394 - SUAZO

Praticamente da mesma idade, David Suazo e o seu primo Maynor Suazo encetariam em paralelo as carreiras de futebolista. Curiosamente, com ambos a jogar pelo Olimpia, Maynor até começaria por merecer maior destaque. Seria nesse contexto que, aquando da qualificação da selecção hondurenha de sub-20 para o Campeonato do Mundo de 1999, e com David bem longe de cogitado para o rol de convocados, Maynor terá pedido ao treinador José Herrera para observar o primo. Agradado o técnico com as habilidades do jovem jogador, integraria o avançado na comitiva de partida para o torneio disputado na Nigéria e David haveria de embarcar para África já como dono da braçadeira de capitão.
O referido Mundial, com três derrotas em três jogos, poderia não ter sido uma grande montra para os atletas hondurenhos. No entanto, David Suazo, com um estilo portentoso bem vincado, ao marcar metade dos golos obtidos pela sua equipa, faria o suficiente para que Óscar Tabárez reparasse nele. O resultado, com o conceituado técnico uruguaio, à altura, a trabalhar na Serie A italiana, seria uma aferição bem positiva e a assegurar o jovem avançado como um valor seguro para servir de reforço ao plantel do Cagliari de 1999/00.
A primeira época de Suazo no “Calcio”, mesmo tendo em conta os resultados esperados para a adaptação a um contexto competitivo completamente diferente, seria relativamente fraca. No entanto, a partir da campanha a suceder o arranque do avançado no emblema da Sardenha, o cenário haveria de mudar. Temporada após temporada, o físico poderoso, a velocidade estonteante, a técnica e a capacidade goleadora dar-lhe-iam, não só o epiteto de "Pantera", mas, acima de tudo, transformá-lo-iam num dos activos mais valorizados do clube e num dos atletas mais acarinhados pela massa adepta do Cagliari.
Em 8 anos, vários seriam os desafios superados e as barreiras por si ultrapassadas. Por um lado, Suazo quebraria o recorde de golos numa só época pelo clube, deixando para trás a lenda Gigi Riva. Por outro, acabaria eleito como o melhor estrangeiro a actuar em Itália e teria o privilégio de passar a envergar a braçadeira de capitão do Cagliari. Nesse sentido, o crescimento das suas exibições traria a cobiça de outros emblemas e Inter e AC Milan colocar-se-iam em boa posição na corrida para a sua contratação. Todavia, antes de qualquer transferência, uma enorme polémica rebentaria entre os dois emblemas rivais. Primeiro seriam os “Rossonero” a anunciar a mudança do avançado, com o Presidente do colectivo sardenho a confirmar a existência de um conchavo. Depois viria à tona a combinação selada entre o atleta e os “Neroazurri”, com o representante do jogador a garantir a nulidade do pacto veiculado dias antes. Por fim, surgiria o atacante a pôr um ponto final na confusão e a garantir que manteria a palavra dada aos dirigentes do Internazionale.
A sua passagem pela cidade de Milão na campanha de 2007/08, à partida adivinhada como pouco fácil, viria a confirmar a concorrência de craques como Ibrahimovic, Julio Cruz, Adriano ou Crespo como muito forte e causadora das escassas oportunidades conseguidas por Suazo. Já com um “Scudetto” no currículo, mas com o banco de suplentes como o melhor dos cenários para o futuro, o atacante decidiria mudar de ares e, por empréstimo, viajaria até Portugal. Com a camisola do Benfica, com uma grave lesão pelo meio, a sua prestação também não seria a melhor. Mesmo assim, o avançado haveria de conseguir um lugar na história das "Águias", não tanto pela vitória na Taça da Liga de 2008/09, mas porque seria dele a autoria do golo 5000 dos "Encarnados", no Campeonato Nacional.
O resto da sua carreira, à excepção da presença no Mundial 2010, pautar-se-ia, muito por culpa do agravamento dos problemas num dos joelhos, por um declínio da sua, outrora invejável, condição física. Depois do regresso ao Inter, onde ajudaria a vencer a “Champions” de 2009/10, e de ainda ter representado emblemas como Genoa ou Catania, Suazo, em Março de 2013, anunciaria o fim da caminhada enquanto futebolista.

393 - CLINT

Relativamente na mesma altura da chegada de outros atletas de Trinidad e Tobago, casos de Lewis e de Latapy, Clint entraria para o plantel 1990/91 da Académica, como um dos reforços para o ataque. Porém, habituado que estava, pelo United Petrolin, a lutar por títulos, o atacante, inserido nas contendas da divisão de Honra, passaria a enfrentar, com a sua chegada a Coimbra, uma realidade completamente diferente da vivida até essa altura. Nessa lógica, nos anos seguintes ao da sua passagem pela “Briosa”, o jogador manter-se-ia na disputa dos escalões secundários. Seguir-se-ia o Recreio de Águeda e apesar de, na temporada de 1992/93, ter ajudado o Vitória Futebol Clube a regressar ao patamar máximo do futebol luso, só 3 anos depois é que Clint pisaria esses palcos competitivos.
Com a experiência ao serviço do Rio Ave a preceder a entrada no emblema do Tâmega, o atacante, após estrear-se pelo Felgueiras na campanha de 1994/95, veria a época seguinte a dar-lhe a tão almejada estreia primodivisionária. Mais uma vez acompanhado pelo conterrâneo Leonson Lewis, a temporada de 1995/96, não correria de feição para o avançado. Ao não ser uma das escolhas prioritárias do treinador Jorge Jesus, ainda assim, Clint, ao sair maioritariamente do banco de suplentes, acabaria por fazer jogos suficientes para que de Inglaterra reparassem nas suas capacidades. Mesmo não tendo uma estatura imponente, a verdade é que a sua velocidade cativaria os responsáveis do Barnsley e a mudança para “Terras de Sua Majestade” ocorreria na preparação de 1996/97.
A confiança depositada em Clint reflectir-se-ia na constante presença do seu nome no rol de titulares. Rapidamente, resultado da entrega patenteada em jogo, o avançado conquistaria os adeptos. Contudo, o episódio responsável por transformá-lo num dos grandes heróis da colectividade britânica seria um golo conseguido frente ao Bradford e que, no final da temporada de 1996/97, selaria em definitivo a subida à Premier League. Todavia, depois do êxito da promoção e de acompanhar o Barnsley na aventura primodivisionária, o internacional por Trinidad e Tobago, sem deixar o clube, também viveria a tristeza da despromoção. Daí em diante, o atleta entraria numa fase da carreira, digamos, "sui generis" e, entre 1999/00 e 2005/06, a vaguear pelos escalões inferiores ingleses, o atacante representaria 11 clubes diferentes.
Após terminar a carreira de futebolista, Clint, sempre ligado à modalidade, começaria a abraçar outras funções. Como técnico, para além de orientar o North East Stars FC, teria também o prazer de ser chamado para treinador-adjunto da selecção olímpica do seu país, a qual disputaria a Fase de Qualificação para os Jogos de 2012, realizados em Londres. Paralelamente abriria a sua “escola”, a "Clint Marcelle Football Academy".

392 - KIROVSKI

É fácil lembramo-nos de um punhado de jogadores que, apesar da sua inquestionável qualidade, nunca lograram de grande sorte no caminho que traçaram. Já outros, apesar de mais discretos a "jogar à bola", tiveram a habilidade de conseguir estar no “local certo, à hora certa”. Um desses casos foi Jovan Kirovski.
Desde muito novo considerado como um dos intérpretes mais promissores a nível planetário, ainda em idade adolescente, o avançado ver-se-ia a caminho de Inglaterra, como uma das apostas do Manchester United. Ao acabar a formação sob o olhar atento de Sir Alex Ferguson, a sua passagem para a equipa principal, de forma concreta, nunca viria a acontecer, com o jogador a entrar somente no plantel de 1995/96 das “reservas”. Ainda assim, o jovem atacante conseguiria tornar-se numa das figuras habituais nas convocatórias da principal selecção norte-americana. Nessa senda, depois da estreia em 1994, Kirovski, em 1996, acabaria chamado aos Jogos Olímpicos de Atlanta.
Apesar da estadia em Inglaterra ter ficado bem aquém do esperado, o Borussia Dortmund, uma das equipas mais fortes no panorama futebolístico em meados da década de 1990, decidiria apostar no seu potencial. Com a chegada à Alemanha a acontecer na temporada de 1996/97, Kirovski, mais uma vez, revelaria sérias dificuldades para sair da sombra de outros craques como Karl-Heinz Riedle, Stéphane Chapuisat, ou Heiko Herrlich. No entanto, como já referido, o avançado acabaria por estar no sítio correcto e no momento exacto para, logo na campanha de estreia pelo emblema germânico, vencer a Liga dos Campeões.
Depois da inglória passagem pela Alemanha, onde ainda vestiria as cores do Fortuna Köln, Kirovski veria o Sporting, consagrado como campeão nacional, a olhar para si como um bom reforço para o sector mais ofensivo do plantel. Novamente sem grande relevância desportiva, o atleta americano acabaria, de novo, a ver abençoada a sua escolha e naquela que viria a tornar-se na única temporada cumprida em Alvalade, o ponta-de-lança, mesmo ao jogar pouquíssimas partidas, veria o seu nome no rol de atletas vencedores da Supertaça Cândido de Oliveira de 2000/01.
Os anos seguintes pouco trariam de relevante à sua vida profissional. Depois de regressar a Inglaterra, onde envergaria as cores do Cristal Palace e do Birmingham, Kirovski voltaria ao país natal. Curiosamente, seria a partir do regresso aos Estados Unidos da América que o avançado, finalmente, conseguiria mostrar as suas tão propagandeadas capacidades. Nessa segunda metade da carreira, representaria os Colorado Rapids, os San José Earthquakes e os L.A. Galaxy, para, depois de “pendurar as chuteiras”, entrar para os corpos técnicos do último emblema referido.

391 - PETER HINDS

Seria em 1966, ano do seu 4º aniversário, que os Barbados sairiam debaixo da soberania britânica. No entanto, o crescente fluxo migratório em direcção à antiga metrópole, habitual nos tempos a seguir à independência da pequena nação situada na zona mais oriental das Caraíbas, fariam com que a sua família deixasse o país natal para procurar nova vida em Inglaterra.
Já no que diz respeito à sua carreira futebolística sénior, os primeiros registos de Peter Hinds apareceriam depois de deixar a Armada Britânica. Nesse sentido, arrumada a farda militar, o avançado começaria por disputar os escalões amadores do país de acolhimento. Após representar colectividades como o Enfield ou os Bishop Auckland, ao atleta seria dada a oportunidade de uma aventura no estrangeiro. Ao aceitar o repto, o atacante viajaria para a Ásia. No Japão, a sua caminhada competitiva sofreria profundas mudanças e ao rubricar o primeiro contrato profissional do seu trajecto desportivo, começaria a representar os Fujita Kogyo e a disputar o escalão maior do futebol nipónico.
No “País do Sol Nascente”, Peter Hinds rapidamente passaria de um perfeito desconhecido para uma das maiores estrelas do emblema japonês. Esse crescimento levaria o Dundee United a ver em si um bom reforço para a temporada de 1989/90. No entanto, de regresso às Ilhas Britânicas, o avançado demonstraria algumas dificuldades em adaptar-se ao novo contexto competitivo e a ligação aos “The Terrors”, resultado das poucas oportunidades conseguidas na Scottish Premiership, findaria com o termo da referida campanha.
Terá sido com o intuito de contrariar o desaire vivido na Escócia que o ponta-de-lança aceitaria um novo desafio vindo do estrangeiro. Em Portugal a partir da campanha de 1990/91, Peter Hinds teria uma belíssima primeira temporada ao serviço do Marítimo, durante a qual haveria de tornar-se no principal artilheiro dos “Verde-Rubro”. Todavia, apesar do poderio físico e da capacidade finalizadora reveladas inicialmente, a verdade é que as épocas seguintes, a de 1991/92 ainda nos “Leões do Almirante Reis e a de 1992/93 já ao serviço do Gil Vicente, mostrariam um praticante mais apagado e perdulário, ou seja, bem distante das expectativas criadas em seu redor.
Já na segunda metade do seu trajecto como futebolista, depois de, em Portugal, ter ainda envergado as camisolas do Varzim, do Ribeirão e do Maria da Fonte, Peter Hinds abraçaria a Liga da Irlanda do Norte. Com o Ards FC, o PSNI, o Brantwood e Knockbreda a colorirem essa fase da sua carreira, o avançado, “penduradas as chuteiras”, não abandonaria a modalidade e, igualmente em contexto amador, escreveria os primeiros capítulos nas funções de treinador.

390 - FERNANDO AGUIAR

Natural de Chaves, com apenas 2 anos de idade, emigraria para o Canadá, juntamente com a família. No país de acolhimento, por certo influenciado pela cultura desportiva local, começaria por praticar hóquei no gelo. No entanto, apesar de revelar boas qualidades para a modalidade, um curioso convite levá-lo-ia a mudar de rumo – “Com nove anos, o meu primo Mitchell apareceu em minha casa e perguntou-me se o queria substituir numa equipa de futebol, já que ele vinha de férias para Portugal. Respondi-lhe que sim. Treinei-me, o treinador elogiou-me e passei a ser o ponta-de-lança do Scarborough Blizzard. Fiquei seis anos, até aos 15. Depois transferi-me para o Wexford e para o Oshawa, onde fui campeão canadiano já como trinco. Finalmente, passei para o Toronto Blizzard”*.
Já com a carreira bem lançada no Canadá, Fernando Aguiar teria a oportunidade de prestar provas no Marítimo. Mais uma vez conseguiria convencer os responsáveis técnicos da sua utilidade para o plantel e, desse modo, mesmo sem ser muitas vezes chamado ao "onze" “verde-rubro”, o médio encontraria na temporada de 1994/95 a campanha de estreia nas provas portuguesas.
Já a meio da época de chegada à Madeira, surgiria a convocatória para a equipa nacional canadiana. Fernando Aguiar, que já tinha representado, noutras categorias, o país de acolhimento, faria a estreia pela selecção principal. A partida, agendada a 26 de Janeiro de 1995, curiosamente seria disputada frente a Portugal. Na SkyDome Cup, o “trinco” alinharia ao lado de outro colega nos “Leões do Almirante Reis” e seria do ponta-de-lança Alex Bunbury o golo que viria a selar o resultado final em 1-1.
Depois da falta de sucesso com a camisola maritimista, os anos seguintes passá-los-ia a militar nas divisões secundárias portuguesas, mormente ao serviço do Nacional da Madeira e do Maia. Contudo, a sua atitude lutadora mantê-lo-ia sempre em destaque nos planteis por onde passaria e o médio-defensivo, com a entrada no Beira-Mar de 1999/00 veria recompensada a sua perseverança. Logo para começar a referida campanha, o jogador disputaria dois momentos de enorme importância para a colectividade aveirense. Nesse contexto histórico, Fernando Aguiar, orientado por António Sousa, jogaria a Supertaça e, principalmente, faria parte do lote de atletas que, ao entrarem em campo frente ao Vitesse, participariam na estreia do emblema luso nas competições de índole continental.
No final dessa temporada de 1999/00, o Beira-Mar conseguiria a promoção ao escalão máximo do futebol luso. Fernando Aguiar, de regresso aos principais palcos, sublinhar-se-ia como um praticante, apesar de pouco elegante a tratar a bola, essencial nas recuperações defensivas. As suas características, agressividade, abnegação, poderio físico e capacidade de desarme, fariam com que o Benfica começasse a interessar-se na sua contratação. Adepto dos “Encarnados” desde pequeno, o “trinco”, cuja mãe chegaria a ser Presidente da Casa do Benfica de Toronto, entraria na “Luz” a meio da campanha de 2001/02 e numa fase de transição na história do clube. Porém, apesar de jogar com uma boa frequência, o atleta não convenceria categoricamente Jesualdo Ferreira e na época seguinte viria a ser emprestado à União de Leiria.
De volta à Luz na temporada de 2003/04, Fernando Aguiar encontraria José António Camacho no comando técnico da agremiação lisboeta. Sob a batuta do treinador espanhol, o médio-defensivo tornar-se-ia numa das principais figuras da temporada “encarnada” e contribuiria para a conquista de mais um título. Como um dos nomes habituais na ficha de jogo, o jogador também seria chamado a disputar a final da Taça de Portugal. No Estádio Nacional, frente ao FC Porto campeão europeu, o “trinco” começaria no banco de suplentes. Entraria em campo aos 55 minutos e, ao dar um novo “pulmão” ao sector intermediário das “Águias”, transformar-se-ia numa das peças fundamentais da reviravolta e da consequente vitória do Benfica na “Prova Rainha”.
Essa partida disputada no Jamor marcaria o fim da ligação de Fernando Aguiar com o Benfica. Seguir-se-ia a Suécia, mas uma grave lesão no menisco, faria com a sua passagem pelo Landskrona fosse pouco mais do que um episódio insignificante. Com o retorno a Portugal a acontecer na campanha de 2004/05, o médio ainda representaria o primodivisionário Penafiel, para na temporada de 2005/06 passar a envergar a camisola do Gondomar.
Afastado do futebol, abraçaria uma actividade completamente diferente e, juntamente com a esposa, é proprietário de um salão de cabeleireiro.

*retirado da entrevista publicada a 10/12/2001, em www.record.pt

389 - ALEX

A primeira aparição de Alex Bunbury num grande certame de futebol aconteceria no Mundial sub-20 de 1985, organizado na antiga União Soviética. Já por essa altura, o avançado era visto como uma das grandes promessas do universo canadiano e a estreia pela principal selecção da nação situada na América do Norte viria materializar-se no ano subsequente à disputa do torneio acima mencionado. Curiosamente, em paralelo com a prática do "futebol de 11", o jogador também viria a destacar-se noutra modalidade e a sua presença no primeiro Campeonato do Mundo de futsal, disputado em 1989 na Holanda, levá-lo-ia a entrar para a história do desporto do seu país.
Nos tempos seguintes, apesar das incontestáveis qualidades ofensivas do atacante, a carreira de Alex quedar-se-ia pelas camisolas de agremiações canadianas. Porém, a sua veia goleadora tornaria as equipas por si representadas, casos dos Hamilton Steelers, dos Toronto Blizzard ou dos Supra de Montréal, colectividades demasiado modestas para as habilidades patenteadas. Nesse sentido, seria com alguma naturalidade que uma oportunidade surgiria vinda do West Ham United. Em Londres, na temporada de 1992/93, o jogador encontraria os “Hammers” a militar no segundo escalão inglês. Ainda assim, a conjuntura parecia ser a ideal para que o avançado, já com 25 anos de idade, conseguisse cimentar-se no futebol europeu. No entanto, esse objectivo ficaria bem longe de ser alcançado e a concorrência de internacionais como Clive Allen ou o escocês David Speedie iriam comprometer a sua afirmação em Upton Park.
Apesar do desaire vivido nas Ilhas Britânicas, a Alex abrir-se-ia uma nova porta no futebol do “Velho Continente”. No Marítimo a partir da época de 1993/94, o avançado-centro, na campanha de arranque ao serviço da colectividade insular, faria parte do grupo de trabalho que, sob a batuta do técnico brasileiro Edinho, participaria, pela primeira vez na história, numa prova organizada pela UEFA. Curiosamente, o jogador não entraria em campo em nenhuma das partidas frente aos belgas do Royal Antwerp. Todavia, daí em diante afirmar-se como um dos titulares dos “Leões do Almirante Reis” e logo na temporada seguinte transformar-se-ia uma das principais figuras da caminhada dos “Verde-rubro” até à final da Taça de Portugal. Já no Estádio Nacional seria um dos eleitos de Paulo Autuori para disputar a derradeira partida da apelidada “Prova Rainha”. No entanto, a prestação colectiva dos insulares não seria suficiente para derrotar o opositor e o Sporting sairia do Jamor com o almejado troféu.
Nos anos seguintes, com a sucessão de partidas disputadas, Alex, com um forte jogo de cabeça, com um sentido posicional de excelência e um faro para o golo bem acima da média, facilmente passaria de um nome desconhecido para um dos predilectos dos adeptos e da massa associativa madeirense. Muito para além desse aspecto, ficariam igualmente registados os números apresentados durante a sua passagem pelo Funchal, os quais passariam a revelar o avançado-centro, resultado das 6 temporadas excelentemente cumpridas ao serviço do Marítimo, como o melhor marcador de sempre do clube.
Já nos capítulos finais da carreira enquanto futebolista, depois de uma caminhada que também levaria o atleta a jogar 2 edições da Gold Cup, Alex regressaria às provas do continente americano, mas dessa feita para representar uma colectividade dos Estados Unidos da América. Ao lado de Alexi Lalas ou Tony Meola, o ponta-de-lança passaria a disputar a Major League Soccer, com as cores do Kansas City Wizards, onde, com o termo da temporada de 2000, viria a “pendurar as chuteiras”.
Como última curiosidade, falta referir-nos Alex, como o pai do avançado internacional norte-americano Teal Bunbury.

388 - LATAPY

Ainda em tenra idade, a sua habilidade levá-lo-ia a ser chamado aos trabalhos das jovens selecções de Trinidad e Tobago. O "Pequeno Mágico", alcunha pela qual ficaria conhecido, cedo revelaria uma grande empatia com a bola. A técnica apurada e uma visão de jogo excepcional, aliados a uma capacidade de passe milimétrica, rapidamente fariam dele um dos melhores a actuar no seu país. Já depois de ter rejeitado um convite para estudar nos Estados Unidos da América, recusa dada em prol de continuar na prática do futebol, Russell Latapy assinaria pelo Portmore United. Como atleta do emblema jamaicano, o médio veria o seu agente entregar uma cassete de vídeo com jogos disputados por si. Agradados com as suas habilidades, os dirigentes do clube visado fechariam o negócio e a sua transferência para a Académica de Coimbra ocorreria na temporada de 1990/91.
Na "Briosa", ao lado dos compatriotas Lewis e Clint, o médio encontrar-se-ia com o técnico Vítor Manuel. Depois de uma fase inicial de normal adaptação, o treinador português rapidamente entenderia o poderio do jogador, entregando-lhe o comando dos colegas dentro de campo – "(…) este homem compreendeu o que eu conseguia fazer e mudou o sistema de jogo da equipa para se enquadrar com a minha maneira de jogar e eu tinha a meu cargo o papel do jogador livre”*.
Terá sido essa capacidade para liderar todo um “onze” que faria com que o FC Porto visse nele alguém com qualidade suficiente para integrar o plantel “azul e branco” e Latapy, após 4 temporadas a envergar as cores dos “Estudantes”, seguiria viagem para a “Cidade Invicta”. Com a entrada no Estádio das Antas a ocorrer na campanha de 1994/95, o atleta, como seria esperado, encontraria outro cenário competitivo. Habituado à titularidade, Latapy, mesmo com algumas dificuldades para conseguir fixar-se como um titular indiscutível, ainda assim lograria de muitas presenças em jogo. Nesse sentido, nos 2 anos a representar os “Dragões”, o médio contribuiria para a conquista de 2 Campeonatos Nacionais e, resultado dessas vitórias, tornar-se-ia no primeiro futebolista do seu país a participar na Liga dos Campeões.
Seria já depois de 2 temporadas a envergar a camisola do Boavista, durante as quais venceria a Taça de Portugal de 1996/97 e a Supertaça da época seguinte, que o jogador deixaria Portugal. Na Escócia a partir de 1998/99, Latapy começaria por vestir a camisola do Hibernian. No emblema de Edimburgo tornar-se-ia num dos favoritos dos adeptos. No entanto, tudo haveria de mudar quando, por razão de uma noite de copos com o conterrâneo Dwight Yorke, é apanhado, pela polícia, a conduzir bêbado. O incidente teria como consequência imediata a quebra dos regulamentos internos do seu clube e tal falha levá-lo-ia ao despedimento.
Curiosamente, em jeito de uma segunda oportunidade, a sua dispensa do emblema sediado na capital escocesa levaria ao seu ingresso no Rangers de 2001/02. Ironia da vida, logo no decorrer do seu primeiro ano de contrato, o holandês Dick Advocaat seria despedido e, para o seu lugar chegaria Alex McLeish, o seu técnico aquando da sua saída do "Hibs". É fácil de adivinhar que a vida de Latapy, a partir dessa troca de treinadores, não ficou mais fácil e o desfecho da história, previsível, com a desculpa que o plantel precisava de “sangue novo”, empurrá-lo-ia para a lista de excedentários da colectividade de Glasgow.
Sem abandonar a Escócia, seguir-se-iam o Dundee Utd e o Falkirk. Por essa altura, sem grandes emoções a agitar a sua vida profissional, o jogador, no entanto, ainda haveria de fruir de uma enorme alegria. Com a Qualificação para o Mundial de 2006 a decorrer, a intervenção de Dwight Yorke levaria médio a revogar a decisão, tomada anos antes, de abandonar a selecção. A sua contribuição acabaria por ser preponderante para o destino dos "Socca Warriors". Depois de disputado o "play-off" e com Trinidad e Tobago a chegar à Fase Final do certame organizado na Alemanha, Latapy, com 37 anos, tornar-se-ia no segundo jogador mais velho a marcar presença no referido torneio.
Já na preparação desta época de 2013/14, no seguimento da sua carreira como treinador, a qual já levou o antigo jogador ao comando da selecção de Trinidad e Tobago, Latapy aceitaria o convite de Petit e hoje é um dos seus adjuntos, naquele que é o seu regresso a Portugal e, neste caso concreto, ao Boavista.

*retirado da entrevista conduzida por Shaun Fuentes, publicada a 08/10/2005, em https://socawarriors.net

387 - LEWIS

Tendo o seu pai sido jogador de futebol, Leonson Lewis, desde tenra idade, começou a ter contacto com a modalidade. As idas regulares ao estádio para a assistir às partidas ou a ajuda dada para arrumar o saco com o equipamento do progenitor, foram acalentando ao jovem o sonho de um dia seguir as pegadas daquele que foi o seu primeiro ídolo.
Curiosamente, Lewis iniciou a carreira como guarda-redes, mas a insistência do pai para que passasse a jogador de campo, levou-o a optar pelo sector mais ofensivo. Já como avançado, caracterizado por ser um atleta possante e veloz, depressa começou a dar nas vistas, naquele que era o universo futebolístico trinitário-tobagense de meados dos anos de 1980. Esse destaque, resultado de uma rápida evolução, levou-o, nos primeiros anos da caminhada competitiva, à selecção nacional e o momento serviria para materializar um dos seus desejos de menino – "Enquanto jovem jogador, lembro-me que havia noites em que rezava na minha cama: «Senhor, se eu pudesse jogar pela equipa nacional, eu porto-me bem. Deixa-me jogar pela equipa nacional»"*.
O segundo grande passo na sua carreira aconteceu quando Russell Latapy, nome bem conhecido do futebol luso, aconselhou os responsáveis do Portmore United, a contratá-lo. Depois do emblema jamaicano, os dois colegas voltaram a trabalhar juntos, mas, dessa feita, já bem longe das Caraíbas, mais precisamente na Académica de Coimbra. O engraçado é que o objectivo inicial era apenas o de contratar um dos atletas. Porém, com propósito de confirmar as qualidades do jogador aludido no começo deste parágrafo, os homens à frente da “Briosa” pediriam para ver alguns vídeos do médio. É nessa altura que reparam noutro elemento, logo avaliado como de imenso potencial. Novo pedido é então feito e a proposta saída da “Cidade dos Estudantes” passaria a contemplar a transferência de ambos os futebolistas.
Com a chegada a Coimbra a acontecer na temporada de 1990/91, Lewis iniciaria uma senda a mantê-lo em Portugal durante 13 temporadas consecutivas. Nesse longo período, o atleta teve a oportunidade de envergar as camisolas de diversos emblemas como a da já mencionada Académica, a do Felgueiras, a do Boavista, a do Desportivo de Chaves, a do Estrela da Amadora e finalmente a do União de Lamas. No entanto, pelo meio de tantas colectividades, o destaque maior vivê-lo-ia ao serviço das “Panteras” e com um dos mais importantes troféus ganhos na sua carreira, isto é, a Taça de Portugal de 1996/97.
Após o termo da campanha de 2001/02, com o subsequente regresso ao país natal e de, com as cores do W-Connection Football Club, ter decidido por um ponto final na carreira de desportista, Lewis veio a abraçar novas funções no futebol, começando a treinar as camadas jovens do clube onde tinha “pendurado as chuteiras”.

*retirado da entrevista conduzida por Nigel “Tallman” Myers, publicada a 08/01/2007, em www.socawarriors.net

386 - NEGRETE

Dono de um considerável rol de golos extraordinários, haveria de ser o tento marcado nos oitavos-de-final do Mundial de 1986, frente à Bulgária, que, definitivamente, revelaria o atleta aos olhos do mundo do futebol. Conta-se que antes do começo da dita partida, o jogador confessaria a um colega de equipa que aquele seria o dia em concretizaria o remate que iria abrir-lhe as portas da Europa. Javier Aguirre, muito para além do seu confidente nos momentos a antecederem a partida, acabaria por tornar-se numa preciosa ajuda na concretização desse sonho, quando, à entrada da grande-área adversária, ao receber a bola passada por Manuel Negrete, instantaneamente devolveria o esférico ao médio-ofensivo. Depois, surgiria um esplendoroso e espontâneo "pontapé de moinho" que, ao bater o antigo guardião do Belenenses, Borislav Mihaylov, acabaria a abrir o marcador no Estádio Azteca*.
Se a história contada no parágrafo anterior foi, ou não, o móbil que o Presidente João Rocha usaria para justificar a sua contratação ao UNAM, nunca haveremos de saber. A verdade é que o médio assinaria pelo Sporting no Verão de 1986. Nesse sentido, com um passado desportivo a incluir a conquista do Campeonato mexicano e uma larga lista de internacionalizações pelo país natal, Negrete chegaria a Alvalade como um atleta bem rodado. Contudo, contrariamente ao esperado de alguém com tanta experiência, o jogador encontraria enormes dificuldades em adaptar-se ao futebol europeu.
Já em Portugal, Negrete apresentaria a capacidade técnica como a melhor característica. Por outro lado, a fisionomia franzina fragilizá-lo-ia e demasiadamente exposto ao forte contacto físico, típico da modalidade praticada no “Velho Continente”, o médio enfrentaria tremendos obstáculos para mostrar a sua qualidade. Por essa razão, pouco tempo passado após a chegada a Lisboa, o jogador abalaria. Ainda, nessa campanha de 1986/87, teria uma passagem, igualmente efémera, pelo Sporting Gijon. Em abono da verdade, o internacional mexicano, na experiência ibérica, pouco faria para justificar o estatuto de estrela com que havia chegado. A excepção, talvez, seria o golo conseguido, ainda a actuar pelo emblema leonino, frente ao FC Barcelona, numa partida a contar para a segunda ronda da Taça UEFA**.
Depois de regressar ao México e de, na nação da América Central, ter representado, durante umas boas épocas, uns quantos emblemas do seu país natal, Negrete, já com 37 anos de idade, decidiria pôr um ponto final na vida como futebolista profissional. Apesar de terminada a caminhada nos relvados, o antigo jogador manter-se-ia ligado ao desporto e viria a ocupar cargos como o de Director Desportivo da UNAM, dirigiria a "Asociación de Futbolistas Profesionales" (neste caso ainda enquanto atleta), seria treinador do Atlante e, bem mais importante, viria a ser nomeado "Subsecretario del Deporte".
 
*assista ao referido golo no link
**assista ao referido golo no link 

385 - EARL

Com as portas de Portugal abertas pelo convite da UD Oliveirense, Earl Jude Jean, a partir da temporada de 1991/92, haveria de começar a vogar pelos escalões secundários do futebol luso.
Depois do emblema de Oliveira de Azeméis, de mais um ano ao serviço da União de Coimbra e de duas campanhas a envergar o verde e branco da camisola do Leça, o avançado, nascido nas Caraíbas, finalmente teria a oportunidade de mostrar a sua qualidade entre os “grandes”. Com o Felgueiras a estrear-se na 1ª divisão, também o atleta chegaria ao mais alto patamar do Campeonato Nacional. Porém, apesar das expectativas criadas em redor do conjunto liderado pelo treinador Jorge Jesus, a verdade é que a colectividade da região do Tâmega, nessa época de 1995/96, não iria para além da antepenúltima posição da tabela classificativa. Ainda assim, apesar de inalcançados os objectivos colectivos, Earl conseguiria projectar-se como um elemento de boas características futebolísticas e essa aferição levá-lo-ia a ser cobiçado por emblemas de outras ligas do “Velho Continente”.
Apesar de pequeno em estatura, a sua velocidade, bem acima da média, empurraria o internacional e capitão de St. Lucia a prosseguir a profissão em “Terras de Sua Majestade”. Ao assinar contrato com o Ipswich Town para a temporada de 1996/97, Earl, provavelmente, estaria a apontar para horizontes de maior monta. No entanto, o sonho não teria força suficiente para ganhar corpo e ao participar apenas em 1 partida pelo novo emblema, o atacante, ainda no decorrer da época de chegada ao Reino Unido, transferir-se-ia para o Rotherham United.
Já como um dos craques do Plymouth Argyle, emblema para o qual entraria na campanha de 1997/98, Earl seria convocado a disputar um jogo particular onde, ao lado de estrelas a actuar em Inglaterra, como Dwight Yorke, representaria um colectivo caribenho. Ainda no contexto proporcionado pelos bons desempenhos conseguidos ao serviço da equipa sediada no condado de Devon, o jogador daria um novo impulso à carreira desportiva. Contratado para o plantel de 1999/00 do Hibernian, o avançado passaria a actuar na Scottish Premiership. Porém, com poucas aparições em campo pela agremiação de Edimburgo, o atacante, numa caminhada caracterizada por vários altos e baixos, voltaria a ser avaliado abaixo das projecções feitas aquando da sua mudança.
No rescaldo da passagem pela Escócia, Earl regressaria às Caraíbas, mas dessa feita a Trinidad e Tobago. Depois de representar alguns emblemas do referido país e de ter tido, pelo meio, uma curta experiência na China, o jogador, já na segunda metade da década de 2000, decidiria “pendurar as chuteiras” e dar os primeiros passos como treinador de futebol.

ESTRELAS DA CONCACAF

Terminada há dias mais uma edição da Gold Cup , torneio disputado por selecções da América do Norte, América Central e Caraíbas, lembrei-me que por Portugal também já passaram alguns jogadores nativos dessa região do globo terrestre.
Uns com mais destaque, outros com menos, ou uns com mais história do que outros, todos eles, sempre à sua maneira, espalharam um brilho único pelas nossas provas futebolísticas. É para recordamos alguns desses atletas que Agosto será dedicado, em exclusivo, às "Estrelas da CONCACAF".