1687 - ADÉRITO

Apesar de ter concluído o percurso formativo com as cores do Benfica, seria em Trás-os-Montes, de onde é natural, que Adérito Luís Gonçalves Pires daria os primeiros passos como sénior. No GD Bragança a partir da temporada de 1973/74, o médio, que chegaria a actuar como avançado-centro, começaria por disputar a 3ª divisão. Aliás, as épocas seguintes à da sua estreia pelos “Canarinhos” do nordeste português, incluindo uma pequena passagem pelo Vila Real de 1977/78, mantê-lo-iam nas contendas dos escalões inferiores do futebol português. Tal paradigma viria apenas a mudar passados 8 anos e sua transferência para outra colectividade levá-lo-ia a pôr os olhos noutros horizontes.
Com a mudança do GD Bragança para o Rio Ave em 1981/82, Adérito, nessa campanha de chegada a Vila do Conde, faria a estreia no patamar maior. Porém, o médio não ficaria contente apenas com esses primeiros passos dados entre “grandes”. Também na referida temporada, o jogador conseguiria assumir-se como um dos esteios do conjunto a trabalhar sob a alçada de Mourinho Félix. Tal preponderância nos esquemas tácticos idealizados pelo aludido técnico, levá-lo-ia a consagrar-se como um dos principais nomes do 5º lugar conquistado com o termo do Campeonato Nacional. Ao manter o estatuto nos anos vindouros, o centrocampista viria igualmente a ser chamado a outro momento de crucial importância na história dos “Rioavistas”. Com o emblema nortenho a caminhar valentemente na Taça de Portugal de 1983/84, a chegada ao derradeiro encontro da prova, levaria o atleta a ser chamado à peleja agendada para o Estádio Nacional. Titular no Jamor, o atleta veria a sua equipa claudicar perante a forte réplica dada pelo FC Porto e assistira, após a derrota por 4-1, à partida do almejado troféu na direcção da “Cidade Invicta”.
Por razão da boa campanha na “Prova Rainha”, mesmo tendo em conta o desaire ocorrido na final, a cotação do médio subiria. Esse acréscimo de valor levá-lo-ia a ser cobiçado por outras agremiações. Curiosamente, a transferência para o Marítimo de 1984/85 empurrá-lo-ia para a disputa da 2ª divisão. Ainda assim, esse pequeno retrocesso duraria pouco tempo. Com os “Verde-rubro”, logo na campanha seguinte, a regressarem ao degrau maior do futebol luso, o jogador manter-se-ia, nessa aventura funchalense, como um dos titulares de Mário Nunes e, com a saída deste, de António Oliveira. Porém, mesmo cimentado como um elemento de valor primodivisionário, Adérito, mais uma vez, tomaria uma decisão algo surpreendente para o seu trajecto competitivo e na temporada de 1986/87, descendo ao 2º escalão, acabaria apresentado como reforço do Nacional da Madeira.
O regresso do jogador à 1ª divisão dar-se-ia, na temporada de 1987/88, por convite d’ “O Elvas”. No emblema alentejano, onde voltaria a trabalhar sob a intendência de Mário Nunes, o médio-centro viveria a derradeira campanha entre os “grandes”. Depois de uma época ao serviço da colectividade raiana, e com a descida dos “Azuis e Ouro”, o jogador decidir-se-ia pelo regresso a um clube bem conhecido e ao fim de dois anos com as cores do GD Bragança, onde desempenharia as funções de treinador-jogador, Adérito, findas as provas de 1989/90, tomaria a decisão de “pendurar as chuteiras”.
Já retirado das lides de futebolista, Adérito abraçaria, em exclusivo, as tarefas de técnico. Nesse papel, teria algumas experiências nos escalões inferiores e chegaria a orientar emblemas como o Montalegre, o Oliveira do Hospital, o Mirandela ou o Marítimo da Graciosa.
Como curiosidade, refira-se o seu regresso à prática desportiva federada, dessa feita no futsal e com as cores do Graciosa FC de 2002/03.

1686 - ELÓI

Com o começo da carreira desportiva cumprida entre o Andradina FC e a Associação Esportiva Araçatube, seria já como atleta da Juventus de São Paulo, para onde viria a mudar-se em 1975, que Francisco Chagas Elói começaria a destacar-se no futebol brasileiro.
Praticante de fino recorte técnico e com excelente visão de jogo, o atleta rapidamente conquistaria um lugar no “Moleque Travesso”. Já com vários emblemas no seu encalço, a campanha de 1978 apresentar-lhe-ia a Portuguesa dos Desportos. Contudo, no emblema fundado por imigrantes lusos, o médio-ofensivo não conseguiria demonstrar o seu real valor e o jogador, durante as 2 épocas seguintes, ver-se-ia ultrapassado pela concorrência interna.
Só com uma nova mudança de agremiação é que voltaria a recuperar a magia perdida. O Inter de Limeira, com a transferência a ocorrer no decorrer de 1980, devolvê-lo-ia às boas exibições. Seguir-se-ia, com o Grêmio e o Cruzeiro a “namorar” a sua contratação, a mudança, em Abril de 1981, para o Santos. No entanto, o muito especulado mau ambiente no balneário do “Peixe” minaria o caminho do jogador. Depois viria uma rápida passagem pelo, referido neste parágrafo, emblema de Belo Horizonte e finalmente a chegada ao América do Rio de Janeiro.
O destaque na formação “carioca” valer-lhe-ia, depois das vitórias no Torneio dos Campeões e na Taça Rio, a mudança para o Vasco da Gama de 1983. Em São Januário, ao lado do inolvidável Roberto Dinamite, Elói brilharia ao ponto de merecer o interesse de emblemas europeus. Bem cotado do outro lado do oceano Atlântico, seria o Genoa de 1983/84 a abrir-lhe as portas do Calcio. A época de estreia na Serie A, comandado por Luigi Simoni, daria ao currículo do médio números de aceitável monta. O pior surgiria com a despromoção do clube e com disputa, na campanha subsequente, do patamar secundário de Itália. Tal desaire fá-lo-ia regressar ao Brasil, nesse caso para representar o Botafogo. Contudo, a passagem pelo “Fogão” seria curta e, de volta ao “Velho Continente”, passaria a envergar a camisola do FC Porto.
Nos “Dragões” de 1985/86, o médio-ofensivo enfrentaria vários obstáculos para conseguir impor o seu jogo. Logo nessa época, numa partida a contar para a 2ª mão da Supertaça, perdido o troféu para o Benfica, Elói viveria uma situação no mínimo caricata e bem elucidativa das dificuldades que teria para começar a entender a mentalidade do treinador – “(…) o Artur Jorge substituiu-me aos 27 minutos. Estranhei, não estava a jogar mal, mas aceitei. Só uns dias depois é que entendi tudo (…). Ele viu-me a passar e chamou-me: «brasileiro, anda cá. Vou explicar-te uma coisa: nesta equipa, o único que tem a minha autorização para fazer chapéus aos adversários é o Madjer. Estamos entendidos?». Caiu-me tudo!”*.
Apesar da pequena peripécia, o jogador, apesar de nunca ter passado da condição de suplente, continuaria a contar para o aludido treinador. Nesse sentido, contribuiria para as conquistas do Campeonato Nacional de 1985/86 e da Supertaça da época seguinte. Porém, a temporada de 1986/87 haveria de trazer ao jogador outro episódio do qual, posteriormente, viria a arrepender-se e o médio, após ajudar na campanha a desaguar na vitória da Taça dos Clubes Campeões Europeus, e a umas semanas da decisiva partida de Viena, tomaria a decisão de rescindir o contrato com os “Azuis e Brancos” – “(…) eu assisti a essa final e à da neve, contra o Peñarol. Senti que devia estar lá com os meus companheiros do FC Porto. Tive dois anos bons e, por precipitação, afastei-me antes dos melhores momentos. Castigo-me por isso”*.
Após voltar ao América por alguns meses, o seu regresso a Portugal far-se-ia através do plantel de 1988/89 do Boavista. Pelas provas lusas, dessa feita no escalão secundário, ainda representaria o Louletano de 1989/90. Depois surgiria a última grande etapa da sua carreira e a presença nas provas brasileiras até passar a barreira dos 40 anos de idade. Nesse trajecto, representaria emblemas como o Campo Grande, o Fluminense, Fortaleza, Ceará, Catanduvense e Nacional de Manaus, onde viria a “pendurar as chuteiras” com o termo das provas agendadas para 1996. Seguir-se-ia a sua caminhada como técnico, a qual levaria Elói a orientar o Anapolina de Goiás, o Rubro Social ou o América do Rio de Janeiro

*retirado do artigo de Pedro Jorge da Cunha, publicado a 30/04/2014, em https://maisfutebol.iol.pt

1685 - LINO

Defesa-lateral que podia posicionar-se em ambos os lados do sector mais recuado, José Lino Brás de Sousa, antes ainda de encetar a caminhada na equipa principal do Vitória Futebol Clube, teria nos conjuntos à guarda da Federação Portuguesa de Futebol o primeiro grande escaparate. Chamado, a 11 de Novembro de 1968, aos actualmente designados por sub-18, o jovem jogador, ao lado de outros intérpretes que haveriam de singrar no mais alto patamar luso, casos de Peixoto, Jacinto, Carolino, Vítor Manuel, Vieirinha ou Nicolau Vaqueiro, daria o primeiro passo num trajecto internacional a levá-lo, alguns meses após esse particular frente a França e sem sair do referido escalão competitivo, a uma segunda partida com a “camisola das quinas”.
Já no que diz respeito ao trajecto sénior, o defesa teria nas escolhas de José Maria Pedroto a sua grande oportunidade. Nesse sentido, ao ser arrolado, pelo referido treinador, às pelejas dos “Sadinos”, o atleta, na temporada de 1969/70, não só faria a estreia na 1ª divisão, como ajudaria o colectivo a jogar em casa no Estádio do Bonfim a terminar o Campeonato Nacional na 3ª posição da tabela classificativa. No entanto, apesar de reconhecido todo o seu potencial, a verdade é que ainda demorariam alguns anos até que Lino conseguisse ganhar algum protagonismo no seio do plantel do Vitória Futebol Clube. Tapado por outros colegas mais tarimbados, como são exemplo os internacionais Rebelo, Carriço ou Conceição, tal preponderância começaria a emergir apenas na campanha de 1973/74. Coincidentemente, a referida época traduzir-se-ia por um novo 3º lugar na principal prova do calendário futebolístico português e pela chegada do emblema luso, com a participação directa do lateral nas rondas frente ao Beerschot e ao Stuttgart, até aos quartos-de-final da Taça UEFA.
As 3 campanhas subsequentes trariam, de forma quase incontestada, a titularidade ao defesa-lateral. A verdade é que, mesmo com essa tríade de temporadas a representar, em partidas jogadas, praticamente o mesmo número das restantes épocas em que representou o emblema setubalense, Lino, com o termo das competições planeadas para 1976/77, veria o seu paradigma competitivo a mudar radicalmente. Daí em diante perderia a preponderância que havia conquistado anteriormente e, por conseguinte, deixaria de ser aferido como um dos habituais futebolistas a inscrever o seu nome no “onze” do Vitória Futebol Clube.
Mesmo perdida alguma importância, Lino manter-se-ia como um membro relevante nas dinâmicas do conjunto. Esse inegável peso, segurá-lo-ia a trabalhar com o listado verde e branco durante mais uns bons anos. A continuidade no emblema sediado na cidade de Setúbal, no total da sua carreira sénior, dar-lhe-ia a oportunidade de criar uma ligação a ultrapassar a década de duração. Numa união que, segundo os dados oficiais da Federação Portuguesa de Futebol viria a prolongar-se, inclusive, até à temporada de 1981/82,o defesa-lateral, de forma inata, juntar-se-ia aos notáveis daquela agremiação e mereceria a inscrição do seu nome no restrito rol de desportistas históricos do Vitória Futebol Clube.

1684 - REINALDO

 

Seria ao serviço do Ginásio de Alcobaça que Reinaldo Almeida Lopes da Silva teria o arranque da caminhada enquanto sénior. No entanto, 1982/83 não seria apenas a campanha de estreia do ponta-de-lança na equipa principal. Com a temporada a representar o começo do trajecto do referido clube no Campeonato Nacional da 1ª divisão, a visibilidade que o atleta conseguiria conquistar abrir-lhe-ia as portas para outros cenários competitivos. Nesse campo, as chamadas às jovens equipas sob a alçada da Federação Portuguesa de Futebol acabariam a sublinhar as expectativas depositadas no avançado. Com a partida inicial com a “camisola das quinas” a ocorrer a 13 de Abril de 1983, esse jogo de preparação disputado frente à Argélia, onde concretizaria um golo, daria jus, sempre integrado nos “esperanças” lusos, a outras partidas de cariz internacional. Seguir-se-iam mais chamadas, as quais, num total de 5 partidas por Portugal, terminariam com a sua participação, chamado por António Oliveira, à edição de 1987 do Torneio de Toulon.
Retornando ao percurso clubístico, o avançado, mesmo com a concorrência de atletas como Cavungi ou João Cabral, acabaria por merecer algumas oportunidades no conjunto sediado na região do Oeste. Se acrescentarmos, a essas partidas disputadas no âmbito das provas nacionais, os jogos cumpridos pela selecção portuguesa, então, facilmente perceberemos, perante a teimosa militância do Ginásio de Alcobaça no patamar secundário, o interesse de outras colectividades na contratação do jovem atacante.
A mudança levaria Reinaldo a ser apresentado, na temporada de 1984/85, como reforço da Académica de Coimbra. Já como elemento da “Briosa”, o ponta-de-lança apontaria a um lugar de destaque dentro do plantel. Tanto na época de chegada à “Cidade dos Estudantes, como nas seguintes, o jogador vincar-se-ia como um dos membros mais activos no seio da equipa. A sua importância para os diferentes técnicos fá-lo-ia apontar sempre para uma possível presença no “onze” inicial. Recorrentemente chamado à titularidade, a descida dos “Estudantes” no termo da campanha de 1987/88 não impediria a sua continuidade ao serviço do conjunto a vestir de negro. Todavia, a insistência da Académica de Coimbra nos resultados colectivos a impossibilitar o regresso ao convívio com os “grandes”, empurraria o ponta-de-lança para uma mudança de emblema e seria o Penafiel a acolher as suas ambições primodivisionárias.
No emblema duriense, onde, em 1990/91, voltaria a trabalhar com Vítor Manuel, seu antigo treinador na Académica, Reinaldo, tal como tinha acontecido em épocas anteriores, rapidamente asseguraria um lugar como titular. Curiosamente, o ano seguinte ao da sua entrada no Estádio Municipal 25 de Abril, no qual não seria utilizado com tanta regularidade, terminaria com a descida do clube. Depois de mais uma campanha nas pelejas do patamar secundário, uma nova mudança de colectividade acabaria a encaminhar o jogador para os principais palcos do cenário futebolístico português. Ainda assim, a transferência para o plantel de 1993/94 da União de Leiria, não cumpriria, de imediato, os objectivos da tal subida. A projectada meta emergiria apenas na época seguinte à da chegada à “Cidade do Lis”, campanha, no decorrer da qual, mais uma vez, seria orientado por Vítor Manuel.
Numa carreira a escrever os derradeiros capítulos, a passagem de um ano pelo Campomaiorense serviria para acrescentar ao seu currículo a vitória na divisão de Honra de 1996/97. Contudo, a tal conquista não viria a traduzir-se na sua continuidade na agremiação alentejana. Contrariamente ao que os desempenhos do ponta-de-lança poderiam indiciar, o retorno à divisão maior não cativaria o jogador e a sua preferência empurrá-lo-ia para o regresso a um clube, por si, bem conhecido. De volta à União de Leiria, tal como tinha acontecido ao serviço dos “Galgos”, o atleta daria um enorme contributo para o triunfo naquele que é o segundo degrau luso. Dessa feita, o avançado manter-se-ia com a mesma camisola e tal opção, na temporada de 1998/99, devolvê-lo-ia ao convívio com os “grandes”. Conservar-se-ia nesse contexto competitivo por mais uma campanha e a temporada seguinte traduzir-se-ia pelo arranque na “Cidade do Lis”, pela mudança para a Académica de Coimbra e pela decisão de “pendurar as chuteiras” com o termo de 1999/00.

1683 - HUGO COSTA

Filho de Vicente Costa, antigo avançado de equipas como o Tramagal ou o Sintrense, Hugo Alexandre Esteves Costa acabaria a seguir as passadas desportivas do pai. Antes ainda de terminar o período formativo com as cores do Benfica, já o defesa-central era visto como uma das grandes promessas do futebol luso. A provar o seu valor surgiriam as chamadas às equipas sob a guarda da Federação Portuguesa de Futebol. Nesse trilho, começaria por representar os actualmente denominados sub-16. A estreia, a 27 de Dezembro de 1989, levaria o jogador a entrar em campo frente à Hungria. Depois dessa partida, à qual seria chamado por Carlos Queiroz, o atleta continuaria a avançar no seu trajecto internacional. Participaria em grandes competições como o Euro sub-16 de 1990, o Euro sub-18 de 1992, a edição de 1993 do Torneio de Toulon ou, no mesmo ano do certame francês, no Mundial sub-20.
O acumular de partidas com a “camisola das quinas” levá-lo-ia até às 48 pelejas disputadas por Portugal. Contudo, a riqueza do seu trajecto enquanto praticante das camadas jovens, não daria o direito a Hugo Costa para conquistar um lugar na equipa principal do Benfica. Sem lugar nos “Encarnados”, o defesa-central acabaria cedido a outras colectividades. Ao descobrir um espaço na 1ª divisão, o capítulo inicial da carreira sénior levá-lo-ia a envergar as cores do plantel de 1992/93 do Gil Vicente, grupo comandado por Vítor Oliveira. De seguida, ainda por empréstimo das “Águias”, surgiriam o par de anos passados com o Beira-Mar e finalmente o Estrela da Amadora. No entanto, e mesmo tendo em conta que, com excepção feita à agremiação da Reboleira, o jogador conseguiria apresentar-se sempre como titular, a verdade é que o regresso à Luz nunca viria a acontecer e a solução, para a época de 1996/97, haveria de emergir vinda do estrangeiro.
A entrada no Stoke City, à altura a disputar o segundo escalão de Inglaterra, não seria assim tão proveitosa quanto o projectado inicialmente. Esse pequeno desaire levaria o jovem jogador, a meio da campanha britânica, a equacionar o regresso a Portugal. Já com o tal plano em marcha, seria o Alverca, numa altura em que o emblema ainda era “satélite” do Benfica, a abrir as suas portas ao defesa-central. A entrada no novo clube fá-lo-ia também participar noutro capítulo de enorme monta para os ribatejanos e a estreia da colectividade na 1ª divisão daria ao atleta a oportunidade de voltar, em 1998/99, às pelejas do patamar máximo luso.
Os 4 anos e meio cumpridos com as cores do Alverca, transformaria o clube na camisola mais representativa da sua carreira. Ainda assim, impulsionado pela perda da titularidade, a ligação de Hugo Costa com a agremiação ribatejana conheceria o fim com o termo das provas agendadas para 2000/01. Seguir-se-ia o também primodivisionário Vitória Futebol Clube, onde, durante as duas épocas seguintes, o defesa-central regressaria aos melhores índices exibicionais. Os números apresentados no Bonfim, alimentar-lhe-iam nova aventura além-fronteiras e seria na Alemanha que o atleta decidiria dar seguimento ao trajecto profissional.
Está bem que no escalão secundário germânico, mas a entrada no RW Oberhausen serviria para que Hugo Costa voltasse a sonhar com outros voos. Curiosamente, seria nessa experiência pela Alemanha que o defesa-central entraria numa fase menos consentânea com o valor já antes demonstrado. Mesmo ao revelar algum decréscimo exibicional, a 1ª divisão portuguesa, na temporada de 2005/06, voltaria a acolhê-lo. Porém, como destapado neste parágrafo, a entrada na União de Leiria não devolveria à sua carreira a ambicionada titularidade. Após 3 anos na “Cidade do Lis”, o atleta ainda viria a aventurar-se brevemente nos cipriotas do Atromitos Yeroskipou. Por fim, surgiria o Pinhalnovense e o “pendurar das chuteiras” na conclusão da campanha de 2010/11.
Já com a carreira de futebolista terminada, Hugo Costa manter-se-ia ligado à modalidade e no papel de treinador ainda viria a trabalhar com clubes dos escalões inferiores, como são exemplo o Fabril do Barreiro, a AD Oiras ou o Mineiro Aljustrelense.

1682 - KEITA

Quando tentei fazer a minha procura sobre um atleta de nome Keita que, em 1977/78 teria jogado no Académico de Viseu e na temporada seguinte acabaria a envergar as cores do Beira-Mar, deparei-me com algumas curiosidades. Em abono da verdade o termo usado no final da frase anterior, tendo em atenção a trapalhada de informações, só pode ser considerado um eufemismo. Sem querer alongar-me muito nesta nota introdutória passemos aos factos.
Logo no “zerozero” dei com as fichas de dois jogadores que, apesar de serem considerados pelo “site” como pessoas distintas, expunham semelhanças biográficas e curriculares deveras espantosas. Na primeira ficha, temos o futebolista apresentado como Cheick Keita (1). Já na segunda encontramos o atleta revelado como Fantamady Keita (2). Agora vamos às tais curiosidades. Em ambas as fichas os nomes completos têm algumas semelhanças. Vejamos. No caso assinalado por mim como (1) temos Cheick Fanta Mady (separado) Keïta, enquanto no marcado como (2) temos Fantamady (tudo seguido) Keita. Até aqui, os dados poderiam ser aferidos como coincidências, sendo os dois homens aproximadamente homónimos. No entanto, a seguir passei às datas de nascimento e qual não é o meu espanto – pior ainda, se tivermos em conta a nacionalidade maliana de um e do outro – ao constatar que os dois teriam nascido no mesmo dia! Como não há duas sem três, aparece-nos então um percurso desportivo que, em vários pontos, é espantosamente parecido (como os anos das passagens por um emblema de Bamako) ou coincidente na totalidade (temos para o caso a campanha de1975/76 no AS Angoulême ou algumas das épocas ao serviço do ECAC Chaumont)!
Ao profundar um pouco mais a minha investigação, deparei-me com dois artigos provenientes da mesma fonte (3) (4). Em ambos fala-se de uma antiga glória do futebol maliano que, em 1972, ter-se-á consagrado como o melhor marcador da CAN, ao mesmo tempo que terá ajudado a sua selecção a chegar à final do referido troféu. Nas duas notícias é referido Cheick Fantamady Keïta. Porém, se compararmos o nome com as fichas do “zerozero” facilmente reparamos que o jogador com uma identificação mais parecida com o atleta apresentado no “Maliweb” é aquele que não é internacional, nem tem qualquer referência à participação na CAN de 1972. Por outro lado, a servir para confundir mais as coisas, temos, no “site” maliano, a alusão a uma caminhada competitiva que, ao invés de ser uma das duas apresentadas pelo “zerozero”, é, se assim pode ser dito, uma mistura de ambas as carreiras!
Para baralhar outra vez este raciocínio, temos então mais duas informações. A primeira é dada pelo “RSSSF” (5) e identifica-nos o goleador máximo da CAN de 1972 como Fantamady Salif Keita, ou seja, um nome, na sua totalidade, diferente dos anteriormente apresentados. Por fim, deixo-vos o artigo do “Malijet” (6), no qual fazem menção a um jogador que, na maioria da biografia, coincide com o avançado patenteado pela segunda ficha do “zerozero” (2).
Mesmo ao não conseguir montar este puzzle de uma forma que possa ser vista como fidedigna, ainda assim tentei pôr alguma ordem nesta tremenda balbúrdia. Ora, a minha suposição leva-me a dar, para o internacional do Mali com presença na CAN de 1972, um trajecto mais parecido com o que, sem ter grandes certezas, em seguida vos deixo:

1970/71 a 1971/72 – Real Bamako (Mali)
1972/73 a 1974/75 – Rennes (França)
1975/76 - AS Angoulême (França)
1976/77 – Pontevedra (Espanha)
1977/78 – Académico de Viseu (Portugal)
1978 – Philadelphia Fever (EUA)
1978/79 – Beira-Mar (Portugal)
1979 – Philadelphia Fever (EUA)
1979/80 a  1983/84 – ECAC Chaumont (França)
Faltará descobrir em que período terá passado pelo Moutiers (Antilhas Francesas), se ainda jogou a época de 1984/85 no ECAC Chaumont e se terá representado o AS Plombières de 1985/86 (França).

Para finalizar, não posso deixar de fazer duas referências. Primeiro, ao facto de o Keita do Académico de Viseu ter sido um dos pilares da primeira subida da colectividade beirã ao escalão máximo do futebol português. A segunda, mais uma curiosidade, prende-se com o recorte de jornal encontrado em “A Magia do Futebol” (7) a assegurar-nos este Keita como primo da antiga estrela leonina Salif Keita.

1 – https://www.zerozero.pt/jogador/cheick-keita/253831
2 – https://www.zerozero.pt/jogador/fantamady-keita/316282
3 – https://www.maliweb.net/sports/que-sont-ils-devenus-cheick-fantamady-keita-le-goleador-de-yaounde-72-2757655.html
4 – https://www.maliweb.net/people/portrait/cheick-fantamady-keita-legende-vivante-1357942.html
5 – https://www.rsssf.org/tables/72a-scor.html
6 – https://web.archive.org/web/20090629060746/http://www.malijet.com/actualite_sportive_au_mali/palmares_des_joueurs_maliens/footballeur_fantamady_keita.html
7 – https://a-magia-do-futebol.blogspot.com/2013/09/recordar-keita.html

1681 - JULINHO

Nascido na “Cidade Invicta”, Júlio Correia da Silva, popularizado pelo diminutivo Julinho, teria no Boavista, onde chegaria para o lugar de guarda-redes, os anos dedicados à formação. Depressa convertido em avançado-centro, seria já na nova posição que, em 1936/37, ocuparia o seu espaço na equipa principal. Apesar de bastante novo, o atacante depressa conseguiria afirmar-se como um dos bons valores dos “Axadrezados”. Ainda assim, com as “Panteras” a militar na 2ª divisão lusa, ainda passariam alguns anos até à sua estreia no patamar máximo. Tal marco aconteceria após a transferência para um novo clube e, para o caso, já na segunda campanha ao serviço do Académico do Porto.
Com a mudança referida no parágrafo anterior a ocorrer na temporada de 1940/41, a época seguinte à da sua chegada ao emblema estudantil levaria o avançado, pela primeira vez na carreira, a disputar a 1ª divisão. Tamanha seria a sua prestação naquela que é a prova de maior importância no calendário futebolístico português que, rapidamente, passaria a ser disputado por equipas de maior renome. Nessa corrida, Julinho, a troco de quantias bem avultadas para a época – 25 mil escudos para o clube e 10 mil escudos para o atleta – acordaria a mudança para o Benfica. Logo de seguida, o FC Porto, com números bem mais tentadores, faria chegar ao jogador a sua proposta. No entanto, com a palavra já dada às “Águias”, o avançado manter-se-ia fiel ao inicialmente combinado e, em 1942/43, viajaria até Lisboa.
Como praticante das “Águias”, Julinho, acolhido pelo técnico Janos Biri, depressa iria impor-se no centro do ataque. A prova do impacto do avançado na estrutura benfiquista surgiria de imediato no ano da sua chegada, com o jogador a sagrar-se como o Melhor Marcador do Campeonato Nacional da 1ª divisão. Tal feito repeti-lo-ia na época de 1949/50. Contudo, nem só de feitos individuais viveria a carreira do ponta-de-lança. Caracterizado como um intérprete muito inteligente e sagaz na hora de rematar à baliza, os seus inúmeros golos contribuiriam, e de que maneira, para diversos sucessos colectivos dos “Encarnados”. Nesse sentido, o destaque iria para as conquistas de 3 Campeonatos Nacionais, 6 Taças de Portugal e obviamente para a vitória na Taça Latina.
O feito continental ainda agora referido, aconteceria na edição de 1949/50 da prestigiada prova. No trajecto até ao triunfo, Julinho não haveria de posicionar-se somente como um dos jogadores no “onze” das diferentes rondas altercadas. Chamado por Ted Smith às pelejas agendadas para o Estádio Nacional, não só o avançado-centro marcaria presença na meia-final frente aos italianos da Lazio, como seria um dos escolhidos para a final e para finalíssima do torneio disputado em Lisboa. Aliás, seria no último encontro que o atleta assumiria um papel fulcral. Num jogo arrastado até ao 3º prolongamento, sairia dos pés do atacante, que já tinha atirado uma bola para o fundo das redes adversárias na partida anterior, o golo que, aos 134 minutos, faria cair a resolução da contenda a favor do conjunto português.
Apesar da preponderância atingida com as cores do Benfica, Julinho, com o facto parcialmente justificado pelo desenrolar da 2ª guerra mundial, não teria, na selecção nacional, números nada semelhantes aos conseguidos no clube. Ainda assim, depois da convocatória para, a 3 de Maio de 1947, disputar, frente à França, uma partida pela equipa “B” de Portugal, o dia 21 de Março de 1948 assinalaria a sua oportunidade no conjunto principal luso e o jogo marcado com a Espanha, chamado o avançado por Virgílio Paula, representaria para o atleta a sua única internacionalização “A” com a “camisola das quinas”.
Após cumprir mais de uma década com as cores do Benfica e de ter registado 202 golos em 200 partidas oficiais (outras fontes referem 272 golos em 269 jogos), seria já com a época de 1953/54 em andamento que Julinho deixaria o Benfica. Nos anos subsequentes, na mescla de tarefas dadas a um treinador-jogador, passaria por Coruchense e Benfica e Castelo Branco. Seria igualmente na aludida agremiação do distrito de Santarém que o antigo avançado decidiria passar a desempenhar, em exclusivo, as funções de técnico e, na nova carreira, ainda orientaria Marinhense, Alverca, Casa Pia, Torres Novas, Sacavenense, Alhandra e Vilafranquense.

1680 - SERRA

Artur Tavares Serra Santos completaria o percurso formativo ao serviço do FC Barreirense. Seria igualmente com as cores do emblema sediado na Margem Sul que o jovem praticante, no decorrer da campanha de 1969/70, haveria de estrear-se como sénior. Nesse arranque, o defesa-lateral, com habilidade para também actuar no centro do sector mais recuado ou a médio-defensivo, viria a ser orientado por Manuel Oliveira. Ao dar boas indicações, o jogador, começaria a ver o referido treinador a escolhê-lo para participar nas pelejas do listado alvirrubro e as suas entradas em campo contribuiriam para o histórico 4º lugar no Campeonato Nacional. A classificação mencionada no final do parágrafo anterior, no escrever de mais uma admirável página na existência do FC Barreirense, resultaria no apuramento e estreia da agremiação nas provas de índole continental. Chamado à peleja pelo brasileiro Edsel Fernandes, o defesa teria a oportunidade de participar em ambas as mãos da ronda inicial da Taça das Cidades com Feira de 1970/71. Contudo, a esperança ganha com a vitória no Estádio D. Manuel de Mello esfumar-se na partida forasteira e o conjunto português acabaria eliminado pelos jugoslavos do Dinamo Zagreb. A temporada de 1971/72 e a seguinte não mostram qualquer registo seu nas provas lusas. Sem grande certeza na informação que passarei a veicular, tal hiato poderá corresponder ao período em que Serra terá cumprido o Serviço Militar Obrigatório. Se quisermos ter esta afirmação como correcta, então, o defesa, resultado da sua incorporação em Angola, acabaria por representar o plantel do FC Moxico. Já no regresso à Metrópole, o jogador voltaria ao FC Barreirense. No entanto, essa campanha de 1973/74 ficaria longe de ser proveitosa, tanto para o atleta, como para o colectivo por si representado. Sem conseguir fixar-se no “onze”, o lateral, pouco utilizado, acabaria por ver o conjunto da Margem Sul a claudicar na luta pela manutenção. Seguir-se-iam o escalão secundário e os 4 anos em que viria a manter-se afastado dos palcos principais. Apesar do desaire vivido pelo FC Barreirense, Serra manter-se-ia fiel à colectividade da margem esquerda do Rio Tejo. Como um homem caracterizado por uma dedicação ímpar, o defesa-lateral continuaria a eleger o listado vermelho e branco como o seu favorito. Tamanha lealdade levá-lo-ia a participar no regresso da sua equipa ao convívio com os “grandes”. Todavia, o panorama primodivisionário, mais uma vez, tornar-se-ia ingrato para os objectivos delineados no começo da campanha de 1978/79 e a aludida temporada tornar-se-ia na derradeira época do jogador, e da agremiação nascida no Barreiro, no patamar máximo do futebol português. Os anos seguintes, apesar de não tão relevantes em termos desportivos, serviriam para cimentar Serra como um dos nomes mais importantes a figurar nos anais do FC Barreirense. Se mais não houvesse para testemunhar a sua importância, então a prova emergiria da braçadeira de capitão amiúde entregue ao seu braço. A cumprir os últimos capítulos da caminhada enquanto futebolista, Serra, após deixar o FC Barreirense no termo das provas agendadas para 1982/83, ainda encontraria forças para outras duas experiências competitivas. Nesse sentido, a seguir a um par de campanhas a jogar pelo Estrela de Vendas Novas, a decisão de “pendurar das chuteiras” surgira no final da temporada de 1985/86 e após representar o Luso do Barreiro.

1679 - ARSÉNIO

Desde pequeno que revelaria um grande gosto pelo “jogo da bola”. Ainda em criança, a exibir a alcunha Pinga, o craque do FC Porto, Arsénio Trindade Duarte partilharia as pelejas de rua com Vasques. Um pouco mais velho, mas ainda em idade de formação, experimentaria o Galitos Futebol Clube, onde viria a encontrar-se com Albano. Já numa tentativa de caminhar um pouco mais a sério na modalidade, haveria de treinar-se na CUF. Agradaria ao treinador Raul Jorge, mas para sua infelicidade o conjunto “fabril”, naquele ano, decidiria não montar equipa de juniores. Surgiria então o FC Barreirense e o encetar de uma caminhada que depressa iria pô-lo na primeira categoria do listado alvirrubro.
Estrear-se-ia na equipa principal do FC Barreirense, com apenas 15 anos, numa partida de tributo ao colega Francisco Câmara. Logo na campanha seguinte, em 1942/43, fixar-se de vez nos seniores do conjunto sediado na Margem Sul. Mesmo a disputar a 2ª divisão, o jovem avançado conseguiria revelar-se como um goleador sagaz. Apesar de não ser muito habilidoso, Arsénio destacar-se-ia como um elemento veloz, muito esforçado e, acima de tudo, com uma enorme argúcia no momento de enviar a bola para as redes adversárias. Tamanhas habilidades levá-lo-iam a treinar-se, juntamente com o camarada de balneário Francisco Moreira, no Vitória Futebol Clube. Contudo, nem um, nem o outro, acabariam por ficar nos “Sadinos” e depois da tentativa falhada, e com Moreira já vinculado às “Águias”, chegaria a vez de o avançado-centro convencer os responsáveis do Benfica das suas qualidades.
Agradado com as suas características, Janos Biri anuiria à transferência do atacante. Contratado como reforço para a época de 1943/44, a campanha de entrada de Arsénio nos “Encarnados”, mesmo ao marcar na partida de estreia, não entregaria o jogador à titularidade indiscutível. Tal estatuto conquistá-lo-ia na temporada seguinte. A partir desse momento, a importância do avançado no seio do grupo de trabalho benfiquista cimentar-se-ia como fulcral. Nesse sentido, o atleta tornar-se-ia numa das peças centrais das conquistas colectivas do clube. Ao palmarés pessoal, no decorrer dos 12 anos a envergar a camisola das “Águias”, o ponta-de-lança juntaria a conquista de 10 títulos. Nas 6 Taças de Portugal que ajudaria a vencer, estaria presente em todas as finais e marcaria golos em 4 delas. Há igualmente a arrolar a esta lista, 3 Campeonatos Nacionais e, acima de tudo, o triunfo na Taça Latina de 1949/50.
Seria no primeiro grande feito continental do futebol luso que o avançado viveria um dos momentos mais espantosos da carreira. Com o Girondins de Bordeaux a vencer por 1-0, o aproximar do termo da finalíssima quase que dava o emblema gaulês como o dono do almejado troféu. Então, a 15 segundos do fim do tempo regulamentar, sairia da acção de Arsénio o golo a arrastar a decisão da partida para os diferentes prolongamentos e, principalmente, para o golo de Julinho que, aos 146 minutos de jogo, tombaria a resolução da Taça Latina para o lado do Benfica.
Outra circunstância importante, na sua caminhada enquanto futebolista, seriam as chamadas à selecção nacional. Com a estreia a acontecer no âmbito da Fase de Qualificação para o Campeonato do Mundo de 1950, Arsénio, pela mão de Salvador do Carmo, envergaria, pela primeira vez no trajecto desportivo, a “camisola das quinas”. Poucos dias passados sobre o embate disputado, a 2 de Abril de 1950, em Chamartin, o avançado voltaria a entrar em campo frente à “La Roja” e somaria, num cômputo notoriamente escasso para a sua categoria, a 2 internacionalização alcançada na carreira.
Apesar da importância dos seus desempenhos para os objectivos do Benfica, a profissionalização do futebol das “Águias”, mudança posta em curso com a chegada de Otto Glória, iria alterar a posição do atleta no seio do plantel. Relutante em deixar o emprego que mantinha paralelamente às actividades futebolísticas, Arsénio começaria a ser posto de lado pelo referido técnico brasileiro. Com a saída a posicionar-se como a melhor opção para a carreira do atacante, seria o Lusitano de Évora a primeira agremiação a abordar o jogador. Quase de imediato surgiria a CUF na corrida e a proposta apresentada pelo emblema “fabril” levaria o avançado-centro a representar a colectividade da cidade do Barreiro.
Com a entrada na CUF a acontecer na temporada de 1955/56, Arsénio passaria a trabalhar na alçada de Umberto Buchelli. Ao assumir-se como um dos preferidos do treinador uruguaio, o avançado arrancaria para uma colaboração a estender o seu trajecto primodivisionário por mais 4 campanhas. Pelo meio, outro feito fantástico, com o atleta a posicionar-se como o Melhor Marcador da edição de 1957/58 do Campeonato Nacional da 1ª divisão.
Após 16 anos no patamar máximo, 313 partidas disputadas e 212 golos concretizados na prova de maior relevância no calendário futebolístico português, Arsénio, já em plena veterania, ainda revelaria vontade para prolongar a sua caminhada competitiva. Afastado dos grandes palcos a partir do final de 1958/59, o avançado, nos anos seguintes, representaria o Montijo, o Cova da Piedade e o Monte da Caparica.

1678 - IAÚCA

Beira-Mar, Desportivo de Benguela e Sporting de Catumbela seriam os clubes que, na Angola dos primeiros anos da sua caminhada competitiva, lançariam para o estrelato o avançado António Fernandes, popularizado pelo apelido Iaúca – “Herdei a alcunha do meu avô e gosto muito dela. Mas não se escreve Yaúca, escreve-se Iaúca, com I, tal como ele escrevia”*.
Como um atleta veloz, com um bom drible e com um enorme sentido goleador, a fama de Iaúca depressa começaria a despertar os interesses dos maiores emblemas da metrópole. Nessa corrida pelos seus préstimos, à frente apareceria o Sporting. Depois, com uma proposta mais tentadora, viriam as “Águias” e finalmente surgiria o emblema que conseguiria convencer o atleta a deixar a família – “Se não fosse a rápida interferência do capitão Soares da Cunha eu tinha ingressado no Benfica. Felizmente acabei por ir para o Belenenses. E digo felizmente, porque sinto orgulho no meu clube e encontrei nele uma camaradagem e um espírito de solidariedade que me impressionou profundamente”**.
Curiosamente, não consegui descortinar, de forma segura, a época da chegada do avançado à agremiação “alfacinha”. Há fontes a garantirem-nos a entrada de Iaúca na temporada de 1957/58. Por outro lado, não parece haver qualquer tipo de dúvida quanto à participação do jogador, pelos “Azuis”, nas provas agendadas para 1958/59. Aquilo que aparenta ser igualmente certo é dizer-se do enorme impacto que a sua contracção haveria de ter nos esquemas tácticos do Belenenses. Nesse sentido, num plantel a contar, só para o sector ofensivo, com Matateu, Dimas, Martinho ou Tonho, o avançado, que podia exibir-se no centro ou nas pontas do ataque, depressa convenceria Fernando Vaz da mais-valia da sua titularidade.
Como um dos membros mais importantes do “onze” do Belenenses, a projecção de Iaúca levá-lo-ia, com naturalidade, a ser chamado às pelejas da selecção nacional. O avançado que, durante a caminhada competitiva, também envergaria as divisas dos “esperanças” e do conjunto “B”, teria a estreia com a principal “camisola das quinas” a 11 de Novembro de 1959. Após essa partida frente a França, chamado ao desafio gaulês por José Maria Antunes, o atacante continuaria nos planos de Portugal. Apesar de apenas ter voltado a representar o agregado luso sensivelmente 1 ano e 4 meses depois, o atleta, na segunda aparição, brindaria o Luxemburgo com um “hat-trick”. Daí em diante e com maior regularidade, o avançado somaria mais jogos e conseguiria, para o currículo, um total de 10 internacionalizações “A”.
A preponderância nos desempenhos colectivos do Belenenses levá-lo-ia a viver momentos de enorme importância para o clube. O primeiro desses feitos viria com a edição de 1959/60 da Taça de Portugal, na qual, chamado por Otto Glória, marcaria presença na final disputada no Jamor e ajudaria, frente ao Sporting, à vitória dos “Azuis”. Mais à frente, emergiria o arranque dos homens do Restelo nas competições de índole continental. Nessa estreia, alcançada no âmbito da Taça das Cidades com Feira de 1961/62, Iaúca entraria em campo em ambas as mãos frente ao Hibernian. Já na época seguinte, na disputa da mesma prova, o avançado participaria na ronda com o FC Barcelona e contribuiria para os dois inesquecíveis empates conseguidos frente aos “Culés”.
Com a cotação a subir acentuadamente, Iaúca, no reavivar de um “namoro” antigo, encetaria negociações com o Benfica, com vista à sua mudança para a Luz. Depois do pagamento de bem mais de 2000 contos, à altura o recorde português para uma transferência, o jogador chegaria às “Águias” para integrar o plantel de 1963/64. Nesse primeira época com os “Encarnados”, mesmo no seio de tantas estrelas, o jogador manter-se-ia como uma figura influente. Todavia, daí em diante, o avançado quase desapareceria das intenções tácticas dos diferentes treinadores e no final da temporada de 1967/68, com o palmarés recheado pelas conquistas de 4 Campeonatos Nacionais e de outra Taça de Portugal, o atacante daria um novo rumo à carreira.
À procura de outros desafios, Iaúca, acompanhado por Germano, Santana e Melo, seria apresentado, na campanha de 1968/69, como reforço do Salgueiros. No emblema da cidade do Porto ainda jogaria na época seguinte. Depois viria a passagem pela América do Norte, onde, nas épocas de 1969 e de 1970, ao lado de Matateu e de Uria, integraria os planteis do First Portuguese vencedores das referidas edições da Canadian National Soccer League. Finalmente, o regresso a Portugal, para representar o Famalicão de 1970/71.

*retirado do artigo de Afonso de Melo, publicado a 31/03/2021, em https://ionline.sapo.pt
**retirado da revista “Ídolos do Desporto – 2ª série, nº3”, publicada a 31 de Outubro de 1959