508 - KENEDY

Com um percurso feito nas camadas jovens do clube, seria pela mão de Sven-Göran Eriksson que Kenedy chegaria à principal equipa benfiquista. Duas temporadas depois e a sua preponderância no seio do plantel, começa a ganhar contornos de alguma importância. Aquando do início dessa época de 1993/94, os da "Luz" contavam já com um defeso bem atribulado. A saída de alguns jogadores para o rival Sporting e uma grave crise financeira, assombravam o futuro próximo do emblema. Não se deixando atormentar por tal, o carismático Toni reuniria à sua volta um grupo de jogadores com uma grande vontade de vencer. Kenedy, sem ser um dos nomes de primeira linha, não deixava de ser um dos tais escolhidos pelo técnico português. No final, das agruras previstas, sairia a vitória no Campeonato. Para Kenedy era o arrecadar de mais um troféu... mais um, a juntar à Taça de Portugal vencida no ano anterior.
Daí em diante a carreira do esquerdino tomou os contornos de quem evolui normalmente. Começou, progressivamente, a jogar mais; as suas qualidades melhoravam a cada passar de época; e começou a ser visto como um bom reforço para alguns planteis. Seria por essa altura, já depois de nova vitória na Taça de Portugal (1995/96), que Kenedy decide não renovar pelo Benfica. No horizonte, por certo, estariam já as promessas de outros clubes e o mesmo veio a confirmar-se pouco tempo depois. Foi com o 4º lugar conseguido por Portugal, nos Jogos Olímpicos de Atalanta, que o jogador chega a Paris. Em cima da mesa estava um contrato com o PSG, orientado pelo seu antigo colega Ricardo Gomes. Na "Cidade Luz", a vida de Kenedy, ao lado de craques como Paul Le Guen, Leonardo ou Anelka superaria as mais optimistas previsões. Contudo, e apesar da sua boa utilização e de melhores expectativas futuras, o defesa/médio, ao fim de um ano, toma a decisão de deixar o clube - "Eu era jovem, tinha 23 anos. Eu tinha feito uma grande temporada. Dos 70 jogos que, aproximadamente, tínhamos jogado, eu estava envolvido em quase todos. Na altura o FC Porto queria-me e eu queria voltar para casa. Foi-me oferecido as mesmas condições que na França. Era tentador. Mas as coisas não correram como eu esperava no Porto. Se eu pudesse voltar atrás, eu ficaria no PSG. Cometi um erro ao deixar Paris...".
O tal arrependimento, entende-se bem quando analisamos a temporada que Kenedy faria pelos "Dragões". Poucas partidas disputadas e exibições de fraco calibre, acabariam por ter mais peso que os títulos que, ainda assim, adicionaria ao seu palmarés. Com mais 1 Campeonato, 1 Taça de Portugal e 1 Supertaça no seu currículo, o atleta, já depois de um fracassado empréstimo ao Albacete, tenta relançar a sua carreira no Estrela da Amadora. A sua opção revelar-se-ia a mais acertada. Apesar do clube da Linha de Sintra não ter o peso dos emblemas a que estava habituado até então, a mudança permitir-lhe-ia jogar com regularidade.
Já como um futebolista renascido e com a sua cotação a subir, o Marítimo decide contratá-lo. Na Madeira, a época de 2001/02 revela-se para o jogador como uma das melhores da sua carreira. Merecido, mas com alguma surpresa à mistura, o seu nome é apresentado por António Oliveira, como um dos escolhidos para o Mundial de 2002. O pior vem a seguir, com Kenedy a acusar positivo num controlo anti-doping. Afastado da convocatória para o torneio disputado no Japão e Coreia do Sul, o atleta continua a afirmar a sua inocência, revelando que o medicamento que utilizava era com o intuito de manter o peso e receitado pelo seu médico. Nem a confirmação do clínico lhe valeria de nada... e a sanção disciplinar das entidades competentes cairia sobre Kenedy.
Assombrada pelo episódio, a sua vida profissional nunca mais voltou a entrar no rumo certo. Os anos que seguiram, ao serviço do Marítimo, do Sp.Braga e Académica, mostrariam um Kenedy com uma forma física débil. Os resultados não poderiam ser outros, senão os piores.
A última fase da sua carreira, já acima dos 30 anos, passaria pelos campeonatos cipriota (APOEL) e grego. Com as cores de clubes de menor monta, entre os quais alguns de escalões inferiores, Kenedy decidir-se-ia pelo "arrumar das botas". Nesse seu último capítulo, destaque para a experiência que teve como treinador-jogador que, "quiçá", o poderá ajudar, futuramente, a relançar-se no mundo do futebol.

507 - CÉSAR BRITO


Foi em plena Serra da Estrela que o avançado, nascido e criado na Beira Baixa, se destacou. Depois de ajudar o Sporting da Covilhã a regressar à Primeira Divisão, numa altura em que os "grandes" ainda olhavam para o mercado interno, viu o Benfica interessar-se pelo seu concurso. Os golos que até então marcara, foram suficientes para convencer os responsáveis da "Luz" na sua contratação, corria o Verão de 1985. Contudo, na sua chegada ao Benfica, e num plantel recheado de estrelas, César Brito haveria de ter algumas dificuldades em impor-se. Duas temporadas depois e com poucas partidas jogadas, o empréstimo aconteceu. No Portimonense, o atacante voltou a mostrar a sua habilidade. Boa utilização, golos, e, principalmente, as 4 chamadas à Selecção Nacional, fizeram com o Benfica o resgatasse dessa passagem pelo Algarve.
De volta a Lisboa, a importância do atacante no seio do plantel "Encarnado" começou a melhorar. No entanto, engane-se quem pensou que o regresso de César Brito era sinónimo de titularidade garantida. Numa equipa onde Magnusson era "rei e senhor", e onde outros nomes, como os de Vata ou Lima, também tinham o seu peso, o avançado nem sempre era a primeira escolha. Aliás, a "segunda linha" seria uma (quase) constante na sua carreira. Mas apesar disto, a qualidade de César Brito era indiscutível. Por essa razão, ano após ano, ao contrário de tantos outros que iam saindo, o seu lugar na equipa estava garantido.
Claro que nenhum jogador gosta de ser suplente. Agora, o engraçado, é que seria esse estatuto que viria a tornar César Brito numa das lendas benfiquistas. A história conta-se depressa e o tal episódio, esse que o tornaria inesquecível, passar-se-ia no antigo Estádio das Antas!!! Ainda não se lembra???!!! Então, vamos recordá-lo... Na jornada 34 o Benfica visitava o FC Porto. Os dois emblemas, com as Águias na dianteira, estavam apenas separados por um ponto. A deslocação à "Invicta" adivinhava-se difícil. Agora, o que ninguém estaria à espera foi o que realmente aconteceu! Depois de terem encontrado o balneário cheio de bagaço, de se terem equipado nos corredores e de terem "visto" os seus dirigentes, por parte de um tal "Guarda Abel", ameaçados de morte, os jogadores do Benfica entraram em campo. Aos 81 minutos de jogo, o zero a zero inicial mantinha-se. É então que, num último folego, Sven-Göran Eriksson faz sair do "banco" a derradeira substituição. Entra César Brito e, segundos depois, marca golo! Não satisfeito com o que se tinha passado, volvidos que estavam 4 minutos, o avançado, com mais um tento dá a estocada final no adversário - "Foi um dia feliz para mim. São momentos que marcam a carreira de qualquer futebolista. Ainda hoje, as pessoas recordam-se desse dia e ainda falam do jogo quando se cruzam comigo na rua"*.
Esse título conquistado pelo Benfica (1990/91), é um dos 4 Campeonatos que fazem parte do currículo do atleta. O último, vencido em 1993/94, marcaria uma revolução no clube. A saída de Toni e a entrada, na temporada seguinte, de Artur Jorge seria sinónimo de muitas dispensas. César Brito ainda se aguentaria mais uma época, mas no rescaldo de 1994/95, a porta de saída abrir-se-ia para o avançado.
Por vezes, um capítulo menos bom dá jus a uma nova chance. Foi isso mesmo que aconteceu a César Brito, aquando da sua contratação pelo Belenenses. A ida para os do Restelo, haveria de mostrar um jogador de qualidades e vontade intacta. Depois de uma temporada de bom nível, e com a partida de João Alves para Salamanca, a oportunidade de jogar no estrangeiro surgiu. Seguiu com o treinador para Espanha e aí, já com 32 anos feitos, fez uma das melhores campanhas da sua carreira.
Os últimos passos da sua vida como profissional, depois de uma temporada no principal escalão da "La Liga" e de mais uma ao serviço do Merida, seriam marcados por algumas lesões. No entanto, ainda havia algo a cumprir. E isso era terminar no emblema que o tinha mostrado ao "mundo" do futebol. E foi isso que aconteceu em 1999/00, com as cores do Sporting da Covilhã.

* de "101 Cromos da Bola", Rui Miguel Tovar

506 - PEDRO MENDES

A sua estreia na categoria sénior dar-se-ia ao serviço do Felgueiras. Um ano após este empréstimo, Pedro Mendes regressaria ao Estádio Afonso Henriques, a casa que o viu crescer. Foi então, com as cores do Vitória de Guimarães que o médio fez, praticamente, toda a sua formação. Logo desde os primeiros tempos, mostrou que a disciplina com se apresentava em campo era a sua maior arma. Passes certeiros, a maneira rápida como fazia circular o jogo e a faculdade de estar sempre no lugar certo, eram outros dos seus predicados e um aviso de que ali estava um futuro craque. Quem não descurou de tais sinais foram os responsáveis técnicos da Federação que, rapidamente, o começaram a convocar para os trabalhos das selecções jovens.
Quatro temporadas no Vitória de Guimarães, em que as exibições conseguidas, principalmente no último ano, valer-lhe-iam a chamada à principal "Equipa das Quinas", foram suficientes para que José Mourinho o quisesse a seu lado. Ora, numa equipa que acaba de vencer a Taça UEFA, as oportunidades dadas a um recém-chegado, por norma, não são muitas. Ao contrário do que seria normal, este facto não atemorizou Pedro Mendes. A sua resposta foi simples e passaria por uma exibição positiva a cada oportunidade oferecida. Aliás, a sua constância exibicional, outra das suas grandes marcas, faria dele um dos elementos de maior valia no seio do FC Porto. Se a isso juntarmos a sua polivalência dentro do meio campo, então é fácil entendermos porque é que num sector do terreno que, preferencialmente, era ocupado por Costinha, Maniche e Deco, Pedro Mendes haveria de ser um dos nomes com mais presenças.
O prémio para a dedicação que demonstrava, haveria de vir em forma de títulos. Campeonato, Supertaça e a Liga dos Campeões foram os troféus que nessa época de 2003/04, Pedro Mendes juntou ao seu currículo. Tais conquistas fizeram com que outros emblemas, olhassem para ele como um bom reforço. Quem levaria avante tal aposta, seria o Tottenham. Em Londres, logo à chegada, assumiria um papel principal no sector intermediário dos "Spurs". Utilizado com bastante frequência, a sua inteligência era como um bálsamo para os seus companheiros. Bons lances conseguiu, mas nenhum deles ficará na memória dos adeptos como aquele golo... aquele que nunca foi!!! A história conta-se depressa. Numa partida em Old Trafford, o resultado permanecia 0-0. Num rasgo de brilhantismo, percebendo que o guarda redes de Manchester Utd estava avançado, Pedro Mendes, do meio campo, remata à baliza. A bola entra e já depois de, inequivocamente, passar a linha de baliza, Roy Carrol dá-lhe uma sapatada para fora. Golo, por certo... todos o viram!!! Todos, não! O arbitro nada assinalaria!!!
Já segunda temporada em White Hart Lane, acabaria por ser madrasta para o jogador. Algumas lesões e poucas partidas jogadas, fariam com que o internacional português partisse em Janeiro de 2006. O destino foi o Sul. A ida para o Portsmouth, uma equipa que estava habituada a posições longes dos lugares cimeiros, poderia parecer um passo atrás na carreira de Pedro Mendes. Ironicamente, esta sua mudança coincidiria com um dos momentos históricos do clube, e a Taça de Inglaterra conquistada em 2008, acabaria por ser o seu único título conquistado em Inglaterra.
O capítulo seguinte ocorreria no sentido cardinal oposto. Na Escócia, agora ao serviço do Rangers, a sua estreia não poderia ter sido mais auspiciosa. Numa partida frente ao Hearts, Pedro Mendes começa por marcar um golo. Não satisfeito com o tento, acaba por rubricar uma exibição tal que o leva a vencer o "Man of the Match". Sucesso à chegada, sucesso também para o resto da temporada, com a equipa de Glasgow a embalar para a uma dupla conquista interna, a da Taça e a do Campeonato.
A Liga Escocesa voltaria a entrar para o rol títulos de Pedro Mendes. Contudo, o médio "luso" já não estaria presente no momento da entrega do novo troféu. A segunda metade dessa temporada de 2009/10, passá-la-ia já em Portugal. A apadrinhar o regresso do jogador de (quase) 31 anos estava agora o Sporting. No entanto, desengane-se quem pensou que a idade do atleta era, por essa altura, sinónimo de perda de qualidade. Muito pelo contrário! Tal facto ficaria provado dentro de campo, com Pedro Mendes a assegurar um papel relevante na manobra da equipa comandada por Carlos Carvalhal. As exibições de Pedro Mendes seriam de tal ordem boas, que Carlos Queiroz não teve dúvidas em convocar o médio para os trabalhos da selecção. Nessas duas derradeiras partidas de qualificação para o Mundial de 2010, o centrocampista seria titular e acabaria por ganhar o direito de estar presente na fase final, disputada na África do Sul.
O fim da carreira de Pedro Mendes, tal como o próprio sempre fez questão, seria passada no Vitória de Guimarães. Recebido em clima apoteótico, tudo apontava para mais uns anos brilhantes. O pior é que essa época de 2011/12, seria marcada por uma grave lesão, a qual, terminada a temporada, levaria o jogador a decidir-se pelo "pendurar das botas".

505 - EMÍDIO GRAÇA

Por razão da "Lei de Opção" que, quase, impossibilitava um atleta movimentar-se de um clube para outro; porque o mediatismo era uma coisa de grandeza diferente; ou, simplesmente, por causa de serem outros os tempos, Emídio Graça poderá ter passado ao lado de uma carreira sensacional!
É verdade! Médio de pendor mais ofensivo, diz quem o viu em campo que a sua maneira de ler o jogo, de o pautar e construir, juntamente com uma técnica que zombaria de muitos "craques" actuais, faziam dele um fora-de-série.
No Vitória de Setúbal, numa altura em que os "homens do Sado" eram um sério afronto à hegemonia dos "Grandes", começou por demonstrar todas as suas habilidades. Foram vários anos em que a sua presença no meio campo sadino era, mais que uma constante, uma certeza de qualidade. Boas, foram as campanhas do Vitória sob a sua batuta. Nesses anos 50, um dos pontos altos da história do jogador terá sido a presença na final da Taça de Portugal de 1953/54. Do Estádio Nacional do Jamor siaria derrotado. Contudo, a sua exibição, e a dos seus companheiros, acabaria por convencer os adeptos. É verdade que no regresso à sua cidade, o tão desejado troféu não vinha na bagagem da comitiva. Mas o esforço demonstrado pelos atletas merecia um pouco mais. Foi então que um grupo de associados decide-se por uma pequena gratificação. Manda fazer a "Taça Recompensa" e, como sinal do seu agradecimento, oferece-a à equipa.
Ora, as temporadas que se seguiriam, também seriam de igual proveito para o centrocampista. É certo, os títulos não apareceram. No entanto, existem outras formas de reconhecimento que, de igual modo, consagram a carreira de um desportista. Uma delas, garantidamente, são as convocatórias para a selecção. Neste campo, Emídio Graça foi presença habitual entre 1955 e 1958. A sua estreia dar-se-ia em Glasgow, frente à congénere escocesa. Os 3 anos que se seguiram trouxeram ao atleta mais 11 internacionalizações, onde, só por uma questão de mesquinhez, poderei dizer que faltou um golo.
Incrivelmente, o seu afastamento da "Equipa das Quinas" dar-se-ia, em coincidência, com aquilo que poderemos considerar como o catapultar da sua vida profissional. Numa altura em que no futebol "luso", emigrantes era algo muito raro, Emídio Graça conseguiria cativar um emblema estrangeiro. 1000 contos, dizem, foi a quantia necessária para convencer os dirigentes do Vitória de Setúbal sobre a sua desvinculação. De seguida, rumou à Andaluzia para assinar contrato.
Já como jogador do Sevilla, impôs-se com a mesma paixão que sempre pôs no trato da bola. Titular, jogaria pelos "Rojiblancos" quase todas as partidas da temporada de 1958/59. Ainda assim, por razões que não consegui apurar, a sua passagem por Espanha foi curta. É verdade que a dita época, para a sua equipa, seria marcada pela atribulação e por várias "chicotadas psicológicas". Ainda assim, 3 treinadores e a despromoção evitada apenas ao "cair do pano", acabam por não justificar o seu prematuro regresso a Portugal.
No Verão de 1959 Emídio Graça volta a envergar a camisola listada do Vitória. Ao seu lado, tinha agora no plantel alguém da família. Numa espécie de sucessão, Emídio foi passando, nestes que seriam os últimos anos da sua carreira, a batuta do meio campo ao seu irmão mais novo. Jaime Graça, esse que se deu a conhecer ao mundo na campanha dos "Magriços", seria um fiel depositário da sua magia. Aliás o final da carreira de Emídio Graça, sempre no seu amado Vitória de Setúbal, coincidiria com mais uma presença na final da Taça de Portugal (1964/65). Desta feita, frente ao Benfica, os "Sadinos" sairiam vencedores. 3-1 seria o resultado da partida, e Emídio Graça, no derradeiro instante da sua carreira, veria o seu irmão na tribuna do Jamor, a erguer o troféu.

504 - FERNANDO MEIRA

Foi no Vitória de Guimarães, clube da sua cidade natal e, inegavelmente, o do seu coração, que Fernando Meira fez, praticamente, toda a sua formação. A passagem definitiva, em 1996/97, para a equipa principal, já depois de na temporada anterior ter sido chamado, ainda enquanto júnior, à estreia nos seniores, não foi um mar de rosas para o jovem. Forte concorrência e alguma inexperiência por parte do jogador, levá-lo-iam, nesses primeiros anos, a algum afastamento dos relvados. Como a prática é algo que qualquer aprendiz necessita, Felgueiras foi o destino encontrado para essa necessária "rodagem". Um ano após o empréstimo, Fernando Meira haveria de regressar a "casa" para, finalmente, conquistar o seu lugar no "onze" inicial. O estatuto de titular, as presenças na selecção s-21 e, como é lógico, as boas exibições que, entretanto, ia rubricando, faziam dele um alvo apetecível para outros emblemas. O primeiro a chegar a um acordo com os "vimaranenses", haveria de ser o Benfica e, deste modo, Fernando Meira mudar-se-ia para Lisboa.
Nos "Encarnados", numa altura em que ao leme de toda a instituição se encontrava João Vale e Azevedo, os resultados desportivos andavam muito aquém daquilo que era habitual. Contratações de qualidade dúbia, era uma das causas apontadas aos "encarnados" para justificar os desaires que iam sofrendo. Por essa razão, não foi muito estranho quando um coro de vozes se levantou para protestar contra a quantia, recorde nacional entre clubes da Primeira Divisão, que o emblema da "Luz" acabava de pagar pelo futebolista. No entanto, Fernando Meira, rapidamente dissiparia qualquer dúvida sobre o seu real valor. Forte fisicamente, com uma disciplina táctica impressionante e uma capacidade de desarme muito boa, o atleta tinha ainda a seu favor uma técnica bem acima da média para alguém que, preferencialmente, jogava em posições defensivas.
Ano e meio depois, já Fernando Meira tinha conquistado o coração do "Terceiro Anel". Assim, foi com pena que, em Janeiro de 2002, os adeptos benfiquistas viriam partir uma das suas poucas vedetas. O destino do internacional português era agora a Alemanha e a "Bundesliga". No Stuttgart, Fernando Meira daria continuidade ao bom trabalho que, até então, vinha a realizar. Titular e uma das grandes armas defensivas do clube, Fernando Meira era um pouco mais do que um bom jogador. Com um carácter bem vincado, um brio inabalável e uma entrega em campo que tudo isso demonstrava, faziam do defesa, ou médio, uma peça fulcral no ânimo dos seus companheiros. A prova disso mesmo veio com a entrega da braçadeira de "capitão", corria a temporada de 2006/07. Coincidência, ou não, seria nesse mesmo ano que o Stuttgart, 15 anos depois, ganharia mais um Campeonato Alemão.
Tal como para o clube, a referida vitória seria um marco muito importante para o futebolista. Aliás, seria ao serviço dos germânicos que Fernando Meira passaria os melhores anos da sua carreira. A demonstrá-lo, a par do que aqui já foi referido, estariam as presenças, ao serviço das selecções portuguesas, em grandes certames internacionais, como os Jogos Olímpicos de 2004, o Mundial de 2006 ou o Euro 2008.
Surpreendentemente, o final do último torneio referido, marcaria a sua saída do Stuttgart e a partida para Istambul. No Galatasaray acabaria por ficar apenas uma época. O suficiente para, e apesar de se ter afirmado no seio do plantel, conseguir perceber que a Turquia não era onde queria estar.
O passo seguinte e já numa fase, há que dizê-lo, descendente da sua carreira, assina pelo Zenit. Sem a preponderância de outros tempos, Fernando Meira, ao lado dos portugueses Bruno Alves e Danny, conseguiria juntar ao seu currículo mais um título.
Já depois de vencer o Campeonato Russo de 2010, o defesa muda-se para Espanha. Ainda joga a primeira metade da época de 2011/12, mas as lesões que o assolavam, nomeadamente uma que o atingia numa coxa, acabariam por ditar o fim da sua carreira.
Foi após "pendurar as chuteiras" que pôs outro projecto em marcha. Juntamente com os antigos companheiros Pedro Mendes e Nuno Assis, decide, então, fundar uma empresa que o manteria perto do futebol. A dita sociedade, para além de adquirir os direitos financeiros de atletas, procura, igualmente, gerir a carreira de novas estrelas.

503 - HUGO

Apareceu na categoria principal do Sp. Braga com apenas 18 anos. Como jovem que dava sinais de talento, começou, progressivamente, a conquistar o seu espaço dentro do plantel. No entanto, e apesar de na segunda temporada ao serviço dos "Arsenalistas" já ser, em certa medida, uma figura habitual no escalonamento da equipa, ninguém estaria à espera de, tão cedo, o ver partir para outras paragens. Hoje em dia, talvez, nem fosse motivo de espanto, mas numa altura em que ainda não era habitual a debandada dos nossos jovens atletas, Hugo haveria de ser contratado pela Sampdoria.
Já em Itália, sem nunca ser um jogador consensual entre os adeptos, o defesa haveria de conseguir ser um dos nomes com mais presenças no "onze" inicial. Apontado pelos "tiffosi" como lento, desastrado e com falta de técnica, para o técnico Vujadin Boskov, Hugo era uma das primeiras escolhas. Assim se manteve, mesmo sob a alçada de outros treinadores, nas duas épocas que se seguiram... até que de Portugal chega um novo convite!
Ora, o desafio que, no Verão de 2000, apresentariam a Hugo era simples: trocar a segunda divisão transalpina (entretanto, a Sampdoria havia sido despromovida) por um dos "grandes" do Campeonato Nacional. Se foi muito difícil tomar a decisão, não o sei! O que é verdade é que, nesse dito defeso, Hugo deixaria Génova para se instalar em Lisboa.
No Sporting, se alguma vez pensou em ser um dos indiscutíveis no centro da defesa, por certo, acabou por ter uma grande desilusão. Contudo, quer se tenha gostado, ou não, do antigo jogador, há algumas coisas que ninguém pode negar. "Esforço, Dedicação, Devoção..." acabariam por ser os três grandes predicados leoninos, que melhor assentariam em Hugo... quanto à "Glória", essa é discutível! Apesar de tudo, Hugo pode orgulhar-se de ter cumprido 6 temporadas em Alvalade. Nelas, enriqueceria o seu currículo com alguns títulos. 1 Campeonato (2001/02) e 1 Supertaça (2002/03) fazem os números dessa sua passagem.
Foi já para a época de 2006/07 que Hugo abalaria para Setúbal. No Vitória, o ponto mais alto desse seu capítulo, coincidiria com um dos episódios históricos dos "Sadinos" e, porque não dizê-lo, do futebol nacional. A Taça da Liga, esse tal momento, conheceria em 2007/08 a sua edição de arranque. À final, marcada para o Estádio do Algarve, chegariam Sporting e a equipa da foz do Sado. Aos 90 minutos o resultado mantinha-se no 0-0. É então que a marcação dos penalties dá o desempate. Para Setúbal iria a primeira edição da competição e para Hugo, que nesse jogo não saiu do banco, mais um "caneco" para o seu rol de vitórias
O último passo da sua vida de profissional dá-lo-ia mais a Norte e na cidade de Aveiro. Ironicamente, quando por esta altura já poucos jogadores contam em ser preponderantes, Hugo, finalmente, havê-lo-ia de ser. No Beira-Mar, nas 3 temporadas que por lá passou, o nome do central haveria de ser um dos mais apontados na ficha de jogo. Jogou, e muito... mas acima de tudo haveria de ser uma voz de comando. Por essa razão foi-lhe entregue, meritoriamente, a braçadeira de capitão; por essa razão terminou a carreira em grande; por essa razão, podemos dizê-lo, "mais vale tarde do que nunca"!

502 - DELFIM


Já aqui falamos de imensos jogadores que tendo sido grandes promessas, nunca disso passaram. Falta de profissionalismo; questões emocionais; preferência por outras actividades, nomeadamente as noctívagas, são algumas das razões para o sucedido. No entanto, há casos no futebol que, tendo tido o mesmo desfecho, acabariam por ter contornos bem diferentes. Delfim foi um deles.
Ainda era bem novo quando o Boavista haveria de nele reconhecer as qualidades certas para vestir de "xadrez". Foi assim que, com 15 anos apenas, Delfim deixou a sua cidade de Amarante para ir viver para o Porto. No Estádio do Bessa, o seu futebol, recheado de atributos técnicos, levá-lo-ia a frequentar as selecções jovens portuguesas. Boa percepção do jogo, um passe perfeito e um forte remate, eram as qualidades que, juntando à sua coragem e abnegação, o faziam destacar-se dos demais.
Seria já depois de ter vencido o Campeonato Nacional de Juniores (1994/95), ao lado de nomes como Mário Silva ou Nuno Gomes, que o médio seria promovido à primeira equipa do Boavista. Tendo participado em poucas partidas, Delfim, na época que se seguiria (1996/97), acabaria por ser emprestado ao Desportivo das Aves.
O regresso ao balneário das "Panteras" não lhe traria muitas mais oportunidades do que aquelas que, até aí, tinha tido. Contudo, os jogos que ia fazendo pela selecção, ainda que no escalão de "Esperanças", acabariam por dar uma visibilidade tal ao "trinco" que, finda essa época de 1997/98 e com a Supertaça como seu primeiro troféu, o Sporting havia de nele apostar. Apesar das suas qualidades inegáveis, a transferência do Bessa para Alvalade não deixou de ser uma surpresa. Ora, quem não teve dúvidas sobre a sua contratação, acabaria por ser Mirko Jozic. O técnico, que à altura estava no comando dos "Leões", logo tratou de sublinhar a sua certeza. Apostou, sem grandes reservas, no médio defensivo, fazendo dele o atleta mais utilizado nessa temporada.
Mais dois anos de "Verde e Branco" serviriam para Delfim atingir dois marcos importantes na sua carreira. O primeiro aconteceria em 1999/00, quando ajudou o Sporting a conquistar o Campeonato Nacional. Já o segundo ocorreria na época seguinte e daria ao jogador a oportunidade de, num encontro de carácter particular, se estrear pela selecção "A" portuguesa.
O pior é que este biénio traria a Delfim muito mais do que coisas boas... as lesões! Ora, sem ainda ter noção disto, é por esta altura que a sua vida muda de rumo. Até nem começa mal, pois, recuperado da maleita que lhe apoquentava o menisco, vê-se contratado pelos gauleses do Marseille. Já em França, o início da temporada de 2001/02, revela um Delfim em boa forma e capaz de mostrar todo o seu futebol. É então que numa vigem de autocarro, o médio dá um "jeito" nas costas. Diagnóstico: uma contractura lombar. Começa o tratamento e numa dessas sessões o pior acontece - "O fisioterapeuta do clube (...), de repente, efectuou um movimento extremamente brusco. De uma contractura lombar passei a uma entorse na coluna vertebral e corri o risco de ficar paraplégico".
Operado e com um período de recuperação que o levou a estar três anos afastado dos relvados, Delfim teve ainda que enfrentar a falta de carácter dos dirigentes do clube que representava - "A entidade patronal tudo fazia para que eu não voltasse a jogar futebol (...). Não tinha um problema congénito, como o clube queria fazer passar. Fui vítima de negligência e de uma gestão danosa".
Depois de ultrapassado este calvário, Delfim haveria de regressar ao futebol com as cores do Moreirense. Contratualmente ligado aos franceses, ainda regressaria ao Marseille, para, já na época 2006/07, assinar pelos helvéticos do Young Boys. Na Suíça passa por um novo azar. O clube entra numa grave crise financeira e os salários deixam de ser pagos. Sem resolução à vista para o problema, Delfim rescinde unilateralmente o acordo.
É ainda durante essa temporada que Delfim regressa a Portugal, para vestir a camisola da Naval 1º de Maio. A Figueira da Foz marca, desse modo, o começo da etapa final da sua carreira. A mesma terminaria em 2009, ao serviço do Trofense e depois de, no escalão máximo do nosso futebol, provar que continuava a dar muito à modalidade.

501 - PORFÍRIO

Técnica fenomenal, velocidade estonteante, qualidade de passe infalível eram os pressupostos que faziam de Porfírio uma das estrelas das escolas do Sporting e dos escalões de formação da Selecção portuguesa. Tais qualidades, de tão incontestáveis que eram, acabariam por levar Bobby Robson a convocar o jovem craque aos trabalhos da equipa principal, corria a temporada de 1992/93. A chamada por parte do antigo treinador dos "Leões", era a prova, mais do que evidente, que o extremo leonino era um verdadeiro diamante. Como é óbvio, era necessário lapidar-lhe algumas imperfeições e foi isso mesmo constataram os técnicos que se seguiram ao britânico. Estando o diagnóstico feito, faltava a terapêutica. A mesma passava por jogar com mais regularidade e a solução para tal seria encontrada no Tirsense e, na época seguinte, na União de Leiria.
Em 1995/96, altura que Porfírio alinhava pelo emblema da "Cidade do Lis", tudo se encaminhava para que o seu futuro fosse de encontro às previsões feitas uns anos antes. A regularidade das suas exibições e a preponderância que as mesmas iam tendo no desempenho colectivo da sua equipa, levariam a que António Oliveira, o seleccionar português, o cogitasse como um dos elementos a ter em conta para o Europeu que se aproximava. Mas se o incluir do avançado numa lista de possíveis convocáveis, de tão grande que costuma ser tal rol, nem foi razão para espanto, já a sua presença na lista final acabaria por ser uma surpresa. Pasmo, ou não, o prémio até era merecido. Tal como seria de direito a sua chamada, no Verão desse mesmo ano, para a disputar os Jogos Olímpicos de Atlanta. Nos Estados Unidos a equipa portuguesa alcançaria o 4º posto, coisa nunca antes vista, e Porfírio como parte desse feito inédito, parecia estar preparado para outros desafios.
Ora, aquilo que era esperado do atacante era que conseguisse, senão impor-se a titular, pelo menos que desse uma boa contribuição ao Sporting no cumprimento dos seus objectivos. Se tais expectativas eram mais do que razoáveis, já os resultados alcançados pelo jogador ficariam muito aquém. Pouco, ou quase nada, seria utilizado e um novo empréstimo começou a ser equacionado. O West Ham, onde Paulo Futre jogava, acabaria por ser o seu destino. Boa solução, pois os ares de Londres dariam um novo folego a Porfírio. O pior é que, tal inspiração, duraria pouco tempo... tão pouco que nem serviria para o manter no caminho certo!
Daí em diante, a carreira do internacional luso entraria numa espiral descendente. Começa pelo regresso a Alvalade... ou melhor, começa na sua transferência para o Racing de Santander. Mas quem ainda pensou que o valor pago pelos espanhóis (recorde do clube), seria um prenuncio de que Porfírio ainda era valioso, enganou-se! O resultado foi um desaire.
A seguir, e como a esperança lá tem a mania de ser a última a morrer, nova oportunidade, com o Benfica a tentar resgatá-lo do fracasso. Contudo, incompreensivelmente, o Porfírio que tanto prometera, numa saga tantas vezes já vista, parecia ter desaparecido. Muito se falou acerca de tal; muito se disse sobre a sua excessiva irreverência e falta de disciplina. A verdade? Apenas aquela que os números ditam! E esses voltavam a mostrar um atleta de costas avessas com os relvados.
Novas cedências ao Marítimo (2000/01) e, posteriormente, ao Nottingham Forest (2001/02), nada trariam de relevante. Porfírio parecia irremediavelmente perdido e o seu destino, nas temporadas vindouras, acabaria por ser a equipa "B" das "Águias". Por fim, o arrastar-se pela 3ª Divisão (1º Dezembro; Oriental) e o "pendurar das chuteiras", lá longe, pelas "Terras das Arábias".

500 - CARLOS GOMES

Começamos este Agosto com um dos heróis (esquecido) do futebol português. Mas num mês onde se pretende falar de diáspora, Carlos Gomes, para além de emigrante, acabou por ser, também ele, um refugiado!
Muito antes deste episódio, já o guarda-redes mostrava habilidade entre os postes. No Barreirense, clube da sua terra natal, o jovem atleta era visto, não como uma simples promessa, mas como um valor seguro. Tal era a certeza disto, que antes de completar a idade de sénior, já ele era um dos nomes que, com alguma frequência, alinhava de início na sua equipa. Começou por alternar o lugar com o seu ídolo de infância, e antes que conseguisse, em definitivo, roubar o lugar a Francisco Silva, já o Sporting o tinha contratado. No entanto, e se para qualquer um esta mudança seria motivo de júbilo, para Carlos Gomes a história foi bem diferente. Pelo que se conta, no dia em que os dirigentes leoninos entraram em sua casa, aquilo que esperariam ser uma notícia alegre, acabaria por se tornar num explodir de revolta. Estava tudo acertado entre os dois clubes, mas ao contrário do que hoje vemos como normal, alguém se tinha esquecido de perguntar ao jogador sobre a sua vontade. Ora, para Carlos Gomes, criado num meio operário, onde o espectro da luta contra o regime salazarista estava presente em cada esquina, tal "pormenor" não era mais do que uma afronta à sua liberdade. Reclamou respeito e acusou aqueles que dirigiam o futebol português de promover o esclavagismo. Mandaram-no calar; disseram-lhe que receberia 10 contos. Exigiu 50... e o presidente leonino, Ribeiro Ferreira (dirigente da União Nacional) lá cedeu!!!
Já no Sporting, a veia contestatária de Carlos Gomes nunca desapareceu. Começou por entrar em conflito com o seu antecessor, de quem dizia "o velho [Azevedo] já nem vê a bola"!!! Depois vieram as exigências para lhe aumentarem o salário. A resposta que teve do Presidente Góis Mota (outro alinhado do regime), seria bem o exemplo da prepotência daqueles tempos - "Queres mais dinheiro? Pois mete na tua cabeça, se é que a tens, que enquanto for presidente são cinco contos ou nada. Para que queres tu mais dinheiro? Para putas e automóveis?".
Pelo meio, outros episódios... Como aquele em que levou uma estrangeira à PIDE; estacionou o carro nos lugares reservados aos funcionários e, já lá dentro, pediu que carimbassem o atestado de residência da amiga. Resultado: por entre insultos e agressões, Carlos Gomes seria detido, safando-se de males maiores por ser jogador do Sporting. Pior acontecer-lhe-ia quando, num jogo da Selecção Militar, se riu de uma bacorada de Santos Costa (Ministro da Guerra de Salazar). Aqui, já nem o "verde e branco" lhe valeu de nada, acabando por passar uma semana encarcerado.
Com tantas desavenças, atleta e clube entrariam em rota de colisão. É então que aparece em cena Alejandro Scopelli. Ora, em 1958, o antigo treinador leonino (com passagens por FC Porto e Belenenses) estava à frente do Granada; na calha, um negócio que mataria "dois coelhos de uma cajadada só". Vejamos: para o Sporting era livrar-se de uma dor de cabeça; já para o clube andaluz, o contratar de um dos melhores guarda-redes daquela década… Sim, não exagero quando digo que Carlos Gomes era um dos melhores! Isso via-se em campo; via-se na maneira destemida como saía dos postes, nos reflexos que o tornavam imbatível, na sua elegância e até nos adornos, tantas vezes dispensáveis, que punha nas suas intervenções. Contudo, se os espanhóis pensaram que estavam a contratar apenas um futebolista, enganaram-se! Carlos Gomes continuava polémico! Um dia, quando um jornalista lhe pediu para comentar os salários em atraso, respondeu - "No hay diñero, no hay portero". Logo de seguida, quando o mesmo periodista perguntou porque é que se equipava sempre de preto, retorquiu - "Enquanto o futebol português estiver entregue aos doutores, estou de luto".
A sua passagem por Espanha duraria 3 anos. Dizem que Barcelona e Real Madrid almejaram em tê-lo; dizem, também, que alguns dirigentes do Sporting "evitaram" que isso acontecesse, permitindo, no entanto, que fosse para o Oviedo. 

Já de regresso a Portugal e com destino marcado ao Sporting, Carlos Gomes requere ser o mais bem pago do plantel. Desta feita ninguém aceita as suas exigências. O guardião ameaça assinar pelo Salgueiros (filial do Benfica)... e a resposta não demorou muito tempo!!!
Ora, nesses tempos, Carlos Gomes tinha alguns negócios para além do futebol. Um deles era uma loja de fotografia. Um dia pôs um anúncio pedindo um funcionário. Quem responde ao reclame é uma jovem rapariga. O pior é que no dia seguinte, a mesma jovem acusa o internacional português de violação. Carlos Gomes nega tudo. Diz que lhe armaram uma cilada; diz que os dirigentes do Sporting, numa maquinação com a PIDE, estavam, por razão de ter dito que assinava pelo Salgueiros, a tentar vingar-se dele. É então que é "empurrado" para o Atlético. Aceita. Contudo, o pensamento de Carlos Gomes já estava muito mais além, e em mente o esboço de uma fuga. 

O tal plano acabaria por ser posto em marcha num jogo disputado na Tapadinha. Antes do mesmo, sem levantar suspeitas, junta-se à sua equipa. Ainda começa a partida, mas perto do intervalo finge uma lesão. Vai aos balneários e no regresso para a segunda parte, nem mesmo os agentes da PIDE que o vigiavam das bancadas, parecem saber do atleta!!! Pois é, tarde demais: Carlos Gomes dirigia-se à fronteira... instalado na mala de um carro.
De Espanha partiria para Marrocos. Aí com o estatuto de refugiado político, continuou a sua carreira. Jogou pelo Ittihad Tanger, tendo, de seguida, passagens pela Argélia e Tunísia.

EMIGRANTES, parte II

Dizem que uma sequela é sempre pior que a primeira parte! E talvez, com este começo, já o esteja a ser!!! A verdade é que a temática voltou, agora como há umas décadas atrás, a estar bem em voga. Ora, tal como para a maioria da nossa sociedade, o futebol português tem exportado, cada vez mais, os seus jovens talentos. "Que saldo nos trará este exodo?", é a pergunta que fica no ar. De resto, e sem querer dar resposta a nada, a entrada num novo Agosto é o mote para, junto dos nossos leitores, recordar mais uns quantos "Emigrantes".