430 - PEDRO ROMA

Apesar das passagens por outros clubes, a carreira de Pedro Roma estará para sempre relacionada com a Académica de Coimbra. No entanto, apesar dos muitos anos passados a defender a baliza dos "Estudantes", o que destacaria o guardião de muitos outros colegas futebolistas seria o facto de ter personificado aquela que é a verdadeira mística do emblema conimbricense – “Posso confidenciar, e parece modéstia, mas para mim, além daquelas defesas que valeram pontos, permanências sofridas na primeira Liga, 'frangos', jogos inesquecíveis, a maior delas todas foi ter conseguido terminar a minha licenciatura, enquanto atleta da briosa e 'beber' das gerações mais antigas o verdadeiro espírito académico”*
Para além do brilhante percurso escolar, seria na Académica que Pedro Roma concluiria a formação como futebolista. De seguida, depois da estreia como sénior num empréstimo, na temporada de 1989/90, à Naval 1ª de Maio, o regresso a Coimbra começaria a revelar um atleta de qualidades superiores. Nesse sentido, com a campanha de 1991/92 a correr de feição para o guarda-redes, o Benfica, certo da habilidade da jovem promessa e mesmo tendo em conta a total inexperiência primodivisionária do jogador, decidir-se-ia pela sua contratação. Todavia, com a chegada à Luz a acontecer na temporada de 1992/93, o guardião encontraria Neno e Silvino como concorrentes a uma posição no “onze”. Obviamente, perante colegas de tanto gabarito e com enorme traquejo, as oportunidades por si conquistadas seriam praticamente nulas. Ainda assim, o atleta não deixaria de valorizar a experiência ao serviço das “Águias” – "Guardo boas recordações do Benfica. É um marco importante, em qualquer profissional, uma passagem pelo Benfica. É pena que as coisas não me tenham corrido de uma forma positiva, mas é um marco que vou guardar para o resto da minha vida"**.
Sem espaço no plantel dos "Encarnados", Pedro Roma começaria um périplo de empréstimos que, em três campanhas sucessivas, levaria o atleta ao Gil Vicente, à Académica e ao Famalicão. Já o regresso em definitivo à cidade do Mondego, dar-se-ia em 1996/97 e logo para uma temporada que, quase uma década depois, marcaria a subida da “Briosa” ao escalão máximo do futebol português. Seguir-se-iam, com um pequeno interregno em que vestira as cores do Sporting de Braga, 13 temporadas a envergar o equipamento da colectividade conimbricense, campanhas que fariam dele, muito mais do que o guarda-redes mais utilizado na história dos “Estudantes”, num dos nomes mais estimados pela massa adepta do clube – "Foram 20 anos, muitos jogos - quase 400 -, mais de uma centena deles em que tive a suprema honra de ser capitão de equipa. Como o foram antes Alberto Gomes, Mário Wilson, Bentes, Gervásio, Tomás e Miguel Rocha e tantas outras figuras do imaginário Briosa ao longo de décadas. Nunca me imaginei ao pé de homens tão ilustres. Não dá para equacionar a honra que se sente e simultaneamente a responsabilidade que nos pesa sobre os ombros"***.
Com quase 40 anos de idade, após terminar a carreira de futebolista, Pedro Roma encetaria a sua caminhada nas funções de treinador de guarda-redes, trajecto esse que, depois dos primeiros anos a trabalhar na Académica de Coimbra, iria levar o antigo guardião até às camadas jovens da selecção nacional.

*retirado do artigo de Álvaro Gonçalves, publicado a 30/12/2013, em www.zerozero.pt
**retirado do artigo de Mary Caiado, publicado a 16/12/2003, em https://maisfutebol.iol.pt
***retirado do artigo publicado a 06/07/2010, em www.record.pt

429 - REDONDO


Quando se completa a formação num dos históricos clubes portugueses e sendo o dito emblema um frequentador assíduo da 1ª divisão, é normal que o intérprete em causa ambicione fazer carreira no escalão maior. João Redondo não deve ter passado ao lado de tal sonho e o início da carreira sénior haveria de trazer isso mesmo ao mencionado praticante. Porém, cumprida a época de estreia na principal equipa da Académica de Coimbra, a “Briosa”, com o termo das provas agendadas para 1979/80, acabaria por ser despromovida. Arrastado para o escalão secundário, o defesa manter-se-ia fiel ao clube e durante os anos seguintes acabaria afastado do convívio com os “grandes”. Curiosamente, seria após ajudar os “Estudantes” a regressar aos principais palcos do futebol luso que, na temporada de 1984/85, passaria a representar a União de Coimbra. Seguir-se-ia o Beira-Mar e não fosse a paciência uma virtude e talvez o emblema aveirense também não tivesse sido a porta de regresso ao patamar máximo.
Com a chegada ao Estádio Mário Duarte a acontecer na campanha de 1985/86, a temporada de 1988/89 marcaria não só o retorno dos “Auri-negros” à 1ª divisão, como também o regresso de Redondo ao ambicionado contexto primodivisionário. Cumprido o objectivo inicial, o passo seguinte levaria o defesa a querer manter-se como titular no referido patamar e, nos anos seguintes, o jogador conservar-se-ia como um dos nomes com presença habitual no “onze” do Beira-Mar. Tal estatuto, meritoriamente auferido na colectividade sediada em Aveiro, daria ao atleta a oportunidade de ultrapassar a centena de partidas disputadas no escalão máximo, transformando-o, naturalmente, numa das figuras de maior relevo nas provas nacionais, na transição da década de 1980 para a de 1990.
Depois de 8 temporadas ao serviço do Beira-Mar, ao longo das quais a presença na final da Taça de Portugal de 1990/91 serviria como ponto mais alto, o jogador deixaria a agremiação aveirense. Ao ser apresentado como reforço do Tirsense para a época de 1993/94, o defesa, com a camisola dos “Jesuítas”, teria nas 2 campanhas seguintes as últimas na 1ª divisão. Finalmente, como derradeiro capítulo da sua caminhada competitiva, surgiria a Sanjoanense e o final de carreira com o encerramento da temporada de 1996/97.

428 - SANTANA

Não gosto que uma pessoa, por razão da sua ascendência, tenha um valor previamente adquirido. Igualmente, penso que cada individuo deve ser aferido exclusivamente pelo caminho que vai traçando e nunca em termos comparativos com o trajecto, por exemplo, dos seus pais. Contudo, é impossível não fazer esta referência e, por certo, a mesma é, para este antigo jogador, um motivo de enorme orgulho. É verdade, o Santana aqui hoje apresentado é filho de outro Santana, isto é, descente da antiga estrela benfiquista e bicampeão europeu pelo emblema lisboeta.
 Quase de forma natural, o seu começo como atleta far-se-ia de "águia" ao peito. Todavia, José Santana, ao contrário do pai, iria preferir a ponta contrária do campo para mostrar as suas habilidades. A jogar como defesa, o atleta nunca chegaria a vestir a camisola dos “Encarnados” na categoria principal. Como júnior deixaria a Luz para rumar ao Estoril Praia. Ainda na época da chegada aos “Canarinhos”, a 1978/79, o jogador faria a sua estreia entre os seniores sem, contudo, conseguir somar um número substancial de jogos. Já a campanha seguinte, depois da participação no Mundial sub-20 de 1979, revelaria um jovem praticante com capacidade suficiente para ocupar um lugar a titular e essa regularidade valer-lhe-ia, no defeso estival de 1980, a transferência para a Académica de Coimbra.
Nos 2 anos cumpridos na cidade da Beira Litoral, Santana acabaria por viver uma das grandes polémicas do futebol nacional. O episódio conta-se depressa. Num dos últimos jogos da edição de 1981/82 da 2ª divisão, a Académica, que tinha descido de escalão na época anterior, preparava-se para disputar, frente à AD Guarda, os pontos que poderiam garantir a sua promoção. Um golo haveria de ser marcado aos 78 minutos, mas um coro de protestos que, dizem, cercou o árbitro durante mais de 10 minutos, contribuiria para que o juiz anulasse o lance. Na sequência da referida confusão, os protestos da "Briosa" fariam com que o jogo tivesse repetição. Nessa segunda partida, num "ambiente de cortar à faca", a Académica acabaria mesmo por vencer. O pior é que a contenda seria posteriormente anulada e os "Estudantes" haveriam de permanecer no escalão secundário.
Seria pouco tempo depois do episódio relatado no parágrafo anterior que a transferência de Santana encaminhá-lo-ia até ao clube mais representativo da sua carreira. No Rio Ave, onde permaneceria por 6 temporadas, o defesa disputaria largas dezenas de partidas. Tais números transformá-lo-iam num dos nomes inesquecíveis do emblema vilacondense. Porém, outro feito ficaria para história e a campanha que levaria o emblema da caravela à final da Taça de Portugal de 1983/84, mesmo com o jogador a não entrar em campo na final disputada no Estádio Nacional, ficaria registado como uma das grandes memórias do atleta.
Depois do Rio Ave, de onde sairia em 1988, o defesa haveria de vogar por emblemas das divisões secundárias. Um ano no Paredes e outro com as cores do Olhanense precederiam o seu ingresso no plantel de 1990/91 do Amora. No emblema da Margem Sul, o jogador cumpriria as últimas 3 campanhas da sua caminhada competitiva e o termo da temporada de 1992/93 haveria de trazer o fim da sua carreira.

427 - ESMORIZ

Nasceu longe da homónima freguesia do concelho de Ovar. A sua carreira também passou ao lado dessa mesma localidade, já que foi em Lisboa, terra da sua naturalidade, que o antigo atleta cumpriu grande parte do percurso enquanto futebolista. Começou nos seniores do Atlético na temporada de 1969/70 e no popular emblema “alfacinha” iniciou a actividade desportiva como defesa. Foi igualmente nessas funções que deixou o clube do bairro de Alcântara para, na campanha de 1975/76, rumar aos vizinhos, e talvez os maiores rivais, do Belenenses. Traição ou não, a verdade é que no clube do Restelo conseguiu projectar-se para uma carreira muito interessante. Nesse sentido, os da "Cruz de Cristo” permitiram-lhe grande parte das partidas disputadas no mais importante escalão luso. Foram também os “Azuis” a transformá-lo num médio-centro e a permitirem ao jogador a estreia nas competições de cariz continental.
Na Taça UEFA de 1976/77, por mais histórias que possam ter havido durante o seu percurso no futebol, Esmoriz viveu um momento inolvidável. Frente ao FC Barcelona, é certo que o Belenenses foi eliminado. No entanto, enganam-se os que pensam que tal passagem foi fácil para o conjunto catalão. É verdade, contra a equipa que, entre outras estrelas, contava com nomes como os neerlandeses Johan Cruyff ou Neeskens, os portugueses souberam bater-se de igual para igual. O saldo das duas mãos foi 5-4, mas, para além do empate conseguido em casa por 2-2, a equipa lisboeta foi a Camp Nou sem qualquer temor e, espantam-se, só sofreu o golo que decidiu a ronda a 3 minutos do fim do tempo regulamentar.
 Após 5 temporadas com as cores do Belenenses, aos 30 anos de idade, ao atleta surgiu a oportunidade de dar outro passo na carreira e ao convite do Sporting, Esmoriz não virou a cara. No entanto, a concorrência era enorme e o centrocampista raramente teve a chance de mostrar os predicados que tinham levado os “Leões” a apostar em si. Ainda assim, após uma primeira campanha deveras modesta, o inglês Malcolm Allison, contratado para a campanha de 1981/82, haveria de mantê-lo no plantel e a opção do mencionado técnico, assente na entrega e abnegação demonstrada pelo jogador, fez com o seu nome constasse na lista de vencedores do Campeonato Nacional de 1982/83.
Depois dessa vitória, Esmoriz abandonou o Sporting e deixou também os palcos da 1ª divisão. Daí em diante vogou pelos escalões secundários onde ainda vestiu as camisolas de Penafiel, União de Leira, Estoril Praia e Cova da Piedade.

426 - FERNANDO PORTO

Já falei, neste “blog”, de um tempo em que a contratação, por parte dos emblemas portugueses, de atletas vindos das ligas espanholas foi, por assim dizer, comum. Fernando Porto foi um dos nomes que, por essa altura, chegou a Portugal. Veio para jogar no Farense, mas, como é óbvio, para trás já tinha uma carreira firmada no país vizinho. Sobre essa primeira parte da sua vida profissional, tenho de fazer referência à mesma como peculiar. Porém, não quero que entendam tal afirmação como pejorativa. Dito isto, ao analisarmos esses anos, há uma coisa que salta logo à vista. Ora vejamos! Formou-se no Celta de Vigo para, depois, ser promovido à equipa "B". Mesmo ao ser chamado à equipa principal, o defesa cumpriu maior parte do tempo com o segundo plantel da colectividade galega. No entanto, no final dessa temporada de 1993/94, até porque em abono da verdade, o jovem jogador tinha talento, o FC Barcelona decidiu apostar nele. Mais uma vez, o seu destino não foi o esperado e Fernando Porto acabou na equipa "B". Apesar de titular, a oportunidade de vestir a camisola na categoria principal nunca apareceu. Conclusão? Nova transferência, dessa feita para o Numancia. A mencionada mudança serviu para vincar aquilo que aqui foi dito: Fernando Porto era mesmo um jogador com qualidades superiores. Esse facto, mais uma vez, levou com que outro clube de monta acreditasse no seu potencial. No entanto, no Maiorca a sua sorte não mudou e, como já deu para adivinhar, o fado do central foi o mesmo de sempre: EQUIPA "B"!
Depois de representar o Legañes, Fernando Porto chegou ao Algarve. Nesse Verão de 2000, o Farense apresentou como reforço um defesa forte fisicamente, disciplinado ao nível táctico e que tinha no jogo aéreo a maior arma. Talvez a falta de experiência nos “patamares máximos”, ele que, a esse nível competitivo, tinha em Portugal a estreia, tenha contribuído para o falhanço da sua afirmação. Já a segunda temporada nas provas lusas, revelou um atleta mais confiante e muito útil para o grupo de trabalho. O pior é que, no plano desportivo, o Farense começava a mostrar as debilidades resultantes de uma grave crise financeira. Nesse contexto, no final da campanha de 2001/02 e com os "Leões de Faro" e serem despromovidos, Fernando Porto optou pela mudança para o União da Madeira. A partir dessa altura a sua carreira perdeu o fulgor que tinha prometido no início da mesma e o jogador passou a vogar pelos escalões secundários dos dois países ibéricos.

425 - ALMEIDA

Variadíssimas vezes internacional pelas camadas jovens da selecção portuguesa, Almeida foi um dos melhores alas-direitos que, durante os anos de 1980, o campeonato português viu jogar. Perguntam, então (e bem!), porque não chegou este craque, nascido em Oliveira do Bairro, à equipa principal das "quinas"? Bem, a resposta não será assim tão fácil de dar e levar-nos-ia a muitas especulações sobre o assunto. Uma coisa é verdade: a concorrência que enfrentou durante toda a sua carreira de profissional foi tremenda. Não nos podemos esquecer que o extremo sofreu, na disputa por um lugar na selecção principal, a concorrência de atletas como Chalana, Diamantino ou Jaime Magalhães. Ainda assim, o argumento de que seria menos bom que outros atletas, não é irrefutável. Com isto concordarão todos aqueles que ainda têm memória de o ver jogar. E por isso mesmo, há quem diga que, tendo em conta as suas boas exibições, este boavisteiro de alma e coração, foi, nesse campo, vítima de uma tremenda injustiça.
Independentemente da questão levantada no parágrafo anterior, uma coisa é certa: Almeida teve uma carreira da qual deve orgulhar-se. O primeiro motivo, por exemplo, posso dá-lo pelo facto de cedo, ainda em idade de júnior, ter sido, isso na temporada de 1977/78, incluído nas contas do plantel principal do Boavista. Mas há mais. Depois de terminada a formação na equipa do Bessa, o atleta faria com o plantel sénior “Axadrezado”, com excepção, já em fim de carreira, às passagens pelo Beira-Mar e Torres Novas, maior parte da sua vida como "jogador da bola". Foram mais de 150 partidas disputadas para o Campeonato Nacional com a camisola das “Panteras” e que fizeram dele um histórico do clube.
No entanto, não é só de números que se faz uma carreira e a de Almeida também teve muitos outros predicados. Bastaria, para provar tal afirmação, falar da maneira como se apresentava em cada disputa. Contudo, o jogador batalhador, com uma técnica muito acima da média, com uma capacidade de passe tremenda e que fazia dos cruzamentos para o centro da área adversária a sua maior arma dentro dos relvados, não se esgotava por aqui. Muito mais do que o futebolista, sempre houve o Homem. E este, segundo quem com ele lidou de perto, sempre foi uma pessoa de carácter modesto, abnegado amigo e muito longe daquilo que foi o querer de algumas estrelas que também brilharam no desporto. Por isso mesmo, Almeida sempre foi um modelo para todos os que com ele trabalharam; por isso mesmo, também, tem sido escolhido para treinador das camadas jovens das "Panteras". Porquê? Esta pergunta, ao contrário daquela com que começamos este "post", é bem fácil de responder! Porque, dentro e fora do campo, Almeida sempre foi, e será, na dedicação, um exemplo a seguir.

424 - MURÇA

Filho de um "homem do mar" que também era uma das estrelas do Pescadores da Costa da Caparica, Alfredo Murça haveria de iniciar a carreira no referido emblema do município de Almada. Treinado pelo “violino” Albano, o jovem atleta, à imagem do pai, teria na posição de atacante as primeiras tarefas a cumprir dentro de campo. Já como um goleador nato, os números por si apresentados transformá-lo-iam no alvo da cobiça de outros emblemas e, depois de observado pelo notável belenense Calisto Gomes, o jogador rumaria aos escalões de formação da "Cruz de Cristo".
No Restelo, logo na temporada de 1968/69, campanha da sua chegada à equipa principal, Murça haveria de encontrar o treinador que começaria a mudar-lhe o rumo como futebolista. Ángel Zubieta, técnico espanhol, decidiria que a posição certa para o jogador, ao contrário do que até então tinha acontecido, estava na ponta oposta do campo, ou seja, na defesa. A alteração levá-lo-ia para o centro do sector mais recuado, até que, numa chamada à selecção de “esperanças”, Fernando Caiado viria a deslocá-lo para a esquerda. Já no regresso aos trabalhos dos “Azuis”, Mário Wilson concordaria com a alteração perpetrada pelo seleccionador e, desse modo, até ao fim da sua carreira, o atleta manter-se-ia a jogar pela lateral canhota.
Como um elemento decisivo nas manobras tácticas do Belenenses, a temporada de 1969/70 também viria a tornar-se histórica na carreira de Murça. Ao assegurar a titularidade no clube, o sucesso alcançado seria sublinhado pela chamada à equipa “A” de Portugal. Nessa partida de estreia, agendada a 10 de Dezembro de 1969, o jogador seria chamado por José Maria Antunes para um particular, disputado no Estádio de Wembley, frente a Inglaterra. Porém, para além do merecido prémio de envergar a “camisola das quinas”, a maneira exemplar como encarava o futebol, onde viria a caracterizar-se como um elemento batalhador, mas sempre correcto com os adversários, cedo começaria a prometer-lhe novos horizontes e, sem que ninguém estranhasse a mudança, o defesa-esquerdo seria apresentado como reforço do plantel de 1974/75 do FC Porto.
Tal como no Belenenses, Murça rapidamente conquistaria um lugar no "onze" dos “Azuis e Brancos”. Com a maneira abnegada de encarar as partidas, em que o constante vaivém pela sua ala dava uma vivacidade particular, tanto ao jogo ofensivo, como às acções defensivas da equipa, o atleta tornar-se-ia num dos principais pilares pelo regresso dos "Dragões" aos títulos. Nesse capítulo, sob a orientação de José Maria Pedroto, primeiro surgiria a conquista da Taça de Portugal de 1976/77. De seguida, em dois anos consecutivos, viriam as vitórias no Campeonato Nacional de 1977/78 e 1978/79, pondo fim ao longo jejum de 19 anos do FC Porto sem conquistar a prova de maior relevo no calendário futebolístico português.
Após aquela que ficaria registada como a fase mais prolífera da sua carreia, ou seja, depois de 7 anos a vestir de “azul e branco”, o defesa rumaria ao Vitória Sport Clube. No Minho a partir de 1981/82, as 3 campanhas em Guimarães, onde, em 1983/84, chegaria a partilhar o balneário com o irmão Joaquim Murça, Alfredo Murça manteria a bitola exibicional bem elevada, continuando a mostrar-se como titular. Já com 36 anos, com a partida da “Cidade Berço”, o lateral-esquerdo ainda jogaria nos escalões secundários, envergando as cores do Leixões e do Tirsense. Aliás seria na terra dos "Jesuítas" que Murça daria início à carreira de treinador, a qual, mormente como adjunto, voltaria a ligá-lo ao FC Porto.

423 - PARIS

 
Ao nascer-se no seio de uma casa de futebolistas, qual a probabilidade de fugir a esse destino? Para Paris, o António, foi impossível!
Irmão mais novo de Cândido Paris, avançado que passou pelo Boavista, Varzim, entre outros, e de Manuel Paris, praticante que vestiu a camisola do Atlético, seria António Paris, como o único dos três a atingir o patamar de jogador internacional, que mais viria a destacar-se na prática da modalidade a apaixonar a família.
Natural da ilha de São Vicente, bem distante da capital francesa a dar-lhe o nome, seria no Estoril Praia, depois de passagens pelo Estrela de Portalegre e pelo Alba, que o defesa, na campanha de 1977/78, haveria de fazer a sua estreia na 1ª divisão portuguesa. Porém, apesar de, durante as duas primeiras temporadas, ter conseguido alcançar alguma relevância dentro do plantel dos “Canarinhos”, a verdade é que a época de 1979/80 seria cumprida numa passagem pelo Nacional da Madeira. Ainda assim, depois da experiência na cidade do Funchal, o regresso ao emblema da Linha de Cascais apresentaria um atleta com maior traquejo. Possante, aguerrido e de uma utilidade tremenda para a manobra defensiva da sua equipa, Paris começaria a ser cobiçado por outros emblemas e, no Verão de 1982, a proposta do Sporting de Braga, para a sua contratação, levá-lo-ia até ao Minho.
O primeiro ano passado na "Cidade dos Arcebispos" traria para a carreira de Paris uma série de novidades. Por um lado, a disputa da Supertaça de 1982/83, vencida pelo Sporting. Por outro, a estreia nas competições organizadas pela UEFA, nas quais, ao jogar a ronda inaugural da Taça dos Vencedores das Taças, entraria em campo frente aos britânicos do Swansea. Ainda nessa senda de coisas novas, é impossível esquecer aquele que terá sido um dos momentos mais altos da sua caminhada competitiva, isto é, a chamada aos trabalhos da principal selecção portuguesa e a estreia com a “camisola das quinas”, a 23 de Fevereiro de 1983, numa partida frente à Republica Federal Alemã.
Curiosamente, após a temporada de estreia com os “Guerreiros”, durante a qual conseguiria impor-se como um dos titulares do último reduto bracarense, Paris, na época seguinte e com a entrada de Quinito no comando técnico do conjunto minhoto, perderia a preponderância ganha até então. Essa mudança de paradigma levaria o defesa, na época de 1984/85, a rubricar um contrato com o Salgueiros, com o ano passado em Paranhos a tornar-se no último do jogador no escalão maior do futebol luso. Depois surgiria o regresso ao Estoril Praia, a camisola do União de Almeirim e o final da carreira com o termo das provas agendadas para 1987/88.

422 - ABRANTES

De Abrantes à localidade capital do distrito das suas origens, Portalegre, distam em linha recta, qualquer coisa como 68,78 km. Curiosamente, o grosso da sua carreira também andaria bem longe da terra a dar-lhe o nome. Nesse sentido, depois de ter jogado em emblemas do Alentejo, as suas qualidades futebolísticas, reveladas bem cedo, levá-lo-iam até Lisboa e seria no Benfica que Manuel Abrantes viria a estrear-se como sénior.
Com os “Encarnados” a atravessarem uma das épocas de maior glória na história, ao jovem guardião, após a primeira partida na equipa principal em 1966/67, não deve ter faltado motivação para a carreira. Porém, essa partida, sob o comando de Fernando Riera, não teria grande continuidade. A verdade é que, num plantel que contava com Costa Pereira, José Henrique ou Nascimento, a esperança de Abrantes ganhar o lugar à baliza tornar-se-ia num sonho bem longínquo. A sublinhar tal ideia emergiriam os números, com o jogador a alcançar poucas oportunidades, participando, em 3 temporadas, em apenas 2 jogos da Taça de Portugal. Aliás, o único troféu oficial inscrito no seu currículo consegui-lo-ia através da vitória do Benfica na edição de 1968/69 da “Prova Raínha”.
O passo seguinte na carreira encaminhá-lo-ia até Académica de Coimbra. Contudo, o objectivo de jogar com maior frequência depressa começaria a esfumar-se. Primeiro surgiria a época de 1969/70 onde, peculiarmente, 5 guardiões calçariam as luvas da "Briosa". Depois seria a concorrência de Melo a remetê-lo para mais uma campanha longe do “onze”. Do mesmo modo, no regresso à Luz em 1970/71, o guardião seria vítima da qualidade dos concorrentes à sua posição, nomeadamente da presença de José Henrique, mas também de Fidalgo e de Fonseca.
Seria por essa altura que o Benfica, a pensar na contratação de uma grande promessa do futebol português, envolveria o seu nome no negócio. Com o acordo firmado entre todas as partes, Abrantes partiria em direcção à Margem Sul do Rio Tejo e Manuel Bento deixaria o FC Barreirense para rumar às “Águias”. A mudança viria a beneficiar o novo guardião do listado vermelho e branco que, como consequência da transferência, faria da temporada de 1972/73, a sua primeira temporada como titular no escalão maior.
.Daí em diante, após representar o colectivo do Barreiro e de passagens pelo Sporting de Espinho e pelo primodivisionário Montijo, Abrantes, na campanha de 1978/79 chegaria ao emblema onde passaria mais anos. Para além de 7 temporadas cumpridas pelo Estoril Praia, poderá dizer-se que terá sido pelos “Canarinhos” que guarda-redes, internacional júnior e “B”, viveria um dos episódios mais caricatos da sua vida como futebolista – "Eu tinha sempre muito trabalho contra o F.C. Porto mas aquele jogo foi o que mais me ficou na memória (…). O árbitro marca um penalty contra nós, o Vítor Madeira protesta, vê o segundo amarelo e é expulso. O Gomes mete a bola na marca de penalty mas eu defendo. Quando me levanto vejo que o Vítor Madeira estava em campo. Não sei dizer se nunca saiu ou se tinha voltado a entrar. Mas estava lá e o banco do F.C. Porto estava todo de pé a reclamar (…). Os jogadores do Porto empurravam o árbitro para a marca do penalty os nossos empurravam-no para fora da área. E ele não tomava nenhuma decisão (…). Só lhe disse uma coisa [refere-se ao árbitro Graça Oliva]: se vocês não viram se o Vítor Madeira estava em campo, esqueçam lá isso. Eles que joguem à bola que são melhores do que nós. Ele olhou para mim e disse: Tem razão. E o jogo seguiu"*.

*adaptado do artigo de João Tiago Figueiredo, publicado a 21/09/2013, em https://maisfutebol.iol.pt

TOPONÍMIA

Se toponímia pode definir-se como a disciplina que estuda os nomes próprios dos lugares, a sua origem e evolução, a pergunta que apraz fazer-se é - mas o que tem isso a ver com o futebol?
Pois bem, todos nós, até os jogadores, têm o seu local de nascimento. Bastaria isso para que conseguíssemos construir algo relacionado com a geografia. Mas longe dessa verdade ao jeito de "Monsieur" La Palice, há outra igualmente incontornável. É que ao longo dos tempos, os nomes das cidades, vilas e afins, foram servindo para apelidar pessoas. Claro que é capaz de ter sido exactamente o oposto, mas, também, para que é que isso interessa? Na verdade, o que importa é que este Dezembro, em exclusivo, será dedicado a futebolistas com nome de localidade!

421 - DRAGAN GACESA

O defesa que, pode dizer-se, dividiria a caminhada competitiva em duas fracções, viveria a primeira metade desse percurso ao serviço do FK Vojvodina. Nesse sentido, seria ao lado de velhos conhecidos do futebol português que Dragan, alguns anos após a estreia como sénior, viria a vencer o título de maior importância na carreira. Ao partilhar o balneário com Vujacic, Punisic, Milovac, Vorkapic, Curcic, Bosancic e ainda com os famosíssimos Sinisa Mihajlovic e Slavisa Jokanovic, o jogador seria um dos intérpretes da vitória do emblema sediado na cidade de Novi Sad na edição de 1988/89 do Campeonato da antiga Jugoslávia.
A mencionada conquista permitiria a Dragan disputar a Taça dos Clubes Campeões Europeus do ano seguinte. No entanto, a época a marcar a sua presença naquela que é a maior competição de clubes organizada pela UEFA, haveria de marcar o termo da ligação do defesa ao emblema da sua cidade natal. Seguir-se-ia a viagem a trazê-lo até Portugal, mais precisamente ao Funchal. No União da Madeira a partir da temporada de 1990/91, o jogador passaria a ocupar um papel de grande preponderância no seio do plantel. Durante os 8 anos passados com os “Insulares”, o atleta, independentemente do treinador a orientá-lo, transformar-se-ia num dos favoritos do “onze” inicial. Obviamente, não seria apenas o longo período de ligação à colectividade lusa que haveriam de pô-lo em posição de destaque. A titularidade, resultados dos predicados apresentados em campo, serviria para aferir o atleta como um dos bons elementos a actuar nas provas agendadas no calendário luso de futebol, somando, só na 1ª divisão, um total superior a 100 partidas disputadas.

420 - RODRIGÃO

Talvez vá para além da vossa memória, mas a primeira vez que Rodrigão mostrou as suas habilidades em Portugal, não foi quando, em 1993/94, assinou um contrato com o União da Madeira. Dois anos antes o médio tinha passado pelo nosso país… Já estão recordados?
Em 1991, por ocasião do Mundial sub-20 organizado em território luso, na selecção do Brasil, por entre outras figuras que passariam pelas competições portuguesas, casos do treinador Ernesto Paulo, Serginho Fraldinha, Serginho Cunha, Paulo Nunes ou Luiz Fernando estava também um rapaz de seu nome Rodrigo Dias Carneiro. Esse jovem promissor que, por essa altura, já havia conseguido estrear-se pela equipa principal do Flamengo, brilhava nas equipas jovens do “Escrete” e, inclusive, seria chamado a jogar a final do torneio acima referido. No trajecto clubístico, depois de vestir a camisola do Botafogo, a Rodrigão chegaria o convite vindo da Madeira. Aceitado o desafio, o médio-defensivo seria apresentado como reforço dos “Insulares” na temporada de 1993/94, onde voltaria a encontrar-se com Ernesto Paulo. No Funchal, apesar de uma primeira campanha mais modesta, o “trinco” assumir-se-ia como um sustento para o sector intermediário. A valorização conseguida durante os 3 anos passados a envergar a camisola amarela e azul, mesmo tendo de disputar a divisão de Honra de 1995/96, valer-lhe-ia a cobiça de colectividades de outra monta e o Sporting de Braga transformar-se-ia no seu próximo passo.
Na "Cidade dos Arcebispos", Rodrigão voltaria a assumir-se como um elemento importante na estratégia do clube. Tal seria a maneira brilhante como haveria de conseguir impor-se no seio dos “Guerreiros” que, ano e meio após a chegada ao Minho, de Espanha surgira um convite irrecusável. Na La Liga de 1997/98 passaria a envergar as cores do Sporting Gijon. Porém, com a entrada na equipa asturiana, o médio-defensivo perderia a preponderância alcançada anteriormente e a mudança para o Málaga, a militar, na temporada de 1998/99, no escalão secundário de “Nuestros Hermanos”, emergiria como a melhor solução para a sua carreira.
É depois da passagem pelo emblema do sul de Espanha que começam a surgir algumas dúvidas no desenrolar da sua caminhada competitiva. Por um lado, parece certo que Rodrigão terá representado o Manchego e o Guadix, respectivamente nas épocas de 1990/00 e de 2000/01. No entanto, existem fontes a dar o jogador a dividir a campanha em que terá envergado as cores do Málaga, com os venezuelanos do Mineros Guayana. Onde está a verdade? Não consegui saber!
Correcto é dizer-se que Rodrigão terá regressado a Portugal a meio da campanha de 2000/01 e mais uma vez para vestir a camisola do Sporting de Braga. Porém, ao contrário da experiência anterior, o atleta não alcançaria números tão faustosos. Meses depois, o jogador regressaria ao Brasil e é nessa temporada de 2001 que surge mais uma dúvida, pois o Botafogo que desponta no seu currículo, em algumas fontes aparece como sendo o “carioca” e noutras como a colectividade sediada em São Paulo. Já daí para a frente parece haver algum consenso em pôr o “trinco” no Vitória de Pernambuco, Atlético Paranaense e, por fim, no plantel de 2006/07 dos sauditas do Al Hilal.

419 - ZIVANOVIC

Goran Zivanovic subiria à equipa principal do Estrela Vermelha, corria a temporada de 1979/80. No emblema de Belgrado, muito para além das participações na Taça dos Clubes Campeões Europeus, ficariam no seu currículo os títulos conquistados, ou seja, 3 Campeonatos (1979/80; 1980/81; 1983/84) e 1 Taça (1981/82). Ainda no contexto competitivo da antiga Jugoslávia, o guardião haveria de vogar por outros emblemas. Na campanha de 1984/85 passaria pelo Vardar Skopje (Macedónia) para, a partir de 1985/86, começar a defender o FK Sutjeska (Montenegro). Seguir-se-ia, então, a primeira experiência no estrangeiro e a época de 1988/89, depois de assinar pelos austríacos do Grazer AK, tornar-se-ia na primeira do jogador na Áustria.
Com toda a experiência relatada no primeiro parágrafo, o jogador, ao aterrar no Funchal, surgiria como um praticante com um trajecto bem preenchido. Prestes a completar 31 anos de idade, o guardião seria apresentado como reforço do União da Madeira, para a temporada de 1991/92. Apesar de, na época de estreia em Portugal, ainda ter repartido o protagonismo com Balseiro, daí em diante, Zivanovic passaria a ser o dono do lugar à baliza. A titularidade conquistada levá-lo-ia a assumir uma posição histórica nos anais do emblema insular, tornando-se, nas 3 campanhas que disputaria na 1ª divisão, no guarda-redes com mais partidas disputadas pela colectividade no escalão máximo. Como curiosidade, esse período de 5 anos ao serviço dos “unionistas” permitir-lhe-ia “apadrinhar” outro craque ou não fosse ele a sofrer o primeiro golo no Campeonato Nacional de um famoso avançado – "O Artur isolou-se à minha frente. Eu atirei-me para os pés dele, consegui tirar-lhe a bola, mas esta ressaltou. O Nuno [Gomes], que estava no sítio certo, à hora certa, rematou e fez o golo"*.
Quando muitos pensariam na reforma, o atleta sérvio tomaria a decisão de continuar a carreira de futebolista. Tendo bem vincada tal ideia, a temporada de 1996/97 marcaria a sua mudança para o Nacional da Madeira. Com uma vontade férrea, o jogador prolongaria a sua actividade ainda por umas boas temporadas. A contar 42 anos de idade, com o termo da época de 2002/03 e quando, em simultâneo, já assumia a função de treinador de guarda-redes, Zivanovic decidiria retirar-se das lides competitivas. Após “guardar as luvas” assumiria, em definitivo, a carreira como técnico. As novas tarefas têm-no levado a variadíssimos lugares no mundo e depois de passagens pelo aludido emblema insular e pela Académica de Coimbra, foi tendo, como adjunto de José Peseiro, experiências no Panathinaikos, no Rapid Bucaresti e na principal selecção da Arábia Saudita.

*retirado do artigo publicado a 20/11/2002, em www.record.pt

418 - RICARDO JORGE

Depois de ter passado pelos dois principais rivais dentro da ilha da Madeira, o Marítimo e o Nacional, Ricardo Jorge chegaria ao emblema que, de forma consistente, o lançaria no mundo do futebol profissional. Assim, após a mudança das “escolas” para os seniores dos "Leões do Almirante Reis" em 1983/84 e de, no ano seguinte, ter transitado para a equipa principal dos "Alvi-negros", o União da Madeira, na temporada 1986/87, abriria as portas ao defesa nascido no Funchal.
Seriam três temporadas a vogar na divisão de Honra, até que a época de 1988/89 traria um dos momentos mais importantes na história do União. Com Ricardo Jorge a assumir-se como um dos esteios no último reduto, a equipa que, anos antes o tinha recebido, sagrar-se-ia campeã nacional no segundo escalão português. Com o título a assegurar a subida ao patamar maior do futebol luso, o defesa e o clube fariam a estreia entre os “grandes”. Mesmo ao ascender a um degrau superior, a exigência da nova competição não diminuiria a sua importância dentro do plantel. Contudo, com o final da temporada de 1989/90, o atleta decidiria aceitar o convite de outro emblema e, numa viagem até ao continente, assinaria uma ligação com o Gil Vicente.
A mudança para Barcelos não correria de feição e o jogador poucas vezes entraria em campo durante a campanha passada no Minho. A escassa utilização fá-lo-ia equacionar o regresso à terra natal e o União da Madeira voltaria a dar a Ricardo Jorge a importância de épocas transactas. Contudo, essa temporada de 1991/92, apesar da titularidade do defesa na maioria das jornadas, não daria ao colectivo mais do que a última posição na tabela classificativa da 1ª divisão. Condenado a uma curta passagem pelo escalão secundário, o atleta, ainda assim, teria uma nova oportunidade para retornar aos confrontos dos “grandes”. Porém, já não conseguiria recuperar o seu estatuto no seio do plantel “unionista” e a campanha de 1993/94 transformar-se-ia na última com a camisola azul e amarela.
O resto da sua vida nos relvados seria feito de passagens pelo Camacha e pelo Câmara de Lobos. Essas 9 épocas, passados nas divisões inferiores, encaminhá-lo-iam até ao fim da carreira enquanto futebolista e, aos 39 anos de idade, Ricardo Jorge decidiria ser o tempo certo para "pendurar as chuteiras".

417 - MARCO AURÉLIO

Depois do América, a mudança de Marco Aurélio para o conjunto, também “carioca”, do Vasco da Gama, faria com que a sua cotação começasse a subir em flecha. No entanto, na chegada, em 1988, à equipa principal dos “cruzmaltinos”, o defesa-central não teria a vida facilitada. Ainda assim, as épocas seguintes mostrariam um cenário diferente, com o jogador a assumir-se como peça importante e um dos obreiros da vitória no Campeonato Brasileiro de 1989.
Bastaria mais uma época para que, do lado oriental do Oceano Atlântico, outros cenários começassem a congeminar-se. Nesse sentido, o União da Madeira e a ideia de vir jogar para a 1ª divisão lusa de 1990/91 até começariam por agradar ao defesa. Porém, aquando da chegada ao Funchal, apercebendo-se que a dimensão do clube era mais modesta do que as expectativas criadas em volta da transferência, Marco Aurélio viria a mostrar algumas reticências em relação à mudança. Apesar de perfeitamente compreensível a dúvida do jogador, principalmente atendendo à grandeza de um emblema como o Vasco da Gama, talvez a ideia de que a colectividade insular acabasse por ser uma boa porta de entrada para o futebol europeu, tivesse ajudado a apaziguar o atleta. A verdade é que a entrega em jogo e, fora dos relvados, a sua simpatia, gentileza e educação serviriam de fortes bases para o seu sucesso desportivo e para facilmente conquistar os adeptos do “União da Bola”.
No cenário competitivo, sem nunca deixar de lado a correcção, o defesa-central portar-se-ia, tal como a alcunha que viria a ganhar alguns anos depois, como um verdadeiro “Imperador”. Categórico na hora de cortar a bola, fisicamente possante, rápido, mas sempre mantendo uma elegância e tranquilidade nem sempre patentes nos praticantes da sua posição, as 4 temporadas na Madeira fariam dele um dos “activos” com melhor cotação nas provas portuguesas. Nessa evolução, já depois de, ao serviço do União, ter chegado a “capitão”, seria por indicação de Carlos Queiroz que surgiria o convite do Sporting. Em Alvalade a partir de 1994/95, a sua época de estreia, pondo fim a um ciclo de 13 anos sem qualquer conquista para os “Leões”, dar-lhe-ia ao currículo a vitória na Taça de Portugal. No ano seguinte mais um troféu, a Supertaça. No entanto, o melhor da sua passagem pela agremiação lisboeta seria uma constância exibicional, mesmo em alturas de alguma instabilidade, de alto gabarito. Toda a habilidade e liderança demonstradas, para além de, mais uma vez, entregar ao seu cuidado a braçadeira de “capitão”, fariam com que outras portas viessem a abrir-se e em Dezembro de 1998, mesmo a contar 32 anos de idade, um convite de Itália fá-lo-ia mudar-se para o “Calcio”.
Estrear-se-ia na Serie A com as cores do Vicenza. Contudo, apesar da oportunidade de experimentar uma das mais importantes ligas europeias, a falta de consistência colectiva do seu novo clube faria com que o defesa-central passasse a vogar entre os dois principais escalões italianos. Ainda assim, Marco Aurélio manter-se-ia pelo “Calcio” durante vários anos e após passar por outros emblemas, casos do Palermo, Cosenza, SPAL e Teramo, seria com os 40 anos de idade bem à vista, que o jogador tomaria a decisão de “pendurar as chuteiras”.
Depois do fim da carreira como praticante, Marco Aurélio regressaria ao Brasil. Por um lado, abraçaria ainda mais a religião – de relembrar que em Portugal foi um dos grandes dinamizadores do movimento “Atletas de Cristo” – e viria a tornar-se professor bíblico. Por outro lado continuaria ligado ao futebol, onde, como "olheiro", passaria a estar atento ao surgimento de novos craques para a modalidade.

416 - MILTON MENDES

Nascido no seio de uma família adepta do Vasco da Gama, também Milton Mendes ficaria fã do emblema fundado por portugueses. Residindo em Criciúma, Estado de Santa Catarina, uma das oportunidades que teria para ver ao vivo a sua equipa seria aquando de uma deslocação do conjunto “carioca” à cidade onde residia. Nessa ocasião viria também a conhecer o seu ídolo, o lateral-direito Orlando Lelé, que de uma forma extremamente atenciosa, para além das respostas a todas as perguntas feitas, haveria de pedir aos colegas de equipa para assinarem o caderno de autógrafos do jovem seguidor.
Influenciado, ou não, pelo mencionado encontro, a verdade é que, passados alguns anos, com a estreia na equipa principal a acontecer na temporada de 1984, o próprio Milton Mendes haveria de ocupar, com a camisola do Vasco da Gama, a mesma posição do seu ídolo. Porém, a falta de espaço nos “cruzmaltinos” e uma proposta de renovação pouco aliciante, levaria o jogador a procurar outro horizonte para a carreira. Nesse contexto, a vinda para Portugal far-se-ia, na campanha de 1987/88, pela porta do Louletano, para competir na divisão de Honra. No Algarve cumpriria 4 épocas, as suficientes para que, do escalão máximo, reparassem no seu trabalho e levassem o defesa a rubricar um contrato com o Beira-Mar.
Logo na primeira época entre os maiores do futebol português, o jogador conseguiria posicionar-se como um dos melhores a actuar na sua posição. Aguerrido a defender e com técnica suficiente para ser uma arma no apoio aos lances ofensivos dos seus companheiros, o nome de Milton Mendes começaria a ser cogitado como umas das possíveis contratações dos denominados "grandes". Cimentando-se na ideia de preferir ser titular num emblema mais humilde do que suplente num de maior monta, o jogador, após a campanha de 1991/92 cumprida em Aveiro, viria a assinar pelo Belenenses. Porém, a escolha do atleta, apesar da boa época colectiva dos “Azuis”, faria com que pouco jogasse. Tal ocaso na passagem pelo Restelo levá-lo-ia, mais uma vez, a tomar a decisão de mudar de emblema. A nova deslocação encaminhá-lo-ia até ao Funchal, onde descobriria uma verdadeira "constelação de estrelas" vindas do seu país e, muito para além de jogadores como Marco Aurélio ou Rodrigão, à frente dos destinos do plantel de 1993/94 do União da Madeira encontraria o antigo seleccionador brasileiro de sub-20 e “olímpico”, Ernesto Paulo.
Na colectividade insular, Milton Mendes voltaria a ganhar o fulgor nele conhecido. Conquistaria a titularidade e, bem depressa, arrebataria, com entrega e dedicação, o coração dos associados e adeptos "unionistas". Representaria a equipa funchalense durante 3 temporadas, as 2 iniciais na 1ª divisão, e a separação só viria a acontecer com o União a falhar a promoção no final da campanha de 1995/96. Seguir-se-ia, ainda no patamar máximo, o ano ao serviço do Sporting de Espinho. Daí em diante, com os madeirenses Camacha, Câmara de Lobos e Machico a preencherem o resto da sua caminhada competitiva, o lateral-direito passaria a disputar os escalões secundários. Seria mesmo no último clube aludido que Milton Mendes iniciaria a carreira como técnico, trajecto a levá-lo, em 2007/08, a aceitar o convite de Sebastião Lazaroni, para o adjuvar no comando do Marítimo. O trabalho realizado nos “Verde-rubro” faria com que o seu chefe de equipa levasse o adjunto para o Qatar e, desde então, é no Médio Oriente que o antigo jogador tem dado continuidade às suas tarefas como treinador.

415 - HAJRY

Alguns anos após subir à equipa principal do Raja Casablanca, o médio-defensivo seria eleito o melhor atleta da edição de 1987 do Torneio de Toulon. Sempre à procura de novos craques, o Benfica tomaria a decisão de apostar no jovem jogador marroquino e no início da temporada de 1987/88, Hajry daria entrada no Estádio da Luz. Contudo, num plantel cheio de craques, onde o destaque para os homens da sua posição ia para nomes como os de Elzo, Shéu ou Nunes, as oportunidades para o recém-chegado reforço não seriam muitas. Ainda assim, apesar das poucas presenças em campo durante as provas de índole interno, o jogador, com a brilhante campanha das “Águias” nas competições além-fronteiras, viria a tornar-se no primeiro futebolista do seu país, e até à data no único, a participar numa final da Taça dos Clubes Campeões Europeus. A partida, de má memória para os benfiquistas, haveria de ditar a derrota do Benfica frente ao PSV. No entanto, nesse encontro de Estugarda, já no desempate por penalties, Hajry seria chamado à cobrança do “castigo máximo” e frente a van Breukelen, seria um dos homens a concretizar o remate em golo.
Depois dessa experiência única, o Benfica, com mais estrangeiros do que era permitido pelo regulamentos, decidiria emprestar Hajry. Após representar o Farense e o União da Madeira nas duas épocas a seguir à chegada a Portugal, o jogador, na temporada de 1990/91, voltaria à colectividade sediada na capital do Algarve. De novo a envergar a camisola dos “Leões de Faro”, o centrocampista encetaria aí a mais importante etapa da carreira. Nos 10 anos seguintes, sempre com o mesmo emblema, o atleta viveria alguns dos melhores momentos da sua caminhada competitiva. Um desses capítulos emergiria com a qualificação para as competições continentais e, já na campanha seguinte, com a participação na edição de 1995/96 da Taça UEFA.
Após algumas experiências como treinador, Hajry decidir-se-ia pelo regresso aos "campos da bola". Depois da temporada de 2003/04, durante a qual também vestiria a camisola do Imortal de Albufeira, o médio, à imagem de outras antigas estrelas do nosso futebol, casos de Cadete, Fernando Mendes, Pitico ou Mané, passaria a envergar as divisas do São Marcos, colectividade amadora da Associação de Futebol de Beja - "A ideia é continuar a ser treinador. Em vez de fazer os jogos de veteranos, venho fazer estes jogos, com a mesma alegria que sempre pus no futebol"*.

*retirado do artigo publicado a 27/11/2004, em www.cmjornal.pt

414 - NELINHO

Se há figura que pode ser associada aos melhores momentos da história do União da Madeira, então Nelinho, com certeza, é um deles.
Formado nas “escolas” do União, também ele nascido na capital madeirense, Nelinho faria a estreia como sénior ao serviço do plantel de 1986/87 do Andorinha. Já o regresso à “casa mãe” dar-se-ia em “vésperas” da estreia do emblema insular no patamar maior do futebol luso. Nesse contexto, depois de ajudar à vitória no Campeonato da 2ª divisão de 1988/89, o jogador, igualmente estreante nas andanças do 1º escalão, começaria a evidenciar-se dentro do grupo de trabalho. Logo à 3ª jornada, frente ao Boavista, o defesa marcaria um golo. Porém, só a entrada no último terço da época daria ao atleta a oportunidade de assumir, com maior frequência, um lugar entre os titulares.
A campanha da sua afirmação, em abono da verdade, seria a de 1990/91. Na lateral do sector mais recuado, sem ser um jogador com uma estatura surpreendente, Nelinho, à imagem de tantos outros craques, deixaria bem evidente que o 1,70m não o impossibilitaria de mostrar as suas qualidades. Raçudo nas acções defensivas e com uma propensão ofensiva a permitir-lhe, pela ala destra, apoiar os atacantes, o defesa-direito facilmente começaria a mostrar-se como um dos portadores da alma do “União da Bola”. Tal reconhecimento tornar-se-ia num facto inequívoco e se mais não houvesse para fazer prova desse mesmo valor, os números a ilustrar-lhe a carreira seriam bastante demonstrativos da sua importância. Desse modo, para além de mais de uma década a vestir a camisola amarela da equipa principal, anos onde estão incluídas todas as 5 temporadas na 1ª divisão, o maior prémio, como recompensa pela entrega demonstrada ao longo de todos esses anos, tê-lo-ia com a entrega da braçadeira de capitão à sua intendência.
Depois de concluir a carreira futebolística, ainda com passagens por outros emblemas do arquipélago, tais como o Ribeira Brava e o Estrela da Calheta, e de ter concluído, na Universidade da Madeira, a Licenciatura em Educação Física e Desporto, a ligação de Nelinho com o Clube Futebol União tem sido feita à custa de novas funções, caso da de Director-Desportivo. Relativamente ao futuro do antigo defesa, tudo é uma incógnita. Contudo, ainda neste defeso, ouvimos o ex-técnico da equipa, Pedrag Jokanovic, a sugerir o seu nome para ocupar o cargo por ele deixado livre - "O Nelinho é uma pessoa que está há muito ligada ao clube e percebe muito de futebol. Se eu fosse presidente, era nele que apostava"*.

*retirado do artigo publicado a 15/06/2013, em https://desporto.sapo.pt

413 - UNIÃO DA MADEIRA

Referirmo-nos à fundação do União da Madeira é também falar um pouco da vida de um dos seus grandes rivais, o Clube Sport Marítimo. Assim, segundo reza a história, um grupo de jovens rapazes, ao começar a jogar à bola, passá-lo-ia a fazer sob a protecção dos “Verde-rubro”. O novo conjunto, inicialmente baptizado como Infantil Sport Club, passaria a chamar-se Grupo União-Marítimo. No entanto, com o objectivo do “casamento” a passar pela formação de atletas para o “Leão do Almirante Reis”, o “divórcio”, resultado da disputa por uma baliza, rapidamente aconteceria. A separação daria origem ao União Futebol Clube, mais tarde Clube Futebol União, cuja data de fundação ficaria registada a 1 de Novembro de 1913.
 Já por essa altura, falava-se na Madeira da necessidade de uma entidade que, de alguma forma, gerisse a prática do futebol na ilha. José Anastácio Rodrigues Nascimento, antigo dirigente maritimista e um dos fundadores do União, tornar-se-ia numa das figuras de proa dessa ideia, a qual culminaria com a criação, a 28 de Setembro de 1916, da Associação de Futebol do Funchal. Com a génese desse organismo começariam também os Campeonatos na região. Nas duas primeiras edições a vitória acabaria por sorrir ao Marítimo. Porém, a 8 de Dezembro de 1918, num “match” forasteiro, o União haveria de derrotar, por 2-3, a equipa de honra dos "Verde-rubro". O resultado daria origem a uma tremenda polémica, com o Marítimo a contestar a partida, por a mesma ter terminado sob condições de visibilidade muito deficientes. Com a Associação de Futebol do Funchal a tomar a decisão de invalidar o desfio, estalaria a "guerra" e o desfecho da contenda seria a paralisação das actividades do organismo federativo.
Dois anos depois, sanada a altercação, a prova viria a ser reatada, com o União a transformar a 3ª edição do Campeonato madeirense, a de 1920/21, na sua primeira vitória “regional”. O título voltaria a repeti-lo em 1927/28. Contudo, essa última conquista teria um sabor especial, pois permitiria a participação do emblema sediado no Funchal no Campeonato de Portugal. Na prova de índole nacional, a prestação do "União da Bola", alcunha pela qual ficaria famoso, levá-los-ia ao quartos-de-final. Frente ao poderoso Benfica, a exibição do União começaria por espantar o universo português do desporto. Ainda assim, com o aproximar do termo da segunda metade do jogo a revelar um surpreendente 3-1 a favor dos “Insulares”, a supremacia das “Águias” levaria a maior e, já nos descontos, o conjunto lisboeta consolidaria a reviravolta, acabando a vencer a eliminatória por 3-4.
Tirando as vitórias nas provas organizadas dentro do arquipélago, onde os anos de 1950 e de 1960 seriam pródigos em conquistas, o União só voltaria à ribalta nacional quando, em 1988/89, para além de alcançar a subida ao patamar maior português, haveria de vencer, numa disputa com o Feirense e com o Tirsense, o Campeonato da 2ª divisão. Como é lógico, a estreia, nessa que é a maior prova realizada no âmbito do calendário competitivo luso, aconteceria na temporada de 1989/90. Daí em diante, sem resultados de grande monta, o clube adicionaria ao currículo colectivo outras 4 participações no escalão máximo, com a melhor prestação conseguida a resultar do 10º lugar alcançado na campanha de 1993/94.
A partir de 1995/96, o União afastar-se-ia dos palcos maiores do futebol português. A sua militância tem-se repartido entre a divisão de Honra e a 2ª divisão "B". No entanto, o futuro parece ser risonho, com o ponto de partida para novos êxitos a ter como base o novo complexo desportivo de Vale Paraíso.

CENTENÁRIOS - C.F. UNIÃO

Quando em anos anteriores tomámos a decisão de homenagear os clubes que tinham atingido a notável marca dos 100 aniversários, sempre tivemos à disposição 3 ou 4 nomes. Isso permitiu-nos, em torno dessas colectividades, variar a nossa oferta. Ao contrário, 2013 apenas forneceu um emblema que, a somar a tamanha longevidade, tivesse pelo menos uma passagem na 1ª divisão. No entanto, se esse facto, numa abordagem inicial, levou-nos a desistir da ideia de assinalar o seu centenário, por outro, rapidamente entendemos que nunca ficaríamos livres da sensação de injustiça, por tal discriminação. Assim, e como as excepções podem sempre ser vistas como oportunidades, este mês de Novembro será, exclusivamente, dedicado à história e aos jogadores que passaram pelo Clube Futebol União.

412 - FIDALGO

Aquando da transferência, ainda em idade júnior, do Sporting de Espinho para o Benfica, Fidalgo sabia, à partida, que a sua vida não iria ser fácil. Mais consciente do facto deve ter ficado quando, ao subir à primeira categoria das “Águias”, deu de caras primeiramente com José Henrique e alguns anos depois com Manuel Bento. Tamanha competição pelo lugar de guarda-redes faria com que o promissor atleta, escalonada a equipa, ficasse, na campanha de 1971/72 e nas seguintes, remetido para segundo e, por vezes, para terceiro plano. Encetar-se-iam, então, os empréstimos a outros emblemas e depois de uma modesta passagem pelo Leixões de 1973/74, seria o Sporting de Braga de 1976/77 a sublinhá-lo como um guardião ágil, arrojado e muito elegante entre os postes.
Seria igualmente na temporada cumprida na “Cidade dos Arcebispos” que o jogador ajudaria o emblema minhoto a atingir duas importantes metas. A primeira concretizar-se-ia com a chegada à última partida da Taça de Portugal. Na final disputada no Estádio das Antas, o seu nome seria um dos escolhidos, por Mário Lino, para fazer parte do “onze” dos “Guerreiros”. No entanto, apesar da vontade de manter invioláveis as suas redes, Fidalgo não conseguiria evitar que Fernando Gomes, aos 9 minutos da segunda metade do jogo, fizesse o tento a empurrar o troféu para os escaparates do FC Porto. Algumas semanas depois, já sob o comando de Hilário, viria a primeira grande conquista do Sporting de Braga e, como titular no derradeiro encontro, o guardião, numa partida frente ao Estoril Praia, auxiliaria o seu clube a vencer a Taça da Federação Portuguesa de Futebol.
Depois da temporada em Braga passada em altíssimo plano, o regresso do guarda-redes ao Estádio da "Luz" ter-se-á feito envolto noutras esperanças. A verdade é que o cenário manter-se-ia idêntico, ou seja, os nomes com ele disputar o lugar à baliza viriam a ser os mesmos de temporadas anteriores. Tal contexto, mais uma vez, faria com que o jogador, nas 2 campanhas seguintes, fosse “esquecido”. Então, no Verão de 1979, no meio da polémica a envolver a mudança de Botelho e Laranjeira do Sporting para as "Águias" e a partida de Eurico em sentido contrário, Fidalgo também trocaria de lado na 2ª circular.
Na época de estreia de "Leão" ao peito, Fidalgo, ao dividir a protecção do último reduto leonino com o companheiro de posição António Vaz, contribuiria para o sucesso do grupo rumo à conquista do Campeonato Nacional de 1979/80. Já na temporada seguinte, quando tudo apontava para que continuasse nessa senda, uma grave ruptura muscular atirá-lo-ia para uma longa recuperação, fazendo com que perdesse a oportunidade de lutar pela camisola número 1. A partir desse momento, o guardião deixaria de estar na linha-da-frente para a titularidade. Por essa razão, e depois de ajudar à "dobradinha" de 1981/82, decidiria que o melhor para a sua carreira seria rumar ao Norte e ao Salgueiros. Todavia, aquela que começaria como uma outra qualquer temporada, revelar-se-ia de importância extraordinária para o atleta - "Octávio Machado abandonou o clube numa altura em que eu não podia jogar por me encontrar lesionado. Por isso pediram-me para ficar como treinador. Foi o que aconteceu até final da temporada e conseguimos a manutenção nesse ano, o que foi algo de extraordinário dado que estávamos praticamente condenados"*.
A experiência como técnico, que podia ser vista sido como um somar de valências para o atleta, incrivelmente traduzir-se-ia em oportunidades perdidas. Fidalgo que, com 32 anos, tinha ainda a legítima vontade de continuar a caminhada enquanto futebolista, veria o seu cenário competitivo a alterar-se – “Curiosamente, as portas fecharam-se quase todas depois de ter sido treinador. Mantive vários contactos com clubes da I Divisão, no entanto, depois de ter treinado o Salgueiros com sucesso, a situação alterou-se”*. A solução encontrada levá-lo-ia ao 2º escalão, onde, ao serviço do Estoril Praia, teria novo poiso. Contudo, como o próprio o viria a confessar, "a motivação já não era a mesma"*, e ao fim de dois anos, acabaria por pôr um ponto final na carreira, transitando para o comando dos “Canarinhos”.
Depois de uma carreira de treinador erguida essencialmente nas pelejas dos patamares secundários, Fidalgo tem-se destacado como comentador desportivo. De relevo, ficam as suas passagens pelos programas televisivos da RTP, e também, à moda antiga, pelas telefonias, como é o exemplo da Rádio Renascença.

*retirado do artigo de Vítor Pinto, publicado a 10/05/2000, em www.record.pt

411 - DANI

Ainda antes de ser promovido a sénior, Daniel da Cruz Carvalho, tanto no Sporting, como nas chamadas às jovens equipas da selecção lusa, já era visto como um dos melhores talentos a emergir do futebol português. Aliás, um dos momentos inesquecíveis da carreira do avançado, vivido no seu ano de estreia como elemento do conjunto principal leonino, surgiria ao serviço de Portugal, no Mundial sub-20 de 1995, disputado no Qatar. Esse lance memorável, cópia de uma jogada idealizada por Alex Fergusson quando, nos anos 80, orientava o Aberdeen, passar-se-ia na marcação de um livre, numa zona lateral do campo, próxima da grande área adversária. Com Bruno Caires a seu lado, fingindo ambos ter a intenção de marcar o castigo, acabariam os dois por correr em simultâneo para a bola, esbarrando um no outro e empurrando-se mutuamente. No meio desse pequeno engodo, com a distracção dos defesas holandeses, Dani cobraria o livre rapidamente e, ao centrar a bola para a área, encontraria ao segundo poste a cabeça de Agostinho que, dessa maneira, transformaria a manha em golo.
Também no Sporting, as suas qualidades futebolísticas eram apreciadas. Com uma técnica e compreensão do jogo excepcionais, uma capacidade de passe primorosa e instinto suficiente para conseguir uma boa dose de golos, o médio-ofensivo começaria a destacar-se também por outras razões. Como rapidamente seria entendido pelos responsáveis leoninos, o jovem craque tinha começado a ganhar o gosto pela vida boémia, aparecendo muitas vezes nos treinos, segundo constaria, vindo directamente das noitadas. No intuito de desviá-lo do círculo de amigos e tentações noctívagas, o responsáveis pelo “Leão” decidiriam enviá-lo para Londres para, num empréstimo, rodar no West Ham United. No entanto, apesar do objectivo ser a sua reabilitação, rapidamente o jovem atleta conseguiria descobrir onde viver os seus divertimentos fora-de-horas e Harry Redknapp, depois de Dani chegar atrasado a um treino, decidiria dispensá-lo. Há, porém, uma outra versão, a contada pelo antigo futebolista. O jogador chegaria a dizer que a súbita desmotivação terá emergido aquando da surpreendente decisão do técnico inglês de, até ao final dessa temporada de 1995/96, não mais chamá-lo a jogo. A razão nada teria a ver com as prestações do médio, mas pelo facto do “manager” não querer a sua valorização para, no final da referida campanha, puder negociar a compra do seu passe por uma quantia mais baixa.
Verdade ou não, o certo é que, no Verão de 1996, os neerlandeses do Ajax tomariam a decisão de apostar no internacional português. Apesar de nunca conseguir afastar-se da fama de "playboy", em Amesterdão Dani passaria os melhores anos como profissional de futebol. Nos Países Baixos, o médio-ofensivo, para além de conquistar 1 Campeonato e 2 Taças, começaria a jogar, mesmo sem chegar a ser visto como um titular indiscutível, com bastante regularidade. Ainda assim, mesmo com os números a justificarem a sua continuidade, a meio da época de 1999/00 dar-se-ia o seu regresso a Portugal. Todavia, apesar das promessas do atleta, a assegurar a chegada ao Benfica como forma de ajudar o emblema da Luz, a sua carreia de "Águia" ao peito haveria de ser curta. Mais uma vez, os entreténs à margem da actividade profissional estorvariam o seu desempenho competitivo e ao fim de 5 partidas apenas surgiria um processo disciplinar e o consequente despedimento de Dani.
Já a última etapa de Dani no futebol, temos de ser sinceros, devê-la-ia à admiração de Paulo Futre. Com a esperança de recuperar o talentoso médio-ofensivo, a antiga estrela do futebol nacional, à altura dirigente do Atlético de Madrid, estenderia a mão ao atleta e levá-lo-ia, em 2000/01, para capital espanhola. Apesar dos "Colchoneros" estarem na 2ª divisão, Dani parecia estar a enveredar pelo caminho certo. Contudo, em nada havia mudado e nem o susto pregado por Paulo Futre fá-lo-ia preferir os relvados às discotecas e aos clubes nocturnos - “«Filho de uma grande p..., cab... de m.... Vai ser a primeira e última vez que jogas. Vou buscar uma pistola durante o jogo, seu filho da p... E quando terminares não te vou dar um tiro no joelho. Vou dar-te um tiro nos dois joelhos e nos dois pés. Cab... de m... Passaste todos os limites» (...) Levantei-me, dei a volta à secretária com a pistola na mão e desatei aos gritos: Qual é o joelho que queres, cab...? O direito ou o esquerdo. Diz-me filho da p...”*.
Conclusão: para aqueles que tinham esperanças de ver o médio emergir como uma grande estrela, a desilusão deve ter sido enorme quando Dani, com apenas 27 anos, resignado ao facto do futebol não ser a sua paixão, decidiria pôr cobro à carreira como profissional. Hoje em dia, o antigo jogador voltou a estar mais próximo do futebol, não dentro de campo, nem sequer a orientar uma equipa, mas como comentador de programas desportivos no canal de televisão TVI.

*retirado do artigo publicado em www.cmjornal.pt, a 2/05/2011

410 - PEDRO BARBOSA

Não é muito habitual o FC Porto deixar fugir bons jogadores, principalmente aqueles feitos nas suas “escolas”. Porém, a verdade é que Pedro Barbosa, que nas Antas cumpriria os últimos capítulos do percurso formativo, acabaria, na altura de subir a sénior, por ver as portas da equipa principal “azul e branca” fechadas. Como alternativa, no caminho do médio-ofensivo surgiria o plantel de 1989/90 do Freamunde. Mesmo na 2ª divisão “B”, a maneira ímpar como jogava não demoraria muito até chamar a atenção de outros emblemas. Por essa razão, dois anos após a entrada no emblema sediado no município de Paços de Ferreira, o jogador veria o Vitória Sport Clube, orientado por João Alves, a interessar-se na sua contratação e mudança para Guimarães, muito à custa do seu virtuosismo e da tremenda visão de jogo, concretizar-se-ia na época de 1991/92.
Alicerçado em qualidades desportivas excepcionais, Pedro Barbosa facilmente começaria a vingar na "Cidade Berço". Com a estreia no escalão máximo, a maneira evidente como conseguia sobressair entre os demais colegas, adivinhar-lhe-ia um destino traçado pela cobiça dos denominados “grandes”. Antes ainda, surgiria a selecção de Portugal. Com a principal “camisola das quinas”, depois de passar por alguns escalões à guarda da Federação Portuguesa de Futebol, Pedro Barbosa, pela mão de Carlos Queiroz, estrear-se-ia a 11 de Novembro de 1992, num particular frente à Bulgária. Depois dessa partida, outras chamadas emergiriam e tendo como ponto alto as presenças no Euro 96 e no Mundial de 2002, o jogador haveria de somar 22 internacionalizações “A”.
Após 4 temporadas no Minho, o dia da mudança acabaria por chegar. Com a viagem a levá-lo em direcção a Lisboa, Pedro Barbosa seria apresentado como reforço do plantel de 1995/96 do Sporting. Em Alvalade, apesar de reconhecida a sua elegância, a capacidade de passe e a excelente habilidade para interpretar todos os lances, o médio ainda suscitaria alguma controvérsia. Ao parecer um elemento um pouco lento, o atleta seria acusado de, por vezes, andar alheado do jogo. Todavia, todas as críticas seriam cabalmente silenciadas pelos magistrais lances saídos dos seus pés ou pelos golos mágicos. A sua grandeza ficaria evidente pela forma como adeptos leoninos passariam a vê-lo como um grande ídolo. E também não é para menos! O jogador faria parte dos melhores momentos da história recente do "Leão". Não foram só as 10 épocas em que vestiu de "verde e branco" que haveriam de marcar a sua passagem pelo clube. Há ainda que juntar a braçadeira de capitão por ele envergada e as vitórias em 2 Campeonatos Nacionais, 1 Taça de Portugal e 2 Supertaças. Infelizmente faltou-lhe no palmarés uma competição de índole continental e a final da Taça UEFA de 2004/05, disputada no Estádio de Alvalade, frente ao CSKA de Moscovo, tornar-se-ia num dos momentos mais tristes da sua carreira.
Apesar de ter saído em aparente conflito com o treinador José Peseiro e com Presidente Dias da Cunha, Pedro Barbosa, após a demissão do referido dirigente, voltaria ao Sporting. De regresso ao clube em 2009, a sua experiência como director-desportivo haveria de ser curta. Desde então, o antigo internacional português tem mantido alguma distância das actividades clubísticas. Contudo, tem mantido a ligação à modalidade e, de uma forma diferente, mas sempre inteligente nos comentários sobre as actualidades futebolísticas, Pedro Barbosa tem sido uma das caras da TVI.

409 - TAIRA


Depois de, na 2ª divisão, passar duas temporadas ao serviço do Montijo, para José Taira seria a vez de retornar à casa onde tinha terminado a formação. Integrado no Belenenses de 1989/90, o atleta viria a estrear-se no escalão máximo do futebol luso. No entanto, num plantel que havia recuperado o estatuto “europeu”, o jovem jogador poucas oportunidades conseguiria conquistar. Aliás, o “trinco” apenas viria a assumir um papel de relevância no seio da equipa do Restelo, duas épocas após a chegada ao plantel principal e apenas com o emblema na disputa da divisão de Honra.
A partir dessa campanha de 1991/92, o seu modo cerebral e elegante de encarar o jogo, sem, contudo, perder o toque físico e aguerrido, faria com que Taira fosse tido como uma das peças fundamentais de toda a movimentação, defensiva e atacante, do Belenenses. Como um verdadeiro pêndulo, os anos cumpridos com a “Cruz de Cristo” ao peito levá-lo-iam a ser aclamado como um dos melhores, na sua posição, a actuar em Portugal. Já depois de uma modesta passagem pelo plantel de 1994/95 do Estrela da Amadora e do regresso ao Restelo, as boas avaliações, com João Alves a assumir o comando técnico do Salamanca, levariam o médio-defensivo, acompanhado de outros atletas dos “Azuis”, casos de Ivkovic, Giovanella, Catanha e César Brito, a ser apresentado como reforço de 1996/97 do referido emblema espanhol.
Ao aceitar o desafio de disputar o segundo escalão de “nuestos hermanos”, Taira passaria a fazer parte, com o brasileiro Giovanella, de uma das duplas de meio-campo mais aclamadas na história da agremiação espanhola. A mudança para o Salamanca, à falta de melhores oportunidades em Portugal, daria ao “trinco” a chance de progredir na carreira como futebolista. A principal prova desse crescimento emergiria com a estreia com a “camisola das quinas” e o jogo frente à Albânia, disputado a 9 de Outubro de 1996, partida a contar para a Fase de Qualificação do Mundial de 1998, daria ao atleta 1 internacionalização por Portugal.
Outra das coisas que Taira conquistaria na sua passagem por Espanha, seria a admiração de outras equipas. Transferido para o Sevilla na campanha de 2000/01, o médio entraria para a nova colectividade com os andaluzes numa fase menos boa. Porém, a disputar o escalão secundário, o jogador tornar-se-ia num dos pilares da subida e do regresso dos “Rojiblancos” ao patamar maior da “La Liga”. Já de volta ao convívio com os “grandes”, o atleta acabaria por perder a preponderância da época transacta e tal facto acabaria por alimentar o seu retorno a Portugal.
Os derradeiros anos da carreira vivê-los-ia, primeiro ao serviço do plantel de 2002/03 do Farense, para, com a camisola do Oriental e com o termo da campanha de 2003/04, pôr um fim à caminhada como futebolista. Após "pendurar das chuteiras", Taira, sem deixar a modalidade, passaria a abraçar outros papéis. Se por um lado a sua carreira de treinador tem sido feita nos escalões de formação, nomeadamente nas “escolas” do Sporting, por outro, o antigo internacional não tem enjeitado a oportunidade de dar uma "perninha" como comentador, papel no qual já o vimos nos ecrãs d’ A Bola TV e da CMTV.

408 - VÍTOR MANUEL


Aquando da entrada na década de 1970, a Académica de Coimbra parecia querer habituar os seus adeptos à presença nas competições sob a alçada da UEFA. Para qualquer jovem em idade de formação, ver o seu emblema nessas altas andanças deve ter sido, pela certa, sinónimo de motivação extra. Com Vítor Manuel, que por altura da brilhante participação na da Taça dos Clubes Vencedores das Taças de 1969/70, pertencia ao escalão júnior dos "Estudantes", não deverá ter sido muito diferente.
 Sénior a partir da temporada de 1971/72, Vítor Manuel ainda veria a sua "Briosa" atingir as provas europeias por mais uma vez. Contudo, na campanha referida no começo deste parágrafo, os planos desportivos para o jovem polivalente, que podia jogar a médio ou a defesa, afastá-lo-iam da equipa principal dos “Estudantes”, passando maior parte do tempo com os “reservas”. Tal razão faria com que nunca experimentasse a emoção de participar numa competição de índole continental. Porém, nem esse facto diminuiria a paixão sentida pelas camisolas da Académica. Alimentado por tal sentimento, envergaria as cores do emblema conimbricense durante uma década e a sua entrega à “Briosa”, tanto como futebolista, como noutras funções, haveriam de inscrevê-lo na história do clube.
Mesmo com um bom trajecto nos relvados, o mediatismo de que auferiria enquanto treinador dar-lhe-ia uma visibilidade muito própria. Com um estilo inconfundível, o “mister” Vítor Manuel incutiria às suas equipas um tom sublinhadamente aguerrido que, vezes sem conta, permitiriam aos colectivos por si orientados excederem-se, na tabela classificativa, para além do espectável. No entanto, apesar de muitas épocas como técnico-principal no escalão maior do futebol português, uma das suas grandes recordações, muitas vezes referida pelo próprio, reportar-se-ia à temporada de estreia nas funções de “timoneiro” e ao 4-4 que, à frente da Académica, conseguiria em Alvalade – "Foi um jogo emocionante, com aquele golo do Ribeiro, marcado de livre mesmo no final [aos 83 minutos], em que o Damas foi para um lado e a bola caiu devagar no canto da baliza. Impressionante, parece que estou a ver aquilo"*.
Depois de, por doença, ter feito um interregno no futebol, durante o qual o vimos no papel de comentador desportivo, Vítor Manuel, nos últimos anos tem andado mais por África. Aliás, seria ao serviço do 1º de Agosto, que o técnico português venceria o seu primeiro título, ou seja, a Taça de Angola.

*retirado do artigo publicado a 18 de Janeiro de 2003, em www.record.pt

407 - MOZER

São poucos os que podem dizer que foram campeões em todos os clubes por onde passaram como jogador. Mozer é um dos que pode!
Chegaria às “escolas” do Flamengo, dispensado das camadas de formação do Botafogo. Na temporada de 1980 acabaria promovido à equipa principal do “Mengão” e, apesar da forte concorrência, não demoraria muito tempo para que o seu estilo “mandão” conseguisse impor-se no centro da defesa do emblema “carioca”. Mas apesar de um pouco impetuoso, por vezes irrascível, Mozer desde cedo deixaria transparecer uma classe inequívoca. Com um jogo de cabeça irrepreensível e uma capacidade de desarme excepcional, o atleta transformar-se-ia num dos esteios das conquistas “rubro-negras”, com o destaque a ir para a vitória na Copa dos Libertadores de 1981 e na Taça Intercontinental, jogada em Dezembro do mesmo ano, frente ao poderoso Liverpool.
Passados alguns anos, Mozer, quando em 1987 optaria por viajar para a Europa, a fim de vestir a camisola do Benfica, já consigo carregava um currículo impressionante. A presença no Mundial de 1986, a somar aos 4 títulos de campeão brasileiro, fariam dele uma das contratações mais sonantes para o grupo a trabalhar sob o comando de Ebbe Skovdahl. Com o estatuto que carregava, sem grande surpresa, o atleta passaria, com relativa facilidade, a ocupar um lugar no centro da defesa “encarnada”. Também nos corações daqueles que vibravam nas bancadas, o internacional “canarinho” viria a ganhar um lugar de destaque. Em abono da verdade o carinho do futebolista pelos fãs era recíproco e houvesse dúvidas a esse respeito, então as histórias contadas pelo jogador serviriam para dissipar qualquer equívoco.
Contaria Mozer, já como jogador do Marseille, que – “uns dias antes de cada jogo, o Papin chegava para mim e me dizia «vais ver o que é um estádio cheio e um ambiente terrível» (…). Até que, na taça dos campeões, nas meias-finais, o Benfica calhou no caminho do Marselha. Fiquei, ao início, desgostoso, porque ia defrontar o meu Benfica (...). Os jogadores foram saindo do balneário e eu atrasei um pouco, porque estava colocando uma ligadura no tornozelo. Quando cheguei perto do túnel de acesso ao estádio, começo a ver os meus companheiros, completamente assustados e todos do lado de dentro, não querendo entrar. Só depois percebi que, nessa altura o Eusébio foi chamado ao relvado para receber uma homenagem e foi aí que o estádio quase vinha abaixo. Logo no momento em que os meus companheiros do Marselha se preparavam para entrar. Claro que voltaram atrás assustados e me perguntado: «O que era aquilo?». Aquilo, respondi eu, é o INFERNO DA LUZ"*.
Contrariamente ao que tinha acontecido em 1988, quando ainda envergava o “manto sagrado” e, frente ao PSV Eindhoven, disputaria a final da Taça dos Clubes Campeões Europeus, nesse 18 Abril de 1990, célebre pela “mão de Vata”, Mozer não conseguiria o apuramento para o derradeiro jogo daquela que é a mais importante competição de clubes a nível mundial – “naquela noite, o Marselha perdeu, fiquei triste mas senti orgulho pelo Benfica. E já agora, naquele balneário, fui o único a ter uma vitória. Foi uma vitória moral, sobre aqueles que não acreditavam na grandeza do Benfica"*.
Depois da aventura francesa, onde venceria por 3 vezes a Ligue 1, Mozer, para seu gáudio e também para júbilo dos adeptos benfiquistas, voltaria a Lisboa em 1992/93. Com as “Águias”, depois de na primeira passagem ter vencido o Campeonato Nacional de 1988/89, o defesa-central acrescentaria ao currículo pessoal, logo no ano do seu regresso, a vitória na Taça de Portugal e em 1993/94 mais uma vez conquistaria o direito de exibir a faixa de campeão português. Já o final da sua carreira, após ter sido dispensado por Artur Jorge no termo da campanha de 1994/95, aconteceria no Japão. Convidado pelo antigo companheiro de selecção Zico, o defesa-central aceitaria o desafio do Kashima Antlers e partiria em direcção ao continente asiático, onde viria a vencer a liga nipónica.
Alguns anos após "pendurar as chuteiras", Mozer voltaria ao futebol. Ao lado de um José Mourinho estreante nas funções de treinador-principal, a "estrela" benfiquista sentar-se-ia pela primeira vez no banco de suplentes, como adjunto. Apesar de curto, esse regresso aos “Encarnados” adoçaria o seu gosto pelas funções de técnico, as mesmas a levarem-no a Angola, ao Interclube e à conquista do primeiro Campeonato Nacional da história do emblema de Luanda. Posteriormente, o antigo defesa teria experiências nos marroquinos do Raja Casablanca e, de regresso a Portugal, num primodivisionário Naval 1º de Maio e à frente do Portimonense.
Paralelamente à vida de treinador, Mozer tem frequentemente emprestado o seu bom humor aos mais variados programas televisivos, onde, sem sombra de dúvida, podemos destacar a passagem pelo "Mais Futebol", da TVI24.

*retirado do artigo publicado em obenficasoueu.blogspot.com, a 11/06/2009