430 - PEDRO ROMA

Apesar das passagens por outros clubes, a carreira de Pedro Roma estará para sempre relacionada com a Académica de Coimbra. No entanto, apesar dos muitos anos passados a defender a baliza dos "Estudantes", o que destacaria o guardião de muitos outros colegas futebolistas seria o facto de ter personificado aquela que é a verdadeira mística do emblema conimbricense – “Posso confidenciar, e parece modéstia, mas para mim, além daquelas defesas que valeram pontos, permanências sofridas na primeira Liga, 'frangos', jogos inesquecíveis, a maior delas todas foi ter conseguido terminar a minha licenciatura, enquanto atleta da briosa e 'beber' das gerações mais antigas o verdadeiro espírito académico”*
Para além do brilhante percurso escolar, seria na Académica que Pedro Roma concluiria a formação como futebolista. De seguida, depois da estreia como sénior num empréstimo, na temporada de 1989/90, à Naval 1ª de Maio, o regresso a Coimbra começaria a revelar um atleta de qualidades superiores. Nesse sentido, com a campanha de 1991/92 a correr de feição para o guarda-redes, o Benfica, certo da habilidade da jovem promessa e mesmo tendo em conta a total inexperiência primodivisionária do jogador, decidir-se-ia pela sua contratação. Todavia, com a chegada à Luz a acontecer na temporada de 1992/93, o guardião encontraria Neno e Silvino como concorrentes a uma posição no “onze”. Obviamente, perante colegas de tanto gabarito e com enorme traquejo, as oportunidades por si conquistadas seriam praticamente nulas. Ainda assim, o atleta não deixaria de valorizar a experiência ao serviço das “Águias” – "Guardo boas recordações do Benfica. É um marco importante, em qualquer profissional, uma passagem pelo Benfica. É pena que as coisas não me tenham corrido de uma forma positiva, mas é um marco que vou guardar para o resto da minha vida"**.
Sem espaço no plantel dos "Encarnados", Pedro Roma começaria um périplo de empréstimos que, em três campanhas sucessivas, levaria o atleta ao Gil Vicente, à Académica e ao Famalicão. Já o regresso em definitivo à cidade do Mondego, dar-se-ia em 1996/97 e logo para uma temporada que, quase uma década depois, marcaria a subida da “Briosa” ao escalão máximo do futebol português. Seguir-se-iam, com um pequeno interregno em que vestira as cores do Sporting de Braga, 13 temporadas a envergar o equipamento da colectividade conimbricense, campanhas que fariam dele, muito mais do que o guarda-redes mais utilizado na história dos “Estudantes”, num dos nomes mais estimados pela massa adepta do clube – "Foram 20 anos, muitos jogos - quase 400 -, mais de uma centena deles em que tive a suprema honra de ser capitão de equipa. Como o foram antes Alberto Gomes, Mário Wilson, Bentes, Gervásio, Tomás e Miguel Rocha e tantas outras figuras do imaginário Briosa ao longo de décadas. Nunca me imaginei ao pé de homens tão ilustres. Não dá para equacionar a honra que se sente e simultaneamente a responsabilidade que nos pesa sobre os ombros"***.
Com quase 40 anos de idade, após terminar a carreira de futebolista, Pedro Roma encetaria a sua caminhada nas funções de treinador de guarda-redes, trajecto esse que, depois dos primeiros anos a trabalhar na Académica de Coimbra, iria levar o antigo guardião até às camadas jovens da selecção nacional.

*retirado do artigo de Álvaro Gonçalves, publicado a 30/12/2013, em www.zerozero.pt
**retirado do artigo de Mary Caiado, publicado a 16/12/2003, em https://maisfutebol.iol.pt
***retirado do artigo publicado a 06/07/2010, em www.record.pt

429 - REDONDO


Quando se completa a formação num dos históricos clubes portugueses e sendo o dito emblema um frequentador assíduo da 1ª divisão, é normal que o intérprete em causa ambicione fazer carreira no escalão maior. João Redondo não deve ter passado ao lado de tal sonho e o início da carreira sénior haveria de trazer isso mesmo ao mencionado praticante. Porém, cumprida a época de estreia na principal equipa da Académica de Coimbra, a “Briosa”, com o termo das provas agendadas para 1979/80, acabaria por ser despromovida. Arrastado para o escalão secundário, o defesa manter-se-ia fiel ao clube e durante os anos seguintes acabaria afastado do convívio com os “grandes”. Curiosamente, seria após ajudar os “Estudantes” a regressar aos principais palcos do futebol luso que, na temporada de 1984/85, passaria a representar a União de Coimbra. Seguir-se-ia o Beira-Mar e não fosse a paciência uma virtude e talvez o emblema aveirense também não tivesse sido a porta de regresso ao patamar máximo.
Com a chegada ao Estádio Mário Duarte a acontecer na campanha de 1985/86, a temporada de 1988/89 marcaria não só o retorno dos “Auri-negros” à 1ª divisão, como também o regresso de Redondo ao ambicionado contexto primodivisionário. Cumprido o objectivo inicial, o passo seguinte levaria o defesa a querer manter-se como titular no referido patamar e, nos anos seguintes, o jogador conservar-se-ia como um dos nomes com presença habitual no “onze” do Beira-Mar. Tal estatuto, meritoriamente auferido na colectividade sediada em Aveiro, daria ao atleta a oportunidade de ultrapassar a centena de partidas disputadas no escalão máximo, transformando-o, naturalmente, numa das figuras de maior relevo nas provas nacionais, na transição da década de 1980 para a de 1990.
Depois de 8 temporadas ao serviço do Beira-Mar, ao longo das quais a presença na final da Taça de Portugal de 1990/91 serviria como ponto mais alto, o jogador deixaria a agremiação aveirense. Ao ser apresentado como reforço do Tirsense para a época de 1993/94, o defesa, com a camisola dos “Jesuítas”, teria nas 2 campanhas seguintes as últimas na 1ª divisão. Finalmente, como derradeiro capítulo da sua caminhada competitiva, surgiria a Sanjoanense e o final de carreira com o encerramento da temporada de 1996/97.

428 - SANTANA

Não gosto que uma pessoa, por razão da sua ascendência, tenha um valor previamente adquirido. Igualmente, penso que cada individuo deve ser aferido exclusivamente pelo caminho que vai traçando e nunca em termos comparativos com o trajecto, por exemplo, dos seus pais. Contudo, é impossível não fazer esta referência e, por certo, a mesma é, para este antigo jogador, um motivo de enorme orgulho. É verdade, o Santana aqui hoje apresentado é filho de outro Santana, isto é, descente da antiga estrela benfiquista e bicampeão europeu pelo emblema lisboeta.
 Quase de forma natural, o seu começo como atleta far-se-ia de "águia" ao peito. Todavia, José Santana, ao contrário do pai, iria preferir a ponta contrária do campo para mostrar as suas habilidades. A jogar como defesa, o atleta nunca chegaria a vestir a camisola dos “Encarnados” na categoria principal. Como júnior deixaria a Luz para rumar ao Estoril Praia. Ainda na época da chegada aos “Canarinhos”, a 1978/79, o jogador faria a sua estreia entre os seniores sem, contudo, conseguir somar um número substancial de jogos. Já a campanha seguinte, depois da participação no Mundial sub-20 de 1979, revelaria um jovem praticante com capacidade suficiente para ocupar um lugar a titular e essa regularidade valer-lhe-ia, no defeso estival de 1980, a transferência para a Académica de Coimbra.
Nos 2 anos cumpridos na cidade da Beira Litoral, Santana acabaria por viver uma das grandes polémicas do futebol nacional. O episódio conta-se depressa. Num dos últimos jogos da edição de 1981/82 da 2ª divisão, a Académica, que tinha descido de escalão na época anterior, preparava-se para disputar, frente à AD Guarda, os pontos que poderiam garantir a sua promoção. Um golo haveria de ser marcado aos 78 minutos, mas um coro de protestos que, dizem, cercou o árbitro durante mais de 10 minutos, contribuiria para que o juiz anulasse o lance. Na sequência da referida confusão, os protestos da "Briosa" fariam com que o jogo tivesse repetição. Nessa segunda partida, num "ambiente de cortar à faca", a Académica acabaria mesmo por vencer. O pior é que a contenda seria posteriormente anulada e os "Estudantes" haveriam de permanecer no escalão secundário.
Seria pouco tempo depois do episódio relatado no parágrafo anterior que a transferência de Santana encaminhá-lo-ia até ao clube mais representativo da sua carreira. No Rio Ave, onde permaneceria por 6 temporadas, o defesa disputaria largas dezenas de partidas. Tais números transformá-lo-iam num dos nomes inesquecíveis do emblema vilacondense. Porém, outro feito ficaria para história e a campanha que levaria o emblema da caravela à final da Taça de Portugal de 1983/84, mesmo com o jogador a não entrar em campo na final disputada no Estádio Nacional, ficaria registado como uma das grandes memórias do atleta.
Depois do Rio Ave, de onde sairia em 1988, o defesa haveria de vogar por emblemas das divisões secundárias. Um ano no Paredes e outro com as cores do Olhanense precederiam o seu ingresso no plantel de 1990/91 do Amora. No emblema da Margem Sul, o jogador cumpriria as últimas 3 campanhas da sua caminhada competitiva e o termo da temporada de 1992/93 haveria de trazer o fim da sua carreira.

427 - ESMORIZ

Nasceu longe da homónima freguesia do concelho de Ovar. A sua carreira também passou ao lado dessa mesma localidade, já que foi em Lisboa, terra da sua naturalidade, que o antigo atleta cumpriu grande parte do percurso enquanto futebolista. Começou nos seniores do Atlético na temporada de 1969/70 e no popular emblema “alfacinha” iniciou a actividade desportiva como defesa. Foi igualmente nessas funções que deixou o clube do bairro de Alcântara para, na campanha de 1975/76, rumar aos vizinhos, e talvez os maiores rivais, do Belenenses. Traição ou não, a verdade é que no clube do Restelo conseguiu projectar-se para uma carreira muito interessante. Nesse sentido, os da "Cruz de Cristo” permitiram-lhe grande parte das partidas disputadas no mais importante escalão luso. Foram também os “Azuis” a transformá-lo num médio-centro e a permitirem ao jogador a estreia nas competições de cariz continental.
Na Taça UEFA de 1976/77, por mais histórias que possam ter havido durante o seu percurso no futebol, Esmoriz viveu um momento inolvidável. Frente ao FC Barcelona, é certo que o Belenenses foi eliminado. No entanto, enganam-se os que pensam que tal passagem foi fácil para o conjunto catalão. É verdade, contra a equipa que, entre outras estrelas, contava com nomes como os neerlandeses Johan Cruyff ou Neeskens, os portugueses souberam bater-se de igual para igual. O saldo das duas mãos foi 5-4, mas, para além do empate conseguido em casa por 2-2, a equipa lisboeta foi a Camp Nou sem qualquer temor e, espantam-se, só sofreu o golo que decidiu a ronda a 3 minutos do fim do tempo regulamentar.
 Após 5 temporadas com as cores do Belenenses, aos 30 anos de idade, ao atleta surgiu a oportunidade de dar outro passo na carreira e ao convite do Sporting, Esmoriz não virou a cara. No entanto, a concorrência era enorme e o centrocampista raramente teve a chance de mostrar os predicados que tinham levado os “Leões” a apostar em si. Ainda assim, após uma primeira campanha deveras modesta, o inglês Malcolm Allison, contratado para a campanha de 1981/82, haveria de mantê-lo no plantel e a opção do mencionado técnico, assente na entrega e abnegação demonstrada pelo jogador, fez com o seu nome constasse na lista de vencedores do Campeonato Nacional de 1982/83.
Depois dessa vitória, Esmoriz abandonou o Sporting e deixou também os palcos da 1ª divisão. Daí em diante vogou pelos escalões secundários onde ainda vestiu as camisolas de Penafiel, União de Leira, Estoril Praia e Cova da Piedade.

426 - FERNANDO PORTO

Já falei, neste “blog”, de um tempo em que a contratação, por parte dos emblemas portugueses, de atletas vindos das ligas espanholas foi, por assim dizer, comum. Fernando Porto foi um dos nomes que, por essa altura, chegou a Portugal. Veio para jogar no Farense, mas, como é óbvio, para trás já tinha uma carreira firmada no país vizinho. Sobre essa primeira parte da sua vida profissional, tenho de fazer referência à mesma como peculiar. Porém, não quero que entendam tal afirmação como pejorativa. Dito isto, ao analisarmos esses anos, há uma coisa que salta logo à vista. Ora vejamos! Formou-se no Celta de Vigo para, depois, ser promovido à equipa "B". Mesmo ao ser chamado à equipa principal, o defesa cumpriu maior parte do tempo com o segundo plantel da colectividade galega. No entanto, no final dessa temporada de 1993/94, até porque em abono da verdade, o jovem jogador tinha talento, o FC Barcelona decidiu apostar nele. Mais uma vez, o seu destino não foi o esperado e Fernando Porto acabou na equipa "B". Apesar de titular, a oportunidade de vestir a camisola na categoria principal nunca apareceu. Conclusão? Nova transferência, dessa feita para o Numancia. A mencionada mudança serviu para vincar aquilo que aqui foi dito: Fernando Porto era mesmo um jogador com qualidades superiores. Esse facto, mais uma vez, levou com que outro clube de monta acreditasse no seu potencial. No entanto, no Maiorca a sua sorte não mudou e, como já deu para adivinhar, o fado do central foi o mesmo de sempre: EQUIPA "B"!
Depois de representar o Legañes, Fernando Porto chegou ao Algarve. Nesse Verão de 2000, o Farense apresentou como reforço um defesa forte fisicamente, disciplinado ao nível táctico e que tinha no jogo aéreo a maior arma. Talvez a falta de experiência nos “patamares máximos”, ele que, a esse nível competitivo, tinha em Portugal a estreia, tenha contribuído para o falhanço da sua afirmação. Já a segunda temporada nas provas lusas, revelou um atleta mais confiante e muito útil para o grupo de trabalho. O pior é que, no plano desportivo, o Farense começava a mostrar as debilidades resultantes de uma grave crise financeira. Nesse contexto, no final da campanha de 2001/02 e com os "Leões de Faro" e serem despromovidos, Fernando Porto optou pela mudança para o União da Madeira. A partir dessa altura a sua carreira perdeu o fulgor que tinha prometido no início da mesma e o jogador passou a vogar pelos escalões secundários dos dois países ibéricos.

425 - ALMEIDA

Variadíssimas vezes internacional pelas camadas jovens da selecção portuguesa, Almeida foi um dos melhores alas-direitos que, durante os anos de 1980, o campeonato português viu jogar. Perguntam, então (e bem!), porque não chegou este craque, nascido em Oliveira do Bairro, à equipa principal das "quinas"? Bem, a resposta não será assim tão fácil de dar e levar-nos-ia a muitas especulações sobre o assunto. Uma coisa é verdade: a concorrência que enfrentou durante toda a sua carreira de profissional foi tremenda. Não nos podemos esquecer que o extremo sofreu, na disputa por um lugar na selecção principal, a concorrência de atletas como Chalana, Diamantino ou Jaime Magalhães. Ainda assim, o argumento de que seria menos bom que outros atletas, não é irrefutável. Com isto concordarão todos aqueles que ainda têm memória de o ver jogar. E por isso mesmo, há quem diga que, tendo em conta as suas boas exibições, este boavisteiro de alma e coração, foi, nesse campo, vítima de uma tremenda injustiça.
Independentemente da questão levantada no parágrafo anterior, uma coisa é certa: Almeida teve uma carreira da qual deve orgulhar-se. O primeiro motivo, por exemplo, posso dá-lo pelo facto de cedo, ainda em idade de júnior, ter sido, isso na temporada de 1977/78, incluído nas contas do plantel principal do Boavista. Mas há mais. Depois de terminada a formação na equipa do Bessa, o atleta faria com o plantel sénior “Axadrezado”, com excepção, já em fim de carreira, às passagens pelo Beira-Mar e Torres Novas, maior parte da sua vida como "jogador da bola". Foram mais de 150 partidas disputadas para o Campeonato Nacional com a camisola das “Panteras” e que fizeram dele um histórico do clube.
No entanto, não é só de números que se faz uma carreira e a de Almeida também teve muitos outros predicados. Bastaria, para provar tal afirmação, falar da maneira como se apresentava em cada disputa. Contudo, o jogador batalhador, com uma técnica muito acima da média, com uma capacidade de passe tremenda e que fazia dos cruzamentos para o centro da área adversária a sua maior arma dentro dos relvados, não se esgotava por aqui. Muito mais do que o futebolista, sempre houve o Homem. E este, segundo quem com ele lidou de perto, sempre foi uma pessoa de carácter modesto, abnegado amigo e muito longe daquilo que foi o querer de algumas estrelas que também brilharam no desporto. Por isso mesmo, Almeida sempre foi um modelo para todos os que com ele trabalharam; por isso mesmo, também, tem sido escolhido para treinador das camadas jovens das "Panteras". Porquê? Esta pergunta, ao contrário daquela com que começamos este "post", é bem fácil de responder! Porque, dentro e fora do campo, Almeida sempre foi, e será, na dedicação, um exemplo a seguir.

424 - MURÇA

Filho de um "homem do mar" que também era uma das estrelas do Pescadores da Costa da Caparica, Alfredo Murça haveria de iniciar a carreira no referido emblema do município de Almada. Treinado pelo “violino” Albano, o jovem atleta, à imagem do pai, teria na posição de atacante as primeiras tarefas a cumprir dentro de campo. Já como um goleador nato, os números por si apresentados transformá-lo-iam no alvo da cobiça de outros emblemas e, depois de observado pelo notável belenense Calisto Gomes, o jogador rumaria aos escalões de formação da "Cruz de Cristo".
No Restelo, logo na temporada de 1968/69, campanha da sua chegada à equipa principal, Murça haveria de encontrar o treinador que começaria a mudar-lhe o rumo como futebolista. Ángel Zubieta, técnico espanhol, decidiria que a posição certa para o jogador, ao contrário do que até então tinha acontecido, estava na ponta oposta do campo, ou seja, na defesa. A alteração levá-lo-ia para o centro do sector mais recuado, até que, numa chamada à selecção de “esperanças”, Fernando Caiado viria a deslocá-lo para a esquerda. Já no regresso aos trabalhos dos “Azuis”, Mário Wilson concordaria com a alteração perpetrada pelo seleccionador e, desse modo, até ao fim da sua carreira, o atleta manter-se-ia a jogar pela lateral canhota.
Como um elemento decisivo nas manobras tácticas do Belenenses, a temporada de 1969/70 também viria a tornar-se histórica na carreira de Murça. Ao assegurar a titularidade no clube, o sucesso alcançado seria sublinhado pela chamada à equipa “A” de Portugal. Nessa partida de estreia, agendada a 10 de Dezembro de 1969, o jogador seria chamado por José Maria Antunes para um particular, disputado no Estádio de Wembley, frente a Inglaterra. Porém, para além do merecido prémio de envergar a “camisola das quinas”, a maneira exemplar como encarava o futebol, onde viria a caracterizar-se como um elemento batalhador, mas sempre correcto com os adversários, cedo começaria a prometer-lhe novos horizontes e, sem que ninguém estranhasse a mudança, o defesa-esquerdo seria apresentado como reforço do plantel de 1974/75 do FC Porto.
Tal como no Belenenses, Murça rapidamente conquistaria um lugar no "onze" dos “Azuis e Brancos”. Com a maneira abnegada de encarar as partidas, em que o constante vaivém pela sua ala dava uma vivacidade particular, tanto ao jogo ofensivo, como às acções defensivas da equipa, o atleta tornar-se-ia num dos principais pilares pelo regresso dos "Dragões" aos títulos. Nesse capítulo, sob a orientação de José Maria Pedroto, primeiro surgiria a conquista da Taça de Portugal de 1976/77. De seguida, em dois anos consecutivos, viriam as vitórias no Campeonato Nacional de 1977/78 e 1978/79, pondo fim ao longo jejum de 19 anos do FC Porto sem conquistar a prova de maior relevo no calendário futebolístico português.
Após aquela que ficaria registada como a fase mais prolífera da sua carreia, ou seja, depois de 7 anos a vestir de “azul e branco”, o defesa rumaria ao Vitória Sport Clube. No Minho a partir de 1981/82, as 3 campanhas em Guimarães, onde, em 1983/84, chegaria a partilhar o balneário com o irmão Joaquim Murça, Alfredo Murça manteria a bitola exibicional bem elevada, continuando a mostrar-se como titular. Já com 36 anos, com a partida da “Cidade Berço”, o lateral-esquerdo ainda jogaria nos escalões secundários, envergando as cores do Leixões e do Tirsense. Aliás seria na terra dos "Jesuítas" que Murça daria início à carreira de treinador, a qual, mormente como adjunto, voltaria a ligá-lo ao FC Porto.

423 - PARIS

 
Ao nascer-se no seio de uma casa de futebolistas, qual a probabilidade de fugir a esse destino? Para Paris, o António, foi impossível!
Irmão mais novo de Cândido Paris, avançado que passou pelo Boavista, Varzim, entre outros, e de Manuel Paris, praticante que vestiu a camisola do Atlético, seria António Paris, como o único dos três a atingir o patamar de jogador internacional, que mais viria a destacar-se na prática da modalidade a apaixonar a família.
Natural da ilha de São Vicente, bem distante da capital francesa a dar-lhe o nome, seria no Estoril Praia, depois de passagens pelo Estrela de Portalegre e pelo Alba, que o defesa, na campanha de 1977/78, haveria de fazer a sua estreia na 1ª divisão portuguesa. Porém, apesar de, durante as duas primeiras temporadas, ter conseguido alcançar alguma relevância dentro do plantel dos “Canarinhos”, a verdade é que a época de 1979/80 seria cumprida numa passagem pelo Nacional da Madeira. Ainda assim, depois da experiência na cidade do Funchal, o regresso ao emblema da Linha de Cascais apresentaria um atleta com maior traquejo. Possante, aguerrido e de uma utilidade tremenda para a manobra defensiva da sua equipa, Paris começaria a ser cobiçado por outros emblemas e, no Verão de 1982, a proposta do Sporting de Braga, para a sua contratação, levá-lo-ia até ao Minho.
O primeiro ano passado na "Cidade dos Arcebispos" traria para a carreira de Paris uma série de novidades. Por um lado, a disputa da Supertaça de 1982/83, vencida pelo Sporting. Por outro, a estreia nas competições organizadas pela UEFA, nas quais, ao jogar a ronda inaugural da Taça dos Vencedores das Taças, entraria em campo frente aos britânicos do Swansea. Ainda nessa senda de coisas novas, é impossível esquecer aquele que terá sido um dos momentos mais altos da sua caminhada competitiva, isto é, a chamada aos trabalhos da principal selecção portuguesa e a estreia com a “camisola das quinas”, a 23 de Fevereiro de 1983, numa partida frente à Republica Federal Alemã.
Curiosamente, após a temporada de estreia com os “Guerreiros”, durante a qual conseguiria impor-se como um dos titulares do último reduto bracarense, Paris, na época seguinte e com a entrada de Quinito no comando técnico do conjunto minhoto, perderia a preponderância ganha até então. Essa mudança de paradigma levaria o defesa, na época de 1984/85, a rubricar um contrato com o Salgueiros, com o ano passado em Paranhos a tornar-se no último do jogador no escalão maior do futebol luso. Depois surgiria o regresso ao Estoril Praia, a camisola do União de Almeirim e o final da carreira com o termo das provas agendadas para 1987/88.

422 - ABRANTES

De Abrantes à localidade capital do distrito das suas origens, Portalegre, distam em linha recta, qualquer coisa como 68,78 km. Curiosamente, o grosso da sua carreira também andaria bem longe da terra a dar-lhe o nome. Nesse sentido, depois de ter jogado em emblemas do Alentejo, as suas qualidades futebolísticas, reveladas bem cedo, levá-lo-iam até Lisboa e seria no Benfica que Manuel Abrantes viria a estrear-se como sénior.
Com os “Encarnados” a atravessarem uma das épocas de maior glória na história, ao jovem guardião, após a primeira partida na equipa principal em 1966/67, não deve ter faltado motivação para a carreira. Porém, essa partida, sob o comando de Fernando Riera, não teria grande continuidade. A verdade é que, num plantel que contava com Costa Pereira, José Henrique ou Nascimento, a esperança de Abrantes ganhar o lugar à baliza tornar-se-ia num sonho bem longínquo. A sublinhar tal ideia emergiriam os números, com o jogador a alcançar poucas oportunidades, participando, em 3 temporadas, em apenas 2 jogos da Taça de Portugal. Aliás, o único troféu oficial inscrito no seu currículo consegui-lo-ia através da vitória do Benfica na edição de 1968/69 da “Prova Raínha”.
O passo seguinte na carreira encaminhá-lo-ia até Académica de Coimbra. Contudo, o objectivo de jogar com maior frequência depressa começaria a esfumar-se. Primeiro surgiria a época de 1969/70 onde, peculiarmente, 5 guardiões calçariam as luvas da "Briosa". Depois seria a concorrência de Melo a remetê-lo para mais uma campanha longe do “onze”. Do mesmo modo, no regresso à Luz em 1970/71, o guardião seria vítima da qualidade dos concorrentes à sua posição, nomeadamente da presença de José Henrique, mas também de Fidalgo e de Fonseca.
Seria por essa altura que o Benfica, a pensar na contratação de uma grande promessa do futebol português, envolveria o seu nome no negócio. Com o acordo firmado entre todas as partes, Abrantes partiria em direcção à Margem Sul do Rio Tejo e Manuel Bento deixaria o FC Barreirense para rumar às “Águias”. A mudança viria a beneficiar o novo guardião do listado vermelho e branco que, como consequência da transferência, faria da temporada de 1972/73, a sua primeira temporada como titular no escalão maior.
.Daí em diante, após representar o colectivo do Barreiro e de passagens pelo Sporting de Espinho e pelo primodivisionário Montijo, Abrantes, na campanha de 1978/79 chegaria ao emblema onde passaria mais anos. Para além de 7 temporadas cumpridas pelo Estoril Praia, poderá dizer-se que terá sido pelos “Canarinhos” que guarda-redes, internacional júnior e “B”, viveria um dos episódios mais caricatos da sua vida como futebolista – "Eu tinha sempre muito trabalho contra o F.C. Porto mas aquele jogo foi o que mais me ficou na memória (…). O árbitro marca um penalty contra nós, o Vítor Madeira protesta, vê o segundo amarelo e é expulso. O Gomes mete a bola na marca de penalty mas eu defendo. Quando me levanto vejo que o Vítor Madeira estava em campo. Não sei dizer se nunca saiu ou se tinha voltado a entrar. Mas estava lá e o banco do F.C. Porto estava todo de pé a reclamar (…). Os jogadores do Porto empurravam o árbitro para a marca do penalty os nossos empurravam-no para fora da área. E ele não tomava nenhuma decisão (…). Só lhe disse uma coisa [refere-se ao árbitro Graça Oliva]: se vocês não viram se o Vítor Madeira estava em campo, esqueçam lá isso. Eles que joguem à bola que são melhores do que nós. Ele olhou para mim e disse: Tem razão. E o jogo seguiu"*.

*adaptado do artigo de João Tiago Figueiredo, publicado a 21/09/2013, em https://maisfutebol.iol.pt

TOPONÍMIA

Se toponímia pode definir-se como a disciplina que estuda os nomes próprios dos lugares, a sua origem e evolução, a pergunta que apraz fazer-se é - mas o que tem isso a ver com o futebol?
Pois bem, todos nós, até os jogadores, têm o seu local de nascimento. Bastaria isso para que conseguíssemos construir algo relacionado com a geografia. Mas longe dessa verdade ao jeito de "Monsieur" La Palice, há outra igualmente incontornável. É que ao longo dos tempos, os nomes das cidades, vilas e afins, foram servindo para apelidar pessoas. Claro que é capaz de ter sido exactamente o oposto, mas, também, para que é que isso interessa? Na verdade, o que importa é que este Dezembro, em exclusivo, será dedicado a futebolistas com nome de localidade!