1680 - SERRA

Artur Tavares Serra Santos completaria o percurso formativo ao serviço do FC Barreirense. Seria igualmente com as cores do emblema sediado na Margem Sul que o jovem praticante, no decorrer da campanha de 1969/70, haveria de estrear-se como sénior. Nesse arranque, o defesa-lateral, com habilidade para também actuar no centro do sector mais recuado ou a médio-defensivo, viria a ser orientado por Manuel Oliveira. Ao dar boas indicações, o jogador, começaria a ver o referido treinador a escolhê-lo para participar nas pelejas do listado alvirrubro e as suas entradas em campo contribuiriam para o histórico 4º lugar no Campeonato Nacional. A classificação mencionada no final do parágrafo anterior, no escrever de mais uma admirável página na existência do FC Barreirense, resultaria no apuramento e estreia da agremiação nas provas de índole continental. Chamado à peleja pelo brasileiro Edsel Fernandes, o defesa teria a oportunidade de participar em ambas as mãos da ronda inicial da Taça das Cidades com Feira de 1970/71. Contudo, a esperança ganha com a vitória no Estádio D. Manuel de Mello esfumar-se na partida forasteira e o conjunto português acabaria eliminado pelos jugoslavos do Dinamo Zagreb. A temporada de 1971/72 e a seguinte não mostram qualquer registo seu nas provas lusas. Sem grande certeza na informação que passarei a veicular, tal hiato poderá corresponder ao período em que Serra terá cumprido o Serviço Militar Obrigatório. Se quisermos ter esta afirmação como correcta, então, o defesa, resultado da sua incorporação em Angola, acabaria por representar o plantel do FC Moxico. Já no regresso à Metrópole, o jogador voltaria ao FC Barreirense. No entanto, essa campanha de 1973/74 ficaria longe de ser proveitosa, tanto para o atleta, como para o colectivo por si representado. Sem conseguir fixar-se no “onze”, o lateral, pouco utilizado, acabaria por ver o conjunto da Margem Sul a claudicar na luta pela manutenção. Seguir-se-iam o escalão secundário e os 4 anos em que viria a manter-se afastado dos palcos principais. Apesar do desaire vivido pelo FC Barreirense, Serra manter-se-ia fiel à colectividade da margem esquerda do Rio Tejo. Como um homem caracterizado por uma dedicação ímpar, o defesa-lateral continuaria a eleger o listado vermelho e branco como o seu favorito. Tamanha lealdade levá-lo-ia a participar no regresso da sua equipa ao convívio com os “grandes”. Todavia, o panorama primodivisionário, mais uma vez, tornar-se-ia ingrato para os objectivos delineados no começo da campanha de 1978/79 e a aludida temporada tornar-se-ia na derradeira época do jogador, e da agremiação nascida no Barreiro, no patamar máximo do futebol português. Os anos seguintes, apesar de não tão relevantes em termos desportivos, serviriam para cimentar Serra como um dos nomes mais importantes a figurar nos anais do FC Barreirense. Se mais não houvesse para testemunhar a sua importância, então a prova emergiria da braçadeira de capitão amiúde entregue ao seu braço. A cumprir os últimos capítulos da caminhada enquanto futebolista, Serra, após deixar o FC Barreirense no termo das provas agendadas para 1982/83, ainda encontraria forças para outras duas experiências competitivas. Nesse sentido, a seguir a um par de campanhas a jogar pelo Estrela de Vendas Novas, a decisão de “pendurar das chuteiras” surgira no final da temporada de 1985/86 e após representar o Luso do Barreiro.

1679 - ARSÉNIO

Desde pequeno que revelaria um grande gosto pelo “jogo da bola”. Ainda em criança, a exibir a alcunha Pinga, o craque do FC Porto, Arsénio Trindade Duarte partilharia as pelejas de rua com Vasques. Um pouco mais velho, mas ainda em idade de formação, experimentaria o Galitos Futebol Clube, onde viria a encontrar-se com Albano. Já numa tentativa de caminhar um pouco mais a sério na modalidade, haveria de treinar-se na CUF. Agradaria ao treinador Raul Jorge, mas para sua infelicidade o conjunto “fabril”, naquele ano, decidiria não montar equipa de juniores. Surgiria então o FC Barreirense e o encetar de uma caminhada que depressa iria pô-lo na primeira categoria do listado alvirrubro.
Estrear-se-ia na equipa principal do FC Barreirense, com apenas 15 anos, numa partida de tributo ao colega Francisco Câmara. Logo na campanha seguinte, em 1942/43, fixar-se de vez nos seniores do conjunto sediado na Margem Sul. Mesmo a disputar a 2ª divisão, o jovem avançado conseguiria revelar-se como um goleador sagaz. Apesar de não ser muito habilidoso, Arsénio destacar-se-ia como um elemento veloz, muito esforçado e, acima de tudo, com uma enorme argúcia no momento de enviar a bola para as redes adversárias. Tamanhas habilidades levá-lo-iam a treinar-se, juntamente com o camarada de balneário Francisco Moreira, no Vitória Futebol Clube. Contudo, nem um, nem o outro, acabariam por ficar nos “Sadinos” e depois da tentativa falhada, e com Moreira já vinculado às “Águias”, chegaria a vez de o avançado-centro convencer os responsáveis do Benfica das suas qualidades.
Agradado com as suas características, Janos Biri anuiria à transferência do atacante. Contratado como reforço para a época de 1943/44, a campanha de entrada de Arsénio nos “Encarnados”, mesmo ao marcar na partida de estreia, não entregaria o jogador à titularidade indiscutível. Tal estatuto conquistá-lo-ia na temporada seguinte. A partir desse momento, a importância do avançado no seio do grupo de trabalho benfiquista cimentar-se-ia como fulcral. Nesse sentido, o atleta tornar-se-ia numa das peças centrais das conquistas colectivas do clube. Ao palmarés pessoal, no decorrer dos 12 anos a envergar a camisola das “Águias”, o ponta-de-lança juntaria a conquista de 10 títulos. Nas 6 Taças de Portugal que ajudaria a vencer, estaria presente em todas as finais e marcaria golos em 4 delas. Há igualmente a arrolar a esta lista, 3 Campeonatos Nacionais e, acima de tudo, o triunfo na Taça Latina de 1949/50.
Seria no primeiro grande feito continental do futebol luso que o avançado viveria um dos momentos mais espantosos da carreira. Com o Girondins de Bordeaux a vencer por 1-0, o aproximar do termo da finalíssima quase que dava o emblema gaulês como o dono do almejado troféu. Então, a 15 segundos do fim do tempo regulamentar, sairia da acção de Arsénio o golo a arrastar a decisão da partida para os diferentes prolongamentos e, principalmente, para o golo de Julinho que, aos 146 minutos de jogo, tombaria a resolução da Taça Latina para o lado do Benfica.
Outra circunstância importante, na sua caminhada enquanto futebolista, seriam as chamadas à selecção nacional. Com a estreia a acontecer no âmbito da Fase de Qualificação para o Campeonato do Mundo de 1950, Arsénio, pela mão de Salvador do Carmo, envergaria, pela primeira vez no trajecto desportivo, a “camisola das quinas”. Poucos dias passados sobre o embate disputado, a 2 de Abril de 1950, em Chamartin, o avançado voltaria a entrar em campo frente à “La Roja” e somaria, num cômputo notoriamente escasso para a sua categoria, a 2 internacionalização alcançada na carreira.
Apesar da importância dos seus desempenhos para os objectivos do Benfica, a profissionalização do futebol das “Águias”, mudança posta em curso com a chegada de Otto Glória, iria alterar a posição do atleta no seio do plantel. Relutante em deixar o emprego que mantinha paralelamente às actividades futebolísticas, Arsénio começaria a ser posto de lado pelo referido técnico brasileiro. Com a saída a posicionar-se como a melhor opção para a carreira do atacante, seria o Lusitano de Évora a primeira agremiação a abordar o jogador. Quase de imediato surgiria a CUF na corrida e a proposta apresentada pelo emblema “fabril” levaria o avançado-centro a representar a colectividade da cidade do Barreiro.
Com a entrada na CUF a acontecer na temporada de 1955/56, Arsénio passaria a trabalhar na alçada de Umberto Buchelli. Ao assumir-se como um dos preferidos do treinador uruguaio, o avançado arrancaria para uma colaboração a estender o seu trajecto primodivisionário por mais 4 campanhas. Pelo meio, outro feito fantástico, com o atleta a posicionar-se como o Melhor Marcador da edição de 1957/58 do Campeonato Nacional da 1ª divisão.
Após 16 anos no patamar máximo, 313 partidas disputadas e 212 golos concretizados na prova de maior relevância no calendário futebolístico português, Arsénio, já em plena veterania, ainda revelaria vontade para prolongar a sua caminhada competitiva. Afastado dos grandes palcos a partir do final de 1958/59, o avançado, nos anos seguintes, representaria o Montijo, o Cova da Piedade e o Monte da Caparica.

1678 - IAÚCA

Beira-Mar, Desportivo de Benguela e Sporting de Catumbela seriam os clubes que, na Angola dos primeiros anos da sua caminhada competitiva, lançariam para o estrelato o avançado António Fernandes, popularizado pelo apelido Iaúca – “Herdei a alcunha do meu avô e gosto muito dela. Mas não se escreve Yaúca, escreve-se Iaúca, com I, tal como ele escrevia”*.
Como um atleta veloz, com um bom drible e com um enorme sentido goleador, a fama de Iaúca depressa começaria a despertar os interesses dos maiores emblemas da metrópole. Nessa corrida pelos seus préstimos, à frente apareceria o Sporting. Depois, com uma proposta mais tentadora, viriam as “Águias” e finalmente surgiria o emblema que conseguiria convencer o atleta a deixar a família – “Se não fosse a rápida interferência do capitão Soares da Cunha eu tinha ingressado no Benfica. Felizmente acabei por ir para o Belenenses. E digo felizmente, porque sinto orgulho no meu clube e encontrei nele uma camaradagem e um espírito de solidariedade que me impressionou profundamente”**.
Curiosamente, não consegui descortinar, de forma segura, a época da chegada do avançado à agremiação “alfacinha”. Há fontes a garantirem-nos a entrada de Iaúca na temporada de 1957/58. Por outro lado, não parece haver qualquer tipo de dúvida quanto à participação do jogador, pelos “Azuis”, nas provas agendadas para 1958/59. Aquilo que aparenta ser igualmente certo é dizer-se do enorme impacto que a sua contracção haveria de ter nos esquemas tácticos do Belenenses. Nesse sentido, num plantel a contar, só para o sector ofensivo, com Matateu, Dimas, Martinho ou Tonho, o avançado, que podia exibir-se no centro ou nas pontas do ataque, depressa convenceria Fernando Vaz da mais-valia da sua titularidade.
Como um dos membros mais importantes do “onze” do Belenenses, a projecção de Iaúca levá-lo-ia, com naturalidade, a ser chamado às pelejas da selecção nacional. O avançado que, durante a caminhada competitiva, também envergaria as divisas dos “esperanças” e do conjunto “B”, teria a estreia com a principal “camisola das quinas” a 11 de Novembro de 1959. Após essa partida frente a França, chamado ao desafio gaulês por José Maria Antunes, o atacante continuaria nos planos de Portugal. Apesar de apenas ter voltado a representar o agregado luso sensivelmente 1 ano e 4 meses depois, o atleta, na segunda aparição, brindaria o Luxemburgo com um “hat-trick”. Daí em diante e com maior regularidade, o avançado somaria mais jogos e conseguiria, para o currículo, um total de 10 internacionalizações “A”.
A preponderância nos desempenhos colectivos do Belenenses levá-lo-ia a viver momentos de enorme importância para o clube. O primeiro desses feitos viria com a edição de 1959/60 da Taça de Portugal, na qual, chamado por Otto Glória, marcaria presença na final disputada no Jamor e ajudaria, frente ao Sporting, à vitória dos “Azuis”. Mais à frente, emergiria o arranque dos homens do Restelo nas competições de índole continental. Nessa estreia, alcançada no âmbito da Taça das Cidades com Feira de 1961/62, Iaúca entraria em campo em ambas as mãos frente ao Hibernian. Já na época seguinte, na disputa da mesma prova, o avançado participaria na ronda com o FC Barcelona e contribuiria para os dois inesquecíveis empates conseguidos frente aos “Culés”.
Com a cotação a subir acentuadamente, Iaúca, no reavivar de um “namoro” antigo, encetaria negociações com o Benfica, com vista à sua mudança para a Luz. Depois do pagamento de bem mais de 2000 contos, à altura o recorde português para uma transferência, o jogador chegaria às “Águias” para integrar o plantel de 1963/64. Nesse primeira época com os “Encarnados”, mesmo no seio de tantas estrelas, o jogador manter-se-ia como uma figura influente. Todavia, daí em diante, o avançado quase desapareceria das intenções tácticas dos diferentes treinadores e no final da temporada de 1967/68, com o palmarés recheado pelas conquistas de 4 Campeonatos Nacionais e de outra Taça de Portugal, o atacante daria um novo rumo à carreira.
À procura de outros desafios, Iaúca, acompanhado por Germano, Santana e Melo, seria apresentado, na campanha de 1968/69, como reforço do Salgueiros. No emblema da cidade do Porto ainda jogaria na época seguinte. Depois viria a passagem pela América do Norte, onde, nas épocas de 1969 e de 1970, ao lado de Matateu e de Uria, integraria os planteis do First Portuguese vencedores das referidas edições da Canadian National Soccer League. Finalmente, o regresso a Portugal, para representar o Famalicão de 1970/71.

*retirado do artigo de Afonso de Melo, publicado a 31/03/2021, em https://ionline.sapo.pt
**retirado da revista “Ídolos do Desporto – 2ª série, nº3”, publicada a 31 de Outubro de 1959

1677 - MENDES

Membro das “escolas” benfiquistas, António da Silva Mendes, ainda em idade júnior, conseguiria convencer Otto Glória a levá-lo à estreia pela equipa sénior das “Águias”. No entanto, essa partida da 1ª jornada do Campeonato Nacional de 1955/56 não teria a continuidade, por certo, desejada pelo jovem atacante. A sua plena integração no conjunto principal ocorreria na campanha de 1957/58. Já a época seguinte marcaria a chegada do avançado à titularidade. Porém, com a contratação de Béla Guttmann para o comando técnico do Benfica, o paradigma do atleta voltaria a mudar e o jogador, de 1959/60 em diante, ver-se-ia empurrado para a condição de elemento pouco utilizado.
Dizem que o afastamento da primeira linha do Benfica, em muito, terá sido perpetuado por questões de ordem disciplinar. A verdade é que o avançado pouco jogaria sob a alçada do referido técnico magiar, condição igualmente mantida com a chegada do chileno Fernando Riera. Ainda assim, Mendes, com as qualidades exibidas, onde o forte pontapé mereceria um enorme destaque, conseguiria feitos por poucos alcançados. Alguns deles seriam as chamadas às selecções nacionais, nomeadamente aos “esperanças” e à equipa militar. A representar o último conjunto mencionado, o atacante participaria naquele que viria a tornar-se no primeiro grande feito internacional do futebol luso. Na intendência da dupla Ribeiro dos Reis/Otto Glória, respectivamente o seleccionador e o treinador de campo, o jogador acabaria convocado para a edição de 1958 do Torneio Internacional Militar. Ao lado de nomes como Vicente, Vital, Raul Moreira, Miguel Arcanjo, Coluna, Hernâni, Rocha ou Fernando Mendes, o atleta entraria em campo na final e, frente a França, ajudaria ao triunfo, por 2-1, do colectivo português.
Sem lugar no Benfica, mas com o currículo recheado pelas conquistas de 2 Campeonatos Nacionais e de 2 Taças de Portugal, Mendes aceitaria fazer parte do negócio a envolver a chegada de Pedras à Luz. Em sentido contrário, o avançado partiria para o Campo da Amorosa, onde, com a temporada de 1962/63 já em andamento, passaria a representar o Vitória Sport Clube. No Minho, onde começaria a ser orientado pelo argentino José Valle, o jogador depressa viria a assumir um papel de destaque. Titular indiscutível, logo na época de chegada à “Cidade Berço”, o atleta participaria na final da Taça de Portugal perdida, infelizmente para a sua equipa, para o Sporting. Nisso de feitos, depois de dar o contributo para diversos 4ºs lugares, o jogador, na época de 1968/69, ajudaria à melhor classificação de sempre do conjunto de Guimarães, ou seja, o 3º posto na 1ª divisão. Tal posição na competição de maior calibre no calendário luso daria, aos “Conquistadores”, o direito à estreia nas provas de índole continental. Como uma das principais figuras da equipa, o atleta entraria em campo frente aos checoslovacos do Banik Ostrava e participaria na Taça das Cidades com Feira de 1969/70.
Claro que a década passada em Guimarães traria outras honras a António Mendes. Como um praticante tecnicista, com uma leitura de jogo excepcional, dono de um bom passe e, dando jus à alcunha “Pontapé Canhão”, possuidor de um remate mortífero, o atacante, que chegaria a posicionar-se como extremo-esquerdo, segundo avançado ou mesmo como ponta-de-lança, teria a oportunidade de regressar às equipas da Federação Portuguesa de Futebol. Nesse contexto, o jogador transformar-se-ia no primeiro elemento do Vitória Sport Clube a representar o mais importante colectivo de Portugal. Com a “camisola das quinas”, chamado por Manuel da Luz Afonso e treinado, mais uma vez, por Otto Glória, o atleta entraria em campo a 13 de Novembro de 1966 e, frente à Suécia, alcançaria 1 internacionalização “A”.
Com o final da união ao emblema vimaranense a acontecer com o termo das provas incluídas no calendário futebolístico de 1970/71, António Mendes manter-se-ia ligado à modalidade. Logo na campanha seguinte, no papel de treinador-jogador, passaria a representar o Paços de Ferreira. Já a abraçar exclusivamente as funções de técnico, orientaria o Felgueiras, a AR São Martinho do Campo e o Ponte da Barca. Pelo meio, um salto até França onde, de volta à condição de treinador-jogador, ficaria à frente do FC Laon.

1676 - ADEMAR

Com a formação terminada ao serviço do Sporting, Ademar Moreira Marques, ainda como membro das “escolas” leoninas, seria convocado às jovens selecções de Portugal. Na caminhada internacional, o médio-centro, a 17 de Abril de 1976, acabaria, pela primeira vez, por ser chamado a envergar a “camisola das quinas”. Depois da referida partida frente à Polónia, cumprida no âmbito dos sub-16, o atleta continuaria a envergar as cores nacionais. Ao passar por todos os escalões, incluindo os “esperanças”, o jogador também teria a oportunidade de exibir o seu talento no conjunto “A”. A primeira dessas aparições aconteceria, pela mão de Juca, num particular forasteiro frente à Bulgária. Seguir-se-iam ao desafio agendado a 16 de Dezembro de 1981, as contendas da equipa “B”, dos “olímpicos”, outra presença em campo pelo conjunto principal e uma soma a dar ao centrocampista um total de 23 jogos disputados com as insígnias lusas.
No que concerne ao percurso clubístico, a estreia de Ademar pela equipa principal do Sporting dar-se-ia no decorrer da temporada de 1977/78. Lançado por Rodrigues Dias num jogo, frente ao Benfica, a contar para a Taça de Portugal, seria na “Prova Rainha”, ainda na época de estreia como sénior, que o médio teria o primeiro grande título da carreira. Ao ser chamado pelo referido treinador à final e à finalíssima da competição, o jogador ajudaria o seu lado a derrotar o FC Porto.
Continuando a falar de troféus vencidos pelo “Leões”, então há também que fazer referência às vitórias no Campeonato Nacional de 1979/80 e à “dobradinha” de 1981/82. Ora, tanta preponderância no xadrez táctico leonino, onde, quase sempre, ocuparia uma posição de titular, tornaria ainda mais estranha a sua saída dos “Verde e Brancos” e o final da campanha de 1982/83, com alguma polémica à mistura, marcaria a sua partida de Alvalade – “(…)a opção do presidente João Rocha em 1983, ao dispensar grande parte do plantel, foi descabida. O Oliveira, o Jordão e o Manuel Fernandes eram os craques, mas os que tocavam ferrinho e bombo na parte de trás do palco, como eu, também eram”*.
De seguida, numa altura em que já era internacional “A”, apareceria uma fase da sua carreira caracterizada por uma vincada errância. Durante 4 anos, Ademar envergaria 4 camisolas diferentes. Tais experiências trariam sensações bem diferentes à sua caminhada desportiva. No Marítimo e no Vitória Futebol Clube disputaria o 2º escalão. Já no intervalo desses dois emblemas, o FC Porto de 1984/85, onde pouco jogaria, entregar-lhe-ia ao palmarés outra conquista do Campeonato Nacional. Falta fazer menção ao Belenenses e à temporada de 1985/86, período durante o qual veria o grupo de trabalho onde estava inserido, a chegar a mais uma final da Taça de Portugal.
Sucedendo-se a esse período da carreira que, convenhamos, terá sido menos conseguido, Ademar entraria no emblema que, atrás do Sporting, mais representatividade daria à sua carreira. No Farense a partir da campanha de 1987/88, o médio recuperaria a magia de temporadas pretéritas. No Algarve, com uma única passagem pela 2ª divisão, o atleta permaneceria durante meia dúzia de anos. Quase sempre como figura central das manobras idealizadas pelos diferentes treinadores, o jogador, muito mais do que contribuir para os objectivos do colectivo, tornar-se-ia, progressivamente, numa figura histórica da agremiação sediada no Sotavento. Já o fim do seu trajecto enquanto futebolista também surgira ao serviço dos “Leões” da capital algarvia e consumar-se-ia com o termo das provas disputadas em 1992/93.

*retirado do artigo de Pedro Jorge da Cunha, publicado a 8/7/2020, em https://maisfutebol.iol.pt

1675 - MARTINHO

Existem 2 questões na carreira de Martinho que não consegui ver respondidas. A primeira prende-se com a entrada do jogador no Atlético e com a possibilidade, ou não, de ter representado, anteriormente, outro emblema. Já a segunda dúvida surgiu-me pelo facto de não ter descoberto, na totalidade dos registos por mim pesquisados, qualquer referência à sua participação nas provas agendadas para a temporada de 1951/52. A hipotética falha levou-me, de seguida, a outra pergunta e, na tentativa de desvendar o mistério, muito menos encontrei qualquer justificação para o tal “desaparecimento”.
Adiantando este texto e contrariamente ao que está testemunhado em fontes mais recentes, que apenas mostram Carlos Martinho Gomes no Atlético a partir de 1947/48, as referências mais antigas, contemporâneas à carreira do avançado-centro, dizem-nos que a sua ligação ao emblema do popular bairro de Alcântara terá começado na campanha anterior, ou seja, durante a temporada de 1946/47. No entanto, naquilo que consegui investigar, nomeadamente nos registos do Campeonato Nacional da 1ª divisão, não achei qualquer dado que permita dizer que o jogador terá participado na prova de maior relevo no plano português.
O que consigo asseverar é a sua entrada em campo, pela equipa principal do Atlético, na edição de 1947/48 do escalão maior luso. Nesse contexto, não só o avançado apareceria como um dos nomes arrolado ao campo de jogos, como passaria, ao lado de Ben David, Armando Carneiro, Eduardo Vital ou Ernesto, a comparecer às pelejas da agremiação alcantarense na condição de membro regular do seu “onze”. Aliás, a titularidade conquistada levá-lo-ia a ser uma das escolhas do treinador Pedro Areso para a final da edição de 1948/49 da Taça de Portugal. Na partida disputada no Estádio Nacional, o ponta-de-lança inscreveria o seu nome no rol de marcadores. Porém, com a vitória a sorrir ao Benfica, o jogador veria o tão almejado troféu partir na direcção aos escaparates das “Águias”
Como uma das estrelas, não só do emblema “alfacinha”, mas do cenário futebolístico português, Martinho continuaria a sublinhar o alto gabarito das suas habilidades, a contrapor à baixa estatura física. Tais qualidades dariam um enorme contributo para os êxitos do conjunto a jogar em casa no Estádio da Tapadinha. Um bom exemplo desses sucessos colectivos viria com o 3º lugar alcançado na tabela classificativa do Campeonato Nacional de 1949/50. Ainda assim, a melhor honra surgiria com as chamadas aos trabalhos da Federação Portuguesa de Futebol. No contexto internacional, a 12 de Maio de 1951, numa digressão pelo Reino Unido, o avançado entraria em campo num “onze” onde também estariam Ben David e Ernesto. Passados apenas alguns dias sobre o jogo frente ao País de Gales, seguir-se-ia a sua entrada em campo, mais uma vez pela mão de Tavares da Silva, numa peleja a opor o grupo luso a Inglaterra. Na sequência dessas partidas de selecções, o atleta, como prova o planeamento do embate contra a Bélgica marcado para a 17 de Junho de 1951, ainda voltaria a ser chamado. Todavia, apesar de convocado, o ponta-de-lança não mais entraria em campo pelo seu país e, desse modo, acumularia 2 presenças com a “camisola das quinas”.
No resto da carreira, onde o tal hiato referido no parágrafo inicial poderá ser explicado por uma grave lesão ou até pela chamada ao Serviço Militar Obrigatório, outro momento de especial importância viria a ser a transferência para o maior rival do Atlético.Com os alcantarenses no 2º escalão, Martinho anuiria ao desafio lançado pelo Belenenses e, na campanha de 1958/59, passar-se-ia para o Restelo. Na sequência da aludida mudança, o jogador começaria por integrar o grupo de trabalho comandado por Fernando Vaz. No entanto, as 2 épocas seguintes, como resultado da veterania apresentada pelo avançado, entregá-lo-iam, na maioria das ocasiões, aos desafios dos “reservas”. Por fim, surgiria o plantel da CUF e fim da caminhada como futebolista com o termo das provas planeadas para 1961/62.

1674 - PAULO ROCHA

Que saiu do Luso do Barreiro para o Sporting, é factual. O que não consegui apurar, com um bom grau de certeza, foi em que altura terá ocorrido a transferência! Para essa dúvida, em muito contribuíram dois conjuntos de fontes diferentes. Assim sendo, há os que asseveram o médio, em 1971/72, como estreante na equipa sénior do Luso, para, na época seguinte, vir a integrar os juniores dos “Leões”. Por outro lado, temos os que dão o jogador como membro das “escolas” do emblema da Margem Sul até 1972/73 e a trabalhar, na campanha subsequente, no conjunto principal dos “Verde e Brancos”. Ora, esta falta de clareza tem outra implicação e tendo em conta que o atleta teve a estreia, com a “camisola das quinas”, a 10 de Fevereiro de 1973, então não tenho como garantir a partir de que agremiação veio a cumprir essas presenças pelos sub-18.
Ultrapassando esta pequena introdução, prelúdio a justificar a falta de clareza no que diz respeito aos primeiros anos da sua carreira, posso dizer-vos que Paulo José Rocha Beldroegas, pela mão de Mário Lino e numa altura em que já era internacional jovem por Portugal, estrear-se-ia na equipa principal do Sporting, no decorrer das provas arroladas a 1973/74. Mesmo não tendo sido, em termos individuais, a campanha mais proveitosa do médio-centro com a camisola dos “Leões”, os seus desempenhos, durante o aludido período, deixariam bons indicadores. Com a temporada seguinte sob a batuta de 3 treinadores diferentes – a saber: Di Stefano, Osvaldo Silva e Fernando Riera – o médio assumir-se-ia como um dos membros do plantel leonino com maior utilização. No entanto, contrariamente ao projectado, a verdade é que 1975/76 emergiria em contraciclo com o crescimento até aí revelado pelo centrocampista. Quase sem aparecer em campo pelos ”Verde e Brancos”, o jogador decidiria mudar de rumo e sairia de Alvalade, ainda assim, com o palmarés enriquecido pela “dobradinha” de 1973/74.
A temporada de 1976/77 marcaria o início da sua ligação ao Sporting de Braga. Na colectividade minhota, onde chegaria para trabalhar com Mário Lino, o médio depressa reconquistaria o papel perdido em Lisboa. Como um dos pilares do sector intermediário dos “Guerreiros” e logo na época de entrada no Estádio 1º de Maio, Paulo Rocha, nessa altura já treinado por Hilário, marcaria presença na final da Taça da Federação Portuguesa de Futebol e, frente ao Estoril Praia, ajudaria a conquistar o inédito troféu. Depois viriam outras 4 campanhas, quase sempre com os números a indicar a sua aptidão primodivisionária e uma chamada à selecção “B” a cimentar o seu valor desportivo.
Apesar de ter tido no Sporting de Braga o emblema mais representativo da caminhada sénior, seria no tempo vivido com as cores de outro clube que o jogador viveria um dos momentos mais importantes na carreira. Já como membro integrante do Portimonense, para onde entraria em 1981/82, Paulo Rocha acabaria incluído, por Juca, na comitiva a viajar para o Brasil. Como resultado dessa viagem transatlântica, o atleta, ao lado de outros colegas na equipa do Barlavento, casos de Norton de Matos, Delgado, Carlos Alhinho, Joaquim Murça e Coelho, inscreveria o nome na ficha de jogo a opor Portugal ao “Escrete” e, a 5 de Maio de 1982, adicionaria 1 internacionalização “A” ao currículo.
Terminado o capítulo de 2 anos vivido no Algarve, Paulo Rocha voltaria ao extremo norte do país e rubricaria um contrato com o Desportivo de Chaves. Em Trás-os-Montes a partir de 1983/84, o médio-centro, apesar de ter começado a referida aventura nas disputas do 2º escalão, viria, mais uma vez, a registar o seu nome num episódio de enorme importância. Com os “Flavienses”, há muito tempo, a perseguirem o objectivo da estreia na 1ª divisão, a temporada de 1984/85, já com Raul Águas no comando, selaria tal meta. Confirmada a subida, seria então a vez da época de 1985/86, com o centrocampista como uma das principais figuras do 6º lugar alcançado no Campeonato Nacional, a marcar o arranque dos “Azul-grená” nas pelejas primodivisionárias.
Com o fim da carreira a aproximar-se, Paulo Rocha, a partir de 1986/87, deixaria de vez o cenário maior do futebol português. Seguir-se-iam, após 11 campanhas entre os “grandes”, Beira-Mar, Trofense, Silves e por fim, já a abraçar os desígnios de treinador-jogador, o plantel de 1989/90 do Alvorense.

1673 - MARTINS

  • “Só conheceu estes dois clubes [referência a Sporting e Benfica], à excepção do «Onze Unidos de Santa Marta» - um grupo de rapazes a quem, ele, com os seus 13 anos de idade, já dava confiança ao posto de guarda-redes. Martins envergou a camisola dos «leões» quando decorria a época de 1933”*
  • “António Rodrigues Martins nasceu em Lisboa a 27 de Julho de 1913, e em 1931 apareceu a defender a baliza do Sporting”**.


Apesar da discordância das datas apresentadas nestas duas publicações, a verdade é que, pela mão de Joseph Szabo, António Rodrigues Martins estrear-se-ia na equipa principal do Sporting no desenrolar da campanha de 1936/37. No entanto, mesmo tendo em conta a posse de uma cotação promissora, o guardião, nos seus intuitos de conquistar a titularidade, ver-se-ia afrontado pela feroz concorrência de Azevedo. Já a campanha seguinte manteria o mesmo cenário, com a preferência do treinador luso-magiar a dar a primazia ao futebolista barreirense. Ao continuar na sombra do afamado colega, e numa altura em que, no palmarés, contava com a vitória na edição 1937/38 do Campeonato de Lisboa, o guardião preferiria dar um novo rumo à carreira e na temporada de 1938/39 encetaria a sua colaboração com o Benfica.
O primeiro resultado da entrada nas “Águias” seria, para Martins, a tão almejada titularidade. Já no termo dessa primeira temporada a envergar o “manto sagrado”, o guardião seria um dos escolhidos, por Lipo Hertzka, para disputar a final da edição inaugural da Taça de Portugal. A mencionada partida terminaria com o “placard” favorável à Académica de Coimbra. Porém, e recuperados do desaire, o conjunto “alfacinha” chegaria aos títulos logo na temporada seguinte. No contexto da época de 1939/40, com as vitórias no Campeonato de Lisboa e na “Prova Rainha” a pertencerem ao Benfica, o guardião passaria a sublinhar-se como uma das figuras em destaque no panorama futebolístico português. Embalados, os “Encarnados” reincidiriam nos triunfos e o guarda-redes, nos 8 anos que passaria ao serviço do “Glorioso”, daria um belo contributo na conquista de mais 3 Campeonatos Nacionais e, ao repetir a presença em ambas as finais, de outras 2 Taças de Portugal.
Não só em títulos seria erguido o sucesso de Martins. Também nas cores da selecção, o guardião haveria de encontrar um dos sustentos mais inolvidáveis da sua caminhada competitiva. Tal capítulo, deveras importante na sua consagração, chegaria pela mão de Cândido de Oliveira. A partida, agendada para 1 de Janeiro de 1942, oporia Portugal à sua congénere helvética. Das Salésias, o conjunto luso sairia vitorioso por 3-1 e o guarda-redes, ao lado de Gaspar Pinto e Francisco Ferreira, colegas no Benfica, alcançaria, na contenda disputada em Lisboa, 1 internacionalização com a “camisola das quinas”.
Apesar de ter iniciado a carreira no Sporting, seria o Benfica a tornar-se no emblema mais representativo do seu percurso sénior. Para tal contribuiriam as, já mencionadas, 8 temporadas passadas com a equipa principal dos “Encarnados”. Durante esse período, no qual raramente deixaria de ser titular, o guarda-redes também adicionaria ao currículo outros números merecedores de realce e os 265 jogos oficiais cumpridos ao serviço das “Águias” transformariam Martins, cuja carreira conheceria o termo com o fim das provas agendadas para 1946/47, numa das figuras mais importantes do clube, na década de 1940.

*retirado do artigo de Fernando Sá, revista “Stadium nº247”, publicado a 27/08/1947
**retirado do artigo da revista “Crónica Desportiva nº35”, publicado a 08/12/1957

1672 - JOSÉ RAFAEL

Com o percurso formativo feito no Farense, seria ainda inscrito como júnior que José António Silvestre Rafael acabaria chamado, por Manuel Oliveira, aos trabalhos da equipa principal. Nessa campanha de 1975/76, o avançado-centro, caracterizado por ser um praticante veloz, de enorme agilidade e com enorme faro para o golo, daria os primeiros passos numa carreira a entregá-lo, logo na época seguinte e resultado da despromoção do clube, às pelejas da 2ª divisão. No entanto, apesar do percalço competitivo, a cotação do jovem atleta não sairia beliscada e a prova surgiria, pouco tempo depois, com a chamada aos sub-18 de Portugal.
Com a primeira aparição a acontecer, pelas mãos de Peres Bandeira, a 26 de Outubro de 1976, as boas prestações que conseguiria com a “camisola das quinas” levá-lo-iam a manter-se como um dos elementos com presença assídua nas convocatórias das selecções. Ainda no escalão referido no termo do parágrafo anterior, o jogador conseguiria mais umas quantas chamadas, com a edição de 1977 do Torneio Internacional de Cannes a constituir o apogeu dessa experiência. Seguir-se-iam, bem mais à frente na carreira, as convocatórias para os “olímpicos”. Todavia, seria a passagem pelo conjunto “A” luso que mais embelezaria o currículo do ponta-de-lança. Nesse contexto, com José Torres como principal timoneiro, o atacante participaria na Fase de Apuramento para o Mundial de 1986 e surgiria, a 12 de Outubro de 1985, como um dos goleadores na vitória, por 3-2, frente a Malta. Passados uns dias voltaria a marcar presença em campo e, no inolvidável triunfo forasteiro frente à Republica Federal da Alemanha, ajudaria a selar a qualificação para o certame organizado no México.
Com o Farense longe dos principais palcos do futebol luso, as temporadas a seguir à primeira chamada de José Rafael à equipa principal seriam cumpridas no escalão secundário. Ainda assim, o avançado não ficaria afectado por tal desígnio e continuaria a revelar enormes habilidades futebolísticas. Nesse sentido, em 1977/78, o ponta-de-lança, que a meio da referida campanha deixaria o Algarve para uma curta passagem por Toronto e pelo First Portuguese, ainda conseguiria consagrar-se como o melhor marcador do conjunto do Sotavento. Pouco tempo depois da experiência na Canadian National Soccer League, dar-se-ia o regresso aos “Leões de Faro” e o atacante, algum tempo depois de voltar a Portugal, teria a oportunidade de fazer a estreia na 1ª divisão.
Apesar de ter regressado para representar o Farense, seria a transferência para o Portimonense a dar-lhe a oportunidade de conseguir exibir-se entre os “grandes”. Apresentado como reforço do plantel de 1979/80 dos “Alvi-negros”, onde voltaria a encontrar-se com Manuel Oliveira, José Rafael, por razão do Serviço Militar Obrigatório, não revelaria, na experiência de 2 anos, números condizentes com o seu real valor. Seria necessária nova mudança de emblema para que esses parâmetros emergissem como uma realidade segura. No Amora a partir de 1981/82, época em que a colectividade da Margem Sul faria a estreia na 1ª divisão, a sua passagem de 2 campanhas pela Medideira levá-lo-ia a consagrar-se como um dos bons intérpretes a exibir-se no mais alto patamar português. Tal acréscimo de valor fá-lo-ia ser cobiçado por diversas agremiações. Contudo, apesar de tentado por Académica de Coimbra, Vitória Sport Clube e Beira-Mar, seria a “paixão” pelo emblema onde havia cumprido toda a formação a apelar ao seu coração.
Titular no Farense de 1983/84, onde faria parte de um tridente ofensivo também composto por Gil e por César, José Rafael, apesar das belíssimas exibições, veria uma grave lesão a comprometer o seu desempenho. Ainda assim, o fim das provas agendadas para a campanha aludida no começo deste parágrafo, empurrá-lo-ia para uma nova colectividade. Com a entrada no Boavista, onde, em 1984/85, passaria a ser orientado por Mário Wilson, o avançado-centro, mesmo com a concorrência de colegas como Filipovic ou Coelho, conseguiria destacar-se. Tal relevo faria com que o avançado-centro iniciasse no Bessa, com as chamadas à selecção “A” e o convite para ingressar no Sporting como os pináculos desse capítulo, o melhor trecho da sua carreira. Também nesse contexto, com as “Panteras” na luta pelos lugares cimeiros do Campeonato Nacional, as competições organizadas pela UEFA passariam igualmente a fazer parte do seu percurso. Todavia, outra mazela física voltaria a assolá-lo durante aquela que viria a tornar-se na derradeira época realizada pelos “Axadrezados” e o avançado, cumprida a temporada de 1986/87, deixaria a “Cidade Invicta”.
Seguir-se-ia o Vitória Futebol Clube de 1987/88, a partilha do balneário com Jordão ou Manuel Fernandes e a ruptura do tendão de Aquiles. Mais uma lesão, com muitas complicações no pós-operatório a comprometer a recuperação, levaria a que José Rafael, mesmo com uma mudança a meio da temporada de 1988/89 para o Belenenses, não mais jogasse futebol. O terrível desfecho impeliria o atleta para um final precoce da carreira e, com apenas 30 anos de idade, acabaria por “pendurar as chuteiras”.

1671 - JOSÉ MOTA

Natural da freguesia de Santa Maria Maior, no Funchal, José Mota veria na temporada de 1936/37 a campanha de ingresso no Clube Sport Marítimo. Daí em diante, por não ter conseguido apurar qualquer outra informação acerca da sua carreira enquanto atleta dos “Leões do Almirante Reis”, nomeadamente em que categorias teria participado, não posso apresentar qualquer outro dado sobre a caminhada competitiva deste avançado madeirense. Ainda assim, posso excluir a sua participação em momentos como as edições de 1936/37 e 1937/38 do Campeonato de Portugal ou até da Taça de Portugal de 1939/40. Já com os emblemas insulares excluídos da participação no Campeonato Nacional e com as colectividades madeirenses, supostamente pela dificuldade nos transportes, a não participar, por vários anos, na “Prova Rainha”, falta-me saber da contribuição do atacante para os títulos conquistados pelos “Verde-rubros”, no Campeonato Regional do Funchal, em 1939/40 e 1940/41.
Certo é que a temporada de 1944/45 marcaria a entrada de José Mota no Estoril Praia. Logo nessa época de chegada à Amoreira, mesmo não sendo um dos habituais titulares dos “Canarinhos”, o avançado mereceria a confiança do treinador Augusto Silva e acabaria por estrear-se, tal como o emblema por si representado, na 1ª divisão. Já a época seguinte, com a presença no “nacional” a depender do desempenho classificativo conseguido no “regional”, traduzir-se-ia pelo afastamento da colectividade da Linha de Cascais da prova de maior monta no calendário futebolístico português. Já a campanha de 1946/47, muito para além de marcar o regresso do atacante ao patamar máximo, assinalaria o fim da qualificação a partir dos Campeonatos Regional, para passar ao sistema de promoções e descidas ainda hoje vigente.
Daí em diante, José Mota assumir-se-ia como um dos principais esteios dos esquemas tácticos idealizados para as pelejas do Estoril Praia. Tal razão faria com que, mais uma vez, fizesse parte de um novo recorde dos “Canarinhos”, isto é, o 4º lugar conquistado no Campeonato Nacional. Tamanha preponderância levaria a que o avançado-centro começasse a ser equacionado para os trabalhos da selecção nacional. No contexto internacional, o atacante começaria por ser chamado aos duelos do conjunto “B”, como prova a convocatória para a contenda frente à Espanha, realizada a 20 de Março de 1949. Não muito tempo depois desse jogo realizado no Estádio Riazor, no qual não chegaria a entrar em campo, viriam as presenças na equipa “A”. Com a principal “camisola das quinas”, o atleta teria a estreia, pela mão de Armando Sampaio, a 15 de Maio de 1949. A vitória com o País de Gales, brindada com um golo de sua autoria, seria sucedida por um “particular” com a República da Irlanda e, desse modo, o currículo do futebolista madeirense ficaria colorido por dois desafios cumpridos por Portugal.
Apesar de ser um dos pilares do Estoril Praia e com a agremiação da Linha de Cascais a manter-se nas lutas primodivisionárias, a temporada de 1950/51 daria à caminhada do avançado um novo emblema. Apresentado como reforço do Vitória Sport Clube, José Mota, na campanha já mencionada e na seguinte, ambas ao serviço do emblema minhoto, manter-se-ia como um dos praticantes do patamar máximo. Já após deixar a “Cidade Berço”, o atacante regressaria aos “Canarinhos” para, em 1952/53, ter a derradeira aparição entre os “grandes”. Com a descida do emblema da Amoreira, seriam os cenários secundários, daí para a frente, a preencher a sua usança desportiva, rotina que, segundo algumas fontes, duraria até 1956/57.

1670 - FEBRAS

Descoberto enquanto atleta das camadas de formação do Cracks de Lamego, Jorge Manuel Ribeiro Cardoso, popularizado pelo nome Febras, alcunha que ganharia por razão do talho do pai, cedo chegaria a Coimbra. Como juvenil da Académica, o jovem avançado partilharia o balneário com Sérgio Conceição. Nesse trilhar de caminho, alguns anos mais tarde chegaria a altura de transitar para o escalão sénior. No entanto, a forte concorrência por um lugar no ataque da “Briosa”, que contava com nomes como Lewis, empurrá-lo-ia, em 1992/93, para um empréstimo ao serviço da Naval 1º de Maio. Os 2 anos cumpridos na Figueira da Foz, respectivamente passados nas disputas do 3º escalão e da 2 divisão “B”, serviriam para sublinhar o seu valor. Já o regresso aos “Estudantes” dar-se-ia em 1994/95 e apesar das boas prestações, o início da temporada seguinte não surgiria sem uma pequena polémica – “Lembro-me de ter sido o melhor marcador da equipa, em 1994/95, e na época seguinte o treinador Vieira Nunes me querer emprestar. Até hoje, nunca percebi porque tinham essa intenção e disse-lhes que preferia sair de vez do que ser emprestado. Acabei por ficar e por regressar aos golos num jogo em que só fui convocado porque os outros avançados estavam lesionados. Nunca mais saí da equipa, nem com o treinador Eurico Gomes, nem com Vítor Oliveira”*.
Ao manter-se com as cores da “Briosa”, Febras tornar-se-ia numa das peças da caminhada que, em 1997/98, levaria a Académica de Coimbra a retornar aos cenários primodivisionários. Apesar da época periclitante em termos colectivos, a ampla utilização do atacante mantê-lo-ia como um valor seguro do plantel. Conseguida a manutenção na campanha de regresso ao convívio como os “grandes”, a época seguinte também viria a tornar-se numa árdua provação. Porem, pior do que os desempenhos do grupo de trabalho, a fraca utilização do atacante levá-lo-ia a ser empurrado para um novo empréstimo. Nesse sentido, a meio da época de 1998/99, o jogador acabaria por ser apresentado como reforço do Gil Vicente. Os meses no emblema sediado na cidade de Barcelos, passados nas contendas da divisão de Honra, serviriam para justificar um novo regresso. Todavia, com a descida dos “Estudantes” a manter o atleta nas disputas do patamar secundário, o ano sob as ordens de Carlos Garcia não seria, de todo, proveitoso e o termo da temporada 1999/00 transformar-se-ia no fim da sua ligação com a agremiação beirã.
Daí em diante, em definitivo longe do patamar maior do futebol luso, o avançado encetaria um périplo a levá-lo a diferentes clubes e até a uma curta experiência no estrangeiro. Académico de Viseu, Lousada, Vizela e os malaios de um Sabah FA orientado por José Garrido, antecederiam o regresso a Portugal e, mais uma vez, ao Lousada. Por fim, com Febras a escrever o último capítulo da carreira, a única presença sénior do jogador numa colectividade da sua terra natal e o plantel de 2006/07 do Sporting de Lamego a encerrar a caminhada do atacante enquanto futebolista.
“Penduradas as chuteiras”, Febras ainda voltaria a ligar-se à modalidade e como treinador trabalharia para colectividades como o Sporting de Lamego, Moimenta da Beira ou Sampedrense.

*retirado do artigo a 7/11/2013, em www.record.pt

1669 - ELISEU

Seria já como membro da equipa principal do Leixões que Eliseu António Teixeira Pinto entraria em campo, pela mão de Peres Bandeira, no Mundial sub-20 de 1979. O aclamado certame, disputado entre Agosto e Setembro do referido ano, serviria, para o jovem jogador, de remate a uma caminhada internacional encetada, ainda no âmbito dos sub-18, a 21 de Fevereiro de 1978. Tendo participado, ao lado de Alberto Bastos Lopes, Nascimento, Diamantino, Zé Beto ou Adão, no torneio organizado no Japão, o defesa-direito regressaria a Portugal com o currículo embelezado por um total de 8 partidas disputadas com a “camisola das quinas”. Tal tónico ajudá-lo-ia a afirmar-se como um dos bons elementos saídos dos “Bebés do Mar”. Porem, a estreia no principal escalão português ainda estaria longe e a alguns quilómetros de distância de Matosinhos.
Transferido para o plantel primodivisionário do Salgueiros na temporada de 1983/84 e após 5 anos na equipa principal do Leixões, Eliseu começaria por trabalhar sob as ordens de Octávio Machado. Titular no arranque da campanha, a verdade é que, com o avançar de época, mormente com a chegada de outros treinadores, o protagonismo que alcançaria inicialmente perder-se-ia. Sem lugar no conjunto de Paranhos, o defesa-direito procuraria dar seguimento à carreira noutras paragens. Com a oportunidade a surgir no Sporting de Espinho, o jogador acabaria por regressar às pelejas do escalão secundário. Já o regresso ao convívio com os “grandes”, viria a acontecer cumpridas algumas campanhas nas pelejas secundárias e apenas em 1987/88.
A trabalhar com Quinito, Eliseu, até pela condição de capitão de equipa, sublinhar-se-ia como um dos principais activos dos “Tigres da Costa Verde”. Outro factor que contribuiria para o acréscimo de valor na carreira do jogador, feito alcançado igualmente na última campanha referida no parágrafo anterior, seria o 6º posto obtido na tabela classificativa do Campeonato Nacional da 1ª divisão, ou seja, a melhor prestação de sempre conseguida pelo Sporting de Espinho na prova de maior relevo do calendário futebolístico português. Contudo, contrariamente ao bom desempenho feito no desenrolar de 1987/88, a época seguinte traduzir-se-ia pelo claudicar competitivo da agremiação a jogar em casa no Estádio Comendador Manuel Violas e, como consequência, a temporada de 1988/89 traria a inevitável despromoção.
Apesar do desaire colectivo, Eliseu manter-se-ia fiel ao listado alvinegro. Aliás, as 9 épocas cumpridas pelo Sporting de Espinho, não só fariam da agremiação sediada no distrito de Aveiro na mais representativa da sua caminhada desportiva, como transformariam o defesa num dos nomes históricos do clube. Outro aspecto importante emergiria com aquela que viria a tornar-se na derradeira campanha do jogador ao serviço dos “Tigres da Costa Verde”. Essa temporada de 1992/93, mais uma vez com Quinito ao leme da agremiação, marcaria o seu regresso aos palcos de maior monta e a despedida do lateral-direito do contexto primodivisionário.
Para completar uma carreira de 17 anos sobretudo a cirandar entre os dois principais patamares do futebol luso, Eliseu ingressaria, em 1994/95, no plantel do Feirense e cumpridas duas temporadas no Estádio Marcolino de Castro, o defesa-direito, com o termo das provas agendadas para 1995/96 tomaria a decisão de “pendurar as chuteiras”.