403 - JORGE SILVA

Seria como produto das camadas jovens do FC Porto que Jorge Silva emergiria na equipa principal dos "Azuis e Brancos". No entanto, nessa temporada de 1990/91, a presença de Vítor Baía e de Padrão remeteriam o inexperiente guarda-redes para a condição de terceira escolha. Em abono da verdade, as oportunidades que o guardião teria no clube, mesmo nas campanhas vindouras, seriam praticamente nulas. Como resultado da pouca utilização, o empréstimo ao Rio Ave surgiria como a solução certa para fazer o atleta ganhar algum traquejo. Nesse sentido, as épocas seguintes cumpri-las-ia numa alternância entre o emblema de Vila do Conde e o Estádio das Antas. Ainda assim, conseguiria surgir de “dragão” ao peito, o que aconteceria na 33ª e penúltima jornada de 1995/96. A referida temporada, ao registar-se a onda de lesões e castigos a fustigarem os homens das balizas portistas, daria ao jogador a oportunidade de entrar em campo e os poucos minutos frente ao Estrela da Amadora conferir-lhe-iam o direito de receber a faixa de campeão nacional.
Apesar do título conquistado, os anos subsequentes da sua carreira acabariam por acontecer também na "Cidade Invicta", mas longe das Antas. No Salgueiros passaria os 5 anos seguintes, conquistaria a titularidade e a notoriedade suficientes para, a propósito de uma partida de preparação incluída na campanha de apuramento para o Mundial de 2002, ser chamado, por António Oliveira, aos trabalhos da selecção nacional. Nesse jogo de cariz particular, disputado a 15 de Novembro de 2000 frente à congénere de Israel, Jorge Silva, ao substituir Quim já nos momentos finais do encontro, alcançaria, depois de também ter representado os sub-18 e os sub-21 lusos, a sua primeira e única internacionalização pela equipa principal portuguesa.
Depois dos anos passados no bairro de Paranhos, a aposta do guardião, passaria por uma mudança de ares. Essa decisão levá-lo-ia até ao Arquipélago dos Açores, onde, a partir de 2001/02, vestiria a camisola do Santa Clara. No entanto, com a presença dos micaelenses na edição de 2003/04 da divisão de Honra, a carreira de Jorge Silva afastar-se-ia, de vez, do trajecto primodivisionário. Seguir-se-ia, num regresso ao Norte do país, um percurso mais errante e que levaria o guarda-redes a vogar entre vários emblemas, nomeadamente os Dragões Sandinenses, Paredes, Trofense e Vila Meã, para, depois de representar a UD Oliveirense, decidir, com o termo da campanha de 2009/10, pôr um termo à sua vida como futebolista.
Com o fim da sua etapa como praticante, uma nova senda começaria para Jorge Silva no futebol. Na UD Oliveirense, onde tinha "pendurado as luvas", entregar-se-ia às funções de treinador-adjunto, responsável pela preparação dos guarda-redes. Seriam essas tarefas que o fariam, ao assinar pelo Gil Vicente e ao acompanhar João de Deus na viagem, voltar, nesta temporada de 2013/14, aos palcos principais do desporto português.

402 - PIETRA

Começaria no Belenenses a carreira de um dos mais brilhantes laterais do futebol português. Rápido, com capacidade para correr com a bola controlada, mas sempre de olhos postos no companheiro a quem passar o esférico, Minervino Pietra depressa ganharia o merecido destaque no Restelo. Com tamanhas qualidades, poucos ficariam admirados que, com apenas 19 anos de idade e a jogar pelos da “Cruz de Cristo”, o defesa fosse chamado à estreia na selecção A. O encontro, marcado para o Estádio de Alvalade, numa jornada a contar para a Fase de Qualificação do Mundial de 1974, haveria de opor as congéneres de Portugal e da Irlanda do Norte. Todavia, com o dia 14 de Novembro de 1973 a marcar a sua estreia com a principal “camisola das quinas”, outras datas surgiriam em que teria a oportunidade de continuar a representar o seu país. Curiosamente, seria à custa do equipamento luso que também viveria um dos maiores dissabores enquanto futebolista. Após participar no apuramento para o Euro 84 e quando a maioria já contava com o seu nome no grupo arrolado para a disputa do torneio organizado em França, o comité técnico, composto por Toni, José Augusto, Fernando Cabrita e António Morais, decidir-se-ia por outros dois atletas e, como resultado de tal opção, Pietra ver-se-ia ultrapassado por João Pinto e por Veloso.
Obviamente, a carreira do defesa não ficaria resumida ao episódio mencionado no final do parágrafo anterior. Voltando ao seu trajecto clubístico, seria no Verão de 1976, com a chegada ao Benfica de John Mortimore, que Pietra, contratado ao Belenenses, acabaria apresentado como um dos reforços das “Águias”. Sendo ambidestro, formaria, com o já aludido António Veloso, uma das melhores duplas de laterais a actuar nas provas portuguesas. A sua segurança defensiva, como a acutilância dada às ofensivas da equipa, somariam qualidade a um plantel recheado de praticantes com inquestionáveis predicados. A valia desse grupo de trabalho resultaria numa invejável lista de troféus conquistados entre 1976/77 e 1985/86, ou seja, no período em que o jogador vestiria de encarnado. No entanto, para além da conquista de 4 Campeonatos Nacionais, 5 Taças de Portugal e 2 Supertaças, ao currículo do atleta faltaria a Taça UEFA de 1982/83, perdida na final frente ao Anderlecht.
Depois de terminada a carreira nos relvados, Pietra escolheria a vida de técnico. Com passagens por diversas agremiações e escalões, onde, com escassas excepções, desempenharia essencialmente a tarefa de treinador-adjunto, o antigo internacional português é hoje em dia um dos braços-direitos de Jorge Jesus no Benfica e, acima de tudo, um dos homens mais respeitados tanto no seio do clube, como pelos adeptos da colectividade lisboeta.

401 - NUNO CAMPOS

Formado no Belenenses, a sua carreira como sénior começaria na temporada de 1993/94, com passagens por Fanhões e Olivais e Moscavide. Já como jogador do Atlético, para onde entraria em 1996/97, veria uma das figuras emblemáticas do desporto português a reparar no seu trabalho. João Alves, depois de, com a campanha de 1997/98 em andamento, substituir Bernardino Pedroto no comando técnico do Campomaiorense, chamaria o atleta para dar o salto desde a 2ª divisão B até ao escalão máximo do futebol luso. No Alentejo, Nuno Campos haveria de mostrar, aos que tinham apontado a sua baixa estatura como um entrave ao cimentar de uma carreira de gabarito, que a chave do sucesso estava na maneira esforçada como encarava os jogos. Um dos reflexos dessa entrega acabaria por ser a sua adaptabilidade às mais diferentes posições de campo, fazendo com que apenas não tivesse experimentado os lugares de ponta-de-lança e de guarda-redes.
A trabalhar com os “Galgos”, o defesa ajudaria a redigir aquela que ficaria registada como a página mais épica da história da agremiação, ou seja, a chegada à final da Taça de Portugal de 1998/99. No Jamor, arrolado pela mão do treinador José Pereira, Nuno Campos entraria no “onze” inicial. Porém, seria o Beira-Mar, com o “placard” fechado em 1-0, a conseguir a almejada vitória e, nesse sentido, o troféu fugiria aos alentejanos e partiria em direcção à cidade de Aveiro.
Com o final do contrato a ligá-lo ao Campomaiorense, muito começaria a especular-se sobre o seu futuro, com o destino do atleta a ser ligado ao primodivisionário espanhol Alavés. No entanto, o passo dado levá-lo-ia para perto de alguém conhecido, com o defesa a começar a época de 1999/00 sob a intendência de João Alves. Como membro do Farense, Nuno Campos jogaria 3 temporadas. Pelo meio, a curta passagem de 1 campanha ao serviço do Vitória Futebol Clube, onde viria a ser pouco utilizado. Já o regresso ao Algarve para a temporada de 2002/03, apanharia o clube mergulhado na crise financeira que haveria de empurrar a agremiação para os distritais. Surpreendentemente, também a carreira do defesa caminhava abruptamente para o fim e após as passagens pelo União da Madeira e pelo Amora, o jogador, com o termo da campanha de 2004/05 e com apenas 30 anos de idade, decidiria “pendurar as chuteiras”.
Já a sua carreira de treinador, feita como adjunto de uma das boas surpresas do futebol luso, começaria imediatamente a seguir. Apesar de curta, a verdade é que essa caminhada tem tido algumas histórias interessantes para contar. Por exemplo, diz-se que, aquando da ligação de Paulo Fonseca ao Desportivo das Aves, o clube não tinha dinheiro para contratar outros elementos para a equipa técnica. Foi então que o jovem “timoneiro”, sem dispensar a ajuda do amigo, decidiria dividir o seu salário, custeando assim a contratação de Nuno Campos. Hoje em dia, depois de conseguirem a brilhante qualificação do Paços Ferreira para a "Champions", estão ambos ao "leme" dessa grande nau que é o FC Porto.

400 - CARLOS JORGE

Tendo representado o Barreirense do Funchal, Carlos Jorge, bem perto do final do trajecto formativo, vê o Marítimo a decidir-se pela sua contratação. Após dois anos nas camadas jovens dos "Verde-rubro", o defesa de 18 anos de idade, na preparação da época de 1985/86, é então chamado aos trabalhos da equipa principal. No entanto, as primeiras campanhas como sénior, numa realidade bem diferente da vivida nas “escolas” futebolísticas, revelaram ao jovem atleta as dificuldades inerentes ao passo dado. Com o jogador a ser pouco utilizado, a solução passou por um empréstimo e o União da Madeira, a disputar a 2ª divisão de 1987/88, transformou-se no seu destino.
No regresso, integrado no plantel do Marítimo de 1988/89, Carlos Jorge emergiu como um atleta completamente diferente. Como perspectivado pelos responsáveis técnicos, o defesa começou a afirmar-se no eixo do sector mais recuado, tornando-se num verdadeiro esteio do conjunto insular. Com o notório crescimento, o jogador passou a destacar-se pela maneira como conseguia impor-se perante os avançados contrários. Ao utilizar as suas melhores qualidades, ou seja, o físico poderoso e um jogo de cabeça bem acima da média, depressa veio a ser aferido como um dos melhores, nas provas nacionais, a actuar na sua posição e, por essa razão, o alvo da cobiça de emblemas de outra monta.
Baseado numa boa avaliação, o Sporting, à procura de colmatar as saídas dos habituais titulares, Venâncio e Luisinho, decide apostar, para a época de 1992/93, na sua contratação. Com Sir Bobby Robson à frente do conjunto a jogar em casa no Estádio de Alvalade, a construção e preparação da equipa leonina depressa apontou para o ataque ao título e o madeirense, como um peão desse objectivo, começa o Campeonato Nacional como um dos titulares do Sporting. Contudo, apesar do arranque auspicioso, o atleta, depois de algumas rondas, viu-se ultrapassado pelos colegas de posição e veio a ser relegado à condição de suplente. Sem nunca conseguir afirmar-se com um dos indiscutíveis, o jogador, após disputar e perder a finalíssima da Taça de Portugal de 1993/94, decide-se pelo regresso à Madeira. De volta ao Marítimo, com a sina de estar sempre do lado errado da contenda, repete a derrota do ano anterior e vê o almejado troféu da “Prova Rainha” a sair do Jamor na posse da sua antiga equipa.
Apesar do desaire vivido no Estádio Nacional, a sua afirmação no Marítimo tornou-se em algo muito sólido. O defesa, tido como uma das figuras históricas dentro do plantel, viu a dedicação reconhecida e não demorou muito para que a braçadeira de capitão encontrasse no seu braço o poiso ideal. Com a grandeza associada à sua carreira de 15 anos como sénior, Carlos Jorge, depois de retirado das lides de jogador no final da campanha de 2000/01, manteve-se como um apaixonado pelos “Leões do Almirante Reis” e foi essa fidelidade a levá-lo, entre a equipa principal e o conjunto “b”, a abraçar as funções de treinador-adjunto.

399 - FERNANDO COUTO


Se muitos da chamada "Geração de Ouro" comemoraram o primeiro grande título num dos Mundiais de sub-20 ganhos por Portugal, Fernando Couto, por altura do torneio disputado em 1989 na Arábia Saudita, já contava no currículo com a vitória no Campeonato Nacional de 1987/88. Com o referido troféu interno a assinalar o começo de uma grande carreira, o defesa, à altura, era ainda um praticante com pouca experiência no escalão sénior. Como é norma nesses casos, a solução passou pelo empréstimo a outras equipas, cedências a levá-lo, respectivamente em 1988/89 e 1989/90, às camisolas do Famalicão e da Académica de Coimbra.
Apesar das passagens pelos escalões inferiores do futebol luso, cedo ficou perceptível que o lugar de Fernando Couto era junto aos “grandes” da modalidade. A garra com que entrava em campo, a paixão mostrada em cada disputa de bola, mas, sobretudo, as qualidades posicionais e de entendimento das suas funções dentro do jogo, faziam dele um verdadeiro predestinado. Nesse sentido, os excelentes desempenhos conseguidos durante os empréstimos levaram-no, meritoriamente, de volta ao antigo Estádio das Antas. Com o regresso a acontecer na temporada de 1990/91, o jogador rapidamente conquistou um lugar junto dos titulares e, com a frequência das chamadas ao “onze”, para além das conquistas de títulos, o defesa-central continuou a ganhar experiência competitiva. Porém, apesar do acréscimo de jogos disputados, por norma, significar o contrário, o defesa teimava em manter uma fogosidade bastante particular e, digamos, um pouco excessiva. Essa impetuosidade acabou a pô-lo numa situação bastante constrangedora. Numa jornada a opor o Benfica ao FC Porto, Carlos Mozer, um enorme “rato” da modalidade, ao reconhecer no portista alguma imaturidade, provocou-o até à exaustão. Foi então que o atleta "azul e branco", mais do que saturado, respondeu com uma cotovelada. Para o jovem atleta, o acto irreflectido teve resultados bem piores do que os esperados e muito para além da expulsão e de ter passado, por ordem de Bobby Robson, a treinar à parte do restante plantel dos “Dragões”, Fernando Couto teve ainda de lidar com a sua consciência – "O dia mais difícil foi a segunda-feira a seguir ao jogo. Foi muito mau. Dormi mal, não saí de casa, desliguei os telefones, não vi televisão, não comprei jornais, acho que foi dos piores dias da minha vida. (...) tenho a perfeita consciência do que se passou; sei o que fiz, mas não quero que me associem ao comportamento que tive naquele momento. Foi um incidente, um caso pontual, algo que aconteceu no momento e pronto"*.
No final dessa época de 1993/94, tal como perspectivado, Fernando Couto começou a ser cobiçado por outros emblemas. Com 3 Campeonatos Nacionais e 2 Taças de Portugal a abrilhantar-lhe o currículo, o jogador rumou a Itália. Em dois anos de Parma, também pela conquista da Taça UEFA de 1994/95, o atleta conseguiu efectivar-se como um central do mais alto gabarito europeu. Foi esse mérito, dois anos volvidos sobre a chegada ao “Calcio”, a levá-lo a embarcar numa nova aventura. Com Bobby Robson ao leme do FC Barcelona, da Catalunha chegou o convite para o internacional português. Não se sabe o quanto ponderou na decisão tomada, mas o contrato que veio a assinar na temporada de 1996/97 catapultou-o para mais uma série de vitórias, das quais 1 La Liga, 2 Copas del Rey, a Taça dos Vencedores das Taças de 1996/97 e a Supertaça da UEFA da campanha seguinte.
Por mais incrível que pareça, a chegada de Louis van Gaal ao comando técnico dos "Blaugrana", acabou a empurrar Fernando Couto para a condição de segunda escolha. A decisão do holandês fez com que o jogador decidisse voltar ao "Calcio". Com isso, embarcou naquele que veio a ser o maior período de tempo a envergar a mesma camisola. Mas muito para além desse curioso facto, a escolha da Lazio confirmou-se como muito acertada, com os "Romanos" a regressarem ao topo do futebol italiano e também do "Velho Continente". A prova chegou com a conquista do "Scudetto" de 1999/00 e com a vitória na Taça dos Vencedores das Taças de 1998/99.
A acompanhar todo o sucesso a nível clubístico, esteve também o seu percurso com a selecção nacional e as presenças nas fases finais das principais competições, nomeadamente a chamada a 3 Europeus e a 1 Mundial. Outra marca de Fernando Couto com a "camisola das quinas" foi o número de internacionalizações “A” conseguidas, fazendo do defesa um dos “centenários” do conjunto luso, com um acumular de 110 jogos cumpridos por Portugal.
Todavia, “não há bela sem senão” e a carreira de Fernando Couto ainda conheceu outra polémica quando, em 2001, veio a ser apanhado num caso de doping. Após cumprir um castigo de 9 meses, o jogador continuou a representar a Lazio até ao termo da campanha de 2004/05. Seguiram-se 3 épocas no Parma e o fim da caminhada competitiva, já bem perto de completar 40 anos de idade.
Hoje, depois da experiência como director-desportivo do Sporting de Braga e de uma curta passagem, como treinador, pela Índia, Fernando Couto é um dos adjuntos de Jesualdo Ferreira, na equipa técnica dos "Guerreiros do Minho".

*retirado da entrevista de Rui Dias e Sérgio Alves, publicada em "A Bola Magazine nº82", em Março de 1994

398 - BASÍLIO

Nascido e criado na "Cidade Berço", seria ao serviço do Vitória Sport Clube que Basílio Marques começaria na prática do futebol. Nos primeiros passos desse trajecto, depois de terminar a formação com as cores dos “Conquistadores”, o defesa acabaria emprestado à AD Fafe e ao Lixa, respectivamente nas temporadas de 1984/85 e 1985/86. De seguida, fruto do bom trabalho apresentado nos dois anos anteriores, viria a sua integração no plantel principal da aludida colectividade vimaranense, orientada inicialmente pelo treinador brasileiro René Simões.
Numa temporada atribulada para o emblema sediado em Guimarães, onde, nessa campanha de 1986/87, outros dois nomes ainda passariam pelo comando técnico da equipa, a vida do jogador desenrolar-se-ia com a dificuldade habitual para um jovem. Sem grande espaço para ganhar o lugar no lado esquerdo da defesa, onde Carvalho surgiria uma grande forma, Basílio lograria de poucas oportunidades. Por coincidência, faria a sua estreia no Campeonato Nacional, ainda por cima a titular, na jornada inaugural da prova. Nessa ronda, frente aos eternos rivais do Sporting de Braga, num “derby” sempre escaldante, os de branco sairiam vencedores. No entanto, o triunfo pouco contribuiria para a afirmação do atleta e o resto da sua temporada traduzir-se-ia por números muito discretos.
Com uma vontade inata para vencer, aliada a uma boa capacidade de abnegação, Basílio manteria os seus níveis anímicos elevados. Outra ajuda preciosa viria da presença de uma cara bem conhecida da sua vida e a partilhar consigo o balneário. Três anos mais velho, o irmão Miguel era já um frequentador assíduo do "onze” vimaranense. Igualmente defesa, mas com a habilidade a empurrá-lo para o eixo do sector mais recuado, a sua impetuosidade ainda traria alguns dissabores ao lateral-esquerdo – "Lembro-me que uma vez, estávamos a jogar um torneio na Póvoa, e num lançamento lateral ele deu-me uma cabeçada e eu fiquei aí um mês e meio sem jogar"*.
Curiosidades à parte, a carreira de Basílio haveria de tomar o rumo normal de um jogador bem alicerçado e, com o avançar dos anos, igualmente bem cotado no futebol português. Nesse sentido, a titularidade, com uma ou outra intermitência, surgiria de forma bastante natural e regular. Tal constatação proporcionar-lhe-ia ser um dos escolhidos que, em 1988, ajudaria a levantar o primeiro troféu oficial do Vitória Sport Clube, a Supertaça Cândido de Oliveira. A referida conquista, aliada às 11 temporadas a vestir a camisola branca do clube minhoto conferir-lhe-ia um estatuto especial entre a exigente massa adepta. Por essa razão, poucos haveriam de estranhar que, passados alguns anos sobre a sua estreia sénior, a Basílio fosse entregue a responsabilidade de envergar a braçadeira de capitão.
A sua ligação com o Vitória Sport Clube terminaria, após ter perdido o estatuto de indiscutível, no defeso estival de 1997. De partida para o Alentejo, onde representaria o Campomaiorense, Basílio começaria a avançar para o fim da carreira. Como futebolista profissional ainda vestiria, em 1999/00, a camisola do Famalicão e então decidir-se-ia a "pendurar das chuteiras". Contudo, sem nunca perder a paixão pela modalidade, Basílio voltaria a ligar-se ao clube do coração. Como treinador, habitualmente no papel de adjunto, o antigo defesa é um dos ajudantes de Manuel Machado e depois dos anos passados no Estádio D. Afonso Henriques, trabalha agora no corpo técnico da equipa principal do Nacional da Madeira.


* retirado do artigo de Luís Pedro Ferreira, publicado a 11/06/2013, em https://maisfutebol,iol.pt.

397 - FABIANO

Após a estreia no Botafogo e da passagem pelo Cruzeiro, Fabiano Soares sagrar-se-ia campeão "estadual" de São Paulo, ao serviço do São José. Com o título conquistado, o médio, com tendências ofensivas, começaria a ser cobiçado por clubes europeus. A verdade é que a colectividade a afigurar-se como a principal candidata à sua contratação, não era um “colosso”. Ainda assim, o Celta de Vigo, como um dos habituais emblemas na luta pela permanência, não deixava de ser um dos participantes de uma das melhores ligas mundiais. Tal facto transformaria a proposta em algo muito tentador e o jogador, na campanha de 1989/90, acabaria por deixar o Brasil em direcção à Galiza.
Apesar da experiência acumulada, a adaptação do brasileiro não seria nada fácil. Por um lado, surgiriam os problemas pessoais resultantes da recente morte do progenitor. Por outro, as questões desportivas, onde o Celta emergiria com uma tremenda incapacidade para cumprir os objectivos propostos – “Não me correu nada bem, o meu pai tinha falecido e tive que deixar a minha mãe sozinha no Brasil; a equipa não avançava e passaram vários treinadores, desde Novoa até Maguregui, o que fez com que me custasse bastante adaptar-me ao futebol espanhol”*.
Porém, depois da despromoção com o termo da temporada de 1989/90, o Celta e Fabiano pareciam estar encontrar o rumo certo. O clube, ao ficar em primeiro lugar na 2ª divisão de 1991/92, conseguiria, novamente, garantir um lugar no patamar maior do futebol espanhol. Para Fabiano tudo também aparentava correr bem, com uma proposta de renovação de contrato a ser apresentada pela direcção dos galegos. No entanto, para o jogador o desfecho acabaria por ser diferente do esperado - "Eu queria ficar (…) falei com Salvador González [vice-presidente] e chegámos a um acordo para renovar por três temporadas. Mas logo o presidente [Núñez] disse-me para esperar umas semanas e que, mais tarde, no final da temporada decidiria. Núñez faltou à sua palavra e eu disse-lhe que não iria esperar até Junho"*.
Após esse episódio, Fabiano decidiria, em 1992/93, assinar pelo Compostela. Durante as 10 temporadas a representar o emblema de Santiago – com um intervalo entre 2001 e 2002, onde voltaria a vestir a camisola do Botafogo – o médio tornar-se-ia num dos maiores símbolos da colectividade galega. Subiria à 1ª Liga; viveria, nesse escalão, os melhores anos da história do clube; e pela maneira inteligente como, em cada desafio, faria passar pelos seus pés o jogo da equipa, o atleta transformar-se-ia num dos favoritos da massa adepta. Nesse contexto, o forte laço construído, mesmo com uma grave crise financeira a afectar o emblema espanhol, alimentaria a ligação entre o jogador e o clube, a qual duraria até 2002/03. Seguir-se-ia, como a derradeira época da sua careira de futebolista, a transferência para o plantel de 2003/04 do Racing Ferrol.
Claro está que o "bichinho" pela modalidade não morreria. Ao continuar ligado ao futebol, Fabiano Freitas haveria de começar a sua actividade como treinador, a qual, em 2009/10, haveria de pô-lo de novo, dessa feita como responsável máximo técnico pela equipa, no rumo do Compostela. Já a partir de 2011/12, o antigo médio passaria a fazer parte da equipa técnica do Estoril Praia. Como adjunto de Marco Silva, tornar-se-ia num dos responsáveis pelas boas campanhas do emblema da Linha de Cascais nos últimos anos, nomeadamente, a subida à 1ª divisão e, mais recentemente, a qualificação para as provas sob a alçada da UEFA.

*retirado do artigo de Marcos L. Bacariza, publicado em http://www.yojugueenelcelta.com, a 01/05/2008

396 - NÉLSON

Quando, ainda miúdo, entrou para o clube da terra, o Torreense, a sua crença eram as balizas adversárias. Por isso foi para avançado. Um dia, por falta de um elemento para guardião, chamaram-no. A função não era de todo estranha para si, pois, em brincadeiras com os amigos, muitas vezes cumpria essas tarefas. Ali era mais a sério. No entanto, Nélson não fraquejou e as qualidades reveladas naquele inesperado treino, fizeram com que os responsáveis técnicos do clube tentassem mantê-lo no lugar. Assim, o jovem que adorava atentar contra os guardiões, passou a ser um deles. Foi nessa posição, por vezes tão ingrata, que percorreu quase todo o percurso na formação, que transitou para os seniores e onde, nas divisões secundárias, começou a dar nas vistas.
Foi o Sporting quem decidiu apostar nele para reforço do plantel de 1997/98. A concorrência era muita e a vida desse praticante, com pouco mais de 20 anos, prometia ser seriamente dificultada pela presença daquele que, à altura, era o titular da selecção belga, Filip De Wilde. A verdade é que tal cenário não era muito animador. Todavia, qual a razão para desanimar? Nenhuma. Pelo contrário, Nélson estava a viver um sonho. Com os primeiros passos em Alvalade o jovem guardião chegava aos palcos da 1ª divisão, entrava no escalão máximo pela porta de um dos colossos do futebol português e, ainda por cima, com a oportunidade de conhecer, de trabalhar e de escutar os conselhos de um dos seus grandes ídolos, o mítico Vítor Damas.
Nos anos seguintes ao da sua chegada, o contexto competitivo de Nélson não mudou muito. Primeiro Tiago e depois o gigante dinamarquês, Peter Schmeichel, perpetuaram a sua condição de suplente. Ainda assim, continuou a mostrar-se como um membro útil à equipa. A capacidade de trabalho, a entrega exibida em todos os treinos, a maneira modesta, mas não resignada, como aceitou um lugar no banco, sempre foram a sua maneira de ajudar o grupo. É certo que é pouco para alguém que jamais mostrou falta de ambição. Porém, a sua paciência haveria de ter uma boa recompensa e na temporada de 1999/00, pela primeira vez na carreira, viu o seu nome na lista de campeões nacionais.
Apesar de ter ficado na história do clube como um dos atletas que, ao fim de 18 anos, conseguiram pôr fim àquilo que mais parecia uma maldição, para Nélson a campanha referida no final do parágrafo anterior não seria a melhor de "Leão" ao peito. Essa aconteceria na temporada 2001/02, com a chegada à titularidade, com a conquista da "dobradinha", com a estreia pela selecção “A” e, acima de tudo, com a convocatória de António Oliveira a levá-lo ao Campeonato do Mundo organizado entre o Japão e a Coreia do Sul.
Depois do torneio disputado na Ásia, ao Sporting chegou o titular da selecção portuguesa. Apesar de Ricardo passar a ocupar o lugar de titular, Nélson, novamente na condição de suplente, teimou em não claudicar. Manteve-se em Alvalade para ajudar e foi sempre esse espírito que manteve até ao último dia no clube. No final da época de 2005/06, sem proposta para renovar o contrato, o guardião preferiu declinar o convite para ingressar no corpo técnico "verde e branco". Prosseguiu a carreira noutro clube e depois do Vitória Futebol Clube, do Estrela da Amadora e do Belenenses, o jogador, por razão de uma grave lesão contraída ao serviço dos “Azuis”, decidiu pôr termo à sua vida de futebolista.
Não esteve muito tempo afastado da modalidade e em 2011/12 regressou ao Sporting, para integrar o corpo técnico dos juniores. Por razão do despedimento de Domingos Paciência e da promoção de Sá Pinto ao conjunto principal, Nélson foi igualmente convidado para os seniores. Desde então mantem-se nas mesmas funções e hoje é o treinador dos guarda-redes, na equipa sob a intendência de Leonardo Jardim.

395 - QUARESMA

Parceiro de uma vida de Jorge Jesus, actual técnico-principal do Benfica, os dois, por razão de terem apenas um ano de diferença, fariam um trajecto muito parecido nos escalões de formação. Com passagem pelo Estrela da Amadora, para depois terminar nos juniores do Sporting, Miguel Quaresma subiria à categoria sénior dos “Leões”, para jogar principalmente na equipa de “reservas”. De seguida surgiria o primeiro empréstimo da sua carreira e o jogador, a caminho do plantel de 1973/74 do Peniche, haveria de ter a companhia do já referido Jorge Jesus, com a experiência na 2ª divisão a servir para ambos ganharem mais traquejo.
Quaresma ainda regressaria a Alvalade na época de 1975/76. No entanto, a forte concorrência por um lugar no eixo do sector mais recuado do Sporting, onde os internacionais Laranjeira e Mendes impunham a sua qualidade, traria muitas dificuldades ao defesa. Sem qualquer partida oficial registada, o atleta deixaria os “Leões” no termo da campanha mencionada no início deste parágrafo. De seguida, encetaria um périplo a levá-lo, na carreira de futebolista, a percorrer uma larga lista de outros emblemas. Quase sempre na divisão maior do futebol luso, mas também com passagens pelos escalões secundários, destacar-se-iam os anos cumpridos no Beira-Mar, na União de Leiria – onde voltaria a cruzar-se com Jorge Jesus – e no Portimonense. Temporadas que, muito mais do que a titularidade conquistada, serviriam para sublinhá-lo como um dos principais defesas-centrais a actuar em Portugal.
Com um vasto currículo nas tarefas de técnico, 7 anos dos quais a trabalhar com Jorge Jesus, Miguel Quaresma faz hoje parte dos quadros do Benfica. Curiosamente, a sua primeira experiência nas funções, acumulando também o papel de jogador, seria no Benfica e Castelo Branco. Mas há outra particularidade nesse arranque de carreira. Quem, nessa temporada de 1989/90, haveria de ser seu discípulo na colectividade albicastrense? A resposta é fácil! É claro que só podia ser Jorge Jesus!

ADJUNTOS

São seu braço direito; são a mulher... PERDÃO!!!  ...o homem por detrás do homem! Tal pode apenas ser uma fase nas suas carreiras, tal como muitos fazem disso vida! Muitas vezes esquecidos, eles são peça fulcral na estrutura das equipas técnicas. Por tudo isso, se em anos anteriores dedicámos no nosso "blog" algum espaço à história dos treinadores presentes nas provas portuguesas, neste mês de Setembro a hora é dos "Adjuntos".