde voltaria a encontrar-se com o seu treinador no FC Porto, o austríaco Hermann Stessl. Depois surgiriam o Portimonense e o Salgueiros, numa caminhada desportiva que, com a conclusão da temporada de 1985/86 e com um total de 15 campanhas primodivisionárias, levaria Júlio a “pendurar as chuteiras”.

*retirado da entrevista conduzida por Rui Miguel Tovar, publicada a 30/07/2021, em https://tovarfc.pt
**retirado do artigo de Sérgio Pereira, publicado a 05/08/2010, em https://maisfutebol.iol.pt

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