440 - SUÁREZ

Quando alguém como Alfredo di Stéfano baptiza outro jogador – ainda por cima foi quase sempre seu adversário – como "El Arquitecto", então muito há a dizer sobre tal apelido! Ora, há que reconhecê-lo e a alcunha posta pela estrela do Real Madrid, numa maneira correcta e sucinta de descrever o antigo médio espanhol, serve às mil maravilhas. Em abono da verdade, seu jogo era magistral. Diziam dele que conseguia pôr a bola como e a que distância queria. A sua exactidão era estonteante, ao ponto de outro dos grandes mitos do futebol, o treinador argentino Helénio Herrera – também passou pelo Belenenses –, seu treinador em Espanha e em Itália, dizer que, tê-lo em campo, era o seu conceito de tranquilidade.
Luis Suárez, ou, se quiserem, Luisito, começou por jogar, profissionalmente, no clube da sua terra natal, o Deportivo La Coruña. Contudo, pouco foi o tempo que aí passou, pois a sua excelência em campo agoirava outros voos. Da Galiza, com 18 anos apenas, partiu para a Catalunha. Em Barcelona, começavam a lançar-se os alicerces de uma equipa mítica. Ramallets, Czibor, Kubala, Kocsis são só alguns dos nomes que, com Suárez, partilharam o balneário. Nesse erguer, sob o comando do já referido técnico argentino, o FC Barcelona venceu 1 Taça do Rei, 2 Taças das Cidades com Feira e 2 Campeonatos. Aliás, seria o último título de campeão que lançaria os “Blaugrana” para a campanha, já sob o comando do espanhol Enrique Orizaola, da Taça dos Clubes Campeões Europeus de 1960/61. É estranho tal número?! Não devia ser! A campanha de 1960/61 é a época em que o Benfica levantaria, em Berna, o dito troféu. Pois é, foram as "Águias" as responsáveis, sem saberem que mais tarde haveriam de sofrer uma "vendetta", pelo primeiro dissabor na carreira de Luis Suárez. Certo é que nem tal desaire impediu o jogador de, nesse mesmo final de temporada, conseguir protagonizar a maior transferência de sempre, no futebol daquela altura.
O Inter acabava de acenar, ao atleta e ao emblema "Blaugrana", com duas propostas irrecusáveis. Para os cofres dos catalães seguiram qualquer coisa como 200 mil euros e para o atleta, ele já com o estatuto do Ballon d'Or ganho em 1960, mais uma pequena fortuna. Bem longe de estar alheio à mudança do médio, mais uma vez, estava a incontornável figura de Herrera. O treinador, que agora orientava os de Milão, precisava de alguém que desenhasse as suas jogadas com exactidão, de alguém que municiasse os seus atacantes de forma precisa e o nome que surgiu na sua cabeça foi, naturalmente, o do internacional espanhol. Já em Itália, ao lado de nomes como Facchetti, Mazzola, Picchi, do brasileiro Jair ou, ainda, do português Jorge Humberto, Suárez rapidamente tomou conta da zona central do terreno de jogo. Com jogadas geniais, lançou o Inter para uma série de títulos nacionais e continentais, onde merecem maior destaque 3 "Scudettos", 2 Taças Intercontinentais e 2 Taças dos Clubes Campeões Europeus, onde, lá está, tenho de incluir a de 1964/65, conquistada frente ao Benfica.
Na selecção, tal como nos clubes por onde passou, o seu papel como pensador do jogo, assumiu grande relevância. Foi assim que a Espanha conseguiu alcançar o seu primeiro grande título enquanto nação, ou seja, o Europeu de selecções de 1964. Já “penduradas as chuteiras”, sendo um intérprete inteligente, nada mais normal que, após o final da carreira nos relvados, fizesse a transição para a vida de treinador. É certo que, em tais funções, nunca conseguiu o prestígio, nem, tão pouco, os títulos alcançados enquanto futebolista. No entanto, a sua carreira não deixa de ter pontos de interesse, como é exemplo a presença no Mundial de 1990, onde, em Itália, comandou os destinos da selecção espanhola.

439 - VAN BASTEN

E se eu disser que Marco van Basten, é, na verdade, Marcel van Basten! Curioso, não é?! Bem, realmente pouco interessa este pormenor, pois a vida de Marco é, sem dúvida alguma, bem mais interessante que a de Marcel. Então, de onde vem tal nome? Não sei! É para mim uma total incógnita! Certo, é que um dos passos mais importantes dados pelo avançado, foi aquele que, a 3 de Abril de 1982, o tirou do banco de suplentes e o fez entrar em campo para o lugar do seu ídolo de sempre, Johan Cruyff.
Muito antes do episódio relatado no final do parágrafo anterior, já van Basten jogava à bola. Tudo começou na sua cidade natal, Utrecht, e tendo passado por diversos emblemas, foi do USV Elinkwijk que acabou por sair em direcção ao Ajax. Em Amesterdão encontrou o jogador que, para ele, era a verdadeira lenda. No entanto, nem só Cruyff serviu de inspiração. O pai de Marco – perdão, de Marcel – teve, igualmente, um papel muito importante no lançar da sua carreira. Tendo sido futebolista, foi ele o principal incentivo para que van Basten levasse avante o gosto pela modalidade. Por certo, nunca o seu progenitor imaginou que o avançado, muito para além de seguir as suas passadas, conseguisse ir bem mais além do que aquilo que tinha sido a sua carreira. Porém, podemos dizer: van Basten foi um dos melhores jogadores da história da modalidade.
Tal afirmação facilmente consegue justificar-se com os números que compõem a sua carreira. Todavia, tal como outros craques do mesmo gabarito, van Basten foi muito mais do que títulos, troféus ou golos. Quem o viu jogar sabe disso. Sabe que era sublime na maneira como controlava todo o último terço do campo, genial com a bola nos pés, veloz nas desmarcações e, acima de tudo, implacável na finalização. Ora, tanta qualidade só poderia trazer, para ele e para os clubes por onde passou, inúmeras conquistas. No Ajax, para além de 3 Campeonatos, 3 Taças e a Taça dos Vencedores das Taças de 1986/87, van Basten conseguiu vencer 4 vezes o prémio de goleador máximo dos Países Baixos. Numa dessas épocas, a 1985/86, conseguiu também alcançar o título individual almejado por todos os da sua posição, a Bota de Ouro. Tamanhos sucessos tornaram inevitável a cobiça de outros emblemas. O AC Milan que, liderado por Silvio Berlusconi, andava a formar uma superequipa, ficou na linha-da-frente. Marco van Basten mudou-se para Itália corria o Verão de 1987 e logo no final dessa primeira temporada haveria de erguer o primeiro de 4 "Scudettos".
"Veni vidi vici", poderão dizer vocês! Contudo, o momento que, nessa época de mudança para o Calcio, permanece na memória de todos, passou-o com a camisola laranja da sua selecção. No Euro 88, realizado na Alemanha, van Basten, por razão das lesões que o iriam afligir para o resto da carreira, até começou no banco de suplentes. No entanto, o segundo jogo seria marcado por um "hat-trick" seu, o mesmo que catapultou os Países Baixos até à final. Já na derradeira partida frente à U.R.S.S., algo de extraordinário aconteceu. Corria a segunda metade do encontro quando, da esquerda do campo, um centro largo, salvo erro de Arnold Mühren, parecia destinar o lance à linha de fundo. Foi então que apareceu van Basten que, sem deixar o esférico tocar no chão, com um fenomenal "volley" a partir de um ângulo apertadíssimo, enfiou a bola no interior da baliza de Dasaev.
É verdade que, para além desse minuto 54, muito mais aconteceu na carreira do atacante; é verdade também que ter um golo considerado como um dos melhores de sempre no futebol, é algo notável. Contudo, se fosse apenas isso, por certo, não estaríamos aqui a falar do jogador. Pois, podemos continuar a relatar os seus feitos, referindo que, ainda nesse ano de 1988, foi-lhe atribuído o Ballon d'Or. Repetiu a façanha por mais duas vezes – como ele, só Cruyff e Platini. Entretanto, pelo AC Milan venceu tudo o que havia para vencer. A saber-se: os, já referidos, 4 "Scudettos"; 2 Taças dos Clubes Campeões Europeus; 2 Supertaças UEFA; 2 Taças Intercontinentais; para além da dupla consagração como o Melhor Marcador da Serie A.
Em 1992 haveria de ser aclamado pela FIFA como o Melhor jogador do ano. No entanto, por essa altura já os seus tornozelos davam "pano para mangas". Por razão de tais lesões, a vida do atacante nos relvados não durou muito mais tempo. O fim chegou cedo demais, todos concordarão. Contudo, alguém com uma paixão tão grande pelo jogo, não poderia afastar-se dele para sempre. Foi por essa razão que van Basten iniciou as lides de treinador. Nessas funções, o principal papel que desempenhou foi o de seleccionador holandês, entre 2004 e 2008. Esteve, também, à frente dos destinos do Ajax e, hoje em dia, é o técnico principal do Heerenveen.

438 - RUMMENIGGE

Quando, aos 18 anos, viu surgir o convite do Bayern Munique, o maior alívio de Rummenigge terá sido, provavelmente, relacionado com a saída do banco onde trabalhava. Porém, se realmente pensou que a nova rotina iria afastá-lo do banco, é porque, com a emoção da mudança, porventura, terá esquecido que a equipa para onde estava a mudar-se era somente a campeã europeia em título!
Foi assim que, em 1974, o talentoso médio-ofensivo – só anos mais tarde avançou no terreno – viu a sua habilidade técnica e a inteligência sentarem-se junto com os outros suplentes. Por lá andou ainda durante uns tempos e foi nessa perspectiva que assistiu à sua primeira final da Taça dos Clubes Campeões Europeus. Não jogou nessa derradeira partida de 1975, frente ao Leeds United, mas venceu. Já o ano seguinte trouxe-lhe uma visão bem diferente da contenda. Voltou a conquistar o troféu. Porém, dessa feita fê-lo no relvado, ao lado dos colegas de equipa.
A chegada à Bavaria do treinador Pal Csernai, o mesmo que em 1984/85 orientou o Benfica, trouxe a Rummenigge uma mudança no destino. O técnico húngaro achou que o atleta, devido às suas capacidades – velocidade, sentido posicional e veia goleadora – servia melhor junto às defesas adversárias. Não se enganou e o jogador, com a mudança, tornou-se no mais precioso capital ofensivo do emblema germânico. Com os golos a surgirem uns atrás dos outros, o avançado alcançou, por três vezes (1979/80; 1980/81; 1983/84), a marca de melhor marcador da "Bundesliga". Claro está, tantos golos transformaram-se num sério benefício para a sua equipa e muito dos 2 Campeonatos e das 2 Taças alemãs vencidas pelo Bayern Munique por essa altura são devidos à presença de "Kalle" no ataque.
Se no Bayern tudo corria de feição para o jogador, já a sua história na selecção foi um pouco mais frustrante. É verdade que Rummenigge venceu com a "Mannschaft" o Europeu de 1980. É verdade, também, que terá sido esse título a impulsioná-lo para a conquista do "Ballon d'Or" desse mesmo ano – venceria, mais uma vez, em 1981. Já perder duas finais do Campeonato do Mundo, nunca é muito bom de digerir! No entanto, apesar das derrotas frente à Itália (1982) e à Argentina (1986), o seu nome ficará, para sempre, ligado à história dos ditos certames… nem que seja por fazer parte de um dos seus episódios mais caricatos! Diz-se que durante a meia-final de 1982, frente à França, quando Rummenigge saltou do banco, François Mitterrand terá exclamado qualquer coisa como: “Mon dieu, Rummenisch!”*. A premonição do, à altura, Presidente da República de França, não poderia estar mais certa, pois à custa do avançado germânico, com um golo e com uma assistência, o “placard” sofreu um volte-face definitivo e os gauleses acabaram eliminados.
A fase final da sua carreira levou-o ao "Calcio" e, numa fase posterior, à Suíça. No Inter, não pode dizer-se que terá deixado os seus créditos por mãos alheias. É certo que não cumpriu o objectivo da sua contratação, a conquista do Scudetto. Contudo, as suas exibições acabaram por ser convincentes e só não foram de maior gabarito, pois as lesões, durante esse período, teimaram em assolar a estrela alemã.
Como já referi, Rummenigge sempre foi tido, muito à custa da sua inteligência, como alguém capaz de fazer mais do que as tarefas de um futebolista. Essa percepção também a tiveram os responsáveis do Bayern Munique que, em 1991, convidaram o antigo avançado para ocupar um dos lugares na direcção do clube, posto que, ainda nos dias de hoje, mantém.

*retirado do artigo de Marcio Pessôa, publicado a 19/01/2006/, em www.dw.com

437 - ZIDANE

Por sair de casa, ainda muito novo, para jogar nas camadas jovens do Cannes, Zinedine Zidane acabou bastante acarinhado pelos responsáveis do clube. A primeira prova disso teve como protagonista um dos dirigentes que, ao vê-lo perturbado por estar longe de casa, convidou-o para ir morar consigo e com a sua família. A segunda história passou-se já o antigo médio pertencia aos quadros principais do referido emblema gaulês e por razão do primeiro golo por ele marcado. Ao que parece a promessa do Presidente já era antiga e acabou por ser paga numa vitória frente ao Nantes, corria a temporada de 1990/91, a terceira do jogador como sénior. O prémio: um Peugeot 205 vermelho.
Sensivelmente 4 anos após a estreia sénior e sem ser um elemento muito consensual entre os adeptos, os quais acusavam o atleta de não jogar bem nas partidas difíceis, Zidane viu surgir o convite do Bordeaux. Ao aceitar o convite, 1992/93 transformou-se na temporada da mudança do médio-ofensivo para os Girondins da afamada região vinhateira, onde, umas épocas mais tarde, veio a ser treinado por Toni. No sudoeste gaulês, o jogador encontrou uma ambição e um nível futebolístico superior ao que estava habituado. É certo que no Cannes já tinha provado o sabor das grandes competições – havia feito a estreia na Taça UEFA frente ao Salgueiros – mas em abono da verdade, a mudança conduziu-o por um caminho melhor. No emblema sediado na região da Nova Aquitânia começou a conviver com um plantel recheado de belíssimos jogadores, onde podemos destacar os nomes de Lizarazu ou de Dugarry. Tal ambiente, com toda a competitividade inerente, fê-lo melhorar muito as suas capacidades futebolísticas. Pelo crescimento revelado, foi chamado à estreia na principal selecção francesa e apesar de nunca ter conquistado a Ligue 1, conseguiu chamar a atenção de emblemas de maior monta.
É certo que foi pelo Bordeaux que conseguiu o primeiro título, isto é, a Taça Intertoto de 1995/96. No entanto, muito mais importante para o evoluir da sua carreira, que cresceu igualmente à custa da chegada à final da Taça UEFA da época referida no começo deste parágrafo, foi a notoriedade que começou a ganhar a nível internacional. No âmbito desse crescimento, o Manchester United tornou-se num dos nomes a cogitar-se como a nova morada de Zidane. Contudo, o destino do gaulês veio a desenhar-se, literalmente, em sentido oposto. Foi assim que, em 1996, ano em que venceu o título de Melhor Jogador da Liga francesa, o médio mudou o rumo da sua caminhada para Itália. Com a Juventus a tornar-se na sua nova casa, o jogador acabou empurrado para o estrelato. Foi com a entrada no Calcio que a vida profissional do craque começou a tomar os contornos daquilo que hoje conhecemos, com as vitórias, tanto a nível individual, como colectivamente, a sucederem-se. As conquistas de 1 Supertaça UEFA, 1 Taça Intercontinental, 2 Scudettos e 1 Supertaça italiana elevaram-no para um patamar de excelência. Ainda assim, seriam os dois golos de cabeça na final do Mundial de 1998 – vitória da França, por 3-0, frente ao Brasil – que o catapultaram como um dos maiores intérpretes da sua época.
Ainda sobre o Mundial de 1998, aos jornalistas, Zidane tinha prometido vencer o torneio de selecções disputado no seu país. Cumpriu e o maior reconhecimento chegou, ainda nesse ano, ao ser laureado com as duas maiores distinções individuais que um futebolista pode almejar: o Ballon d'Or da France Football e o FIFA World Player of the Year. Ora, por essa altura, já o médio-ofensivo, revelava a plenitude das suas capacidades. Era um jogador de uma técnica refinada, com um drible estonteante, uma visão de jogo primorosa e uma capacidade de passe mortífera. Em resumo, um verdadeiro “número 10”! Por tudo isso, também pelo Europeu conquistado, em 2000 voltou a vencer o FIFA World Player of the Year que repetiu, já como jogador do Real Madrid, em 2003. Aliás, foi para a capital espanhola que, pouco tempo depois da sua segunda consagração, o atleta viajou. Ao chegar aos "Merengues", onde, ao longo dos anos, encontrou estrelas como Luís Figo, Roberto Carlos, Casillas, Raul ou Beckham, a sua transferência transformou-se num novo recorde mundial e os 75 milhões de euros gastos na mudança de emblema sublinharam a inscrição do seu nome no rol daqueles que ficaram conhecidos como os “Galácticos”.
Se o objectivo do ajuntamento de tantos craques em Madrid era o de dominar, incontestavelmente, o futebol, é verdade que tal meta ficou um pouco aquém. Claro, no meio de tanta classe, os títulos também foram aparecendo e as vitórias na Champions League  de 2001/02, na Supertaça UEFA, na Taça Intercontinental e na “La Liga”, as três em 2002/03, mereceram um bom destaque. Já 2006 marcou o final da brilhante carreira de Zidane. Não sem antes, como tantos recordarão, do episódio mais polémico da carreira do gaulês. Nesse ano, a final do Mundial disputado na Alemanha, pôs, frente a frente, a França e a Itália. E se é verdade que o facto de estar a perder o jogo já era suficientemente perturbador para o médio, mais danado ficou quando Marco Materazzi, defesa-central transalpino que ficou conhecido por tudo menos pelo “fair-play”, decidiu vilipendiar o nome de alguns familiares de "Zizou". Bom, a reacção do francês todos a conhecemos e a mesma, essa famosa cabeça no peito do seu adversário, está hoje imortalizada numa estátua, autoria do artista franco-argelino Adel Abdessemed.

436 - CRUYFF

Nem todos os bons jogadores dão bons treinadores e nem todos os bons treinadores foram bons jogadores. Já Cruyff (ou Cruijff - maneira correcta de escrever) pode dizer-se que atingiu a excelência nos dois campos.
A sua história começou quando a mãe, empregada de limpezas no estádio do Ajax, pediu aos responsáveis pelo clube que dessem uma oportunidade ao filho e que o observassem. Esse momento curioso foi o primeiro passo para uma carreira brilhante. No entanto, mesmo com todos a reconhecerem a ímpar virtude do jogador, não posso deixar de referir o papel preponderante que teve, no desenvolver das suas habilidades, uma das míticas figuras do desporto mundial, isto é, o treinador Rinus Michels. Foi o falecido técnico holandês que, praticamente desde a estreia de Cruyff nos seniores, comandou a equipa do Ajax. Foi esse grupo de trabalho que, entre a última metade dos anos de 1960 e a década de 1970, arrebatou o futebol neerlandês e o europeu. Os registos dão-nos esse domínio como incontestável, por poucos alcançados e traduzidos nos seguintes números: 8 Campeonatos da Holanda; 5 Taças da Holanda; 3 Taças dos Campeões Europeus (seguidas!); 3 Supertaças da UEFA; 1 Taça Intercontinental.
É certo que no futebol, como em tantos outros desportos colectivos, um jogador sozinho, pouco ou nada vale. E num balneário onde coabitavam nomes como os de Johan Neeskens, Ruud Krol, Wim Suurbier, Arie Haan, Johnny Rep ou Piet Keizer, pouco conseguiriam destacar-se. Todavia, Johan Cruyff era mesmo de outro universo. A prova estava na maneira com se apresentava em campo. No ataque ou no apoio ao mesmo, era um jogador com uma percepção, uma inteligência e uma leitura de jogo, superior a qualquer um que, ao seu lado, estivesse no relvado. Tinha também uma capacidade de passe geométrica, o que fazia com que raramente falhasse uma assistência. Ainda por cima, como um qualquer goleador, sabia aparecer na área de finalização e marcar golos.
Melhor do que estar a tentar descrever aquilo que ele sabia, é ver um qualquer filme que ilustre o que conseguia fazer pelas suas equipas. A dinâmica que imputava ao jogo fazia com que a circulação da bola, e jogadores, fosse semelhante a um elegante carrocel. Foi nesse esquema, em que as posições de campo, fora da rigidez a que estamos habituados, eram algo muito relativo, que cresceu a selecção holandesa participante no Mundial de 1974. A famosa "Laranja Mecânica" acabaria por perder o troféu, na final, para a equipa organizadora do torneio, a Alemanha Federal. Contudo, o que ficou na retina de todos os que tiveram o prazer de ver as partidas dos Países Baixos, foi um futebol elegante e talvez o mais bonito que a história da modalidade testemunhou.
Por altura do Campeonato do Mundo referido no parágrafo anterior Cruyff representava o FC Barcelona. Antes ainda da chegada à Catalunha em 1973/74, merecidamente, já tinha conquistado diversos prémios individuais. Entre as mencionadas distinções, destacaram-se o Ballon d'Or de 1971 e de 1973 – haveria de vencer o terceiro no ano de 1974. Venceu também 4 títulos de Jogador holandês do ano e a edição de 1968 da Bota de Ouro. Em Camp Nou, para onde seguiu atrás de Rinus Michels, os triunfos voltaram a suceder-se. É certo que abaixo daquilo a que estava habituado. Ainda assim, teve o mérito de ajudar a sua equipa a levantar 1 Copa del Rey e 1 La Liga. Porém, muito mais importante do que os tais "canecos" ou das 5 temporadas em que jogou pelos “Blaugrana”, foi a admiração que conquistou entre os adeptos e, porque não dizê-lo, entre o povo catalão. Por isso mesmo, teve a oportunidade de vestir, num encontro contra a Rússia em 1976, a camisola da selecção daquela província.
A ligação com a Catalunha voltou a ter um novo encontro depois de Cruyff ter “pendurado as chuteiras”. Estou, como é óbvio, a referir-me a parte do seu percurso como treinador. No entanto, antes da passagem pelo comando técnico do FC Barcelona, Cruyff, bem à medida da sua polémica imagem, já tinha conquistado um primeiro título. Após ter ido, ainda como jogador, de Espanha para os Estados Unidos da América e de um novo regresso ao país de "nuestros hermanos", para representar o Levante, o atleta voltou ao Ajax. No entanto, apesar de planear ali terminar a carreira, os dirigentes do emblema sediado em Amesterdão recusariam tal projecto. Segundo dizem, por vingança, o jogador rumou aos rivais do Feyenoord e, em Roterdão, no papel de treinador-jogador, conquistou o Campeonato holandês de 1983/84. É verdade que a zanga não durou muito e pouco tempo após a referida vitória, mais precisamente em 1985, Cruyff estava ao leme do Ajax e pronto para vencer outros 2 Campeonatos e ainda a Taça dos Vencedores das Taças de 1986/87.
Como há pouco cheguei a dizer, a passagem de Cruyff pelo comando técnico do FC Barcelona foi também marcada pelo sucesso. E se os títulos que ganhou – 1 Taça dos Clubes Campeões Europeus; 1 Taça dos Vencedores das Taças; 1 Supertaça da UEFA; 4 Campeonatos espanhóis; 1 Copa del Rey; 3 Supertaças Espanha – sublinham a sua mestria, já a maneira como pôs toda a equipa a jogar, é a grande prova que, mesmo do lado de fora do campo, o antigo atacante sempre foi fiel à maneira como interpretou o jogo e o tornou num espectáculo ainda mais apaixonante.

435 - MATTHEWS

Quando, aos 16 anos, os responsáveis do Stoke City, onde trabalhava nos escritórios, o convidaram para treinar com os restantes jogadores, mal sabiam que estavam a contratar uma das primeiras grandes lendas do futebol mundial. A verdade é que, Stanley Matthews, filho de um pugilista, era um verdadeiro adepto da prática desportiva. Diziam que todos os dias percorria, em corrida, a distância que separava a sua residência do campo do Stoke City. Pouco impressionante?! Bem, sempre eram 14 km!
Talvez por razão de tal hábito, ganho desde tenra idade, a sua adaptação entre os profissionais do clube, foi repentina. Facilmente conquistou a titularidade e com a mesma leveza arrebatou a admiração dos fãs. Veloz, com capacidades físicas notáveis, o jovem praticante tinha igualmente uma capacidade técnica espantosa. Diziam ser capaz de conseguir os mais calorosos aplausos com o extenso reportório de fintas. Por tudo isso, não foi de espantar que o extremo-direito, apenas dois anos após a estreia sénior, fosse chamado, pela primeira vez, à selecção inglesa. Após esse arranque, actuou com a camisola dos “3 lions” durante 23 anos e tamanha longevidade, ainda hoje, é um recorde absoluto no seu país.
Não só do número aludido no final do parágrafo anterior se fez a carreira do antigo avançado. Fora das matemáticas do jogo, houve um momento deveras importante e que havia de empurrá-lo para a fase mais faustosa da carreira. Segundo consta, aos 32 anos, Matthews ouviu o treinador perguntar-lhe, em tom jocoso, se ainda conseguia aguentar jogar por mais uns tempitos. A atitude, errada perante uma estrela que, uns anos antes e após os rumores da sua saída, tinha assistido a uma manifestação a favor da sua permanência, levou-o a fazer as malas. O atacante mudou-se para um emblema que hoje poderá dizer-vos pouco, mas que, à altura, era um dos mais badalados em "Terras de Sua Majestade". No entanto, a tal colectividade não era, para o jogador, uma novidade, pois até já tinha vestido, algumas vezes, a sua camisola. A história conta-se depressa… Com o começo da Segunda Grande Guerra, o avançado viu-se alistado na Royal Air Force. A base onde pertencia ficava perto de Blackpool e com a interrupção das competições oficiais, o Cabo Matthews aproveitou para dar uma perninha, em jogos particulares, pelos “Tangerines”.
Em 1947, quando se mudou em definitivo para o Blackpool, já era um verdadeiro astro para aqueles que acompanhavam o desporto. Matthews era um ídolo entre o povo, um atleta que, muito para além do que conseguia dentro dos relvados, também era apreciado pela postura fora deles. Um bom exemplo do que digo aconteceu na sequência do acidente que ficou conhecido como o "Burden Park disaster". A partida, em Bolton, opunha a equipa da casa com a do Stoke. A assistência era muita e as condições bem precárias. Foi então que as protecções de uma das bancadas partiu, fazendo com que muitos daqueles que assistiam ao desafio caíssem uns por cima dos outros. Resultado: 33 mortos. Contudo, Matthews não conseguiu mostrar-se indiferente a tal fatalidade e doou, do próprio bolso, dinheiro para ajudar as famílias das vítimas.
Desgraças à parte, foi durante os anos a jogar pelo Blackpool que Matthews viveu os melhores episódios da carreira. No decorrer desse período conquistou a Taça de Inglaterra em 1953, a qual, pela reviravolta conseguida através de 3 assistências suas, ficou conhecida como "Matthews's final"; participou nos Mundiais de 1950 e 1954; venceu, por duas vezes, o prémio de Melhor Jogador do Ano em Inglaterra (1948 e 1963); e foi ele a inaugurar a lista dos vencedores do Ballon d'Or, em 1956, já contava 41 anos.
Por tudo o que tenho estado a contar, Stanley Matthews tornou-se numa figura proeminente e muito popular na sociedade britânica. Nesse sentido, em 1965, a Rainha Isabel II decidiu condecorá-lo como "Cavaleiro" do Reino. Por mais que vos espante, por altura do reconhecimento régio, Matthews ainda jogava. Sim, tinha 50 anos de idade, mas o fim, em definitivo, ainda estava para vir! Passados uns meses sobre o aludido agraciamento, chegou a anunciar o final da carreira. Todavia, em 1970 e ao aceitar o convite dos malteses do Hibernians, regressou para jogar mais uma temporada!

434 - MATTHÄUS

Começar a jogar num clube da cidade que alberga a sede da Adidas, pode ser um bom prenúncio. Para Lothar Matthäus, foi.
Ainda bem novo, quando representava o Herzogenaurach, seria chamado às selecções jovens da Alemanha. A sua prestação, imediatamente, chamaria a atenção de um dos grandes do futebol germânico da altura, o Borussia Mönchengladbach. Na campanha de estreia pelo novo clube, a de 1979/80, Matthäus logo experimentaria a elite do futebol, pois a sua equipa, comandada pelo conhecido Jupp Heynckes, conseguiria alcançar a final da Taça UEFA. Porém, apesar da derrota frente ao Eintracht Frankfurt, a bela campanha do médio, tanto nas competições continentais, como nas provas de cariz interno, faria com o seu nome aparecesse na lista de convocados para o Euro 80. A Republica Federal Alemã venceria o torneio ao bater a Bélgica na final e, no certame disputado em Itália, 15 minutos em campo seriam suficientes para que Matthäus pudesse levantar o primeiro grande troféu da sua carreira.
Apesar de ser um clube prestigiado, a verdade é que o Borussia Mönchengladbach estava em decadência. Tal facto faria com que o médio não resistisse a um convite do Bayern Munique, para onde viria a mudar-se em 1984. Ora, por essa altura já Matthäus era um futebolista consagrado internacionalmente. Tinha participado no Mundial de 1982, onde a sua selecção atingiria a final, e tinha alcançado, no Euro 84, a titularidade na "Mannschaft". Nesse sentido, poucos estranhariam a maneira rápida como conseguiria impor-se no emblema bávaro. Os “Die Roten” proporcionar-lhe-iam também aquilo que qualquer atleta almeja, ou seja, diversos títulos. Num rol invejável, isto na primeira passagem pelo clube, Matthäus arrecadaria 3 Bundesligas, 1 Taça da Alemanha e uma Supertaça. Também não poderia esquecer que seria por essa altura que participaria na primeira final da Taça dos Clubes Campeões Europeus, perdida, em 1986/87, frente ao FC Porto.
Sendo o comandante em campo, tanto da equipa que representava, como da sua selecção, o assédio de clubes de outros campeonatos, começaria a ser normal. Já depois da derrota, na final do México 86, frente à Argentina e de mais uma participação brilhante no Europeu disputado, em 1988, no seu país, surgiria o interesse do Inter. Ainda nesse Verão, juntamente com Andreas Brehme, Matthäus viajaria para Itália. Por essa altura, o "Calcio", sem sombra de dúvida, erguia-se como o cenário competitivo mais apetecível para qualquer praticante e a mudança de ares traria ao alemão os melhores anos da carreira. Pelos "Nerazzurri" atingiria um patamar com que muitos sonham, mas que poucos conseguem alcançar. Começaria, logo no ano da chegada, numa equipa comandada por Giovanni Trapattoni, por vencer o "Scudetto". Já a temporada seguinte marcaria a desforra da Alemanha sobre a Argentina de Maradona, com os germânicos a vingarem o desfecho do Mundial disputado quatro anos antes, sagrando-se, dessa feita, campeões. Tal vitória impulsionaria Matthäus, capitão da "Mannschaft", para o primeiro titulo individual, o "Ballon d'Or" da "France Football". Já em 1991, após ajudar a vencer a Taça UEFA de 1990/91, seria a vez de ganhar a primeira edição do "FIFA World Player of the Year".
O regresso à Alemanha em 1992/93, mais uma vez para vestir a camisola do Bayern Munique, far-se-ia após uma grave lesão. A recuperação seria bastante difícil, mas a tenacidade por si mostrada dentro dos relvados, revelar-se-ia a mesma com que encararia o mencionado revés. Por outro lado, viriam os títulos e em 1993/94 voltaria a vencer a Bundesliga. Contudo, como um azar nunca vem só, 1995 marcaria uma nova dor de cabeça para o médio. Muitos, por razão da lesão no tendão de Aquiles, vaticinar-lhe-iam o final da carreira. No entanto, Matthäus, apesar de ter passado dos 30 anos de idade, teimaria na ideia de que ainda não era o tempo certo para “pendurar as chuteiras”. Ora, por altura da final da Taça UEFA de 1995/96 já ninguém, nem o próprio atleta, pareciam ter lembranças do tal episódio médico e a equipa bávara ergueria mais um troféu nas provas continentais.
É certo que Matthäus tem um currículo invejável, mas também não é menos verdade que é capaz de ser um dos futebolistas com mais finais perdidas. A última seria a celebre "Champions" de 1999, cujo derradeiro desafio acabaria agendado para Barcelona. O encontro, frente ao Manchester United, até parecia estar a correr de feição para os alemães. Com o Bayern Munique a dominar toda a partida, o título, com fim do jogo à vista, parecia “estar no papo". No entanto, já no período de descontos, o impensável aconteceria! Sheringham e Solskjaer, com um golo cada, virariam o "placard" a favor dos ingleses e o astro germânico, tal como em 1987 frente aos “Dragões”, veria uma reviravolta tirar-lhe das mãos o único troféu que nunca conquistou.
O ponto final como jogador aconteceria depois de uma curta passagem pelos Estados Unidos da América. De seguida iniciaria uma nova fase na vida profissional, abraçando as tarefas de treinador. Como técnico, tem estado, ao contrário daquilo que foi dentro de campo, um pouco afastado dos sucessos. Ainda assim, os seus serviços têm sido constantemente requisitados e já conta com passagens pelo comando de selecções como a Hungria ou, mais recentemente, a Bulgária. Aliás, seria por razão de estar a residir no estrangeiro que, em Outubro de 2013, as autoridades alemãs haveriam de declará-lo como morto! Ao que parece, resultado de um processo judicial interposto pela ex-mulher, o facto de determinados documentos não chegarem às suas mãos, faria com que as entidades germânicas concluíssem que Matthäus teria falecido!

433 - PLATINI

Associar Michel Platini a um clube tão modesto quanto o AS Joeuf parece, hoje que conhecemos a sua carreira, um pouco surpreendente. Contudo, seria no emblema da terra onde cresceu que o médio haveria de dar os primeiros passos no mundo do futebol. Nesse modesto contexto, após cumprida toda a formação, o atleta, por razão de um torneio para jovens, revelar-se-ia de uma habilidade bem acima da média. A aludida exibição, frente ao Metz, faria com que os responsáveis pelo emblema sediado no nordeste gaulês convidassem o jogador a realizar alguns testes. No entanto, combinada a data, a oportunidade sairia gorada, com o criativo centrocampista a lesionar-se uns dias antes. Já a chance seguinte também não correria de feição, com Platini, durante os testes físicos, a perder os sentidos e a ver o médico a diagnosticar-lhe uma debilidade cardio-respiratória.
Não seria o Metz, acabaria por ser o Nancy a apostar nele para a temporada de 1972/73. Ora, por razão do seu pai, Aldo Platini, ali ter feito grande parte da carreira futebolística, o dito clube já não era um lugar estranho para Michel. Provavelmente, o tal “passado familiar” até terá tido algum peso na sua contratação. A verdade é que, com um “hat-trick” na estreia pelas “reservas”, o jovem intérprete rapidamente demonstraria o valor que tinha para acrescentar ao grupo principal. Infelizmente para si, os primeiros anos com o novo clube arrastá-lo-iam por diversas lesões. O resultado seriam épocas em que intercalaria bons períodos com outros mais discretos. Apesar de tudo, as suas qualidades ficariam bem patentes, com Platini a revelar-se um executante cerebral, com uma técnica superior à média e imbatível na marcação livres-directos.
Tanta classe, a 27 de Março de 1976, levá-lo-ia à estreia na principal selecção gaulesa. Quase um par de anos após essa partida frente à Checoslováquia, numa altura em que já era um dos nomes habituais nas convocatórias da equipa francesa, Michel Platini, num episódio peculiar, haveria de sublinhar toda a sua classe. A partida, agendada para Nápoles, no contexto de um encontro de preparação para o Mundial de 1978, jogava-se frente a Itália. Na sequência de uma falta, é assinalado um livre. O médio tomaria para si a responsabilidade da marcação e, com Dino Zoff na baliza adversária, remata e faz golo. Todavia, o árbitro diria que não tinha apitado e mandaria repetir o castigo. Sem deixar atemorizar-se pelo contratempo, Platini prepararia novamente o esférico e… outra vez golo!
Seriam histórias como a relatada no parágrafo anterior, tal como o golo que marcaria contra a Bulgária e que haveria de selar o apuramento para o Mundial de 1978, que fariam com que Platini continuasse a garantir a presença nas convocatórias dos "Bleus". Com a chamada para o Campeonato do Mundo de selecções a projectar-se como a oportunidade certa para o “10” gaulês conseguir sublinhar-se no futebol como um intérprete de cariz superior, Platini, que umas semanas antes, com um golo seu, tinha ajudado o Nancy a erguer a Coupe de France de 1977/78, veria no certame realizado na Argentina uma boa parte dos focos apontados para si. No entanto, a verdade é que as prestações individuais do atleta, em consonância com as colectivas, seriam auferidas como paupérrimas, ao ponto da França não ter passado da Fase de Grupos.
Depois de defraudadas tão grandes expectativas, muitos dedos acabariam apontados ao atleta. Pior ainda, seriam os críticos a indicarem-no como inapto para a modalidade, quando, na temporada seguinte, outra lesão deixaria o médio de fora da campanha europeia do Nancy. Apesar de tudo, das mazelas e dos apupos que passou a ouvir com frequência, os grandes emblemas não deixariam as aferições feitas às suas exibições serem afectadas por tais protestos. Assim, no Verão de 1979, o Saint-Étienne, à altura uma das mais importantes colectividades de França e da Europa, haveria de contratá-lo. As 3 épocas passadas nos “Verts”, para além da conquista da Ligue 1 de 1980/81, confirmariam um jogador fenomenal, facto que viria a ser vincado pela brilhante exibição de Platini no Campeonato do Mundo de 1982.
Os anos vindouros na carreira do atleta seriam, em tudo, radiosos. Bem, talvez não tenha sido assim. É verdade, houve uma pequena excepção que, mesmo sendo insignificante, quase deitaria tudo a perder. Como sabemos, o defeso de 1982 marcaria a transferência de Platini para a Juventus. Porém, num plantel cheio de craques, muitos deles consagrados como campeões do mundo de selecções, a sua chegada não seria consensual. Pior ainda, acabariam por ser as exigências da imprensa, que passariam a cobrar a Platini “mundos e fundos”. Não admitindo que o atleta pudesse necessitar de um período de adaptação, o coro de protestos seria de tal forma grande que o médio-ofensivo começaria a equacionar o regresso ao país natal. Ainda bem que tal não aconteceu, pois, daí em diante, o jogador pouco mais saborearia do que o sucesso. Nesse campo, tanto a nível individual, como por equipas, os troféus suceder-se-iam. O rol é espantoso! A saber-se: 1 Taça dos Clubes Campeões Europeus (1984/85); 1 Taça dos Vencedores das Taças (frente ao FC Porto, em 1983/84); 1 Supertaça Europeia (1984/85); 1 Taça Intercontinental (1985/86); 2 “Scudettos” (1983/84 e 1985/86); 1 Coppa Italia (1982/83); 3 Ballon d’Or (1983, 1984 e 1985); 3 Capocannoniere (prémio de Melhor Marcador da Serie A, em 1982/83, 1984/85 e 1985/86). Para finalizar, há ainda que fazer referência à vitória, pela selecção francesa, do Euro 84, de onde também sairia consagrado como o goleador máximo e como o melhor jogador do torneio.
Depois de terminar a carreira nos relvados, Platini, entre 1988 e 1992, ainda teria uma passagem pelo comando técnico da principal equipa dos “Bleus”. Contudo, o seu perfil, pretensiosamente intelectual, ambicionaria a muito mais. Por essa razão, em 2007, com alguma naturalidade, o antigo médio assumiria o papel de Presidente da UEFA, cargo que, juntamente com polémicas quanto baste, ainda mantem até aos dias de hoje (Janeiro de 2014).

432 - CANNAVARO

São poucos os defesas que podem orgulhar-se de terem conseguido vencer, tanto o "Ballon d'Or", como o "FIFA World Player of the Year". No entanto, se é certo classificar-se como excepcional a entrega destes prémios a alguém a jogar na posição de Fabio Cannavaro, então tudo está alinhado correctamente, pois o italiano não foi um futebolista qualquer.
Tudo começou a montar-se ainda Cannavaro era um dos apanha-bolas do Napoli. Jogando nas camadas jovens do clube, teve um dia a oportunidade de treinar ao lado dos seus ídolos. Como defesa que sempre foi, diz-se que, às tantas, deu com Maradona pela frente. Destemido, tal como hoje o recordamos, o jovem jogador, que estava "apenas" perante um dos maiores astros de sempre, não teve pejo em fazer uma entrada duríssima sobre o seu oponente! Claro, ficou tudo danado com a desfaçatez do rapaz, mas o que é certo é que, logo ali, mostrou de que raça era feito.
Em 1992/93 subiu à categoria principal do emblema da região da Campânia. Cedo conseguiu impor-se na equipa, mas o Napoli que encontrou, já longe dos anos áureos de “El Pibe” & companhia, não estava ao seu nível. Porém, algumas campanhas após a estreia como sénior, o jogador viu o Parma a aparecer no seu encalço. A mudança, ocorrida na temporada de 1995/96, apresentou-lhe um clube na alta-roda europeia e perfilar-se como uma das melhores agremiações para catapultar a sua carreira. Nesse sentido, após vencer 2 Coppa Itália, 1 Supercoppa e a Taça UEFA de 1998/99, o defesa-central, que entretanto já contava com umas quantas chamadas à "Squadra Azzurra", começou a sonhar com outros objectivos. Todavia, a transferência para o plantel de 2002/03 do Internazionale, nada, em termos de troféus, trouxe ao seu currículo. Por outro lado, a ida para a Juventus veio a tornar-se na porta para as maiores conquistas da sua caminhada competitiva.
Bem, não é correcto o que acabo de dizer! É certo que os anos que Cannavaro passou em Turim foram pródigos em sucessos. Ainda assim, os êxitos que conseguiu alcançar não foram à custa da "Vecchia Signora". Como devem estar recordados, foi por essa altura que rebentou o escândalo que ficou conhecido como "Calciopoli". É certo que a Juventus celebrou o Scudetto de 2004/05 e de 2005/06, mas após revelado o caso de corrupção a envolver a arbitragem, os títulos foram revogados. Na verdade, o que valeu ao defesa-central foi a brilhante prestação da selecção transalpina no Mundial de 2006. Assim, para além da vitória no certame disputado na Alemanha, o capitão italiano conquistaria nesse ano, entre outros prémios individuais, o de Melhor Jogador da Liga italiana, o "Ballon d'Or" da "France Football" e o "FIFA World Player of the Year".
Aquando da atribuição destas últimas distinções, já o jogador fazia parte do plantel do Real Madrid, para onde tinha sido transferido no começo de 2006/07. Apesar da idade, 33 anos, Cannavaro ainda conservava, tal como os referidos prémios o provaram, todas as características que tinham feito dele um dos melhores na sua posição. Se houve quem duvidasse de tal qualidade, esse não foi Fabio Capello. O técnico italiano, acabado de contratar pelos "Merengues", exigiu que, na sua saída da Juventus, fosse acompanhado pelo jogador. Deste modo, o defesa italiano conseguiu, com todo o mérito, juntar ao seu rol de títulos, 2 La Liga e mais um Supercopa de España.
Após 3 anos na capital espanhola, no ano em que bateu o recorde de internacionalizações pela Itália, Cannavaro ainda regressou para mais uma temporada na Juventus. Sol de pouca dura, pois, na época seguinte, partiu para a sua derradeira aventura como atleta profissional, essa no Al Ahli dos Emirados Árabes Unidos. Contudo, não “pendurou as chuteiras” e e depois de ter posto um ponto final na carreira de futebolista, ainda foi possível ver o defesa-central em duas partidas de exibição. A primeira, em Agosto de 2011, a marcar o regresso dos New York Cosmos e a segunda, em Janeiro de 2012, pelo Barasat, emblema da Índia.

431 - EUSÉBIO


Ele foi o primeiro grande símbolo do desporto português e o primeiro a vencer um grande prémio internacional - o Ballon d'Or (1965).
No dia em que o futebol viu partir um dos maiores astros de sempre, deixamos aqui a nossa singela homenagem a Eusébio, reafirmando a nossa eterna saudade.


Veja aqui o outro cromo de Eusébio e leia uma pequena biografia (Link)
Veja aqui os "Recortes" de Eusébio (Link 1); (Link 2)

FIFA BALLON D'OR

Atribuído pela primeira vez em 2010, o troféu nasceu da junção dos dois mais prestigiados prémios concedidos no mundo do futebol: o Ballon d'Or, entregue pela revista francesa France Football, e o FIFA World Player of the Year. Nesse contexto, com o final de cada ano, é normal criar-se alguma discussão à volta dos possíveis vencedores. Ora, em 2013, que ainda agora acabou, não foi excepção. Aliás, esta 4ª edição tem sido, por uma série de razões, uma das mais badaladas. Por isso, enquanto aguardamos pelo anúncio do laureado, nada melhor do que fazer uma retrospectiva histórica e, por essa razão, durante o mês de Janeiro, falaremos sobre os vencedores dos dois prémios que deram origem ao FIFA Ballon d'Or.