467 - DORIVA

Estrear-se-ia no início dos anos de 1990, pela mão de Telê Santana, na categoria principal do São Paulo. Ao reconhecer a sua inexperiência, o referido técnico, nos anos vindouros, fá-lo-ia rodar por outros clubes. Anapolina e Goiânia transformar-se-iam nos emblemas seguintes e tão boas seriam as suas prestações que Doriva haveria de regressar à casa-mãe. Em boa hora o faria, pois, mesmo sem conseguir impor-se como um dos indiscutíveis no "onze" titular, o “Tricolor” haveria de encetar uma série de títulos de gabarito. Contudo, após a vitória na Copa dos Libertadores e na Taça Intercontinental, ambas conquistadas em 1993, a referida falta de espaço no grupo sediado no Morumbi, levaria o médio-defensivo a seguir caminho na direcção do plantel de 1995 do XV de Piracicaba. A verdade é que, apesar do dito emblema disputar o Campeonato Paulista, no "Brasileirão" apenas militava na Serie C. Ainda assim, o jovem “trinco”, com as suas exibições, conseguiria despertar a curiosidade dos responsáveis pela selecção brasileira e, de forma surpreendente, seria convocado para, pela primeira vez, representar a "Canarinha".
Obviamente, um jogador com o potencial revelado por Doriva depressa demonstraria valor para fugir às disputas dos escalões secundários. Nesse sentido, ainda na temporada da chegada a Piracicaba, assinaria pelo Atlético Mineiro. A jogar pela agremiação de Belo Horizonte, com o triunfo na Copa Conmebol de 1997, o atleta, muito mais do que regressar aos títulos continentais, asseguraria a transferência para a Europa. Já no FC Porto, conseguiria confirmar todas as suas características futebolísticas. Com um estilo de jogo pleno de força, incansável, objectivo e com um forte remate, o médio facilmente viria a conquistar os técnicos e o público. Primeiro com António Oliveira e depois com Fernando Santos ao comando dos "Dragões", o atleta tornar-se-ia num dos pilares dos derradeiros anos do “Penta”. A qualidade apresentada nas provas lusas e, acima de tudo, nas competições sob a alçada da UEFA faria com que cimentasse um lugar na selecção “canarinha”. Com tal, garantiria igualmente a presença no Mundial de 1998 e só não sairia do referido certame como campeão, pois a França, composta por nomes como Zidane, Desailly, Thuram, Deschamps ou Henry, derrotaria o “Escrete” na final do torneio, por 3-0.
Com a saída do FC Porto para Itália, Doriva encetaria um périplo por alguns emblemas europeus – Sampdoria; Celta de Vigo; Middlesbrough; Blackpool – que, apesar dos contratos bem mais faustoso, afastá-lo-ia dos tão almejados troféus. A excepção ocorreria em Inglaterra, onde ao serviço do “Boro” venceria a edição de 2003/04 da League Cup. Já no regresso ao Brasil, para a temporada de 2007 e numa fase da carreira em que começaria a denotar-se algum declínio exibicional, o pior ainda viria a acontecer. Numa altura em que representava o Mirassol ser-lhe-iam detectados problemas cardíacos e o médio-defensivo, por conselho médico, tomaria a decisão de pôr um ponto final na caminhada como futebolista. Mais tarde regressaria à modalidade, mas, dessa feita, para abraçar as funções de treinador. Como técnico começaria no modesto Ituano. Todavia, depressa entraria para história do clube e ao conseguir, como o próprio viria a referir, um milagre, conquistaria, neste mês de Abril de 2014, o Campeonato Paulista.

466 - RICARDO GOMES

Já aqui falamos, por altura do cromo do Branco, que no início da década de 80, o Fluminense atravessou uma grave crise financeira. Tal percalço levou o clube a ter que apostar em jovens jogadores. Assim, para além daqueles que foram contratados a outros emblemas, como foi o caso do antigo lateral do FC Porto, houve outros que apareceram vindos da formação "tricolor". Ricardo foi uma dessas apostas.
Apresentando, dentro de campo, a postura elegante que sempre foi a sua imagem de marca e raramente utilizando a falta como meio para travar os seus adversários, Ricardo, logo desde a sua promoção à equipa principal, mostrou ser um dos atletas mais capazes para ocupar um dos lugares no centro da defesa. Por isso mesmo não foi de estranhar que, rapidamente, o seu nome começasse a constar na lista dos jogadores a iniciar cada partida. Foi então como um dos pilares defensivos do Fluminense, que o antigo central ajudaria os seus companheiros a conquistar o tri-campeonato "Carioca" de 1983, 1984 e 1985 e o "Brasileirão" de 1984.
Com todos esses títulos e com a preponderância que neles haveria de ter, Ricardo Gomes, logo no ano em que se sagrou campeão nacional brasileiro, consegue a primeira convocação para a "Canarinha". Com o andar dos anos, o jogador foi cimentando o seu lugar no seio do grupo que ia compondo a selecção brasileira, até que em 1989, no mesmo ano em que o Brasil venceria a Copa América, Ricardo Gomes, nos desafios de apuramento para o Mundial de 1990, acabaria mesmo por envergar a braçadeira de capitão.
Ora, por esta altura já o defesa tinha viajado para a Europa, onde, desde a temporada de 1988/89, vestia a camisola do Benfica. Na "Luz", muito mais do que as suas qualidades desportivas, a maneira cortês como se apresentava, a boa educação e "fair-play", mereceram-lhe a admiração de todos os adeptos do futebol, independentemente da cor clubística. A maneira como conseguiu impor-se no clube, ajudou as "Águias" a conquistar 2 Campeonatos (88/89; 90/91) e 1 Taça de Portugal, mas acima de tudo garantiu-lhe um lugar na história do emblema português, ao conseguir ser o primeiro jogador estrangeiro a envergar a braçadeira de capitão.
Tanta qualidade fez com que para o Benfica fosse impossível segurar o jogador nas suas fileiras. Em 1991, a proposta do Paris Saint-Germain fez com que Ricardo se mudasse para a capital francesa. Comandado pelo treinador português Artur Jorge, o internacional brasileiro consegue, mais uma vez, conquistar aqueles que acompanham os seus desafios. O sucesso mais uma vez emergiu na sua carreira e de França, aos troféus que até aí já tinha no seu currículo, juntaria mais uma série de títulos, como foram a "Ligue 1" de 1993/94, as Taças de França de 1992/93 e 1994/95 e, ainda, a Taça da Liga de 1994/95 (estas duas últimas já com Luís Fernadez como treinador).
Viria a fazer a sua derradeira temporada, aceitando o convite de Artur Jorge para regressar ao Benfica, em 1995/96. No ano seguinte voltou ao Parc des Princes, já não como jogador, mas para fazer a sua estreia como técnico principal. Nessas funções tem dividido a sua carreira entre as experiências que o levaram ao comando de clubes franceses e brasileiros. Troféus, tanto num país como no outro, também já conta com alguns. Destacam-se as Taças da Liga Francesa de 1998 (PSG) e 2007 (Bordeaux), a Taça de França de 1998 (PSG), o Campeonato Baiano 1999 (Vitória) ou a Taça do Brasil de 2011 (Vasco da Gama). Infelizmente, por razão de um AVC que o atacou enquanto comandava uma partida no Brasil, Ricardo Gomes foi aconselhado a afastar-se do banco de suplentes. Enquanto aguarda pela sua total recuperação e possível regresso ao comando técnico de uma equipa, Ricardo Gomes tem desempenhado funções como dirigente, nomeadamente como director executivo do Vasco da Gama.

465 - CARLOS GERMANO

Entrou para as categorias de formação do Vasco da Gama e foi no clube do Rio de Janeiro que, na temporada de 1990, deu os primeiros passos como sénior. Porém, por essa altura, o lugar mais experimentado por Carlos Germano era, tal como para a maioria dos estreantes, a posição sentada no banco de suplentes. Ainda assim, o seu estatuto não tardou muito a mudar e com a saída de Acácio para Portugal, o jovem guardião começou, com maior regularidade, a marcar presença na defesa das redes do “Gigante da Colina”. De 1991 para diante, olhando para o escalonamento inicial, foram raras as vezes em que o seu nome não constou no rol de onze atletas a começar os desafios da sua equipa. O estatuto de “intocável” acabou por fazer com que o jogador conseguisse atingir marcas espantosas, como são exemplo os 933 minutos sem sofrer golos ou as 632 partidas efectuadas pelos "Cruzmaltinos", presenças a tornarem-no no segundo futebolista com mais jogos na história da agremiação.
Tais cômputos são importantes numa carreira e para o antigo guardião, independentemente do que possa vir a acontecer, os números apresentados no final do parágrafo anterior, hão-de pô-lo sempre em destaque nos anais do Vasco da Gama. No entanto, também não é menos verdade que o mais relevante no futebol, como em qualquer outro desporto, são os troféus, principalmente os colectivos. No que a essas conquistas diz respeito, pode dizer-se que Carlos Germano foi um dos obreiros de uma série de títulos ganhos pela colectividade do Rio de Janeiro, isto é, a Copa Libertadores da América de 1998, o Campeonato Carioca de 1992, de 1993, de 1994 e de 1998 e, para finalizar o rol, o Campeonato Brasileiro de 1997. Ainda assim, nem sempre a relação entre o clube e o atleta, laço com mais de uma década, foi pacífica, com o tema “renovação”, sempre que vinha à baila, a criar uma grande celeuma entre o guarda-redes e os responsáveis directivos pela colectividade. Contudo, como é normal dizer-se, “tantas vezes vai o cântaro à fonte que um dia deixa lá a asa” e acabou por ser uma dessas discussões a pôr termo à ligação.
Com a sua saída do Vasco da Gama, o ano 2000 marcou uma nova fase na vida do jogador. Nesse sentido, para alguém com o currículo de Carlos Germano, no qual, para além do que foi dito, podemos ainda acrescentar as internacionalizações pelo Brasil, a conquista da Copa América de 1997 e o 2º lugar no Mundial de 1998, encontrar um novo clube tornou-se numa tarefa fácil. Todavia, a verdade é que o guardião começou a perder um pouco do fulgor. Mesmo ao ingressar no Santos, nunca mais conseguiu impor-se no futebol como até aí. Seguiu-se um constante pular de clube em clube, com a Portuguesa, o Botafogo, o Paysandu, o América e o Madureira a preencherem a sua caminhada. Por fim emergiria o reatar de uma paixão antiga e não, o atleta não regressou aos “Cruzmaltinos” – “O Oliveira viu o Vasco-Flamengo e abordou-me. Tinha 27 anos, mas não podia pegar nas malas e seguir o meu caminho, porque pediram um preço absurdo (…)”*. Não entenderam nada, pois não?! Eu explico melhor. Quando Vítor Baía deixou o FC Porto para assinar pelo FC Barcelona, António Oliveira, deliciado pelas qualidades do guarda-redes, tentou levá-lo para os “Azuis e Brancos”. Porém, pela razão que já leram, o negócio abortou. No entanto, como um verdadeiro amor nunca morre, o ex-treinador dos “Dragões” nunca esqueceu o futebolista “canarinho” e, numa altura em que cumpria os deveres de Presidente do Penafiel, o “namoro” veio a reatar-se e o “keeper” acabou a preencher um lugar no plantel de 2005/06 dos “Durienses”.

*retirado do artigo de Norberto A. Lopes, publicado a 11/07/2005, em https://maisfutebol.iol.pt

464 - ACÁCIO

Apesar de ser um ídolo no Vasco do Gama, foi no Serrano, clube da cidade de Petrópolis, que Acácio começou por dar nas vistas. Foram, então, os jogos do "estadual" do Rio de Janeiro, principalmente os embates contra aqueles que nessa competição são os maiores emblemas, que acabaram por pô-lo em plano de destaque no futebol brasileiro. Dessa maneira, já com o estatuto de atleta muito promissor, Acácio, no decorrer da temporada de 1982, veio a rubricar um contrato com os referidos "Cruzmaltinos". Durante mais de 9 temporadas vestiu a camisola do clube fundado por descendentes portugueses, com a conquista do Campeonato Carioca a brindar esse seu ano de estreia em São Januário.
Desde o primeiro troféu ganho pelo Vasco da Gama, outros títulos foram aparecendo na sua carreira, como são os casos dos Campeonatos "Carioca" de 1987 e de 1988. No entanto, como afirmado pelo guardião, o título que ainda hoje traz as melhores lembranças, tanto pela importância, como pelas disputas memoráveis que nele foram ocorrendo, acabou por ser o "Brasileirão" de 1989. Ao ser a dita conquista um dos marcos mais importantes na sua vida, para Acácio, o ano de 1989, tornou-se inesquecível também por outras razões. Por um lado, foi em Março desse ano que o guardião, numa partida contra o Equador, fez a estreia com as cores da "Canarinha". Por outro lado, depois de ter marcado presença na edição de 1983 do torneio, veio a convocatória para a Copa América, de onde o Brasil saiu vencedor. Aliás, pode dizer-se que aqui começou uma bela relação com a selecção do seu país, a qual levaria o guarda-redes, na condição de suplente de Taffarel e ao lado de José Carlos, ao Mundial de 1990.
Foi sensivelmente 1 ano após a participação no certame organizado em Itália que Acácio tomou a decisão de vir para a Europa. O destino, bem improvável para um intérprete da sua categoria, pô-lo na rota do plantel de 1991/92 do Tirsense. Porém, bastou uma temporada na 2ª divisão para provar que a qualidade do internacional brasileiro, ainda que com 33 anos de idade, era merecedora de muito mais. Digno de tal justiça, na época seguinte à da chegada a Portugal, ao serviço do Beira-Mar, acabou por estrear-se no maior escalão luso. Pela colectividade de Aveiro foram 3 temporadas onde, à imagem daquilo que tinha mostrado no seu país, continuou a impor-se como titular. Muitas foram as histórias vividas, mas aquela que mais o marcou, como o próprio contou numa entrevista, prendeu-se com a tentativa de corrompê-lo e com isso facilitar a vitória do adversário, numa partida a opor a sua equipa à do FC Porto.
Polémicas à parte, Acácio retornou ao Brasil para, em 1996 e a jogar pelo Madureira, terminar a carreira. Continuou no seu país e é por lá que tem dado seguimento à sua vida como técnico, primeiro como treinador de guarda-redes do Botafogo e do Vasco da Gama e, numa experiência mais recente, como responsável máximo pelo plantel do Olaria.

463 - LUISINHO

Desde muito novo apaixonado pela modalidade, foi no emblema da terra natal, o Vila Nova, que Luisinho começou a dar os primeiros passos no “mundo da bola”. Ao mesmo tempo que praticava futebol, o jovem desportista de origens humildes tinha de repartir os dias entre a escola, o trabalho e os campos de jogos. Nesses tempos, ajudava a mãe na venda de produtos agrícolas e dava uma mãozinha ao pároco local, na realização das missas. Então, numa altura em que já pensava que o seu futuro havia de passar, tal como o quotidiano do pai, por uma oficina automóvel, o defesa conseguiu o primeiro contrato profissional como desportista.
No Vila Nova, as suas prestações rapidamente conseguiram despertar a curiosidade dos olheiros a trabalhar para os principais clubes brasileiros. O primeiro a tentar a sua contratação foi o Cruzeiro de Belo Horizonte, onde até chegou a fazer alguns testes. Ao não agradar, voltou a Nova Lima, mas depressa apareceram outros pretendentes. Entre vários emblemas, o mais decidido na aquisição do seu passe, acabou por ser o Atlético Mineiro. No "Galo" tornou-se num dos melhores defesas-centrais brasileiros dos anos de 1980. Para tal aferição, em muito contribuiu a maneira serena como enfrentava cada lance. Contudo, Luisinho não era um defesa molengão! Muito pelo contrário, o jogador tinha mestria suficiente para conseguir, com um sentido posicional apurado, visão de jogo e poder de antecipação excepcionais, desarmar qualquer adversário. Outra das suas principais características era a disciplina mostrada dentro e fora de campo. Terá sido esse aspecto regrado a levar Telê Santana a adicionar o seu nome à lista de convocados para o Mundial de 1982. Já a disputar o certame realizado em Espanha, foi um dos titulares no centro do sector mais recuado da "Canarinha". Todavia, como em tudo na vida, quando o insucesso colectivo emerge, tem de haver sempre um bode expiatório. Assim aconteceu com o atleta que, acusado de falta de coragem e após a eliminação do "Escrete", foi apontado como um dos principais responsáveis pela queda do Brasil.
Injustiças à parte, Luisinho, de regresso às competições domésticas, continuou a mostrar porque era considerado um dos melhores a actuar na sua posição. Nesse sentido, nos mais de 10 anos em que vestiu a camisola "Alvi-Negra", ajudou o Atlético Mineiro a conquistar um longo rol de títulos, entre os quais o maior destaque vai para os 9 Campeonatos Mineiros. Com tudo isso, transformou-se num dos predilectos da massa associativa e, mais uma vez sob alçada de Telê Santana, tornou-se no capitão de equipa.
Também no Sporting foi um dos preferidos dos adeptos. Chegou a Portugal na temporada de 1989/90 e apesar de não ter a frescura de outros tempos, pois passava dos 30 anos de idade, a classe mostrada dentro do relvado era inconfundível. Deixou boas memórias e, depois de 3 épocas a impor-se como um titular indiscutível, boas também foram as recordações que levou consigo – "Tenho uma saudade imensa. Dos amigos, dos torcedores do Sporting… Aliás, já sonhei algumas vezes que estava chegando a Alvalade e era aplaudido pelos sportinguistas. Quero aproveitar esta oportunidade para dizer aos torcedores que amo o Sporting e que tenho muitas saudades"*.
De regresso às provas brasileiras, a passagem pelo Cruzeiro deu-lhe uma nova vitória no “estadual” de Minas Gerais e a conquista da Copa do Brasil. Seguiu-se o regresso ao Vila Nova, onde Luisinho tomou a decisão de pôr um ponto final na carreira enquanto futebolista. No entanto, não ficou afastado do desporto, tendo assumido vários papéis desde então, como por exemplo: treinador das camadas jovens do Atlético Mineiro, Presidente do Vila Nova e ainda, num cargo político, Secretário de Esporte e Lazer de Nova Lima.

*retirado do artigo de to-mane, publicado a 5/2/2009, em www.wikisporting.com

462 - GIL

Rapidez, capacidade de luta, uma força extraordinária e um forte remate, foram as características que fizeram dele um dos mais estimados futebolistas brasileiros dos anos de 1970. Contudo, um atleta não se faz só de técnica e de físico. Em Gil, tal como para tantos outros que assim entenderam, mais do que qualquer habilidade mostrada no relvado, existiram sempre valores mais importantes e um dos mais sublinhados pelo avançado foi a humildade – "Eu era um bom jogador, mas nunca fui craque. Fazia golos, era brigador, valente e dava porrada nos caras. Era difícil me parar, porque sempre fui muito forte"*.
Foi no Cruzeiro que apareceu. No entanto, a quantidade de estrelas que, no início da década de 1970, compunham o plantel, como é o caso de Tostão, fizeram com que o extremo-direito fosse emprestado. O regresso ao clube de origem, apesar das boas indicações dadas, não garantiu mais oportunidades ao jogador por parte do treinador Dorival Yustrich. Por esse motivo, decidiu pedir à direcção do clube para ser dispensado. Conseguiu. Assinou pelo Vila Nova e a sua vida mudou. Começou por ser o melhor marcador da Taça de Minas Gerais, o que rapidamente o levou a transferir-se para o Comercial. Aí, as boas exibições no Brasileirão valeram-lhe a atenção de emblemas de maior monta e quando deu por si já vestia a camisola do Fluminense.
Chegou ao Rio de Janeiro para fazer parte da equipa que ficou conhecida com a "Máquina Tricolor". Todos a recordam como um grupo de jogadores excepcionais, onde Abel Braga, Edinho ou Rivelino faziam as delícias dos adeptos. Aliás, acabou por ser com este último que Gil veio a construir as jogadas mais memoráveis daquele tempo. Tudo começava em Rivelino que, com a sua capacidade de passe, conseguia colocar a bola, em lançamentos de cerca de 50m, nos pés de Gil. A partir daí era ver o atacante nas suas corridas estonteantes, flectindo sempre para o interior da área adversária, onde, tantas vezes, concluía as ofensivas com um golo. Ajudou, desse modo, o emblema das Laranjeiras a vencer 2 “estaduais”. Contudo, como o próprio ainda lamenta, nunca conseguiu conquistar o Campeonato do Brasileiro - "Fui bicampeão carioca em 75 e 76, mas perdemos praticamente dois Brasileiros (…). Foi uma tristeza um time tão bom não ter ganhado”*.
Apesar do sucesso que Gil estava a conseguir com as cores do "Flu", a sua paixão clubística era outra. Foi isso mesmo que, em 1977, o fez trocar de camisola e aceitar a transferência para o Botafogo. É verdade que a mudança não trouxe ao avançado os títulos pretendidos. No entanto, o atacante passou a jogar preferencialmente no centro do sector mais ofensivo e alcançou, por razão da mudança, notoriedade suficiente para transformar o seu nome num dos habitualmente arrolados à "Canarinha". Tal estatuto, merecido, levou-o à convocatória para o Mundial de 1978 e fez de si um dos mais utilizados, por Cláudio Coutinho no torneio disputado na Argentina.
Depois de uma curta passagem pelo Corinthians, a sua ida para a Europa, e para os espanhóis do Real Murcia, ganhou corpo. Porém, é a segunda dessas experiências que interessa frisar. Primeiro, porque foi no Farense. Segundo, porque a mesma veio a assinalar o termo da sua carreira como jogador. Por fim, porque seria nos "Leões de Faro" que Gil teria a primeira experiência como técnico, no caso, treinador-jogador. Aliás, foi no desempenho das referidas funções que o antigo internacional viveu uma história deveras engraçadas. A mesma prende-se com um "bate-boca" com Renato Gaúcho, ídolo do Fluminense, que, ao que parece, ignorante, sem saber quem estava à sua frente, terá dito – "Olha aí, treinador que nunca jogou bola”*. Gil, respondeu - “Como é que é? Joguei no Flu, no Botafogo e disputei uma Copa do Mundo”*. Envergonhado, Renato Gaúcho perguntou - “Você é o Búfalo?” (alcunha pela qual Gil ficou conhecido), acabando por ouvir: “Sou eu mesmo e joguei muito mais do que você”*.

*retirado do artigo de Pedro Logato, publicado a 31/08/2013, em https://odia.ig.com.br

461 - BRANCO

São muitos os jogadores que exibem um "nome de guerra". No entanto, mesmo sabendo das inúmeras vezes que tal acontece, a verdade é que não são assim tantas as que sabemos a origem do apelido. Branco, de sua verdadeira identidade Cláudio Ibrahim Vaz Leal, ganhou a alcunha ainda na infância e por razão de ser o único de raça diferente, numa equipa só de negros.
Já numa senda mais a sério, o futebol levá-lo-ia a vestir a camisola do Internacional de Porto Alegre. Contudo, seria no Fluminense, emblema seguinte, que a sua carreira começaria a ganhar o merecido destaque. No início da década de 1980, o Fluminense atravessaria uma grave crise financeira. Sem dinheiro para contratações sonantes, a solução passaria pela aposta em novos talentos. Branco, entre outros, seria uma das escolhas para reforçar o plantel para a temporada de 1983. Tão boas as opções tidas, ironicamente feitas por necessidade, que o emblema carioca acabaria por encetar uma inesquecível senda de vitórias e de títulos. A mesma começaria com o “estadual” Carioca da campanha acima referida, ao qual a colectividade haveria de juntar os outros dois campeonatos seguintes. Todavia, mesmo com tantos sucessos, aquilo que ninguém esperava aconteceria em 1984 e o "Flu", com um plantel onde pontuavam nomes como Duílio, Ricardo Gomes ou Paulinho Cascavel, viria conquistar o “Brasileirão”.
Tamanho rol de troféus faria com que da selecção brasileira olhassem para si como um dos atletas a incluir em futuras convocatórias. Seria assim que, em 1986, Branco, apesar das críticas de alguns entendidos, assistiria ao seu nome a ser colocado entre os eleitos para viajar até ao México onde, nesse Verão, viria a disputar-se o Mundial de futebol. Prémio tê-lo-ia, igualmente, após o referido certame, aquando da sua contratação pelo Brescia. No entanto, mesmo com o clube italiano a situar-se longe dos emblemas mais apetecíveis, a transferência abrir-lhe-ia as portas da Europa e esse primeiro passo no “Velho Continente” daria azo ao surgimento de outra oportunidade.
A dita chance apareceria um par de anos após a chegada do defesa-esquerdo ao "Calcio", com o FC Porto, em 1988/89, a entrar na sua vida. De "azul e branco", com a conquista de 1 Campeonato Nacional (1989/90) e de 1 Supertaça (1990/91), Branco regressaria ao doce sabor das vitórias e, acima de tudo, voltaria a ser chamado para uma nova participação num Mundial. Nesse torneio viveria uma das mais curiosas histórias da vida como profissional, quando, na partida dos dezasseis avos de final do Itália 90, peleja entre a Argentina e o Brasil, haveria de pedir água aos seus adversários. Sem que ninguém desconfiasse de coisa alguma, o jogador, instantes depois de ingerir o líquido, começaria a sentir-se indisposto. Aparentemente, nada o justificava, até que, anos mais tarde, viria a saber-se a verdade - a água oferecida estava contaminada com calmantes!
Já no decorrer da terceira temporada de "dragão" ao peito, Branco deixaria Portugal para passar a representar o Genoa. É certo, foi pouco o tempo em que o internacional "canarinho" representou o FC Porto. Então, qual a justificação para que, ainda hoje, seja visto como um dos melhores laterais-esquerdos a vestir de “azul e branco”? É fácil responder! Branco era brilhante a defender, era excepcional nos desarmes e na maneira como preenchia a sua área de intervenção. Era, do mesmo modo, portentoso na maneira como ajudava os seus colegas no ataque e era, acima de tudo, mortífero na marcação de livres-directos.
Prestes a entrar na na fase descendente da carreira, Branco, que entretanto já tinha regressado ao Brasil, seria convocado para disputar mais um Mundial, dessa feita o certame organizado, em 1994, nos Estados Unidos da América. A escolha do seleccionar, que por essa ocasião era Carlos Alberto Parreira, voltaria a ser alvo de imensas críticas. No entanto, as mesmas cairiam por terra quando, na disputa por um lugar nas meias-finais, o lateral canhoto, na cobrança de uma falta, conseguiria aplicar o seu forte pontapé e com um estupendo golo acabaria a desempatar a partida frente à Holanda. A “Canarinha” venceria o torneio e o jogador ainda hoje diz – "Esse foi o lance da Copa e o lance da minha vida"*.

*retirado do artigo publicado por “Rebelde_29”, a 08/10/2007, em https://fcporto.forumperso.com

460 - EDEVALDO


Ainda em tenra idade decidiu deixar para trás a terra natal para, no Rio de Janeiro, tentar a sorte no futebol. Abriram-lhe as portas do Fluminense. Como ainda hoje é reconhecido, Edevaldo soube honrar as cores do clube a acolhê-lo. Fê-lo da melhor forma. Da maneira a caracterizá-lo tanto na vida, como no desporto – “Treinava até a exaustão. Nos testes físicos era sempre o primeiro. Corria muito, chutava forte, soltava só petardo”*. Foi assim que ganhou a alcunha de "Cavalo". Foi igualmente pela força física e pela vontade em superar-se que, em 1977, no mesmo ano em que participou no Mundial sub-20, chegou à primeira categoria do referido emblema “carioca”. No entanto, apesar de apreciado pela capacidade de trabalho, pelo sacrifício, o defesa, a ocupar a lateral direita, nunca conseguiu impor-se como titular indiscutível. Transferiu-se para o Sul e foi no Internacional de Porto Alegre que começou a destacar-se como um dos melhores no "Brasileirão". Como prémio, Telê Santana veio a juntar o seu nome ao rol de convocados para o Mundial de 1982. Em Espanha, no escalonamento inicial do “Escrete”, ficou atrás de Leandro, mas, apesar de suplente, entrou em campo na 2ª Fase de Grupos e marcou presença na partida frente à Argentina.
Mesmo tendo em conta o sucesso até então alcançado, foi com a transferência para o plantel de 1983 do Vasco da Gama que Edevaldo atingiu, provavelmente, o pico da carreira. É certo que faltaram os troféus. Contudo, foram as prestações no emblema fundado por portugueses que valeram ao defesa o bilhete para jogar na Europa… precisamente em Portugal. Do outro lado do Oceano Atlântico, num FC Porto comandado por Artur Jorge, o lateral-direito não conseguiu atingir o sucesso esperado. Por outro lado, as poucas presenças em campo deram-lhe a conquista de um título e nessa temporada de 1985/86, ao serviço dos "Dragões", venceu o Campeonato Nacional da 1ª divisão.
Acabou por regressar ao Brasil, onde deu seguimento à carreira. Tal como revelada nos primeiros anos como atleta, a frescura física manteve-se como a principal imagem. Foi assim durante tantos anos que, quando decidiu pôr um fim à caminhada competitiva, Edevaldo já passava dos 40 anos de idade. Contudo, o termo do trajecto enquanto jogador, não determinou o seu afastamento da modalidade. Fundou uma “escola” de futebol em Jacarepaguá, bairro do Rio de Janeiro, e tem sido um dos esteios da formação do Fluminense, onde ajuda na formação de homens e de novos futebolistas.

*retirado do artigo de Pedro Logato, publicado a 28/09/2013, em https://odia.ig.com.br

459 - EDINHO

As dezenas de internacionalizações que conseguiu, as presenças em 3 Mundiais consecutivos (1978; 1982; 1986) e a chamada aos Jogos Olímpicos de Montreal (1976) fizeram dele, e fazem, uns dos melhores jogadores brasileiros a actuar durante os anos de 1970 e de 1980. Para além da selecção brasileira, o antigo defesa foi, igualmente, um dos maiores símbolos do Fluminense. Chegou ao clube do Rio de Janeiro ainda muito novo e para actuar nas camadas jovens. Desde esse momento, as qualidades exibidas fizeram com que progressivamente fosse subindo de escalão. Foi assim que, na temporada de 1973, acabou por assegurar um lugar junto da categoria principal. Raçudo, com um excelente jogo de cabeça e intransponível na marcação, Edinho conseguiu muito mais do que os seus colegas de posição. Nesse sentido, para além das características que faziam dele um intérprete implacável, tinha também a capacidade de jogar bem com os pés. Isso conferiu-lhe a habilidade para distribuir jogo, para ajudar os companheiros na construção de ofensivas e, muito apreciado nele, fazia com que, tantas vezes, conseguisse transformar os livres-directos em golos de belo efeito. Aliás, há um lance que a grande maioria dos adeptos do “Tricolor” recorda com grande orgulho. A partida, nada mais, nada menos, do que a final do Campeonato Carioca de 1980. Frente aos homens das Laranjeiras, na disputa do aludido título, somente o maior rival dos "Tricolores", o Flamengo. Com o "derby" "Fla vs Flu" na meia hora final, uma falta foi assinalada perto da defesa do “Rubro-negro”, mais precisamente junto ao canto direito da grande-área. Edinho decidiu avançar para a marcação do castigo e, com um remate certeiro, fez entrar a bola junto ao poste mais próximo (veja aqui o lance)*.
Por altura do referido golo, o atleta já tinha participado no seu primeiro Mundial. Na Argentina começou como titular. No entanto, a opção do seleccionador Cláudio Coutinho, ao colocá-lo no lado esquerdo da defesa, fez com que saísse prejudicado, acabando, com o decorrer do torneio, por perder o lugar no "onze". Em Espanha, a sua sorte também não foi muito diferente e terminou, por razão da titularidade de Luisinho (ex-Sporting) e de Óscar, relegado para o banco de suplentes. Ainda assim, a sua popularidade continuou a crescer no “universo do futebol”. Por essa razão ninguém ficou admirado quando, no Verão a seguir ao certame espanhol, o defesa acabou contratado pelos italianos da Udinese. Após 5 anos a actuar no "Calcio", com outro Campeonato do Mundo (México 86) no currículo, onde foi titular indiscutível, Edinho regressou ao país natal e ainda representou, nos derradeiros capítulos da carreira, o Flamengo, o Fluminense e o Grêmio.
Com o "pendurar das chuteiras", Edinho iniciou-se nos ofícios de treinador. Foi nessa função que em, 1993/94, teve a sua passagem pelo cenário português. Veio para comandar um Marítimo prestes a fazer a estreia nas competições continentais. Contudo, a sua passagem pela ilha da Madeira foi rápida e ao voltar ao Brasil deu seguimento à carreira como técnico.
Outra curiosidade prende-se, também, com o jogo da bola, mas com a variante disputada na areia! Edinho chegou a participar num Mundial de Futebol de Praia e acabou, nesse torneio de 1996, por ser considerado o melhor atleta do torneio.

*https://www.youtube.com/watch?v=f4RGYq4dyXI

CANARINHA

O jogador brasileiro tem sido, ao longo dos tempos, uma presença habitual nas provas lusas. Essa razão, por si só, seria mais que suficiente para recordarmos os que por cá passaram. Contudo, 2014 é o ano do Mundial de selecções a realizar em "Terras de Vera Cruz". Assim sendo, nada melhor do que misturar tudo isto e relembrarmos alguns dos atletas que, tendo representado o Brasil no já referido certame, também serviram os nossos emblemas. Desse modo, Abril será dedicado, exclusivamente, à "Canarinha".

ver também:  José Carlos; Elzo; Silas; André Cruz; André Cruz (recortes); Edilson; Mozer; Thiago Silva (recortes)