1693 - JOSÉ MANUEL

De quando em vez, deparo-me com um caso em que parte da carreira, ou a grande fatia da mesma, não é mais do que um enorme mistério. O caso de José Manuel Ferreira Fernandes é pragmático desse género de falhas. Todavia, se tivermos em conta que o antigo defesa até é um nome histórico do Clube Oriental de Lisboa, o contexto dessa lacuna, aos meus olhos de singelo avaliador, parece ainda desenhar-se num contorno deveras pior.
Pois bem, na minha pesquisa, limitada pela busca que a internet acaba a conceder-nos, nem em “sites” como o da Federação Portuguesa de Futebol, nem em páginas afectas ao mencionado conjunto “alfacinha”, consegui destapar qualquer dado sobre os primeiros anos da carreira de José Manuel. Por esse motivo, tendo em conta que a data de nascimento deste lateral é de 15 de Fevereiro de 1958 e que o primeiro registo encontrado, por mim, da sua passagem pelo futebol vem da temporada de 1972/73, então, arrisco-me a afirmar que faltarão, pelo menos, os 4 primeiros anos da sua carreira entre as competições organizadas para os seniores!
Assim sendo, restar-me-á sublinhar que José Manuel terá participado, com as cores do Oriental, na derradeira campanha de subida da agremiação lisboeta à 1ª divisão. Já no convívio com os “grandes”, num grupo de trabalho comandado por Pedro Gomes e com colegas de balneário como Quim, Móia, Amílcar, Zeca, José Carlos ou Armando, José Manuel, como o dono de um dos lugares no “onze” da equipa sediada no popular bairro de Marvila, ocuparia uma posição de destaque nos diferentes estratagemas tácticos idealizados pela antiga estrela leonina. Nesse sentido, as 29 partidas competidas pelo defesa na disputa do Campeonato Nacional, serviriam, e de que maneira, como um óptimo esteio na consolidação do 12º posto conseguido, com o termo da referida competição, na tabela classificativa.
Já a época seguinte, a última da história do Oriental no convívio com os “grandes”, não seria tão faustosa para José Manuel quanto a anterior tinha sido. Ainda assim, e mesmo tendo em conta as constantes mudanças de treinador, as quais levariam ao leme do clube Carlos Silva, Ludgero Ramalho, José Carlos e José Cordeiro, o defesa-lateral conseguiria amealhar, no plano individual, um número satisfatório de exibições. Contudo, as 17 jornadas em que marcaria presença nas contendas primodivisionárias, seriam insuficientes para ajudar a sua equipa a escapar aos lugares correspondentes à liguilha e, com o falhanço do colectivo nessa última bóia de salvação, para evitar a despromoção do agregado com morada na Azinhaga dos Alfinetes.
Com a infelicidade da descida de escalão, daí em diante, a carreira de José Manuel, ao manter-se fiel aos desígnios desportivos do Clube Oriental de Lisboa, manter-se-ia nas contendas oferecidas aos patamares inferiores. Nessa corrida descendente, pior ficaria a situação do balneário marvilense quando, na temporada de 1977/78, acabaria a enfrentar as pelejas da 3ª divisão. Aliás, com a excepção da campanha de 1980/81, esse seria o novo cenário competitivo do defesa-lateral. Longe dos maiores holofotes do ludopédio português, o jogador prolongar-se-ia nas lutas futebolísticas até ao termo da época de 1982/83, ao fim da qual tomaria a decisão de “pendurar as chuteiras”.

1692 - ÂNGELO GOMES

Filho de João Gomes, antigo atleta do Marítimo, Ângelo Gomes também seguiria as pegadas do pai e entraria para os juniores dos “Leões do Almirante Reis”. Em 1962/63 chegaria a sénior e depois de também passar pelos “reservas” do clube insular, acabaria por conseguir fixar-se no conjunto principal.
Como um intérprete dotado de uma belíssima técnica e com um enorme entendimento das diferentes dinâmicas inerentes à prática da modalidade, o jogador, preferencialmente a posicionar-se em diversas funções no sector intermediário, também chegaria a jogar como defesa. Com a enorme disponibilidade revelada dentro de campo e uma atitude pessoal igualmente irrepreensível, Ângelo depressa viria a consolidar-se como um dos símbolos dos “Insulares”. Cimentado como um dos principais esteios da equipa, o atleta viria a participar em variadíssimos momentos de grande importância histórica para o colectivo madeirense e depois de dar o seu enorme contributo em muitas das conquistas regionais, o regresso do Marítimo ao Campeonato Nacional sublinharia o médio como uma das maiores figuras da agremiação funchalense.
É certo que chegaria a ser “namorado” por emblemas do continente, nomeadamente pelo Vitória Futebol Clube comandado por Fernando Vaz. No entanto, porque as propostas não chegariam a interessar ao jogador ou porque a “Lei da Opção”, como seria o caso na aproximação aos “Sadinos”, viria a impedir a sua mudança, a verdade é que Ângelo, no decorrer da sua caminhada competitiva, nunca deixaria o Marítimo. Nesse sentido, numa altura em que já partilhava o balneário com o irmão Rui Gomes e com outros nomes como, Tininho, Noémio, Calisto ou Eduardinho, o médio faria parte do plantel que, sob a alçada do treinador Alberto Sachse, participaria, pela primeira vez na história, nas pelejas agendadas para a 2ª divisão.
Depois dessa campanha de 1973/74, onde logo os “Insulares” mostrariam intenções de lutar pelos lugares cimeiros da Zona Sul, o final da temporada de 1976/77, numa altura em que o Marítimo era comandado por Pedro Gomes, traria a conquista do Campeonato Nacional da 2ª divisão e, por merecida consequência, a inédita promoção ao escalão maior do futebol luso.
Ângelo, como um dos mais experientes dos “Verde-rubros”, mesmo no convívio com os “grandes”, saberia, força da sua mestria com a bola nos pés, conservar em si a figura de um dos homens mais importantes nas pelejas primodivisionárias de 1977/78. Consumada essa época de arranque nos cenários da 1ª divisão, no decorrer da qual concorreria por um lugar no sector intermediário também com Valter e com Nélson, a verdade é que o atleta, fruto da sua veterania, perderia algum do fôlego de temporadas anteriores. Ainda assim, manter-se-ia preponderante para o cevar da força anímica, vontade tão necessária aos desempenhos colectivos. Tamanho peso, mantê-lo-ia, sempre no degrau maior, integrado no grupo de trabalho do Marítimo. Já o final da campanha de 1979/80, cumpridas, segundo os dados oficiais fornecidos pelo emblema madeirense, 627 partidas e 357 golos concretizados, traria, àquele que sempre será um dos grandes símbolos dos “Leões do Almirante Reis”, o “pendurar das chuteiras”.

1691 - RAUL MOREIRA

Com a formação terminada ao serviço do Carcavelos, seria também no emblema da Linha de Cascais que Raul Francisco dos Santos Moreira, na campanha de 1952/53, chegaria a sénior. Mesmo ao representar uma equipa modesta, a verdade é que os seus desempenhos seriam suficientes para justificar a mudança para um dos maiores emblemas lusos da altura. No Belenenses a partir da temporada de 1953/54, o jovem jogador ainda teria de esperar mais uma época para chegar à equipa principal e esse objectivo, no decorrer do Campeonato Nacional a dar a 2ª posição aos “Azuis” na 1ª divisão de 1954/55, cumprir-se-ia com a chamada do técnico Fernando Riera.
Tendo também actuado a médio, seria como defesa que Raul Moreira mereceria os mais rasgados elogios. Aferido como um intérprete rápido e com uma boa leitura de jogo, a temporada de 1955/56 serviria para consagrá-lo como uma das grandes figuras a actuar nas provas lusas. A justificação para tal acréscimo de valor viria, essencialmente, com as chamadas às selecções. Começaria, na referida época, pela equipa “militar”. Nesse contexto competitivo, o ponto alto, através da chamada de Ribeiro dos Reis e com Otto Glória como treinador de campo, vivê-lo-ia, com presença na final do certame, na vitória portuguesa na edição de 1958 do Torneio Internacional Militar. Representaria igualmente o conjunto “B”, com a estreia, frente a um agregado do Sarre (região pertencente à Republica Federal da Alemanha), a acontecer a 3 de Junho de 1956. Posteriormente, a 16 de Junho de 1957, emergiria finalmente a oportunidade de vestir a principal “camisola das quinas” e, pela mão de Tavares Silva, num particular forasteiro frente ao Brasil, alcançaria 1 internacionalização “A”.
Voltando ao cenário clubístico, a temporada de 1955/56 serviria também para cimentar Raul Moreira como um dos titulares do Belenenses. Tal estatuto cimentá-lo-ia como um dos principais esteios da equipa lisboeta na luta pelos lugares cimeiros das competições de índole interno. Curiosamente, seria numa altura em que já tinha deixado de ser hegemónico nas escolhas dos técnicos que o defesa seria chamado, por Otto Glória, a disputar a final da Taça de Portugal. No duelo frente ao Sporting, esgrimida a contenda no Estádio Nacional, o jogador faria parte do “onze” inicial, daria um enorme contributo para a vitória dos “Azuis” por 2-1 e sairia do Jamor com o troféu correspondente à conquista da edição de 1959/60 da “Prova Rainha”.
Com a ligação de 8 anos ao Belenenses a terminar no final das provas agendadas para 1960/61, Raul Moreira acabaria por prosseguir a caminhada competitiva com outras cores. Depois do Restelo, sem sair da 1ª divisão, seguir-se-ia o Estádio Mário Duarte, a descida de escalão nessa época de estreia pelo Beira-mar e, na disputa do 2º escalão, outra campanha passada em Aveiro. Por fim, em definitivo afastado dos palcos principais do futebol português, apareceriam o regresso a Lisboa, para representar o Atlético, e o fim da carreira de futebolista, após envergar as insígnias do União de Lamas de 1965/66.

1690 - RANDOLPH GALLOWAY

Com grandes aptidões para o desporto, Randolph Septimus Galloway teria no rugby e no atletismo as duas primeiras paixões competitivas. No entanto, seria no futebol que veria as suas aptidões físicas mais valorizadas. Terminadas as comissões militares no âmbito da I Grande Guerra, o jovem praticante, ao regressar à terra natal, teria no Sunderland Tramways a grande oportunidade para encetar a carreira. Começaria como defesa-central e durante diversas temporadas manter-se-ia como uma das estrelas do emblema sediado no nordeste inglês.
A qualidade revelada durante esses primeiros anos da carreira levá-lo-ia a ser cobiçado por emblemas de maior monta. Ao treinar à experiência durante cerca de um mês, os bons desempenhos alcançados durante esse período, fariam com que os responsáveis pelo Derby County, no reforço do plantel de 1921/22, oferecessem um contrato profissional ao jogador. Progressivamente a conquistar um lugar na equipa, onde também começaria a revelar aptidões para o desempenho das funções associadas aos pontas-de-lança, Randolph Galloway veria a sua cotação a subir. Como uma das figuras do emblema das East Midlands, o atleta ajudaria o clube a chegar às meias-finais da edição de 1922/23 da FA Cup. No ano seguinte, os 21 golos concretizados na Liga conferir-lhe-iam uma maior atractividade e mesmo nunca tendo passado do 2º escalão inglês, outras agremiações viriam no seu encalço.
Com o Liverpool a adiantar-se na corrida pela sua contratação, seria o Nottingham Forest, com uma proposta superior, a conseguir convencer o atleta. A mudança para o City Ground faria com o jogador, nessa campanha de 1924/25, efectuasse a sua estreia na First Division. Contudo, a referida temporada, em termos individuais e colectivos, não correria de feição. Com poucas partidas disputadas e ainda menos golos concretizados, o pior surgiria, no termo da época, com a descida de patamar. Galloway, de volta às pelejas do degrau secundário, ainda continuaria a representar os “Garibaldis” por mais dois anos, mas mantendo-se a discrição exibicional, a mudança para o Luton Town de 1927/28 emergiria como a melhor solução para a sua caminhada competitiva.
A verdade é que a chegada a Kenilworth Road não traria grandes mudanças a uma etapa menos boa do avançado. Apesar de ser aferido como um atacante possante, rápido e dono de um bom remate com ambos os pés, Randolph Galloway vestiria a camisola dos “Hatters” somente por alguns meses. Em Janeiro de 1928, dando seguimento a uma fase mais errante do seu trajecto, o ponta-de-lança seria apresentado como reforço do Coventry City. Já no início da temporada seguinte seria a vez do Tottenham Hotspurs apresentar o jogador como membro integrante do seu plantel. Em White Hart Lane, com um arranque fulgurante, o avançado-centro ainda alimentaria a ideia de uma espécie de renascimento. Porém, uma terrível lesão deitaria por terra tais esperanças e o resto da época, passada entre a equipa principal e os “reservas”, empurrá-lo-ia para a decisão de deixar a competição profissional.
De regresso à zona de onde era originário, Randolph Galloway, por um par de ocasiões, ainda abraçaria os desafios lançados aos amadores do Grantham Town. Definitivamente afastado das tarefas de futebolista, ainda assim, o antigo avançado não deixaria a modalidade. Logo na campanha seguinte a “pendurar as chuteiras”, o convite do Sporting Gijón levá-lo-ia até Espanha. No país de “Nuestros Hermanos” ainda passaria por Valência e pelo Racing Santander. Depois, com o termo da 2ª Guerra Mundial, viriam as passagens pela selecção do Costa Rica, pelos uruguaios do Peñarol e pelos suíços do Young Fellows Zürich.
Finalmente, a temporada de 1950/51 trá-lo-ia até Portugal. Como treinador do Sporting, Randolph Galloway marcou um período de 3 temporadas caracterizadas pelas saídas e entradas de muitos jogadores. Ainda assim, apesar dessa pequena revolução, o saldo da sua passagem por Lisboa seria deveras positivo, com os “Leões” a conquistar o segundo Tricampeonato da história da agremiação “alfacinha”.
Por fim, há que fazer referência à experiência vivida com o plantel de 1954/55 do Vitória Sport Clube, onde os resultados iriam contra o planeado, com o emblema minhoto, finda a referida temporada, a ter de enfrentar a descida de divisão.

1689 - MIROSLAV

Com a entrada na equipa principal do NK Osijek a acontecer na temporada de 1986/87, não demoraria muito tempo até que Miroslav Zitnjak começasse a assumir um papel de alguma relevância no cenário futebolístico da antiga Jugoslávia. A prova da sua crescente importância chegaria com as recorrentes chamadas às jovens selecções do seu país natal. Paralelamente a essas aparições internacionais, a forma recorrente com viria a aparecer no “onze” escolhido para as pelejas do clube serviriam, igualmente, para alimentar a sua cotação e o final da temporada de 1991/92 trariam à caminhada do guarda-redes outros pontos de enorme valorização.
Chamado por Stanko Poklepovic à selecção principal da Croácia, o guardião entraria em campo ao lado de Robert Spehar, avançado que teria uma fugaz passagem pelo Sporting. Essa partida de carácter particular, disputada, a 12 de Julho de 1992 frente à Austrália, antecederia a sua transferência para o NK Zagreb. A mudança para uma colectividade a lutar pelos lugares cimeiros da tabela classificativa da recém-criada Liga croata, e com números aceitáveis a justificar a sua continuidade no clube, cimentá-lo-ia como um nome de monta naquele cenário competitivo. Ainda assim, a verdade é que a passagem de Miroslav pela nova agremiação duraria apenas um par de campanhas. Seguir-se-ia, na época de 1994/95, o regresso ao NK Osijek e, com a temporada seguinte já em andamento, surgiria a mudança para o futebol de outro país.
A chegada a Portugal dar-se-ia pelas portas da União de Leiria. Treinado, nessa temporada de 1995/96, por Vítor Manuel, o guarda-redes depressa viria a assumir-se como uma das boas contratações do clube sediado na Beira Litoral. Titular do emblema da “Cidade do Lis”, Miroslav contribuiria para alguns dos bons resultados colectivos registados durante a sua passagem pelo clube. No entanto, para além de ajudar a colectividade a atingir as meias-finais da Taça de Portugal no ano da sua entrada no Estádio Municipal Dr. Magalhães Pessoa ou de ter participado activamente no 6º lugar obtido na edição de 1998/99 do Campeonato Nacional da 1ª divisão, o guardião também veria o seu currículo manchado pela descida de escalão verificada no termo das provas agendadas para a época de 1996/97.
Mesmo com altos e baixos na sua experiência leiriense, o guarda-redes transformar-se-ia numa das grandes figuras do clube na década de 1990. Numa fase em que já tinha perdido alguma da preponderância de anos anteriores, o jogador, no decorrer da temporada de 2000/01, poria termo à sua ligação à União de Leiria. Depois voltaria ao NK Osijek e, apenas alguns meses após o referido regresso, emergiria o final da carreira.
Já com as “chuteiras penduradas”, o antigo atleta passaria a dedicar-se às questões técnicas. Mantendo-se no emblema croata referido no parágrafo anterior, Miroslav começaria por desempenhar as tarefas de treinador para, posteriormente, experimentar o cargo de director-desportivo.

1688 - NECA

Formado no Leixões, seria igualmente na colectividade fundada em Matosinhos que Manuel Joaquim Amador Magalhães, popularizado como Neca, faria a transição para as competições seniores. Com o arranque na equipa principal a acontecer na temporada de 1967/68, o jovem médio, chamado às contendas da 1ª divisão por António Teixeira, desde logo teria um enorme impacto nos resultados colectivos dos “Bebés do Mar” e contribuiria, como um dos homens mais vezes chamado ao “onze” inicial, para o 8º lugar no Campeonato Nacional.
Nas épocas seguintes, Neca conseguiria manter a preponderância inicialmente conquistada. Nesse contexto competitivo, seria chamado para a participação do Leixões na Taça das Cidades com Feira. Na edição de 1968/69 da mencionada competição de índole continental, convocado por José Águas, o médio participaria em ambas as mãos da ronda a opor o conjunto português ao Arges Pitesti. Infelizmente para o listado alvirrubro, os dois empates verificados nos dois jogos agendados para a aludida ronda, com a regra dos golos forasteiros a ditar o desempate, fariam pender a decisão da contenda para o lado do agregado romeno.
Na época de 1969/70, Neca continuaria a conservar para si um papel de fulcral importância para os desenvolvimentos tácticos da sua equipa, nomeadamente para as dinâmicas do sector intermediário. No entanto, contrariando o crescimento constatado até aí, o médio começaria a perder o fulgor a projectá-lo, inclusive, para voos de montas maiores. A partir de 1970/71, o jogador viria, progressivamente, a desaparecer dos intentos tácticos dos diferentes treinadores contratados para o comando técnico do Leixões. Mesmo ao manter números individuais bastante aceitáveis, a verdade é que deixaria de chegar à titularidade com a frequência com que havia habituado os associados da colectividade a jogar em casa no Estádio do Mar. Nesse sentido, o final da primeira metade da década de 1970 marcaria um ponto de cisão na sua carreira e a campanha de 1975/76 apresentaria o atleta como reforço do Riopele.
Com a entrada no emblema da Pousada de Saramagos, Neca passaria a disputar o 2º escalão. Todavia, com o emblema associado à indústria têxtil a investir fortemente no futebol profissional, o médio, num grupo de trabalho orientado por Ferreirinha e a incluir nomes como Jorge Jesus, Padrão, Trindade, Fonseca ou Messias, teria, na temporada de 1977/78, o regresso ao patamar máximo do futebol luso. Porém, esse revisitar da 1ª divisão, durante o qual não conseguiria conquistar a titularidade, seria de pouca dura e a sua equipa, com o termo da campanha referida neste parágrafo, acabaria por claudicar na feroz luta pela manutenção.
Ao permanecer durante mais uma temporada no emblema do concelho de Famalicão, Neca veria a emergir na época de 1979/80 um nova mudança no seu rumo profissional, com o Lusitânia de Lourosa, dessa feita, a acolher os seus préstimos competitivos. Contudo, numa caminhada desportiva a entrar nos derradeiros capítulos, o médio, ao manter-se nas contendas dos degraus inferiores, ainda representaria outras agremiações e o Vilanovense e o Leça, numa carreira que findaria com o encerrar das provas entregues a 1983/84, ainda teriam tempo para colorir o trajecto do médio.

1687 - ADÉRITO

Apesar de ter concluído o percurso formativo com as cores do Benfica, seria em Trás-os-Montes, de onde é natural, que Adérito Luís Gonçalves Pires daria os primeiros passos como sénior. No GD Bragança a partir da temporada de 1973/74, o médio, que chegaria a actuar como avançado-centro, começaria por disputar a 3ª divisão. Aliás, as épocas seguintes à da sua estreia pelos “Canarinhos” do nordeste português, incluindo uma pequena passagem pelo Vila Real de 1977/78, mantê-lo-iam nas contendas dos escalões inferiores do futebol português. Tal paradigma viria apenas a mudar passados 8 anos e sua transferência para outra colectividade levá-lo-ia a pôr os olhos noutros horizontes.
Com a mudança do GD Bragança para o Rio Ave em 1981/82, Adérito, nessa campanha de chegada a Vila do Conde, faria a estreia no patamar maior. Porém, o médio não ficaria contente apenas com esses primeiros passos dados entre “grandes”. Também na referida temporada, o jogador conseguiria assumir-se como um dos esteios do conjunto a trabalhar sob a alçada de Mourinho Félix. Tal preponderância nos esquemas tácticos idealizados pelo aludido técnico, levá-lo-ia a consagrar-se como um dos principais nomes do 5º lugar conquistado com o termo do Campeonato Nacional. Ao manter o estatuto nos anos vindouros, o centrocampista viria igualmente a ser chamado a outro momento de crucial importância na história dos “Rioavistas”. Com o emblema nortenho a caminhar valentemente na Taça de Portugal de 1983/84, a chegada ao derradeiro encontro da prova, levaria o atleta a ser chamado à peleja agendada para o Estádio Nacional. Titular no Jamor, o atleta veria a sua equipa claudicar perante a forte réplica dada pelo FC Porto e assistira, após a derrota por 4-1, à partida do almejado troféu na direcção da “Cidade Invicta”.
Por razão da boa campanha na “Prova Rainha”, mesmo tendo em conta o desaire ocorrido na final, a cotação do médio subiria. Esse acréscimo de valor levá-lo-ia a ser cobiçado por outras agremiações. Curiosamente, a transferência para o Marítimo de 1984/85 empurrá-lo-ia para a disputa da 2ª divisão. Ainda assim, esse pequeno retrocesso duraria pouco tempo. Com os “Verde-rubro”, logo na campanha seguinte, a regressarem ao degrau maior do futebol luso, o jogador manter-se-ia, nessa aventura funchalense, como um dos titulares de Mário Nunes e, com a saída deste, de António Oliveira. Porém, mesmo cimentado como um elemento de valor primodivisionário, Adérito, mais uma vez, tomaria uma decisão algo surpreendente para o seu trajecto competitivo e na temporada de 1986/87, descendo ao 2º escalão, acabaria apresentado como reforço do Nacional da Madeira.
O regresso do jogador à 1ª divisão dar-se-ia, na temporada de 1987/88, por convite d’ “O Elvas”. No emblema alentejano, onde voltaria a trabalhar sob a intendência de Mário Nunes, o médio-centro viveria a derradeira campanha entre os “grandes”. Depois de uma época ao serviço da colectividade raiana, e com a descida dos “Azuis e Ouro”, o jogador decidir-se-ia pelo regresso a um clube bem conhecido e ao fim de dois anos com as cores do GD Bragança, onde desempenharia as funções de treinador-jogador, Adérito, findas as provas de 1989/90, tomaria a decisão de “pendurar as chuteiras”.
Já retirado das lides de futebolista, Adérito abraçaria, em exclusivo, as tarefas de técnico. Nesse papel, teria algumas experiências nos escalões inferiores e chegaria a orientar emblemas como o Montalegre, o Oliveira do Hospital, o Mirandela ou o Marítimo da Graciosa.
Como curiosidade, refira-se o seu regresso à prática desportiva federada, dessa feita no futsal e com as cores do Graciosa FC de 2002/03.

1686 - ELÓI

Com o começo da carreira desportiva cumprida entre o Andradina FC e a Associação Esportiva Araçatube, seria já como atleta da Juventus de São Paulo, para onde viria a mudar-se em 1975, que Francisco Chagas Elói começaria a destacar-se no futebol brasileiro.
Praticante de fino recorte técnico e com excelente visão de jogo, o atleta rapidamente conquistaria um lugar no “Moleque Travesso”. Já com vários emblemas no seu encalço, a campanha de 1978 apresentar-lhe-ia a Portuguesa dos Desportos. Contudo, no emblema fundado por imigrantes lusos, o médio-ofensivo não conseguiria demonstrar o seu real valor e o jogador, durante as 2 épocas seguintes, ver-se-ia ultrapassado pela concorrência interna.
Só com uma nova mudança de agremiação é que voltaria a recuperar a magia perdida. O Inter de Limeira, com a transferência a ocorrer no decorrer de 1980, devolvê-lo-ia às boas exibições. Seguir-se-ia, com o Grêmio e o Cruzeiro a “namorar” a sua contratação, a mudança, em Abril de 1981, para o Santos. No entanto, o muito especulado mau ambiente no balneário do “Peixe” minaria o caminho do jogador. Depois viria uma rápida passagem pelo, referido neste parágrafo, emblema de Belo Horizonte e finalmente a chegada ao América do Rio de Janeiro.
O destaque na formação “carioca” valer-lhe-ia, depois das vitórias no Torneio dos Campeões e na Taça Rio, a mudança para o Vasco da Gama de 1983. Em São Januário, ao lado do inolvidável Roberto Dinamite, Elói brilharia ao ponto de merecer o interesse de emblemas europeus. Bem cotado do outro lado do oceano Atlântico, seria o Genoa de 1983/84 a abrir-lhe as portas do Calcio. A época de estreia na Serie A, comandado por Luigi Simoni, daria ao currículo do médio números de aceitável monta. O pior surgiria com a despromoção do clube e com disputa, na campanha subsequente, do patamar secundário de Itália. Tal desaire fá-lo-ia regressar ao Brasil, nesse caso para representar o Botafogo. Contudo, a passagem pelo “Fogão” seria curta e, de volta ao “Velho Continente”, passaria a envergar a camisola do FC Porto.
Nos “Dragões” de 1985/86, o médio-ofensivo enfrentaria vários obstáculos para conseguir impor o seu jogo. Logo nessa época, numa partida a contar para a 2ª mão da Supertaça, perdido o troféu para o Benfica, Elói viveria uma situação no mínimo caricata e bem elucidativa das dificuldades que teria para começar a entender a mentalidade do treinador – “(…) o Artur Jorge substituiu-me aos 27 minutos. Estranhei, não estava a jogar mal, mas aceitei. Só uns dias depois é que entendi tudo (…). Ele viu-me a passar e chamou-me: «brasileiro, anda cá. Vou explicar-te uma coisa: nesta equipa, o único que tem a minha autorização para fazer chapéus aos adversários é o Madjer. Estamos entendidos?». Caiu-me tudo!”*.
Apesar da pequena peripécia, o jogador, apesar de nunca ter passado da condição de suplente, continuaria a contar para o aludido treinador. Nesse sentido, contribuiria para as conquistas do Campeonato Nacional de 1985/86 e da Supertaça da época seguinte. Porém, a temporada de 1986/87 haveria de trazer ao jogador outro episódio do qual, posteriormente, viria a arrepender-se e o médio, após ajudar na campanha a desaguar na vitória da Taça dos Clubes Campeões Europeus, e a umas semanas da decisiva partida de Viena, tomaria a decisão de rescindir o contrato com os “Azuis e Brancos” – “(…) eu assisti a essa final e à da neve, contra o Peñarol. Senti que devia estar lá com os meus companheiros do FC Porto. Tive dois anos bons e, por precipitação, afastei-me antes dos melhores momentos. Castigo-me por isso”*.
Após voltar ao América por alguns meses, o seu regresso a Portugal far-se-ia através do plantel de 1988/89 do Boavista. Pelas provas lusas, dessa feita no escalão secundário, ainda representaria o Louletano de 1989/90. Depois surgiria a última grande etapa da sua carreira e a presença nas provas brasileiras até passar a barreira dos 40 anos de idade. Nesse trajecto, representaria emblemas como o Campo Grande, o Fluminense, Fortaleza, Ceará, Catanduvense e Nacional de Manaus, onde viria a “pendurar as chuteiras” com o termo das provas agendadas para 1996. Seguir-se-ia a sua caminhada como técnico, a qual levaria Elói a orientar o Anapolina de Goiás, o Rubro Social ou o América do Rio de Janeiro

*retirado do artigo de Pedro Jorge da Cunha, publicado a 30/04/2014, em https://maisfutebol.iol.pt

1685 - LINO

Defesa-lateral que podia posicionar-se em ambos os lados do sector mais recuado, José Lino Brás de Sousa, antes ainda de encetar a caminhada na equipa principal do Vitória Futebol Clube, teria nos conjuntos à guarda da Federação Portuguesa de Futebol o primeiro grande escaparate. Chamado, a 11 de Novembro de 1968, aos actualmente designados por sub-18, o jovem jogador, ao lado de outros intérpretes que haveriam de singrar no mais alto patamar luso, casos de Peixoto, Jacinto, Carolino, Vítor Manuel, Vieirinha ou Nicolau Vaqueiro, daria o primeiro passo num trajecto internacional a levá-lo, alguns meses após esse particular frente a França e sem sair do referido escalão competitivo, a uma segunda partida com a “camisola das quinas”.
Já no que diz respeito ao trajecto sénior, o defesa teria nas escolhas de José Maria Pedroto a sua grande oportunidade. Nesse sentido, ao ser arrolado, pelo referido treinador, às pelejas dos “Sadinos”, o atleta, na temporada de 1969/70, não só faria a estreia na 1ª divisão, como ajudaria o colectivo a jogar em casa no Estádio do Bonfim a terminar o Campeonato Nacional na 3ª posição da tabela classificativa. No entanto, apesar de reconhecido todo o seu potencial, a verdade é que ainda demorariam alguns anos até que Lino conseguisse ganhar algum protagonismo no seio do plantel do Vitória Futebol Clube. Tapado por outros colegas mais tarimbados, como são exemplo os internacionais Rebelo, Carriço ou Conceição, tal preponderância começaria a emergir apenas na campanha de 1973/74. Coincidentemente, a referida época traduzir-se-ia por um novo 3º lugar na principal prova do calendário futebolístico português e pela chegada do emblema luso, com a participação directa do lateral nas rondas frente ao Beerschot e ao Stuttgart, até aos quartos-de-final da Taça UEFA.
As 3 campanhas subsequentes trariam, de forma quase incontestada, a titularidade ao defesa-lateral. A verdade é que, mesmo com essa tríade de temporadas a representar, em partidas jogadas, praticamente o mesmo número das restantes épocas em que representou o emblema setubalense, Lino, com o termo das competições planeadas para 1976/77, veria o seu paradigma competitivo a mudar radicalmente. Daí em diante perderia a preponderância que havia conquistado anteriormente e, por conseguinte, deixaria de ser aferido como um dos habituais futebolistas a inscrever o seu nome no “onze” do Vitória Futebol Clube.
Mesmo perdida alguma importância, Lino manter-se-ia como um membro relevante nas dinâmicas do conjunto. Esse inegável peso, segurá-lo-ia a trabalhar com o listado verde e branco durante mais uns bons anos. A continuidade no emblema sediado na cidade de Setúbal, no total da sua carreira sénior, dar-lhe-ia a oportunidade de criar uma ligação a ultrapassar a década de duração. Numa união que, segundo os dados oficiais da Federação Portuguesa de Futebol viria a prolongar-se, inclusive, até à temporada de 1981/82,o defesa-lateral, de forma inata, juntar-se-ia aos notáveis daquela agremiação e mereceria a inscrição do seu nome no restrito rol de desportistas históricos do Vitória Futebol Clube.

1684 - REINALDO

 

Seria ao serviço do Ginásio de Alcobaça que Reinaldo Almeida Lopes da Silva teria o arranque da caminhada enquanto sénior. No entanto, 1982/83 não seria apenas a campanha de estreia do ponta-de-lança na equipa principal. Com a temporada a representar o começo do trajecto do referido clube no Campeonato Nacional da 1ª divisão, a visibilidade que o atleta conseguiria conquistar abrir-lhe-ia as portas para outros cenários competitivos. Nesse campo, as chamadas às jovens equipas sob a alçada da Federação Portuguesa de Futebol acabariam a sublinhar as expectativas depositadas no avançado. Com a partida inicial com a “camisola das quinas” a ocorrer a 13 de Abril de 1983, esse jogo de preparação disputado frente à Argélia, onde concretizaria um golo, daria jus, sempre integrado nos “esperanças” lusos, a outras partidas de cariz internacional. Seguir-se-iam mais chamadas, as quais, num total de 5 partidas por Portugal, terminariam com a sua participação, chamado por António Oliveira, à edição de 1987 do Torneio de Toulon.
Retornando ao percurso clubístico, o avançado, mesmo com a concorrência de atletas como Cavungi ou João Cabral, acabaria por merecer algumas oportunidades no conjunto sediado na região do Oeste. Se acrescentarmos, a essas partidas disputadas no âmbito das provas nacionais, os jogos cumpridos pela selecção portuguesa, então, facilmente perceberemos, perante a teimosa militância do Ginásio de Alcobaça no patamar secundário, o interesse de outras colectividades na contratação do jovem atacante.
A mudança levaria Reinaldo a ser apresentado, na temporada de 1984/85, como reforço da Académica de Coimbra. Já como elemento da “Briosa”, o ponta-de-lança apontaria a um lugar de destaque dentro do plantel. Tanto na época de chegada à “Cidade dos Estudantes, como nas seguintes, o jogador vincar-se-ia como um dos membros mais activos no seio da equipa. A sua importância para os diferentes técnicos fá-lo-ia apontar sempre para uma possível presença no “onze” inicial. Recorrentemente chamado à titularidade, a descida dos “Estudantes” no termo da campanha de 1987/88 não impediria a sua continuidade ao serviço do conjunto a vestir de negro. Todavia, a insistência da Académica de Coimbra nos resultados colectivos a impossibilitar o regresso ao convívio com os “grandes”, empurraria o ponta-de-lança para uma mudança de emblema e seria o Penafiel a acolher as suas ambições primodivisionárias.
No emblema duriense, onde, em 1990/91, voltaria a trabalhar com Vítor Manuel, seu antigo treinador na Académica, Reinaldo, tal como tinha acontecido em épocas anteriores, rapidamente asseguraria um lugar como titular. Curiosamente, o ano seguinte ao da sua entrada no Estádio Municipal 25 de Abril, no qual não seria utilizado com tanta regularidade, terminaria com a descida do clube. Depois de mais uma campanha nas pelejas do patamar secundário, uma nova mudança de colectividade acabaria a encaminhar o jogador para os principais palcos do cenário futebolístico português. Ainda assim, a transferência para o plantel de 1993/94 da União de Leiria, não cumpriria, de imediato, os objectivos da tal subida. A projectada meta emergiria apenas na época seguinte à da chegada à “Cidade do Lis”, campanha, no decorrer da qual, mais uma vez, seria orientado por Vítor Manuel.
Numa carreira a escrever os derradeiros capítulos, a passagem de um ano pelo Campomaiorense serviria para acrescentar ao seu currículo a vitória na divisão de Honra de 1996/97. Contudo, a tal conquista não viria a traduzir-se na sua continuidade na agremiação alentejana. Contrariamente ao que os desempenhos do ponta-de-lança poderiam indiciar, o retorno à divisão maior não cativaria o jogador e a sua preferência empurrá-lo-ia para o regresso a um clube, por si, bem conhecido. De volta à União de Leiria, tal como tinha acontecido ao serviço dos “Galgos”, o atleta daria um enorme contributo para o triunfo naquele que é o segundo degrau luso. Dessa feita, o avançado manter-se-ia com a mesma camisola e tal opção, na temporada de 1998/99, devolvê-lo-ia ao convívio com os “grandes”. Conservar-se-ia nesse contexto competitivo por mais uma campanha e a temporada seguinte traduzir-se-ia pelo arranque na “Cidade do Lis”, pela mudança para a Académica de Coimbra e pela decisão de “pendurar as chuteiras” com o termo de 1999/00.