421 - DRAGAN GACESA

O defesa que, pode dizer-se, dividiria a caminhada competitiva em duas fracções, viveria a primeira metade desse percurso ao serviço do FK Vojvodina. Nesse sentido, seria ao lado de velhos conhecidos do futebol português que Dragan, alguns anos após a estreia como sénior, viria a vencer o título de maior importância na carreira. Ao partilhar o balneário com Vujacic, Punisic, Milovac, Vorkapic, Curcic, Bosancic e ainda com os famosíssimos Sinisa Mihajlovic e Slavisa Jokanovic, o jogador seria um dos intérpretes da vitória do emblema sediado na cidade de Novi Sad na edição de 1988/89 do Campeonato da antiga Jugoslávia.
A mencionada conquista permitiria a Dragan disputar a Taça dos Clubes Campeões Europeus do ano seguinte. No entanto, a época a marcar a sua presença naquela que é a maior competição de clubes organizada pela UEFA, haveria de marcar o termo da ligação do defesa ao emblema da sua cidade natal. Seguir-se-ia a viagem a trazê-lo até Portugal, mais precisamente ao Funchal. No União da Madeira a partir da temporada de 1990/91, o jogador passaria a ocupar um papel de grande preponderância no seio do plantel. Durante os 8 anos passados com os “Insulares”, o atleta, independentemente do treinador a orientá-lo, transformar-se-ia num dos favoritos do “onze” inicial. Obviamente, não seria apenas o longo período de ligação à colectividade lusa que haveriam de pô-lo em posição de destaque. A titularidade, resultados dos predicados apresentados em campo, serviria para aferir o atleta como um dos bons elementos a actuar nas provas agendadas no calendário luso de futebol, somando, só na 1ª divisão, um total superior a 100 partidas disputadas.

420 - RODRIGÃO

Talvez vá para além da vossa memória, mas a primeira vez que Rodrigão mostrou as suas habilidades em Portugal, não foi quando, em 1993/94, assinou um contrato com o União da Madeira. Dois anos antes o médio tinha passado pelo nosso país… Já estão recordados?
Em 1991, por ocasião do Mundial sub-20 organizado em território luso, na selecção do Brasil, por entre outras figuras que passariam pelas competições portuguesas, casos do treinador Ernesto Paulo, Serginho Fraldinha, Serginho Cunha, Paulo Nunes ou Luiz Fernando estava também um rapaz de seu nome Rodrigo Dias Carneiro. Esse jovem promissor que, por essa altura, já havia conseguido estrear-se pela equipa principal do Flamengo, brilhava nas equipas jovens do “Escrete” e, inclusive, seria chamado a jogar a final do torneio acima referido. No trajecto clubístico, depois de vestir a camisola do Botafogo, a Rodrigão chegaria o convite vindo da Madeira. Aceitado o desafio, o médio-defensivo seria apresentado como reforço dos “Insulares” na temporada de 1993/94, onde voltaria a encontrar-se com Ernesto Paulo. No Funchal, apesar de uma primeira campanha mais modesta, o “trinco” assumir-se-ia como um sustento para o sector intermediário. A valorização conseguida durante os 3 anos passados a envergar a camisola amarela e azul, mesmo tendo de disputar a divisão de Honra de 1995/96, valer-lhe-ia a cobiça de colectividades de outra monta e o Sporting de Braga transformar-se-ia no seu próximo passo.
Na "Cidade dos Arcebispos", Rodrigão voltaria a assumir-se como um elemento importante na estratégia do clube. Tal seria a maneira brilhante como haveria de conseguir impor-se no seio dos “Guerreiros” que, ano e meio após a chegada ao Minho, de Espanha surgira um convite irrecusável. Na La Liga de 1997/98 passaria a envergar as cores do Sporting Gijon. Porém, com a entrada na equipa asturiana, o médio-defensivo perderia a preponderância alcançada anteriormente e a mudança para o Málaga, a militar, na temporada de 1998/99, no escalão secundário de “Nuestros Hermanos”, emergiria como a melhor solução para a sua carreira.
É depois da passagem pelo emblema do sul de Espanha que começam a surgir algumas dúvidas no desenrolar da sua caminhada competitiva. Por um lado, parece certo que Rodrigão terá representado o Manchego e o Guadix, respectivamente nas épocas de 1990/00 e de 2000/01. No entanto, existem fontes a dar o jogador a dividir a campanha em que terá envergado as cores do Málaga, com os venezuelanos do Mineros Guayana. Onde está a verdade? Não consegui saber!
Correcto é dizer-se que Rodrigão terá regressado a Portugal a meio da campanha de 2000/01 e mais uma vez para vestir a camisola do Sporting de Braga. Porém, ao contrário da experiência anterior, o atleta não alcançaria números tão faustosos. Meses depois, o jogador regressaria ao Brasil e é nessa temporada de 2001 que surge mais uma dúvida, pois o Botafogo que desponta no seu currículo, em algumas fontes aparece como sendo o “carioca” e noutras como a colectividade sediada em São Paulo. Já daí para a frente parece haver algum consenso em pôr o “trinco” no Vitória de Pernambuco, Atlético Paranaense e, por fim, no plantel de 2006/07 dos sauditas do Al Hilal.

419 - ZIVANOVIC

Goran Zivanovic subiria à equipa principal do Estrela Vermelha, corria a temporada de 1979/80. No emblema de Belgrado, muito para além das participações na Taça dos Clubes Campeões Europeus, ficariam no seu currículo os títulos conquistados, ou seja, 3 Campeonatos (1979/80; 1980/81; 1983/84) e 1 Taça (1981/82). Ainda no contexto competitivo da antiga Jugoslávia, o guardião haveria de vogar por outros emblemas. Na campanha de 1984/85 passaria pelo Vardar Skopje (Macedónia) para, a partir de 1985/86, começar a defender o FK Sutjeska (Montenegro). Seguir-se-ia, então, a primeira experiência no estrangeiro e a época de 1988/89, depois de assinar pelos austríacos do Grazer AK, tornar-se-ia na primeira do jogador na Áustria.
Com toda a experiência relatada no primeiro parágrafo, o jogador, ao aterrar no Funchal, surgiria como um praticante com um trajecto bem preenchido. Prestes a completar 31 anos de idade, o guardião seria apresentado como reforço do União da Madeira, para a temporada de 1991/92. Apesar de, na época de estreia em Portugal, ainda ter repartido o protagonismo com Balseiro, daí em diante, Zivanovic passaria a ser o dono do lugar à baliza. A titularidade conquistada levá-lo-ia a assumir uma posição histórica nos anais do emblema insular, tornando-se, nas 3 campanhas que disputaria na 1ª divisão, no guarda-redes com mais partidas disputadas pela colectividade no escalão máximo. Como curiosidade, esse período de 5 anos ao serviço dos “unionistas” permitir-lhe-ia “apadrinhar” outro craque ou não fosse ele a sofrer o primeiro golo no Campeonato Nacional de um famoso avançado – "O Artur isolou-se à minha frente. Eu atirei-me para os pés dele, consegui tirar-lhe a bola, mas esta ressaltou. O Nuno [Gomes], que estava no sítio certo, à hora certa, rematou e fez o golo"*.
Quando muitos pensariam na reforma, o atleta sérvio tomaria a decisão de continuar a carreira de futebolista. Tendo bem vincada tal ideia, a temporada de 1996/97 marcaria a sua mudança para o Nacional da Madeira. Com uma vontade férrea, o jogador prolongaria a sua actividade ainda por umas boas temporadas. A contar 42 anos de idade, com o termo da época de 2002/03 e quando, em simultâneo, já assumia a função de treinador de guarda-redes, Zivanovic decidiria retirar-se das lides competitivas. Após “guardar as luvas” assumiria, em definitivo, a carreira como técnico. As novas tarefas têm-no levado a variadíssimos lugares no mundo e depois de passagens pelo aludido emblema insular e pela Académica de Coimbra, foi tendo, como adjunto de José Peseiro, experiências no Panathinaikos, no Rapid Bucaresti e na principal selecção da Arábia Saudita.

*retirado do artigo publicado a 20/11/2002, em www.record.pt

418 - RICARDO JORGE

Depois de ter passado pelos dois principais rivais dentro da ilha da Madeira, o Marítimo e o Nacional, Ricardo Jorge chegaria ao emblema que, de forma consistente, o lançaria no mundo do futebol profissional. Assim, após a mudança das “escolas” para os seniores dos "Leões do Almirante Reis" em 1983/84 e de, no ano seguinte, ter transitado para a equipa principal dos "Alvi-negros", o União da Madeira, na temporada 1986/87, abriria as portas ao defesa nascido no Funchal.
Seriam três temporadas a vogar na divisão de Honra, até que a época de 1988/89 traria um dos momentos mais importantes na história do União. Com Ricardo Jorge a assumir-se como um dos esteios no último reduto, a equipa que, anos antes o tinha recebido, sagrar-se-ia campeã nacional no segundo escalão português. Com o título a assegurar a subida ao patamar maior do futebol luso, o defesa e o clube fariam a estreia entre os “grandes”. Mesmo ao ascender a um degrau superior, a exigência da nova competição não diminuiria a sua importância dentro do plantel. Contudo, com o final da temporada de 1989/90, o atleta decidiria aceitar o convite de outro emblema e, numa viagem até ao continente, assinaria uma ligação com o Gil Vicente.
A mudança para Barcelos não correria de feição e o jogador poucas vezes entraria em campo durante a campanha passada no Minho. A escassa utilização fá-lo-ia equacionar o regresso à terra natal e o União da Madeira voltaria a dar a Ricardo Jorge a importância de épocas transactas. Contudo, essa temporada de 1991/92, apesar da titularidade do defesa na maioria das jornadas, não daria ao colectivo mais do que a última posição na tabela classificativa da 1ª divisão. Condenado a uma curta passagem pelo escalão secundário, o atleta, ainda assim, teria uma nova oportunidade para retornar aos confrontos dos “grandes”. Porém, já não conseguiria recuperar o seu estatuto no seio do plantel “unionista” e a campanha de 1993/94 transformar-se-ia na última com a camisola azul e amarela.
O resto da sua vida nos relvados seria feito de passagens pelo Camacha e pelo Câmara de Lobos. Essas 9 épocas, passados nas divisões inferiores, encaminhá-lo-iam até ao fim da carreira enquanto futebolista e, aos 39 anos de idade, Ricardo Jorge decidiria ser o tempo certo para "pendurar as chuteiras".

417 - MARCO AURÉLIO

Depois do América, a mudança de Marco Aurélio para o conjunto, também “carioca”, do Vasco da Gama, faria com que a sua cotação começasse a subir em flecha. No entanto, na chegada, em 1988, à equipa principal dos “cruzmaltinos”, o defesa-central não teria a vida facilitada. Ainda assim, as épocas seguintes mostrariam um cenário diferente, com o jogador a assumir-se como peça importante e um dos obreiros da vitória no Campeonato Brasileiro de 1989.
Bastaria mais uma época para que, do lado oriental do Oceano Atlântico, outros cenários começassem a congeminar-se. Nesse sentido, o União da Madeira e a ideia de vir jogar para a 1ª divisão lusa de 1990/91 até começariam por agradar ao defesa. Porém, aquando da chegada ao Funchal, apercebendo-se que a dimensão do clube era mais modesta do que as expectativas criadas em volta da transferência, Marco Aurélio viria a mostrar algumas reticências em relação à mudança. Apesar de perfeitamente compreensível a dúvida do jogador, principalmente atendendo à grandeza de um emblema como o Vasco da Gama, talvez a ideia de que a colectividade insular acabasse por ser uma boa porta de entrada para o futebol europeu, tivesse ajudado a apaziguar o atleta. A verdade é que a entrega em jogo e, fora dos relvados, a sua simpatia, gentileza e educação serviriam de fortes bases para o seu sucesso desportivo e para facilmente conquistar os adeptos do “União da Bola”.
No cenário competitivo, sem nunca deixar de lado a correcção, o defesa-central portar-se-ia, tal como a alcunha que viria a ganhar alguns anos depois, como um verdadeiro “Imperador”. Categórico na hora de cortar a bola, fisicamente possante, rápido, mas sempre mantendo uma elegância e tranquilidade nem sempre patentes nos praticantes da sua posição, as 4 temporadas na Madeira fariam dele um dos “activos” com melhor cotação nas provas portuguesas. Nessa evolução, já depois de, ao serviço do União, ter chegado a “capitão”, seria por indicação de Carlos Queiroz que surgiria o convite do Sporting. Em Alvalade a partir de 1994/95, a sua época de estreia, pondo fim a um ciclo de 13 anos sem qualquer conquista para os “Leões”, dar-lhe-ia ao currículo a vitória na Taça de Portugal. No ano seguinte mais um troféu, a Supertaça. No entanto, o melhor da sua passagem pela agremiação lisboeta seria uma constância exibicional, mesmo em alturas de alguma instabilidade, de alto gabarito. Toda a habilidade e liderança demonstradas, para além de, mais uma vez, entregar ao seu cuidado a braçadeira de “capitão”, fariam com que outras portas viessem a abrir-se e em Dezembro de 1998, mesmo a contar 32 anos de idade, um convite de Itália fá-lo-ia mudar-se para o “Calcio”.
Estrear-se-ia na Serie A com as cores do Vicenza. Contudo, apesar da oportunidade de experimentar uma das mais importantes ligas europeias, a falta de consistência colectiva do seu novo clube faria com que o defesa-central passasse a vogar entre os dois principais escalões italianos. Ainda assim, Marco Aurélio manter-se-ia pelo “Calcio” durante vários anos e após passar por outros emblemas, casos do Palermo, Cosenza, SPAL e Teramo, seria com os 40 anos de idade bem à vista, que o jogador tomaria a decisão de “pendurar as chuteiras”.
Depois do fim da carreira como praticante, Marco Aurélio regressaria ao Brasil. Por um lado, abraçaria ainda mais a religião – de relembrar que em Portugal foi um dos grandes dinamizadores do movimento “Atletas de Cristo” – e viria a tornar-se professor bíblico. Por outro lado continuaria ligado ao futebol, onde, como "olheiro", passaria a estar atento ao surgimento de novos craques para a modalidade.

416 - MILTON MENDES

Nascido no seio de uma família adepta do Vasco da Gama, também Milton Mendes ficaria fã do emblema fundado por portugueses. Residindo em Criciúma, Estado de Santa Catarina, uma das oportunidades que teria para ver ao vivo a sua equipa seria aquando de uma deslocação do conjunto “carioca” à cidade onde residia. Nessa ocasião viria também a conhecer o seu ídolo, o lateral-direito Orlando Lelé, que de uma forma extremamente atenciosa, para além das respostas a todas as perguntas feitas, haveria de pedir aos colegas de equipa para assinarem o caderno de autógrafos do jovem seguidor.
Influenciado, ou não, pelo mencionado encontro, a verdade é que, passados alguns anos, com a estreia na equipa principal a acontecer na temporada de 1984, o próprio Milton Mendes haveria de ocupar, com a camisola do Vasco da Gama, a mesma posição do seu ídolo. Porém, a falta de espaço nos “cruzmaltinos” e uma proposta de renovação pouco aliciante, levaria o jogador a procurar outro horizonte para a carreira. Nesse contexto, a vinda para Portugal far-se-ia, na campanha de 1987/88, pela porta do Louletano, para competir na divisão de Honra. No Algarve cumpriria 4 épocas, as suficientes para que, do escalão máximo, reparassem no seu trabalho e levassem o defesa a rubricar um contrato com o Beira-Mar.
Logo na primeira época entre os maiores do futebol português, o jogador conseguiria posicionar-se como um dos melhores a actuar na sua posição. Aguerrido a defender e com técnica suficiente para ser uma arma no apoio aos lances ofensivos dos seus companheiros, o nome de Milton Mendes começaria a ser cogitado como umas das possíveis contratações dos denominados "grandes". Cimentando-se na ideia de preferir ser titular num emblema mais humilde do que suplente num de maior monta, o jogador, após a campanha de 1991/92 cumprida em Aveiro, viria a assinar pelo Belenenses. Porém, a escolha do atleta, apesar da boa época colectiva dos “Azuis”, faria com que pouco jogasse. Tal ocaso na passagem pelo Restelo levá-lo-ia, mais uma vez, a tomar a decisão de mudar de emblema. A nova deslocação encaminhá-lo-ia até ao Funchal, onde descobriria uma verdadeira "constelação de estrelas" vindas do seu país e, muito para além de jogadores como Marco Aurélio ou Rodrigão, à frente dos destinos do plantel de 1993/94 do União da Madeira encontraria o antigo seleccionador brasileiro de sub-20 e “olímpico”, Ernesto Paulo.
Na colectividade insular, Milton Mendes voltaria a ganhar o fulgor nele conhecido. Conquistaria a titularidade e, bem depressa, arrebataria, com entrega e dedicação, o coração dos associados e adeptos "unionistas". Representaria a equipa funchalense durante 3 temporadas, as 2 iniciais na 1ª divisão, e a separação só viria a acontecer com o União a falhar a promoção no final da campanha de 1995/96. Seguir-se-ia, ainda no patamar máximo, o ano ao serviço do Sporting de Espinho. Daí em diante, com os madeirenses Camacha, Câmara de Lobos e Machico a preencherem o resto da sua caminhada competitiva, o lateral-direito passaria a disputar os escalões secundários. Seria mesmo no último clube aludido que Milton Mendes iniciaria a carreira como técnico, trajecto a levá-lo, em 2007/08, a aceitar o convite de Sebastião Lazaroni, para o adjuvar no comando do Marítimo. O trabalho realizado nos “Verde-rubro” faria com que o seu chefe de equipa levasse o adjunto para o Qatar e, desde então, é no Médio Oriente que o antigo jogador tem dado continuidade às suas tarefas como treinador.

415 - HAJRY

Alguns anos após subir à equipa principal do Raja Casablanca, o médio-defensivo seria eleito o melhor atleta da edição de 1987 do Torneio de Toulon. Sempre à procura de novos craques, o Benfica tomaria a decisão de apostar no jovem jogador marroquino e no início da temporada de 1987/88, Hajry daria entrada no Estádio da Luz. Contudo, num plantel cheio de craques, onde o destaque para os homens da sua posição ia para nomes como os de Elzo, Shéu ou Nunes, as oportunidades para o recém-chegado reforço não seriam muitas. Ainda assim, apesar das poucas presenças em campo durante as provas de índole interno, o jogador, com a brilhante campanha das “Águias” nas competições além-fronteiras, viria a tornar-se no primeiro futebolista do seu país, e até à data no único, a participar numa final da Taça dos Clubes Campeões Europeus. A partida, de má memória para os benfiquistas, haveria de ditar a derrota do Benfica frente ao PSV. No entanto, nesse encontro de Estugarda, já no desempate por penalties, Hajry seria chamado à cobrança do “castigo máximo” e frente a van Breukelen, seria um dos homens a concretizar o remate em golo.
Depois dessa experiência única, o Benfica, com mais estrangeiros do que era permitido pelo regulamentos, decidiria emprestar Hajry. Após representar o Farense e o União da Madeira nas duas épocas a seguir à chegada a Portugal, o jogador, na temporada de 1990/91, voltaria à colectividade sediada na capital do Algarve. De novo a envergar a camisola dos “Leões de Faro”, o centrocampista encetaria aí a mais importante etapa da carreira. Nos 10 anos seguintes, sempre com o mesmo emblema, o atleta viveria alguns dos melhores momentos da sua caminhada competitiva. Um desses capítulos emergiria com a qualificação para as competições continentais e, já na campanha seguinte, com a participação na edição de 1995/96 da Taça UEFA.
Após algumas experiências como treinador, Hajry decidir-se-ia pelo regresso aos "campos da bola". Depois da temporada de 2003/04, durante a qual também vestiria a camisola do Imortal de Albufeira, o médio, à imagem de outras antigas estrelas do nosso futebol, casos de Cadete, Fernando Mendes, Pitico ou Mané, passaria a envergar as divisas do São Marcos, colectividade amadora da Associação de Futebol de Beja - "A ideia é continuar a ser treinador. Em vez de fazer os jogos de veteranos, venho fazer estes jogos, com a mesma alegria que sempre pus no futebol"*.

*retirado do artigo publicado a 27/11/2004, em www.cmjornal.pt

414 - NELINHO

Se há figura que pode ser associada aos melhores momentos da história do União da Madeira, então Nelinho, com certeza, é um deles.
Formado nas “escolas” do União, também ele nascido na capital madeirense, Nelinho faria a estreia como sénior ao serviço do plantel de 1986/87 do Andorinha. Já o regresso à “casa mãe” dar-se-ia em “vésperas” da estreia do emblema insular no patamar maior do futebol luso. Nesse contexto, depois de ajudar à vitória no Campeonato da 2ª divisão de 1988/89, o jogador, igualmente estreante nas andanças do 1º escalão, começaria a evidenciar-se dentro do grupo de trabalho. Logo à 3ª jornada, frente ao Boavista, o defesa marcaria um golo. Porém, só a entrada no último terço da época daria ao atleta a oportunidade de assumir, com maior frequência, um lugar entre os titulares.
A campanha da sua afirmação, em abono da verdade, seria a de 1990/91. Na lateral do sector mais recuado, sem ser um jogador com uma estatura surpreendente, Nelinho, à imagem de tantos outros craques, deixaria bem evidente que o 1,70m não o impossibilitaria de mostrar as suas qualidades. Raçudo nas acções defensivas e com uma propensão ofensiva a permitir-lhe, pela ala destra, apoiar os atacantes, o defesa-direito facilmente começaria a mostrar-se como um dos portadores da alma do “União da Bola”. Tal reconhecimento tornar-se-ia num facto inequívoco e se mais não houvesse para fazer prova desse mesmo valor, os números a ilustrar-lhe a carreira seriam bastante demonstrativos da sua importância. Desse modo, para além de mais de uma década a vestir a camisola amarela da equipa principal, anos onde estão incluídas todas as 5 temporadas na 1ª divisão, o maior prémio, como recompensa pela entrega demonstrada ao longo de todos esses anos, tê-lo-ia com a entrega da braçadeira de capitão à sua intendência.
Depois de concluir a carreira futebolística, ainda com passagens por outros emblemas do arquipélago, tais como o Ribeira Brava e o Estrela da Calheta, e de ter concluído, na Universidade da Madeira, a Licenciatura em Educação Física e Desporto, a ligação de Nelinho com o Clube Futebol União tem sido feita à custa de novas funções, caso da de Director-Desportivo. Relativamente ao futuro do antigo defesa, tudo é uma incógnita. Contudo, ainda neste defeso, ouvimos o ex-técnico da equipa, Pedrag Jokanovic, a sugerir o seu nome para ocupar o cargo por ele deixado livre - "O Nelinho é uma pessoa que está há muito ligada ao clube e percebe muito de futebol. Se eu fosse presidente, era nele que apostava"*.

*retirado do artigo publicado a 15/06/2013, em https://desporto.sapo.pt

413 - UNIÃO DA MADEIRA

Referirmo-nos à fundação do União da Madeira é também falar um pouco da vida de um dos seus grandes rivais, o Clube Sport Marítimo. Assim, segundo reza a história, um grupo de jovens rapazes, ao começar a jogar à bola, passá-lo-ia a fazer sob a protecção dos “Verde-rubro”. O novo conjunto, inicialmente baptizado como Infantil Sport Club, passaria a chamar-se Grupo União-Marítimo. No entanto, com o objectivo do “casamento” a passar pela formação de atletas para o “Leão do Almirante Reis”, o “divórcio”, resultado da disputa por uma baliza, rapidamente aconteceria. A separação daria origem ao União Futebol Clube, mais tarde Clube Futebol União, cuja data de fundação ficaria registada a 1 de Novembro de 1913.
 Já por essa altura, falava-se na Madeira da necessidade de uma entidade que, de alguma forma, gerisse a prática do futebol na ilha. José Anastácio Rodrigues Nascimento, antigo dirigente maritimista e um dos fundadores do União, tornar-se-ia numa das figuras de proa dessa ideia, a qual culminaria com a criação, a 28 de Setembro de 1916, da Associação de Futebol do Funchal. Com a génese desse organismo começariam também os Campeonatos na região. Nas duas primeiras edições a vitória acabaria por sorrir ao Marítimo. Porém, a 8 de Dezembro de 1918, num “match” forasteiro, o União haveria de derrotar, por 2-3, a equipa de honra dos "Verde-rubro". O resultado daria origem a uma tremenda polémica, com o Marítimo a contestar a partida, por a mesma ter terminado sob condições de visibilidade muito deficientes. Com a Associação de Futebol do Funchal a tomar a decisão de invalidar o desfio, estalaria a "guerra" e o desfecho da contenda seria a paralisação das actividades do organismo federativo.
Dois anos depois, sanada a altercação, a prova viria a ser reatada, com o União a transformar a 3ª edição do Campeonato madeirense, a de 1920/21, na sua primeira vitória “regional”. O título voltaria a repeti-lo em 1927/28. Contudo, essa última conquista teria um sabor especial, pois permitiria a participação do emblema sediado no Funchal no Campeonato de Portugal. Na prova de índole nacional, a prestação do "União da Bola", alcunha pela qual ficaria famoso, levá-los-ia ao quartos-de-final. Frente ao poderoso Benfica, a exibição do União começaria por espantar o universo português do desporto. Ainda assim, com o aproximar do termo da segunda metade do jogo a revelar um surpreendente 3-1 a favor dos “Insulares”, a supremacia das “Águias” levaria a maior e, já nos descontos, o conjunto lisboeta consolidaria a reviravolta, acabando a vencer a eliminatória por 3-4.
Tirando as vitórias nas provas organizadas dentro do arquipélago, onde os anos de 1950 e de 1960 seriam pródigos em conquistas, o União só voltaria à ribalta nacional quando, em 1988/89, para além de alcançar a subida ao patamar maior português, haveria de vencer, numa disputa com o Feirense e com o Tirsense, o Campeonato da 2ª divisão. Como é lógico, a estreia, nessa que é a maior prova realizada no âmbito do calendário competitivo luso, aconteceria na temporada de 1989/90. Daí em diante, sem resultados de grande monta, o clube adicionaria ao currículo colectivo outras 4 participações no escalão máximo, com a melhor prestação conseguida a resultar do 10º lugar alcançado na campanha de 1993/94.
A partir de 1995/96, o União afastar-se-ia dos palcos maiores do futebol português. A sua militância tem-se repartido entre a divisão de Honra e a 2ª divisão "B". No entanto, o futuro parece ser risonho, com o ponto de partida para novos êxitos a ter como base o novo complexo desportivo de Vale Paraíso.

CENTENÁRIOS - C.F. UNIÃO

Quando em anos anteriores tomámos a decisão de homenagear os clubes que tinham atingido a notável marca dos 100 aniversários, sempre tivemos à disposição 3 ou 4 nomes. Isso permitiu-nos, em torno dessas colectividades, variar a nossa oferta. Ao contrário, 2013 apenas forneceu um emblema que, a somar a tamanha longevidade, tivesse pelo menos uma passagem na 1ª divisão. No entanto, se esse facto, numa abordagem inicial, levou-nos a desistir da ideia de assinalar o seu centenário, por outro, rapidamente entendemos que nunca ficaríamos livres da sensação de injustiça, por tal discriminação. Assim, e como as excepções podem sempre ser vistas como oportunidades, este mês de Novembro será, exclusivamente, dedicado à história e aos jogadores que passaram pelo Clube Futebol União.